sexta-feira, junho 30, 2006



Bertelsmann investe
30 milhões na Bertrand


Antunes Ferreira
O representante do grupo Bertelsmann em Portugal anunciou na última quarta-feira que a compra do grupo Bertrand envolverá um primeiro investimento de 30 milhões de euros, abrangendo a abertura de novas lojas no país e a expansão para Espanha. Os órgãos de Comunicação, a partir de um despacho da Lusa, referem-se profusa e detalhadamente ao assunto.

No meio de muitos que continuam a afirmar que os investimentos estrangeiros cada vez mais rareiam em Portugal, esta é uma notícia a ter em conta. Só que esses «especialistas» continuam na sua: isto está tão mal que já nem a propaganda miserável de S. Bento consegue convencer mesmo uma minoria. O complot entre o PR, o Governo, a EFTA, a União Europeia, o Banco de Portugal, entre outros, tem os dias contados, afirmam. Eles é que leram os relatórios de fio a pavio, que não dizem nada disso, antes pelo contrário.

São os jornalistas despudorados que inventam tais atoardas. Toda a gente (expressão indefinida que cai como sopa no mel) diz o contrário. Recuperação – nenhuma. Qual pequenina, qual carapuça. Não no-la tentem enfiar. Nós é que sabemos. E reforçam: nós lemos os originais dos relatórios. O resto... é paisagem.Os detentores da verdade (única?) não dão ponto sem nó. Os conjurados vão arrepender-se de andar a enganar o povo. No fim, pagam-nas todas.

E, alem do mais, no caso presente, que raio de investimento do exterior? Trata-se, sim, de mais uma venda inqualificável ao estrangeiro. Vamos de mal a pior. Um destes dias não temos nada nosso, levam-nos tudo e impingem-nos tudo. E a independência nacional, onde está a magana?

Em termos de anedota, diz-se que deixá-los falá-los qu’eles calarão-se-ão. Os catastrofistas nacionais, ainda que não desarmem, estão a apagar-se aos poucos. Coitados, ainda não entenderam que determinadas vozes não chegam aos céus.

Não haverá despedimentos

Respigo dos media o texto que se segue. Sem mais comentários do que aqueles que já antes produzi. Pergunto-me, apenas, o que dirão a este propósito os sabedores encartados da «realidade verdadeira» de Portugal. Mas consigo vê-los: tanta letra por uns míseros 30 milhões de euros...

«Numa conferência de imprensa em Lisboa para anunciar a aquisição do grupo Bertrand pelo consórcio alemão, João Alvim, presidente do Círculo de Leitores, escusou-se a revelar o valor do negócio, alegando tratar-se de matéria confidencial. Esta compra envolve todo o grupo Bertrand, que emprega 350 trabalhadores, incluindo a cadeia de 48 livrarias, a editora e a distribuidora.O representante da Bertelsmann garantiu que a aquisição não vai implicar despedimentos, mantendo-se também «em função toda a equipa de directores e quadros que ao longo destes anos construiu a empresa.»«Contamos com o engenheiro José Matoso e o doutor Resende Duarte na administração da sociedade livreira, num período de transição que poderá ir até aos dois anos», disse Alvim.Ainda segundo o representante da Bertelsmann, o nome da marca Bertrand vai manter-se, e as empresas adquiridas manterão igualmente "a sua independência, organização e estrutura».

Nos próximos dois anos, Bertlesmann pretende investir 30 milhões de euros no grupo Bertrand, investimento que «vai permitir a sua consolidação financeira.»Questionado sobre a possível abertura de novas lojas no país, na sequência deste investimento, Alvim confirmou essa intenção, já constante - lembrou - dos planos da administração da Bertrand, mas escusou-se a precisar quantas. O investimento será também canalizado para a renovação e alargamento de algumas das lojas no país, para o sector informático, e «o modelo de negócio e know how da Bertrand será utilizado futuramente na expansão para Espanha», adiantou.

Uma das novas ideias da Bertelsmann, que é a proprietária do Círculos de Leitores, é criar espaços de venda das edições deste nas livrarias Bertrand, como forma de estimular as compras por parte dos sócios do clube, estimados actualmente em 340 mil. Alvim, que é o presidente do Círculo de Leitores, comentou que a venda directa de livros sofreu «uma estagnação e até decréscimo» na última década devido à evolução do mercado editorial em Portugal.

João Alvim - que será o presidente do conselho de administração de todas as empresas do grupo Bertrand – adiantou ainda, sobre a estratégia da Bertrand para o futuro, que será feita uma aposta nos autores portugueses. O Grupo Bertelsmann - presente em Portugal há 35 anos - é o maior grupo de media da Europa, estando actualmente presente em 63 países. Tem cerca de 88 mil trabalhadores e em 2005 obteve receitas da ordem dos 18 mil milhões de euros.»




Estatística volta à carga

Por outro lado, o emprego no comércio a retalho aumentou 0,8 por cento em Maio, face ao homólogo, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), acelerando também face a Abril. Comparando com o mês anterior, o emprego no comércio a retalho registou um aumento de 0,2%. A variação média dos últimos doze meses manteve-se estável face ao resultado do mês anterior. O INE especifica que «A variação positiva do índice resultou essencialmente da evolução positiva no comércio de produtos alimentares» que acelerou também para um crescimento de 2,1%. No comércio a retalho de produtos não alimentares a variação homóloga foi nula. Nos alimentares, é de salientar o aumento de 3,7% no comércio em estabelecimentos não especializados. E as remunerações brutas cresceram 7,9% também em Maio, em termos homólogos. Para esta evolução contribuíram positivamente ambos os agrupamentos, produtos alimentares e produtos não alimentares, com crescimentos de 10,3% e de 6,7%, respectivamente.

Sem medo de possíveis «represálias», continuo e continuarei, aliás com o maior prazer, a dar, neste blog, notícias destas e dados assim, que, em meu modesto entender – e no de muito boa gente, da qual me excluo por razões óbvias –vão corroborando, devagarinho embora, essa recuperação, ainda que ténue. Grão a grão enche a galinha o papo, mesmo em tempo de vacas magras. Grão a grão vão-se enchendo os pregoeiros da desgraça do receio de falharem ignobilmente. E o pior é que eles sabem-no.

quinta-feira, junho 29, 2006


Pista de Zala - Reabastecimento


MEMÓRIAS DO INFERNO

A mata mata


Antunes Ferreira
Estou sentado no estribo duma White com escape vertical encostado à cabina de condução, branca, 12 toneladas. O cacimbo desce lenta e opressivamente sobre a mata. Acabo de chegar a Zala, vindo da Madureira, uma picada de má memória. Trata-se de uma fazenda de café, não muito danificada, que o dono se esforça por manter em actividade. Um pelotão reforçado da OPVDCA assegura a defesa da rubiácea e do pessoal. Primeiro o fruto, disse bem, só depois a malta.

Molhado até às cuecas, como é hábito dizer, ainda que por aquelas bandas seja mais até aos colhões. Do padre Inácio, acrescenta sempre o Candeias, sargento de devoção, enfermeiro de profissão como ele a si próprio se define. A pirisca, também ensopada, já não fósforo muito menos isqueiro, nem que fora de pederneira que a volte a acender. Melhor do que a chuva mola tolos (que nós somos, todos, tolos) nem os Bombeiros Voluntários de Carnaxide.

Não sei por que raio me vem ao cristalino bestunto essa Carnaxide prima e vizinha de Linda-a-Velha. Quem sabe se a solidão no meio de quase três centos de homens, quem sabe se o silêncio ominoso que vem da mata, quem sabe se esta merda de vida me leva a sítio por onde passei escassíssimas vezes, nos meus 14, 15 anos despreocupados, antes do meu Pai me faltar, tinha então 18.

O Lavado, alferes médico (sem galões, manda o Regulamento), ajoujado sobre ele próprio como se todos os galenos e esculápios do universo se tivessem sentado em cima dele, palita os dentes com o bico da faca de mato. Infrutiferamente, que a lâmina não é para ali chamada, dizendo quem sabe que serve, entre outros préstimos, para cortar os gorjas aos turras. A quem outros chamam nacionalistas.

O gajo é de seu nome próprio João. A malta, incluindo soldados, cabos, até mesmo arvorados, furriéis, sargentos de acordo com as escalas e oficiais chama-lhe João toda a Semana. É certo que, de quando em vez se desenfia até Luanda a pretexto de umas consultas no Hospital Militar; ou serão umas análises, quiçá umas chapas que o raio-X é bom justificativo.

Por aqui não há censura

É
um moço de Pias, terra de vinho a preceito e de gajas boas, diz ele. Fala correntemente alentejanês e consegue, mesmo assim, fazer-se entender pelo pessoal que vai à consulta quotidiana. Com o Candeias nunca está às avessas. Formam dupla mais operacional do que o Batman e o Robin, o que é, podem crer, muito difícil. O Candeias tem pregadas na parede por cima da cama umas fotos de enfermeiras peladinhas. No mato não há censura, pelo menos para aquilo. Nem o padreca capelão quando ali vai se chateia, antes aprecia os dotes das meninas.

Já o João exibe na banquinha de cabeceira (?) um instantâneo da esposa amantíssima com o casalinho que têm. O doutor já chegou aos 34, foi repescado em prova aflitiva que não desportiva. «Se ê cá nã tivesse os catraios, bê que me pirava prá Holanda. Assim, tenho estes galfarros ca mãe em Luanda, no bairro da CAOP, sem me darem muitas ralações nem me aventarem quando vou a casa...»

O breu nocturno caiu que nem pedregulho em charco. A noite em África vem assim, de supetão, o sol entra que nem tiro no horizonte, durante a estação das chuvas a que no Puto se chama Inverno. Aqui é o Inferno, e só pelos Verões decorrem os famosos pores-do-sol alaranjando o astro que adquire então uma aparência frutosa e opressiva.

