Antunes Ferreira
Ora muito bem. O Ricardo Belo de Morais é meu Amigo. Tenho muito gosto em aqui o afirmar, sem hesitação alguma. Além disso, é um gajo bacana. No quantitativo de ideias que tem no cristalino bestunto leva-me à palma. E não se trata de um bater no peito farisaica e melodramaticamente. Eu, deixem-me que me pavoneie por escassos momentos, creio que em tal domínio não só propriamente peco. Confesso, porém o meu peco, digo, pecado. Cada um dá o que tem – e a mais não é obrigado.
Começo hoje a inserir neste incipiente travessa do ferreira uns textos dele. Dados à estampa no língua de fora. Ainda por cima, o gajo escreve muito bem, mesmo muito. Até sabe de sinonímia, de acentos e, pasmem, coloca vírgulas, pontos & correlativos nos locais em que devem – e têm – de estar. Não os salpica a esmo pela prosa, o que é indício de uma primária exemplar (não como se diz agora, apesar dos netos) e de leitura aturada e conscienciosa. Tout court: o bicho é culto.
Não lhe pedi autorização prévia. Penso que não é grave, muito menos crime. Ao Ricardo aqui fica o agradecimento e um abração. Graças ao meu sobrinho Joca, por intermédio do qual se estabeleceu entre nós a Amizade (e a cumplicidade) aqui está ele
A mais velha profissão do mundo, revisited
Sempre me fez muita comichão e algum vómito a moda burgessa (entretanto felizmente ultrapassada) de ver jornais e revistas a dar espaço às masturbações machistas e misóginas de machos gordos, sebosos e frustrados, perorando sobre as (segundo eles) inferioridades do sexo feminino que tanta razão tinha, afinal, para fugir deles a sete pés.
Pela mesma razão, incomoda-me profundamente a recente moda com papéis invertidos. Tudo começou com o efeito "Sexo e a Cidade", divertida e arrojada série televisiva sobre quatro amigas nova-iorquinas que passaram seis anos e dezenas de episódios a papar tudo quando era homem. A coisa (escrita aliás por uma mulher) era gráfica q.b., mas tinha algo de muito sério: bom gosto, ironia e contenção. Além do mais, o objectivo último das quatro amigas era apenas um: encontrar um homem com quem pudessem, depois de todas as camas mais ou menos gratuitas e/ou falhadas, ser finalmente felizes para sempre.
Por cá, as meninas que a imprensa vem contratando, cada vez mais, para escrever sobre "a forma como a mulher portuguesa moderna e liberada encara o sexo e as relações amorosas" têm genericamente o oposto da personagem Carrie Bradshaw: mau gosto, javardagem e desbragamento.
Ao ser-lhes dada carta branca para escrever semanalmente pérolas sobre o maravilhoso instrumento deste que conheceu ontem na discoteca, as fracas qualidades da gaita daquele que a engatou na net e a performance duvidosa do serafim do outro que até é casado com a parva da amiga, estão apenas a prestar um bom serviço a si mesmas, justificando o salário.
Ser moderna(o), independente e liberada(o) é um estatuto que se consegue com trabalho, talento e performance. Eventualmente, havendo trabalho e talento, alguma dessa performance até pode ser efectivada na horizontal, admitamo-lo. Em ambos os sexos. Mas um homem jamais admite que subiu de tal forma. E uma senhora que quer ser vista como tal (já lá dizia a sábia Madame de Merteuil) deve saber manter tanto mais recato quanto mais fogosos e obnubilantes forem os seus truques de alcova.
Numa palavra, quem não quer ser puta, não lhe veste a pele. Nem, muito menos, se pavoneia na avenida da imprensa, toda aconchegadinha no respectivo casaco.
Ricardo Belo de Morais
terça-feira, maio 02, 2006
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