Meus... amigos

O Candeias aproxima-se, meio descambado, já despiu o camuflado, só uma camisola de alças alagada e uns calções a cobrir-lhe as partes. «Meus alferes...» «Fala baixo, mê sacana, senão os cabrões ainda te ouvem e fogacham-nos sem dó nem piedade. Diz antes amigos, que é menos perigoso e por vezes até é verdade.»


Madureira - sanzala


Quem assim fala não é gago nem mija na cama. É o Lavadinho, está bem de ver. «Diz lá, então, ao que vens, ó seringa. Pareces-me uma agulha enferrujada. Vá, diz lá...» O sargento sem divisas – não é pela segurança, é porque não tem onde as enfiar numa camisola daquelas – arreganha a cepa. «Pois saiba Vossa Senhoria... - senhoria, uma merda e bem cagada – que os patrícios que levaram os zagalotes, já patinaram. Foi um ar que lhes deu...»

«Mas e as aspirinas ML? Nã fizeram nada?» retorque o licenciado.»
«Não senhor, meu amigo. Mesmo sendo Laboratório Militar, os comprimidos não tapam buracões de bala de Breda, ainda por cima despejada às rajadas. Os três entregaram a alma (se é que a tinham) ao gajo lá de cima, sem um pio. Foram-se... Amanhã, se calhar, há mais.»

Foi agora? Não senhor, já tinha sido há mais de duas horas, coisa para umas duas e meia, talvez. A faca de mato reencontrada a bainha, já não palita nada. Lavadas levanta-se, aguentem vocemecês aí um momento que ê vou desovar, nã demoro nada, o que tratando-se de alentejano de Aljustrel quer dizer umas horitas. Mas não. Ei-lo de volta com ar mais desanuviado.

«B om, vamos lá ver, também nã se perdeu muito, quase nada. Os filhos da puta só tiveram o que mereceram. Eles é que começaram. Nós até tivemos um morto, estraçalhado pela cabrona da mina que nos armaram, e dois feridos, um que cegou e outro que ficou sem uma mão, logo a direita. Os gajos – que se lixe! Nã fazem cá falta nenhuma, bê pelo contrário...»

E que se lhes faz? Já está feito. Abriu-se uma cova e meteram-se os três. Se calhar queriam uma para cada um, os lorpas. «Muito bê. Mas porque carga de água tu nã vieste avisar-me mais cedo?» «Estava a ouvir a rádio. Davam o Benfica com uns estranjas que não percebi muito bem quem era. Os nossos venceram!» Ainda que seja motivo bastante, já perdi a tesão. Eu até sou do Sporting.

quarta-feira, junho 28, 2006



IVA e pontapé de saída

Braz Ferreira

Não queremos mais IVA!.... Não queremos mais IVA! O povo protesta e o Governo não liga. Nem pode ligar. As vozes enrouquecidas e esquentadas pela raiva e pelo álcool levam ao ar protestos que desde que a Terra é Terra sempre devem ter acontecido. Quase de certeza absoluta que os homens das cavernas já protestavam por não ter fogo durante o Inverno...até que um deles se lembrou de friccionar dois sílex. Mesmo assim os protestos, que são próprios dos homens e sobretudo das mulheres, existiram, existem e continuarão de existir. Se se aumentar o salário mínimo, tem de se pedir mais férias, se se aumentarem as férias terão de ser pedidos mais feriados e pontes, e assim por aí afora.

Analisando os protestos das nossas esposas sobre o tempo de antena masculino durante a Copa do Mundo, podemos até sentir que algo de histórico se esta passando. Pelo menos de quatro em quatro anos. Eu quero novela, eu quero jogo, eu quero novela, eu quero jogo... E, no final, salvo se a sua esposa for campeã de karaté ou luta livre, você termina por ver o futebol. E mesmo se ela for campeã, você termina vendo o jogo ou numa cama de hospital ou na casa de um amigo.

E poderão me perguntar qual é a diferença entre o jogo e a novela? Quase nenhuma, senão vejamos. O último jogo Portugal Holanda foi uma verdadeira novela, com os mauzinhos levando porrada e os bonzinhos dando sem serem molestados. E até tínhamos actores brasileiros....olhem só! E um director de cena russo...Tá russo mesmo. E este balalaica bebedor de vodka deixou os queijos flamengos dar sem receber. Isto sim que é injusto e merece um verdadeiro protesto.



Este tal director de cena, um verdadeiro «artista» dos palcos, foi distribuindo, tal como numa promoção num hipermercado, cartões amarelos à doidada. Talvez porque combinasse com a cor da sua camisola. Porra e ele se tivesse vindo de preto, teria talvez distribuído convites para um funeral. O dele. E para fazer “ton sur ton” deu graciosamente alguns vermelhos. Mis uma vez utilizou a técnica Mac Donalds, mostarda com ketchup. Só faltou alguém complementar o big mack, oferecendo-lhe, grátis, um bife na cara suada que ele mostrou durante o jogo inteiro.
Para a próxima vez traga cartões laranja, pois evita gastar dois e alem disso rimariam com as cores da equipa adversária.

Protestemos pois para que, primeiro, a FIFA introduza os cartões laranjas e, segundo, ela saiba escolher os seus árbitros e sobretudo que possam ser implementados os cartões pretos para muitos juízes... para que não apitem - nunca mais. Está aí uma ideia que a FIFA deveria aprofundar. Num jogo de futebol temos em campo 25 actores (22 jogadores, um árbitro e dois árbitros auxiliares). Ora bem porquê só os jogadores podem ser expulsos, se todos são actores?
Protestemos para que haja também expulsões de árbitros, com juízes «sobressalentes.»

Não queremos mais IVA... não queremos mais IVAS... não queremos mais IVANOVS, pô!

terça-feira, junho 27, 2006



Mundial – No Brasil é que é...
Antunes Ferreira
F
utebol é loucura no Brasil. Total. Arrisco-me mesmo a dizer que, em comparação talvez desnecessária, quiçá mesmo estulta, o desporto-rei sobreleva o Carnaval e o samba. Embora as mulatas... Mas isso é outra estória, que um dia destes tentarei contar, ainda que salivando abundantemente, que o mesmo é dizer babando-me que nem um bebé. Se é heresia, que me seja desculpada. Mas, as vezes sem conta em que estive no País Irmão penso que avalisam esta opinião. No entanto, não deixo de acrescentar que presunção e água benta cada um toma o que quer.

O Brasil, como se sabe, é o Campeão Mundial de Futebol, em título. Cinco são as conquistas da Taça pelos escretes, desde 1958, na Suécia, numa equipa fantástica em que avultava um tal Garrincha, de seu nome Manuel dos Santos, o homem das pernas tortas, extremo direito endiabrado. E que repetiria o feito em 1962, tendo depois desaparecido dramaticamente. No entanto, foi então que despontou para a História do Mundo do Chuto, um miúdo chamado Edson Arantes do Nascimento. Mais conhecido por Pele. Melhor: o mais conhecido a partir de então. O Rei.

Tive o privilégio de assistir a jogos desse certame, tinha então uns 17 aninhos. O craque era da mesma idade, ainda que uns 11 meses mais velho. Recordo aqui as medidas especialíssimas adoptadas para guardar o guri das suecas que estavam doidas com ele. A polícia sueca, penso, nunca se vira metida em tal imbróglio. O atleta - que viria a ser eleito em 2000 pela FIFA como o Melhor Jogador do Século, num processo complicadíssimo – também repetiria o feito em 1962.Tudo pára no Brasil quando acontece mais um Mundial.

As esperanças de um Povo sofrido viram-se para o time que, para ele, é o timão. As opiniões sobre a escolha dos astros para a selecção, as análises pré e durante a competição são ferozes. Nós dizemos que em Portugal é que. Nada, meus irmãos, nada. Somos tão só aprendizes de feiticeiro perante o que se verifica por aquele imenso País. Por toda a parte, até nas terras mais diminutas, o que não é o caso presente. Só vendo, ouvindo ou lendo, Indescritível, Inconcebível, mas verdade absoluta.

O município de Itupeva tem cerca de 30 mil habitantes, para mais e não para menos e fica situado no Estado de S. Paulo. Não se espantem. Tem um periódico informático, o Jornal de Itupeva. É nestes pormenores que se vê a grandeza do Brasil. Tudo acontece numa terra que Stefan Zweig chamou «o País do Futuro», título de livro e anátema histórico que até hoje persiste. E que tem de ser eliminado. Porem – quando? Juntem-se então os fios desta meada.

É precisamente o Jornal (cibernético) de Itupeva que, na sua edição de hoje, publica uma crónica assinada por Carlos Justino da Silveira, seu colaborador, que é professor há 35 anos, graduado em Pedagogia, Mestre em Administração de Empresas e Controladoria, e que é actualmente especialista em consultoria e formação de pessoal. É o titular da cadeira de Gestão Manufactureira e de Serviços no Centro Universitário de Santo André.

Trata-se de um texto paradigmático e bem ilustrativo do que atrás escrevi. Quando decorre o Alemanha 2006, quando Portugal ali participa com sucesso, sob a liderança do Campeão do Mundo em 2002, Luiz Felipe Scolari, é com todo o prazer que aqui publico o artigo, respeitando, aliás, a grafia do Português escrito no Brasil, apesar do famigerado Acordo Ortográfico. Muito obrigado Jornal de Itupeva, muito obrigado Professor.



Sequestraram nosso futebol

C. Justino da Silveira

Caros amigos, não sei por que ainda não me entusiasmei com o futebolzinho que está jogando nossa seleção, até então tida como a bam-bam-bam da Copa 2006, porém o que nos foi mostrado até agora, só pode ser piada e de péssimo gosto, o tão decantado «quadrado mágico» está mais para «quadrado trágico», exceção se faça ao Kaká, os demais estão quilômetros luz de distância dos jogadores que conhecemos, daí vem minha falta de entusiasmo...

O nosso «camisa nove» Ronaldo está pra lá de Marraquesch, se ele não está gordo, o que diríamos do Jô Soares, por tudo o que o Ronaldo já fez pela seleção em outras épocas, deveríamos poupa-lo do ridículo a que está sendo exposto, sem criatividade, sem mobilidade atlética, o que culminou com aquela furada trágica no último jogo com a Austrália, sofremos para ganhar da Austrália que não tem nenhuma história no futebol...

A situação está tão ruim que o nosso Querido Bussunda, não agüentou o que viu contra a Croácia e preferiu subir para o outro plano, talvez lá a seleção formada pelos nossos craques que residem no céu possa alegrá-lo, e que o craque do humor nacional descanse em paz, junto ao Senhor...

Falar de Bussunda é falar de um flamenguista juramentado, que adorava a sua profissão ou missão de fazer rir, com seu humor inteligente, muitas vezes não precisava nem falar, seus trejeitos, seus cacos, seus personagens nos divertiam, principalmente quando encarnava algumas «figuras nacionais», estas sim dignas de serem escrachadas, pelas besteiras que dizem, pelo que deixam de fazer, e o Bussunda os satirizava com uma caricatura mordaz...E lá se foi um dos grandes comediantes, um dos grandes criadores, que fazia do humor sua profissão com muito amor, se foi na flor da idade, moleque ainda, antes de completar seus 44 anos de vida...

Mas voltando a pelota nacional, nossa bola está pequenina, está mais para bolinha de gude, do que de futebol, ou como dirão alguns, nossa seleção está sim escondendo o leite, só espero que não escondam tanto, pois após o Japão do Zico, começa a fase mata-mata, perdeu volta pra casa, e não adianta chorar e procurar explicações, não é pessimismo não, é puro realismo, estamos enganando bem...

O Kiko, ou melhor, o técnico Parreira precisa urgentemente sair de sua teimosia, tirar os bondes do ataque, e colocar os moleques que estão estourando nos treinos, que tal «quadrado prático» formado por «Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Fred», com certeza com sua mobilidade e movimentação este quarteto colocará as defesas adversárias em polvorosa, talvez consigamos libertar o nosso futebol...

Eu sei, sou só mais um dos 180 milhões de treneiros nacionais, que palpitam nas escalações, mas nós brasileiros de alguma coisa entendemos, podemos não entender coisa nenhuma de política, se é que pode ser entendida, mas de futebol ainda entendemos muito, tanto que não podemos aceitar este futebolzinho meia boca que estamos jogando, estamos muito longe de nossas possibilidades, de nossa real capacidade...

Enquanto a seleção não deslancha em terras alemãs, em nosso país as inaugurações estão correndo à solta, o que tem de «Pedra Fundamental» sendo inaugurada é uma barbaridade, daqui a pouco faltará pedra em Itu e região, lá pelo nordeste tem aeroporto que está sendo inaugurado após seis anos de funcionamento, ou seja, a desfaçatez é tamanha que não importa a sacanagem, o que importa é enganar a patuléia, o que resolve é chegar ao desplante de dizer que foi «ele» quem descobriu o litoral do Piauí para o turismo nacional, do jeito que a coisa anda, dentro em breve estará inaugurando o “Museu do Ipiranga”, a Rodovia dos Imigrantes, e fundando a Televisão Cultura de São Paulo...

ACOOOOOOORDA BRASIIIIIIIIIIIIIIL, pois o cara é tão escrachado, e disfarçado, que mente e não fica vermelho, até porque já está vermelho demais e com as faces um tanto quanto inchadas, acredito que deva ser de tanto viajar e de tanto inaugurar: projetos, planos, idéias, vontades, intenções, porque de trabalhar mesmo não é, «ele» nunca foi muito chegado... O Ministério da Educação e Cultura informa: «Errar é humano», porém, «Repetir o erro é no mínimo burrice...»

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segunda-feira, junho 26, 2006





O hino do Scolari

Antunes Ferreira
Já que é politicamente correcto e fino dizer mal do seleccionador nacional a toda a hora e momento, estamos hoje precisamente na altura ideal para pedir a cabeça do brasileiro. Mas, entretanto, aqui fica o meu aplauso rouco pela extraordinária jornada de ontem à noite em Nuremberga. Uma vitória épica! Que sofrimento! Os Portugueses espalhados pelo Mundo, a começar no rectângulo natal, encheram o peito de alegria. E com toda a razão!

Os heróis do feito são os jogadores, pois o responsável é um oportunista cheio de sorte. Não fora isso, nunca se teria sagrado Campeão do Mundo, no Japão e Coreia, à frente do escrete. O mal destas coisas é um gajo ter nascido com o rabinho virado para a Lua. Além disso, existe também a vantagem de Deus ser brasileiro. E o Brasil ter já então, o Ronaldo, o Cafu, o Roberto Carlos, o Gilberto Silva, o Lúcio, o Edmilson, o Rivaldo e, claro, o Ronaldo e o Ronaldinho Gaúcho.

Relembre-se: o técnico era um tal Luiz Felipe Scolari, o cara que deixara no Brasil, fora do timão, um Romário a precisar da reforma. Contra tudo e contra todos, incluindo o Presidente. Nestes preparos, no País Irmão, não há quem pule fora do barco. Se este for para o fundo, vão todos, incluindo o comandante que, mesmo de bem afogado e morto ainda será enforcado, tão logo seja recuperado o cadáver.

Pois muito bem. Felipão é o homem do leme da nau portuguesa. Leva uma porrada de jogos sem sabem saber o sabor da derrota. Dirigiu os rapazes vitoriosos no Europeu 2004, que só caíram na final contra uma Grécia que se provaria, depois, ser de trazer por casa. E conquistou o apuramento para o Alemanha 2006 com uma vantagem e facilidade de impressionar o mais pintado.

É preciso abatê-lo

Mesmo assim é uma besta e, ainda por cima, um mal educadão. Logo pela escolha dos futebolistas se viu que os velhos e emperrados não iriam a terras germânicas para grandes cometimentos. Os detractores profissionais anteviram mesmo um desastre das cores verde-rubras, o descalabro, a derrota, o terramoto, o tsunami. Xingar o Scolari tornou-se uma obrigação. O alvo ideal para os tiros dos especialistas/sabedores é ele. Por isso é preciso abatê-lo.

Nada, nada. A equipa passou aos oitavos de final. Também mal seria se não passasse. Angola, Irão e México eram carneiros prontos para a degola. Assim, também eu. Mas, lá que passaram – passaram. Com um bambúrrio que nem te rales, à tangente, com tudo o que se queira. O Scolari, esse, continuava a ser uma falácia, não valia nada e, além disso, um oportunista, um sem-vergonha ganhador... de euros.

Ontem à noite, porem, foi ilibado - de todos os crimes cometidos - pelo tribunal de... Nuremberga. Que o sujeito é durão, já se sabia. Daí a nazi vai uma distância de milhões de anos-luz. Pois, assim mesmo, o grupo do Felipão marcou, aguentou, sofreu – e ganhou. Está pois encontrado o momento azado para se bater ainda com mais força no responsável máximo pela equipa de todos nós.

Que conferência de imprensa!

A conferência de imprensa de um Homem com caixa alta chamado Luiz Felipe Scolari, após a ciclópica tarefa contra os pupilos de Marco Van Basten, contra os críticos e contra o apito de Valentin Ivanov y sus muchachos, foi uma pedrada no pântano lodoso em que se sobrevive no futebol indígena. Adoptando linguagem mais futeboleira: foi um golaço! Pela dignidade, pela frontalidade, pela portugalidade, um viva ao seleccionador nacional!

E nem é preciso acentuar aqui que quando o Senhor Joseph Blatter disse no final do jogo que dava um amarelo ao russo, isso era mais do que evidente. Para não se afirmar que ele nunca devia ter ido à Republica Federal da Alemanha – por falta de qualidade. Os juízes do futebol cá da casa são, no mínimo, fraquitos. Por isso a FIFA não os escolheu. Ivanov, uma nulidade. E foi escolhido.

«Valerá a pena eu cantar o hino português, para depois dizerem que sou um produto de imagem e de marketing?» – perguntou o técnico da vitória. «Será que não entendem que, quando canto o hino nacional, o estou a sentir?», acrescentou. Este é o Scolari que alguns consideraram ser um golpista, pois até mexe os lábios fingindo que canta A Portuguesa.

Para os Senhores Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, onde quer que estejam – se estão... – o Sargentão deve ser um intérprete privilegiado da obra que é o hino de Portugal. Por todos os motivos e mais um: com essa atitude cimentou, se possível ainda mais, a união de um grupo de homens que, ontem, foram verdadeiros heróis da resistência.

E ainda mais: a comparação entre o Cristo e o Figo tem que se lhe diga. «Jesus Cristo deu a outra face quando foi agredido, mas Figo não é Jesus Cristo e, por isso, não deu a outra face. Tinha a bola, foi agredido na cara e caiu. Queriam o quê?» Por essas e por outras é que o homem atravessa todos os dias o Rubicão – e todos os dias afirma que alea jacta est! – é motivo de tanto dichote.

Os ditos bem pensantes e bem falantes desta minúscula faixa de terra que nós somos não toleram quem não entre no coro por eles orquestrado como um miserável meio tenor de quarta fila. Esses são os apaniguados que eles toleram, esses são os capangas com que contam. Os solistas, como é o caso do treinador brasileiro – que ainda por cima é tenor de gabarito – devem ser fuzilados provisoriamente.

Vá, senhores críticos: abaixo o Scolari e quem o apoiar. Ou seja, o Figo, o Costinha e os outros 21. E mais uns milhões largos de portugas do burgo e da diáspora.

domingo, junho 25, 2006

(Foto Miguel Ferreira)


O gajo tem jeitinho
Este blóguio que vem andando pelas ruas da amargura, vai ter de passar a intitular-se quefamíliaestaadosferreirasetc.blogspot.com. Hoje, antes do jogão com os Países Baixos, estreia-se nestas andanças, o Miguel Ferreira que, vejam lá, é o meu primogénito e economista. O jovem a chegar aos 42 fez o que podia – ganda nojo! (Ver explicação no texto de sua autoria). Juro que não o ajudei, apenas limei, aliás cuidadosamente, umas arestas… da prosa. Aqui, muito à puridade: não é que o gajo tem jeitinho? A.F.

Lá se foi o México


Miguel Ferreira
Tudo começou no habitual almoço no Sr. Salvador, escondido num beco do Campo Grande. Estava eu a comer com os meus colegas, tranquilamente, quando demos pela chegada ao restaurante do director geral da minha empresa. Após alguns telefonemas à porta lá se decidiu a entrar e naturalmente convidamo-lo a sentar-se connosco. Mal iniciámos a conversa perguntou-me: Miguel, você quer ir ver o Portugal – México? Ao que respondi, totalmente apanhado de surpresa – conto vê-lo na televisão.

Mas não! Era para o ir ver directamente, ao vivo e a cores em Gelsenkirchen!!! Uau!!! Claro que sim!!! Vamos a isto!!! Nunca tinha visto assim um só jogo da nossa selecção e da Alemanha só conhecia o aeroporto de Dresden, a leste, onde ficara «detido» varias horas juntamente com a família e restantes passageiros, há uns valentes anos atrás, na volta de umas férias passadas na Roménia. Ainda aquilo era a chamada Alemanha Democrática - que disso não tinha nada, como pudemos comprovar.

Bom, mas deixemo-nos de devaneios e voltemos ao que interessa. O que me aconteceu é o chamado «estar no local certo, à hora certa!!!» Alguem não pôde ir à ultima da hora e sobrou um bilhete... Mal cheguei a casa contei todo entusiasmado o que se passara, ao que os miúdos me responderam: «Ganda nojo!!! (o que, na linguagem de hoje, significa sorte). É para todos??? A Mimi (assim chamam à mãe, Margarida de seu nome) também vai???» Sim? Não? Não. Fora realmente uma grande sorte mas só eu tinha sido contemplado.

E no dia 21 de Junho lá estava eu a acordar às cinco da manhã, pois tinha que estar no aeroporto às seis e meia, como se combinara. Correu tudo lindamente, sem trânsito àquela hora da madrugada; cheguei 15 minutos antes do previsto. O avião era um novíssimo Airbus A310-300, com seis anos, charter da White coloured by you, a antiga Yes mais conhecida por Maybe pois nunca se sabia se o avião deles da altura - o Lockheed 1011 – chegava a descolar - ou não…

Actualmente tudo mudou nesta lowcost da TAP: a imagem, o comportamento, o avião e os horários. Partimos dentro do previsto e foi uma viagem muito agradável de três horas, em executiva, até Muenster. O comandante muito oportuno e sensato nos comentários da bola, prévios às habituais informações do voo. A nossa comitiva era composta por sete pessoas: da minha empresa, cinco e dois clientes nossos.

Um pernil de porco (de passagem)

Durante a viagem, fiquei a conhecer por intermédio de um dos clientes convidados, que em Lisboa, numa transversal à avenida do Brasil, perto da rotunda do relógio, podia-se comer o melhor pernil de porco de Portugal! E não é que tinha toda a razão? Já o comprovei ontem ao almoço. Os irmãos Rocha não brincam em serviço...

Aquando da chegada a Muenster aconteceu-me algo absolutamente inédito. Logo à porta do avião tínhamos dois agentes da alfândega alemã para verificarem os nossos passaportes e ao fundo das escadas, na pista, os autocarros que nos levariam directamente para o estádio «sem passar na casa da partida e sem receber os 2000 escudos. Ah o velho Monopólio da minha infância.

O Estádio fica numa zona muito bonita. Parece uma ilha azul e branca num mar verde, dada a quantidade de árvores que o rodeiam. Mal entrámos, ficaram-me com a única garrafinha de água que levava. Quando toca a negócio, à FIFA não lhe escapa uma. Aconchegámos os estômagos com uns blockwurst no pão e umas belas sandes de panados, bem regados com cerveja a cinco euros o copo! Dizia-nos um dos convidados que era o primeiro sítio onde a bebida é mais cara que a comida... Mas não nos podíamos queixar pois dentro do estádio, nas bancadas, o copo de Coca-cola ou cerveja era a dez euros! Safa.

É, realmente, um espanto! Totalmente fechado, com um cubo, composto por quatro ecrãs gigantes, pendurado no centro e totalmente cheio por 52,000 espectadores que lhe deram um colorido extraordinário. Os tons, esses, eram verde, vermelho e branco! A maioria do pessoal era mexicano, mas nós, os tugas, quando quisemos também fizemos um barulho do caraças.

Olés dos speedy gonzalez

O jogo começou com os mexicanos a gritarem Olé... Olé...Olé... Os tipos começaram com a posse de bola, que trocavam entre eles. Estes gritos duraram até ao primeiro golo de Portugal. Então, replicámos com um grande Olé!!!!! A partir daí já não se ouviam mais olés dos speedy gonzalez, mas sim das nossas bocas: arriba, arriba iba, iba PORTUGAL!!!! E, de seguida, o segundo. As gargantas portugas, ainda que bem lubrificadas pelas cervejolas, já enrouqueciam.

E, na segunda parte, com o golo do México, Portugal ficou ligeiramente desorientado mas com alguma sorte e com a ajuda da Senhora do Caravagio, eles falharam um penalti e alguns remates à baliza do GRANDE Ricardo! No fim, o que interessa é que ganhámos mais uma vez. Três jogos, três vitórias e mai nada!!!

O regresso foi muito ordeiro e calmo. Os mexicanos, mesmo perdendo o jogo, estavam felizes e em festa por terem passado aos oitavos com Portugal e até nos aplaudiram à saída rumo ao aeroporto. A viagem de regresso fi-la, para meu azarado coração de leão, ao lado do actual treinador do Benfica - Fernando Santos – não muito falador mas quanto baste para um voo «agradável.» Estou a brincar, claro!

Foi um tipo porreiríssimo, que adorou as «bocas» do pessoal e até se deu ao luxo de entrar com oportunidade e espírito nas brincadeiras. A chegada a casa deu-se pela meia-noite com a reconfortante sensação de missão cumprida. Ganda nojo… E, agora, vamos à Holanda. Só que, desta vez, em casa…
_______________________

NR - E fomos! Maniche - 1; Robben - 0! Um jogo épico, disseram os presentes. Um jogo em que o Felipão foi, uma outra vez, mais português que os portugueses. Até disse, a propósito de uma atitude menos de Luis Figo que este não era o Cristo, pois só Cristo é que defendia que quando se leva uma tapona na face direita deve oferecer-se a esquerda.

Van Basten e os seus levaram para contar, como já se vai tornando habitual. O Erickson que se cuide. Sorry Sir, but we must win; we want to win!



SORRISOS AMARELOS

Um par de botas

Antunes Ferreira
A Ana Salina, que começou a ser minha pupila no Diário de Notícias usando um par de botas indescritível, é uma outra filha para mim e para a Raquel. Quando a levei para o Tribunal de Contas a fim de trabalhar no Gabinete de Comunicação que eu ali criara, já não as trazia calçadas. Sempre me perguntei se as aventura por uma qualquer janela, ou se o par de exemplares teria ficado arquivado no fundo de dispensa esconsa, ou, ainda se pensava utilizar os chancos como bem de transmissão por herança. Creio que este trilema me quedará para sempre no lobo cerebral mais à mão. Isto se a acusada não me informar pelas vias regulares. Não se veja nisto qualquer insinuação ao aparelho rodoviário, muito menos ao urinário.

A jovem matulona já tem hoje dois pimpolhos, um do primeiro, outro do segundo (maridos) e continua a gozar do estatuto de filha e eu do de pai, ao mesmo tempo que a Graça Hespanha do de mãe. A vida tem destas coisas, mas, vejam lá, o preclaro professor António Manuel nem se preocupava com tais andamentos. De igual modo procedia a Raquel Alcântara de Melo Ferreira. A confiança absoluta e inaudita nos respectivos cônjuges era e é e será sempre incomensurável.

Ao fim dos meus longos cinco anos de parvoêra, estamos, de novo, em contacto intenso. Por imilios, nem é bom falar; pelo MSN, nem pensar em falar. Aos primeiros, a Senhora Gaja vai respondendo de três em quatro meses, diz que por muita trabalhêra que lhe dá o João Henrique, o último pimpolho (até ver), aliás, o Ucranianozinho. E os outros dois, ou seja o primo Eugénio, digo, primogénito Xavier (sobre o nome do qual há uma história que um dia contarei, juro) e o consorte sem sorte João, também são umas melgas. A expressão é dela. E ela é meio alentejana, como já se aperceberam.

No que concerne ao Messenger, a ex-botifarras, se me lembro, tentou uma vez, arriscou e experimentou inclusive a webcam que diz ter. Boato miserável. Se realmente ela existe será uma Noku, meide in Almotaceme de Baixo, um pouco abaixo de Almotaceme de Cima. Isto porque, mesmo com a intervenção de quase toda a família – o infante louro e de olhos azuis para o efeito ainda não conta – aconteceu um realíssimo e alternadíssimo flope. Daí para a frente – népia.

Pois desta feita, a Salinas, sem s, mandou-me uma estorinha de tal modo excelente que não resisto a publicá-la aqui no travessadoferreira.etc.com. O chiste tem montes de piada (as tias da Lapa já me apanharam, terminologicamente falando?) com sal q.b. e linguagem de salão, depois de depurada, como é óbvio. Já diz a Prevenção Rodoviária «se conduzir, não beba», sobretudo ao volante, acrescento eu, pois os limpa pára-brisas são por fora.

Assim sendo, segue a dança. Ó malhão, malhão; que vida é a tua; comer e beber; comer e beber; passear na rua. Com algumas alterações e rococós bacocos, i.e., barrocos, aqui fica o contributo da Ana-sem-botas.

No vácuo

Um dia, ele disse à caríssima metade que ia ali ao estamine da esquina comprar um maço de cigarros, pois o tabaco bazara. E foi, sem beijo de despedida nem nada, porque o estanco era mesmo ali ao lado, três prédios à espera do RECRIA à frente. E desapareceu. Nunca mais ninguém lhe pôs o olho em cima; refiro-me à vista, como está bem de ver. Situação que se foi alongando intemporalmente no tempo.

Não se tratou, atrás, de expressão com sentido figurado muito menos pejorativo. O Mendes disse exactamente: «vou ali à esquina comprar cigarros»… e ficou dez anos, repete-se por mor das dúvidas ou dos aparelhos auriculares para surdezes diversas desligados, dez, sem dizer sequer água vai, completa e intrinsecamente desaparecido. Saltasse ele no vácuo e não seria mais espectacular. O Luís de Matos não faria melhor.

Um dia, bateram à porta e a Dona Mimi Mendes foi atender. Era uma campainha de carrilhão, um smole bigue bem, que se fazia ouvir por todo o T4 com arrecadação e ponto de estacionamento, ambos na cave 2. E… lá estava ele. Quieto. Sem dizer uma palavra. Dez anos mais velho, naturalmente, mas sem dúvidas, ele, José M. Mendes, industrial de panificação reformado, em corpo inteiro.

A digna e fiel esposa não se conteve. Em vez de lhe saltar ao pescoço e simultaneamente – o que deveria ser difícil, mas não impossível de todo – começar a despir a bata das limpezas e arrumações, despejou toda a revola acumulada e sofrida durante o decénio que, aparentemente, acabava ali.

«Seu isto!!! Seu aquilo!!! Seu filho da p… mãe!!! Não tens vergonha nessas trombas, safardana? Então disseste-me que ias ali à esquina comprar tabaco e desapareceste!!! Abandonaste-me, abandonaste as quatro crianças que tanto perguntaram por ti, ficas dez anos sem dizeres pevide e ainda tens o desplante, a desfaçatez, a lata, a ousadia de apareceres assim, sem mais nem menos. Olhe mau bandalho: e seu sofresse do coração e me desse o badagaio???!!!...»

E continua a arengar. «Vais-me pagá-las. E aos jovens, uma que já casou, dois que já namoram e o último que começa a fazer a barba com gilete de pilha. Fica sabendo que vais ouvir das boas! Esta merda eu nunca ta perdoarei! Esta solidão (principalmente na cama, ainda que tu já não fosses o que eras) jamais a esquecerei! Estás a ouvir, bandalho? Nunca!!! Mas, de qualquer forma esta é a tua casa, entra, mas prepara-te para…»

Aí, o M. Mendes dá uma palmada na testa e diz: «Porra! Esqueci-me de comprar fósforos…» Si non e vero, é bene trovato.

sábado, junho 24, 2006




Allez les Bleus!!!


Estas duas que pode ler de seguida foram-me enviadas pelo Amigo Jean Charles Baudouin, num imilio de entre os muitos com que costuma mimosear-me frequentemente. Como as acho excelentes e estou certo de que têm lugar nestas páginas, elas aqui ficam, com um merci bien a um belga que é já mais portuga que o Afonso Henriques, o culpado disto tudo. Um País que começa com o filho a bater na mãe… No comments. Nem em luso linguajar, muito menos en français…
AF


L´équipe de France


C'est dans une école à la frontière franco-suisse, l'institutrice dit
qu'elle est fan de l'équipe de France et demande aux fans de l'équipe de
France de lever la main. Pour faire comme la jolie institutrice, tous les
élèves lèvent la main, sauf une. «Bah alors, petite Emilie, tu n'es pas fan
de l'équipe de France ?» demande l'institutrice. «Non», répond Emilie, «je
suis fan de l'équipe suisse». «Ah bon ?» Demande l'institutrice, «et pourquoi?» «Parce que mes parents sont fans de l'équipe suisse, donc je suis fan de l'équipe suisse» répond la petite fille. L'institutrice veut donner une leçon à la fille et dit «Et si tes parents étaient des imbéciles finis, tu serais quoi ?». Là, la petite Emilie répond «Je serais fan de l'équipe de France…».

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Mon père...

Toujours la même école, une autre classe. L'institutrice demande aux élèves ce que font leurs parents dans la vie. Tout le monde répond avec les métiers classiques : pompier, ingénieur, prof, médecin... sauf le petit Lucas.
L'institutrice demande alors à Lucas, «bah alors, il fait quoi ton papa dans
la vie ?» Le petit Lucas répond «Il est danseur exotique dans un gay bar, il se déshabille devant des homosexuels et des hommes mettent des billets dans ses sous-vêtements. S'ils paient bien, il va à l'hôtel avec eux et il couche avec pour de l'argent.» Choquée, l'institutrice demande «Vraiment ?» «Non - répond Lucas -il est coach pour l'équipe de France, mais j'avais trop honte.»


Uma receita
Figo com laranjas

Braz Ferreira
Sou cozinheiro, amador, mas sou.
Sobretudo para os amigos e em dia de jogo de Portugal.
Preparo umas lulas recheadas com creme de leite que é de rebentar a boca do bolão (que vai jogar a equipa nacional).
Mas tenho de reconhecer que sou fraco de sobremesas.
No entanto aqui vai uma receita que Vossas Senhorias poderão confeccionar no próximo Domingo.
Domingo, dia de Deus e dos anjos, esperando que eles estejam com a torcida lusitana durante os 90 minutos cruciais.
Certo é que Deus, neste caso o Doutor Scolari, estará connosco neste evento domingueiro.
E ele, alem de até cantar o hino nacional, tem, como o nosso hino, «nos levado à vitória.»
Esperemos que assim aconteça neste dia de Deus, ou dia do Mister.
Mas, prometi-lhes uma receita culinária e por tal aqui vai ela.
Juntam-se dois ovos (se possível os do Nisteroy) e quebram-se à maneira do Miguel.
Depois juntam-se 200 gramas de açúcar com algumas fintas do Cristiano Ronaldo.
Agregam-se duas colheres de chá de Simão, perdão sumo de limão para que a coisa fique muito Sabrosa.
Isto tudo, tal como o goleiro da Holanda, é batido na linha de golo e vai ao forno do estádio até estar cozido (ou fritar que é como vai acontecer aos holandeses)
Durante a cozedura a massa ficara mais Petit o que engrandece as nossas cores nacionais.
Uma vez retirado do forno espremem-se onze (tem de ser mesmo onze) laranjas em Gomes, com a casca de Carvalho, com um Pau(leta), ou com um espremedor bastante Valente.
Uma vez obtida esta calda, leva-se ao fogo com vinho do Porto (melhor será se for Benfica ou do Sporting) até atingir o ponto de caramelo.
Deita-se na bola, perdão no bolo já arrefecido (é como vão estar os flamengos depois do jogo) e põe-se na geladeira a gelar.
E para quê o Figo, me perguntarão vocês?
Esse é só para encher as cascas de laranja depois de espremidas.
Mas Basten de explicações e passemos à mesa.
Este bolo come-se com Curacao ou com queijo flamengo, mas se não tiverem em casa ataquem (como o time português) com uma pomada do Alentejo e um bom queijo da Serra.
Tenho de reconhecer que esta sobremesa poderá ser um pouco indigesta para certos habitantes das terras planas de Roterdão.
Mas creio poder assegurar-vos que a Deco não vai protestar, muito pelo contrário.


Economia dá sinais positivos


Antunes Ferreira
Não me canso. Todos os que julgam que arrumei as botas, podem tirar daí o sentido. Nem para o bem, nem para o mal. A bem, levam-me do casaco até aos boxers. E não me fazem mais nada, porque aí não deixo. E com a gente airosa que anda por aí… A mal, tomem tento e cuidado. Sou um adversário péssimo; posso, inclusive, ser um inimigo acérrimo. Já experimentei – e não gostei. Mas, se me picarem… Os gordos, como é assumidamente o meu caso, usam ser bonacheirões. Não os ataquem, atenção! Quando respondem – é uma porra!

Dizem os media que a economia nacional continua a dar sinais positivos. A actividade já está a melhorar desde os últimos meses de 2005. Dou a palavra aos especialistas. Escrevem eles que o indicador coincidente mensal elaborado pelo Banco de Portugal, que mede a tendência da evolução homóloga da actividade económica, «continuou a apresentar uma trajectória ascendente», divulgou a instituição nos Indicadores de Conjuntura de Junho.

Também o indicador coincidente para a variação homóloga tendencial do consumo privado, calculado pelo Banco de Portugal, apresentou uma relativa estabilização desde o início do ano. No período de três meses terminado em Maio, o indicador de confiança dos consumidores, divulgado pela Comissão Europeia, estabilizou face ao registado no primeiro trimestre, concluiu o Banco de Portugal.

O indicador coincidente de actividade económica do Banco de Portugal subiu em Maio para um crescimento homólogo de 0,9%, melhorando pelo sexto mês consecutivo. O BdP assinalou também que o indicador de consumo privado revelou uma relativa estabilização desde o início do ano, apresentando em Maio uma variação homóloga (face ao mesmo período do ano anterior) de 0,7%, ligeiramente abaixo de Abril (0,8%).

Indicadores bastante satisfatórios

Mais dados fornecidos pelos já citados Indicadores: as vendas de veículos ligeiros de passageiros diminuíram 2,0% no mesmo período (2,3% no primeiro trimestre), enquanto que no trimestre terminado em Abril, o volume de negócios do comércio a retalho acelerou ligeiramente. Uma no cravo, outra na ferradura? Penso que não.

Relativamente à formação bruta de capital fixo (FBCF) em material de transporte, o Banco destacou que as vendas de comerciais ligeiros novos acentuaram a tendência negativa, caindo 3,0% nos três meses terminados em Maio, mas as vendas de pesados aceleraram, crescendo 50,5%.

Quanto à FBCF na construção, o Banco Central assinalou que a informação disponível aponta para um comportamento mais desfavorável no segundo trimestre, indicando que as vendas de cimento das empresas nacionais para o mercado interno caíram 4,7% nos três meses concluídos em Maio (redução de 0,2% no primeiro trimestre). Entre outros componentes menos favoráveis, nos serviços registou-se uma pequena melhoria.

O Banco de Portugal adiantou ainda que, excluindo combustíveis, as exportações cresceram 8,0% no primeiro trimestre, em forte aceleração, e as importações cresceram 2,5%, após a estabilização em Fevereiro.Quanto ao mercado de trabalho, o Banco de Portugal recorda que o emprego total aumentou 0,6 por cento homólogos no primeiro trimestre e o desemprego aumentou 4,1% (7,2% o desemprego feminino, 0,7% o masculino).
Nos três meses terminados em Maio, o número de novos desempregados inscritos nos centros de emprego do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) aumentou 0,9% homólogos, mas o número total de inscritos baixou 1,9%.


OCDE na mesma onda

Por seu turno, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, OCDE, referiu que a economia portuguesa está a dar sinais positivos há já algum tempo, deixando antever que, nos próximos meses, vai registar melhorias. O indicador avançado da Organização para o nosso País está em recuperação há nove meses consecutivos, tendo mesmo atingido o valor mais alto dos últimos cinco anos. O referido indicador atingiu os 99,2 pontos, mais 0,7 pontos que no mês anterior. Esta subida é mais forte do que a registada no mês precedente, o que significa que está a dar-se uma aceleração.

A taxa de variação a seis meses deste indicador para Portugal, que visa identificar pontos de viragem do ciclo económico com uma antecedência de nove meses, também manteve a tendência positiva dos últimos tempos e subiu para 5,4%. Portugal está assim em linha com o indicador da OCDE para os países que a compõem, que também registou a décima recuperação consecutiva, para 110,1 pontos.

Os economistas e afins têm aqui matéria para reflexão. Tudo o que escrevi nos últimos dias parece-me que é comprovado por entidades de idoneidade comprovada. Já não se trata de meras opiniões; são afirmações, ainda que prudentes – o que é perfeitamente normal – positivas. Devagar se vai ao longe. A corrida da lebre e da tartaruga, recordam-se?

Entretanto, o Dr. Marques Mendes, líder dos sociais-democratas, considerou que a confiança na economia portuguesa não está a ser recuperada, ao contrário do que diz o Governo, e a situação da fábrica da Opel na Azambuja, é um bom exemplo. Perante estas afirmações, Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP lembrou que outros governos tiveram governações tão ou mais desastrosas que o actual. O sindicalista comunista não especificou a que Executivos se referia, mas para bom entendedor…

Temos assim e uma vez mais, o Presidente do PPD/PSD a praticar uma política… baixa, o que, vindo dele, é perfeitamente natural. Sabem os corajosos - que me lêem de há muito tempo a esta parte – que sou militante do Partido Socialista, facto que nunca tentei esconder, por não haver nenhuma razão para o fazer. Já fui candidato à Assembleia Constituinte e à primeira da República. Não fui eleito. Felizmente para os eleitores, o meu lugar nas listas era o último… Em Democracia e em Liberdade, o contrário seria espúrio ou estulto.

No entanto, isso não me impede de pensar pela minha cabeça. Sou, politicamente um iconoclasta. E noutras coisas, sou-o igualmente. Um cidadão empenhado no progresso do seu País, como creio ser o meu caso, por mais cartão partidário que tenha, por maior que seja a antiguidade da inscrição, deve pautar o seu procedimento pela sua própria cabeça. Imprescindível. Naturalmente que, sendo membro de um Partido, deverá também observar as regras e os procedimentos dele.

Sou, pois, um militante que pode ser considerado fraco cumpridor. Esqueço-me de pagar as quotas e só o faço habitualmente quando recebo a carta do Largo do Rato a lembrar-me de tal despautério. Mas as almas caridosas que por ali andam, lembrando-se quiçá que já por lá também vivi muitas e muitas horas fora de… horas, ainda não me enviaram para a Comissão de Conflitos, mesmo agora que só muito raramente frequento o local.

Por isso tenho dito e redito e aqui o sublinho uma vez mais: quando entendo que algo vai mal na instituição, digo-o. Ou escrevo-o. Verba volant, scripta manent. Daí que, concordando na generalidade com a actuação do Governo chefiado pelo meu camarada (penso que ainda se diz assim…) José Sócrates, divirja, na especialidade, dele e de coisas que está a fazer e não devia. Se não fosse assim, não continuaria a ser eu próprio. Logo, como tenho essa mania da escrita, digo-o e escrevo-o.

Daí esta estranheza perante a persistência do Dr. Marques Mendes (e de outros) em considerar e afirmar que «isto vai de mal a pior.» C’os diabos, Senhor. Vem-me à lembrança a afirmação de um meu soldado, angolano, que afirmava convictamente que quando uma ideia entrava na cabeça de uma pessoa, a única forma de a tirar de lá era cortando a cabeça.

quinta-feira, junho 22, 2006





Latifundiário da prancheta

Antunes Ferreira
Ontem, à volta dum balchão de peixe, de um chili fried de camarão, do dito crustáceo frito e recheado, tudo acompanhado de montanhas de arroz branco e antecedido por uns bojés com chutny de coentros, chamussas e baji puri - gula goesa - saiu-me uma graçola que foi aceitável e simpatimente recebida pela confraria culinária e aplaudida com entusiasmo acompanhado de gargalhada, pelo Sá Borges. Soltou-se-me a língua e, num arroto de repentismo, afirmei que um engenheiro era um latifundiário da prancheta...

O Sá Borges é um compincha dos almoços/tertúlias das quintas-feiras no Sabores de Goa, restaurante exemplar do Peter/Pedro. Tem uma singular condição em tais ágapes. Já de seguida a explico. Para tal terei de fazer uma comparação em ado comigo. Tudo bem. Eu sou um cooptado; ele é um convidado; eu sou um adoptado; ele é um adaptado; eu sou um caçado; ele é um integrado. Temos, apenas, uma coisa que nos iguala: somos ambos paclós. Além disso, outras nos unem: por exemplo, o vinho branco, bem frio, o prazer da mesa, o sarapatel e o espírito gozão.

Estou a ver Vocelências inquirindo, e bem, – que raio é isso de paclós? Volto a elucidar. Fala-se em Goa uma caterva de línguas: o hindi, naturalmente; o inglês, obviamente; o português, saudosamente; o guzerate esporadicamente e o concani evidentemente. Neste idioma um tanto mestiçado, pacló quer dizer homem branco, estrangeiro, cara pálida, em última análise, portuga.

Nunca me deveria ter metido em tais cavalarias; são muitíssimo altas. Nem sei bem se enfio o pé numa argola – que para o caso seria de presidiário por iconoclastia pura, que é uma forma politicamente correcta de dizer burrice alvar. Na mão esquerda tenho outra. Melhor dizendo, outras, mais precisamente duas.Uma é o atestado da graça que por aí grassa: o meu casório. Trata-se, portanto, da aliança que atesta o enlace com a Dona Raquel Olívia Alcântara de Melo, com Ferreira acrescentado, goesa da mais pura cepa, em ouro (o anel, está bem de ver); a outra é também uma aliança, desta feita – feita de prata. Estou, por conseguinte, feito.

O homem-pedestre

Pois o supracitado Sá Borges é um tipo castiço que, faça sol ou faça chuva, avança denodadamente para a Rua do Zaire, ali ao Bairro das Colónias - mesmo depois de ter caído o Acto Colonial que, aliás, os goeses abominam por lhes ter sido aplicado, e ter acontecido a descolonização. A pé, meus Amigos, a pé, em passada larga e cadenciada. É um pedestre convicto e militante. Dizia-me ontem, o engenheiro (já me esquecia de vos dizer, mas ele é, com diploma e tudo) que para se chegar ao paraíso do palato, tinha de se sofrer. Bendito sofrimento esse, a caminho de repasto - bendito. Bem dito.

É ele o inventor de uma expressão que já nestas colunas usei, ainda que sem mencionar o copyright a que tem direito: uma gabardina com ar condicionado. Boa! Sabem os leitores do que se trata? Daqueles preservativos de plástico, abertos dos dois lados (não se assustem, não há perigo, é mesmo assim, de fabrico) que, convenientemente retirados do congelador se enfiam nas garrafas de branco, para que a vinhaça não aqueça, do calor.

Antes que se faça tarde e sabendo o que se passa à nossa volta, espero ir, tão brevemente quanto possível, registar o meu latifundiário da prancheta numa repartição qualquer de patentes, que passe documento comprovativo com selo branco e assinatura reconhecida. Não quero que me aconteça o que se verificou ao engenheiro em causa. Por causa de ele não o ter feito, roubei-lhe o excelente exemplo da criatividade linguística que é seu, dele, apanágio.

Não sei bem – e por agora – se receberei direitos de autor. O engenhocas é que não os recebeu. E, citando uma vez mais a sabedoria popular – gato escaldado da água fria tem medo. Olarila.

Minhas Senhoras e meus Senhores

Aqui está o José Fernão Gomes Mentes? Minto! Martins. Um Homem das Arábias (onde trabalhou nos poços de petróleo), das selvas (lembra-se Dom Zézé de Beleza y Alarcón?) das Africas, da Tailândia e do Mundo. Notem bem: o Senhor Gajo é o mais distinto, elegante e jovem do belo grupo, salvo seja. O resto são freiras laicas com quem o Zé Martins tem uma ralação, digo, relação de Amizade pura, sincera e desinteressada. Ficam, assim, feitas as apresentações. O Mentes? Minto? Martins é um vero colaborador deste blogue, com nota + para a assiduidade. Assim fossem todos…
A.F.

quarta-feira, junho 21, 2006



Aumenta a conjura

Antunes Ferreira
C
á volto eu. Mal acabado de rabiscar o comentário sobre a consonância entre Cavaco e Sócrates, mal acabado de postar a apostila ao mesmo, vem de Bruxelas um despacho noticioso que refere claramente que a Comissão Europeia considerou «adequadas» as medidas tomadas por Portugal com vista à correcção do défice excessivo, e, deste modo, dispensa, para já, Lisboa de acções suplementares. Na sua comunicação sobre a «Avaliação da acção levada a cabo por Portugal», o executivo comunitário considera que, «neste momento, não é necessário dar mais passos» no âmbito do procedimento de défices excessivo de Portugal.

Apesar da CE ter ainda acrescentado que é crucial o Governo português conter a despesa este ano e desenvolver uma estratégia de consolidação orçamental rigorosa em 2007, e ter advertido para que se as medidas não forem integralmente implementadas ou se se revelarem ineficazes, serão necessários mais esforços de correcção, de forma a cumprir os objectivos traçados, pode voltar a dizer-se que a conjura continua.

Há, porem, que acrescentar aos que já a integravam, mais uns nomes e entidades. Antes do mais, a já citada Comissão Europeia. E naturalmente o seu Presidente Durão Barroso que, ainda por cima, é português. E o que mais impressiona é que, sendo embora laranja, faz parte da seita, à revelia de Marques Mendes, está visto. Ainda se arrisca à Comissão Jurisdicional do PSD. Mas isso é lá com ele.

Não fica a CE pelo seu Presidente. O Comissário Joaquín Almunia também se auto arregimentou nesta companhia. Veio dizer que as medidas do Executivo Sócrates são suficientes, ao contrário do que anteriormente se verificava. Tem uma atenuante o responsável pelo Comissariado para os Assuntos Económicos e Monetários: é socialista, ainda que originário da Espanha, que sempre nos vê com a suspeição q.b..

Não ao perjúrio

Não se sabe, para já, se mais algum membro do Executivo europeu estará também no centro deste gang. Sendo a Comissão o que é, natural será que assim seja. Mas, como não existem provas, nem estou ajuramentado para depor sobre este assunto, não menciono, obviamente, mais nenhum nome. Podia cometer perjúrio, falta de que me haveria de lamentar até entrar no forno crematório...

Junte-se o meu Amigo António Perez Metelo que escreveu um texto que me permito publicar neste blogue e que aborda exactamente a afirmação de Almunia. Este «pronunciou a palavra tão esperada desde o descontrolo fiscal de 2001 que nos atirou para o grupo de países apontados a dedo pela Comissão Europeia como infractores das regras, por todos aceites, da boa gestão orçamental em terras da Eurolândia. A palavra é: suficiente. Com o sentido de bastante.»

António: não te safas desta. Já se tinham levantado algumas suspeitas quando intervieste como orador convidado na Convenção Novas Fronteiras. Claro que não se pode afirmar que te viram com o cartão vermelho na mão. E, note-se, não estou a utilizar uma qualquer linguagem futebolística que bem teria razão de ser nestes tempos de Mundial. Já pertences ao compadrio – e pronto.

Poderia nomear mais gente, por exemplo os correspondentes na capital belga de diversos órgãos da Comunicação Social. Pois não é que deram, e com algum relevo, a comunicação da CE? Está bem que se trata de «assunto de interesse e de alguma importância» para o nosso País. Mas escusavam de lhe ter dado tanto relevo. Deste modo, porém, foram também incorporados.

O grupo aumenta, paulatinamente. Teixeira dos Santos, outro bom Amigo (a quem só conheço uma falta, ser portista...), tem de seguir em frente. Estou seguro que assim fará. Não é por força da Amizade que nos une. É por causa das moscas...


Suficiente

António Perez Metelo
O comissário Almunia pronunciou a palavra tão esperada desde o descontrolo fiscal de 2001 que nos atirou para o grupo de países apontados a dedo pela Comissão Europeia como infractores das regras, por todos aceites, da boa gestão orçamental em terras da Eurolândia. A palavra é: suficiente. Com o sentido de bastante. Para assegurar que se alcançará, pela primeira vez em várias décadas, em simultâneo, a redução sustentada da despesa pública em cerca de um ponto percentual e do défice em 1,4 pontos percentuais. Nunca antes o tinha dito Almunia. Realçara sempre o sentido das reformas em curso, mas também a sua dimensão insuficiente.

O novo qualificativo representa um ponto de viragem na credibilização externa do Estado português e do seu empenho em corrigir os seus desequilíbrios internos. E expressa um voto de confiança na aplicação rigorosa e sem desvios das metas traçadas. Para já, para este ano.Uma componente inestimável para esta mudança de olhar dos parceiros do euro sobre a nossa saga orçamental deve-se às reformas, concretizadas e anunciadas, na Segurança Social. Cujo contributo se mede a dois tempos: a curto prazo, o salto no crescimento das contribuições sociais, dos 3%, com o Governo anterior, para os 6% a 7% neste ano, afastou o espectro da falência iminente da Segurança Social pública e abriu espaço político para a apresentação do pacote de medidas de longo fôlego, que os parceiros sociais estão agora a analisar. Em vez de uma progressão real das pensões até 2050 de 3,9%, ao ano (o dobro do crescimento da economia, 2%!), os cortes propostos moderam a progressão para 2,9%.

Com a dotação adequada do Fundo de Equilíbrio Financeiro, a longo prazo, também aqui se deve aplicar o qualificativo de suficiente.Desde que, de facto, a economia cresça 2% ao ano. Mas, se assim não for, não é a Segurança Social que estará em causa, é o futuro do País!


terça-feira, junho 20, 2006





Isto é que vai uma crise

Antunes Ferreira
O Presidente da República fez, durante dois dias, o Roteiro para a Ciência, iniciativa com a qual pretendeu dar um outro olhar sobre a sociedade portuguesa, desta feita bem mais positivo do que na iniciativa anterior sobre a pobreza. E, para espanto de uns quantos defensores do tsunami que assola Portugal, Cavaco Silva declarou-se em sintonia total com o Governo de José Sócrates.

O aplauso do Chefe do Estado, que se verificou logo no primeiro dia do Roteiro sintetizou-se na afirmação «Portugal tem vindo a fazer, nos últimos tempos, a aposta correcta. É o PlanoTecnológico, é o compromisso para a Ciência... Para vencer hoje no mundo globalizado é preciso criar capacidade competitiva e as duas palavras-chave para a capacidade competitiva são: conhecimento e inovação... e para tal precisamos de investigação científica e recursos qualificados». E acrescentou que «as duas palavras-chave para a capacidade competitiva são conhecimento e inovação.»

Abriram-se, tão disfarçadamente quanto possível por mor dos dentes cariados, as bocas dos que, como atrás digo, permanentemente atacam o Executivo socialista precisamente sobre tais áreas, e comentam a catástrofe que prevêem para este cantinho à beira-mar plantado. «Estão feitos um com o outro, Belém e São Bento. Que mais nos irá acontecer?»

Tenho teclado e reteclado esta tónica. Se estamos a viver um dos mais graves momentos da História de Portugal – e estamos – para quê os augúrios mais deprimentes que se andam a lançar por aí? Dizem os críticos do actual Poder que tudo o que este tem vindo a fazer é um desastre. Que o investimento no «conhecimento e inovação» não passa de mais uma eufemística propaganda governamental.

Porém, o habitante do Palácio cor-de-rosa afirmou, alto e bom som e em público que está em sintonia com o que se vem fazendo no País. Sacrilégio, um vero sacrilégio, comentam. O dogma da infalibilidade é só do Papa; donde, o PR também se engana, como se enganam os publicitários incumpridores de promessas que recheiam este Governo – concluem, ressabiados.

Um alfinete, mesmo rombo…

M
uito bem. Estamos, assim, e uma vez mais, a constatar que as desgraças profusamente apregoadas não passam de balão mal cheio que não resiste a um qualquer alfinete, ainda que rombo. Há indícios de que as coisas vão andando soft e lentamente. Começa a despontar alguma esperança, ainda que enfezadita. No entanto, muito do que acontece parece indicar que se registam progressos, embora seja necessário acelerá-los.

De resto, nunca se ignorou a profundidade e a dimensão da crise. Jamais se esconderam os indicadores – a maioria dos quais provenientes de Bruxelas – muito maus que têm vindo a público sobre o desempenho de Portugal. E não apenas no domínio do défice. Continuamos na cauda do pelotão comunitário. E ainda que não sejamos os últimos dos últimos, há que ter em atenção o carro vassoura.

Os Portugueses (que, a princípio pareciam estar a leste da questão) foram-se dando conta de que o tempo das vacas magras estava em vigor. Os preços dos produtos face aos rendimentos levaram a que virássemos - os que mais são atingidos, isto é uma maioria sem desmentido, quer dizer nós, leia-se o que resta do que terá sido a classe média – os bolsos e descobríssemos que estavam prenhes de… cotão.

Serão, por isso, absolutamente indispensáveis as lamúrias? Alto lá. Em Democracia todos temos a liberdade de criticar. Convém, entretanto, que a crítica seja, tanto quanto possível, construtiva. Botar abaixo só pelo prazer de destruir, sem se apresentar alternativas válidas e exequíveis, nunca trouxe saúde a ninguém. Diria mesmo que as críticas saudáveis e pertinentes são como os comerciantes dizem dos cartões de crédito – bem vindas. Segue-se, assim, que o choradinho, tão do agrado luso (e da prática...) não leva a nenhum lado, excepção feita às portas de algumas casas de fado.

Veja-se o que os quase dez milhões de treinadores de bancada que todos somos vêm dizendo sobre a saga da selecção nacional em terras germânicas. E sublinho: os pupilos de Scolari já cumpriram o seu primeiro objectivo: passaram aos oitavos de final. Mesmo assim, não jogam puto; são uma cagada em três actos. E prosseguem: o Sargentão é quem encabeça estes gajos podres de ricos e, pior, ainda recebe o apoio deles. Que seria de esperar dessa cáfila?

Futebolistas são mafiosos, estão sempre prontos a venderem os próprios pais por himalaias de euros. Para não falar dos árbitros, sinónimos de corruptos, dos dirigentes incompetentes, dos agentes negreiros, até mesmo dos apanha bolas ambiciosos e falsos.

Serão, assim, absolutamente indispensáveis as lamúrias? Alto lá. Em Democracia todos temos a liberdade de criticar. Convém, entretanto, que a crítica seja, tanto quanto possível, construtiva. Botar abaixo só pelo prazer de destruir, sem se apresentar alternativas válidas e exequíveis, nunca trouxe saúde a ninguém. Diria mesmo que as críticas saudáveis e pertinentes são como os comerciantes dizem dos cartões de crédito – bem vindas.

Segue-se que o choradinho, tão do agrado luso (e da prática...) não leva a nenhum lado, excepção feita às portas de algumas casas de fado. Veja-se o que os quase dez milhões de treinadores de bancada - que todos somos - vêm dizendo sobre a saga da selecção nacional em terras germânicas. Faço notar que os pupilos de Scolari já cumpriram o seu primeiro objectivo: passaram aos oitavos de final. Mesmo assim, para os melgas, não jogam puto; são uma cagada em três actos.

E prosseguem: o Sargentão é quem encabeça estes gajos podres de ricos e, pior, ainda recebe o apoio deles. Que seria de esperar dessa cáfila? Futebolistas são mafiosos, estão sempre prontos a venderem os próprios pais por Himalaias de euros. Para não falar dos árbitros, sinónimos de corruptos, dos dirigentes incompetentes, dos agentes negreiros, até mesmo dos apanha bolas ambiciosos e falsos.

Vae victis!

As coisas são o que são. Resumindo e concluindo, para os «técnicos qualificados» que enchem os estádios, e até para os que não os enchem: se o Figo & Companhia não trouxerem o caneco vão ver como elas lhes mordem. Tirem esses multimilionários feitos à pressa e à pressão, os cavalinhos da chuva. Recordem o Europeu 2004 e o falhanço ignóbil na Luz. Preparem-se. Isto, se chegarem à final – o que é absolutamente impossível. Vae victis!

Tenho uma bandeira verde-rubra numa janela da minha casa. E outra, mais pequena, no carro, com haste própria, de plástico, adaptada ao vidro de trás. Chinesices… Não me considero um doente da bola; mas adoro futebol. Penso que, agora, todos (ou muitos) devemos dizer às claras que estamos com a selecção e gostaríamos que ela fosse, pelos seus pés, até onde lhe seja possível. Gosto do Felipão e dos portugas. Penso que (ainda) não me chamarão nomes por isso.

Mas, voltando atrás. Cavaco e Sócrates parecem estar em sintonia no que respeita ao desenvolvimento tecnológico, à formação, ao conhecimento e à inovação. E, tudo o indica, no apoio à equipa das quinas. Registe-se que assim é. Mais do que de coabitação, precisamos de colaboração. Convinha que assim continuassem. A eles, como é óbvio. Mas, sobretudo, a nós.


Apostila


Dava os últimos retoques no texto e eis que o noticiário digital informa que Vítor Constâncio, o governador do Banco de Portugal, empossado ontem mesmo para o segundo mandato à frente do banco central, saudou as medidas «corajosas» do Governo no quadro das finanças públicas referindo «indícios» de «uma verdadeira consolidação orçamental». De acordo ainda com as notícias, Constâncio manifestou ainda, na ocasião, confiança no movimento de recuperação da economia portuguesa – até admitiu uma revisão em alta na previsão do PIB – e acentuou a necessidade do Executivo continuar no caminho que se lhe afigura correcto.

Pronto. Temos um conluio entre Cavaco, Sócrates, Constâncio, Scolari e... eu próprio. Uma cabala tenebrosa. Uma camorra à portuguesa. Há, pois, que alertar a malta para não se deixar ludibriar por estes mafiosos que só regougam mentirolas. Mas, como diz o meu Amigo António Aguiar, repórter fotográfico de eleição e companheiro de canseiras no DN – «a verdade é como o azeite, vem sempre à tona d’auga.» Vamos então ver se desta vez é que é.

segunda-feira, junho 19, 2006






O 10 de Junho
ou dez réis
de mel coado?


Antunes Ferreira
Escreve-me o José Fernão Martins Mentes? Minto! Da Tailândia, pois de onde é que havia de ser. Em Banguecoque, dita a cidade dos anjos (da noite?) o Zé Gomes é o absoluto oposto do Buda deitado do templo de Wat Pho; enquanto este, gigante estendido, não mexe nem o dedo mindinho do pé direito, o portuga mais tahi que conheço é, todo ele, a actividade mais frenética.

Especialista no mercado nocturno da capital tailandesa, onde tudo se vende e tudo se compra, desde os Rolex autenticíssimos até às massagistas mais consumadas e menos espartilhadas (na prática sexual), ele é o guia ideal para todos os tipos de transacções que ali se podem efectuar. De tal forma que o gajo parece ter nascido como os cogumelos, na rua Khao San do bairro de Banglamphu. Foi ele que me introduziu nos mistérios desse dédalo de ruelas apinhadas de bancas de comerciantes. Obrigadinho, ó Mestre.

Pois o senhor em causa – com o qual mantenho e com muito gosto uma excelente e proveitosa (para mim) correspondência – manda-me pelo correio electrónico uma pergunta. E o 10 de Junho? Pondo de parte qualquer intenção provocatória do excelso Martins Minto, que por terras do rei Bhumibol Adulyadej, o governante mais longevo da Ásia e do Mundo, vou tentar satisfazer o desejo expresso.

Sou do tempo em que o 10 de Junho era apenas o Dia da Raça. Em que os discursos oficiais enalteciam as glórias do passado, o patriotismo, o pluricontinentalismo, e o multirracismo, enfim, o ecumenismo dos descendentes da raça lusitana. O desfile da Mocidade Portuguesa, desde o Marquês do Pombal até aos Restauradores era, então, o ponto mais alto das comemorações.

No decurso da aventura espúria que foi a guerra colonial, o Dia de Portugal transformou-se em homenagem pública aos soldados portugueses. Uma enorme cerimónia, habitualmente no Terreiro do Paço, englobava representações dos três ramos das Forças Armadas em formatura de honra a que se seguia a entrega pelos dignitários do Poder corporativo das mais altas condecorações, muitas delas a título póstumo.

Porquê aquele senhor?

Hoje, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – após o 25 de Abril da Liberdade e da Democracia – as comemorações têm componentes mais diversificados, sendo que nelas avultam a entrega de galardões a individualidades consideradas importantes da vida nacional. Elas são escolhidas pelo Presidente da República que, naturalmente, preside às cerimónias.

Desde que assim acontece, instalou-se neste Portugal da má língua uma polémica que ameaça eternizar-se. E que muito simplesmente se sintetiza no porquê aquele senhor? E não se pergunta e porque não eu? – por razão do parecer bem que se enroupa no politicamente correcto. Na mesquinhez das pequenas invejas portugas a questão sobreleva as próprias medalhas e faixas das comendas.

Pessoalmente, já não tenho paciência para estas miserabilistas guerras do alecrim e da manjerona. Um País a sério não pode dar-se a tais frioleiras. Talvez o problema resida principalmente aqui: será Portugal um país a sério? A pergunta, ainda que incómoda e inconveniente, chamem-lhe o que lhe quiserem chamar, não é despicienda. Bem pelo contrário.

Com a chegada a Belém do Professor Cavaco Silva e já nas vésperas do 10 de Junho deste ano, começaram as hostilidadezinhas do costume. Se fosse o Dr. Sampaio, os agraciados seriam os mesmos? Haveria mais – ou haveria menos? E de que cor predominante? Os laranjas nas mais diversas cambiantes predominariam agora?

Recuando um tanto no tempo: e se se tratasse do Dr. Mário Soares? E do General Ramalho Eanes? E do Marechal Costa Gomes? E do general António de Spínola? As comadres politiqueiras deste burgo/aldeia esfregaram as mãos, de contentes. Quanto mais se voltasse ao passado, melhor era para se fazerem essas comparações atípicas e infelizes. Nos media e no meio do Povo.

Labirinto e caldo de cultura

A
confusão é sempre um excelente caldo de cultura. Diria mesmo, o caldo por excelência. Quanto mais se confundirem as pessoas, as organizações, as instituições, mais labirínticas se tornam as situações. Ora, como se sabe, um labirinto é constituído por um conjunto de percursos intrincados criados com a intenção de desorientar quem os percorre. Quanto mais difícil seja a solução para a amálgama de corredores, mais difícil é a saída. Em política isto é, igualmente (eu diria principalmente) uma prova imbricada.

Na mitologia grega, o labirinto de Creta teria sido construído por Dédalo (arquitecto cujo nome tornou-se, depois, também sinónimo de labirinto) para alojar o Minotauro, monstro metade homem, metade touro, a quem eram oferecidos regularmente jovens que devorava. Segundo a lenda, Teseu conseguiu derrotá-lo e encontrar o caminho de volta do labirinto graças ao fio de um novelo, dado por Ariadne, que foi desenrolando ao longo do percurso.

Agora, não parece haver barbante que nos valha. Ninguém quer abdicar da prática da canalhice miudinha para tornar o imbróglio cada vez mais contundente. Somos pequeninos nas actuações, somos diminutos na corrupção, até somos enfezados nas mais banais conspirações de trazer por casa.

Na época dos Descobrimentos – que hoje nos servem para nos engalanarmos e mastigar o saudosismo infinitesimal que outrossim nos caracteriza – obtivemos poder e proventos para dar e vender. Deveriam ter sido, antes, para aforrar, e por isso mesmo, para aferrolhar. Nada. Ao contrário de muitos que construíram os seus impérios e deixaram obras faraónicas para a posteridade, nós demo-nos ao luxo de numa ou duas gerações delapidar o ouro, as especiarias, a prata, as madeiras exóticas. Só ficaram os escravos.

Em Górdio o famoso Alexandre corta com a sua espada o famoso nó que assim passa a chamar-se também górdio, cumprindo o oráculo que prometia o Império da Ásia àquele que tal feito cometesse. Quem será capaz de o fazer nos dias que vão correndo? E quanto ao 10 de Junho, estamos conversados por agora. Porque a continuar teria de considerar que não há ponto... sem nó.