quinta-feira, setembro 28, 2006





Pintado de sangue - fresco

Antunes Ferreira
Tem sangue que chega. Por toda a parte. Os filhos das putas dos tugas tinham levado para contar. Mas nós também. Um cheiro enjoativo a ovos podres envolvido em enxofre e misturado com pólvora q.b., evola-se daquele esterco espezinhado, fazendo chegar as tripas à boca e vomitar de sarjeta. O nosso comandante tinha mandado contar as baixas. Cabeça de coluna como eu sou, logo me calhara a merda da tarefa.

Causa náuseas virar um corpo destroçado e descobrir que pertenceu a um camarada do Uíge, o Sambano Manuel, pai de cinco filhos e com 24 anos completados há duas semanas. Mas, logo de seguida, é o Jacinto Catumbe, ele dizia que tinha 18 anos, mas não teve mais que 15. Ficou sem as pernas e a coisa de baixo pende, obscena, no vazio. E o Julião do Quicabo e o Calcinhas do Marçal, Luanda, nunca soube o nome do gajo, nem o primeiro quanto mais o apelido. Um quadro pintado de fresco, de sangue fesco.

Nasci no Golungo Alto, terra do camarada Presidente Agostinho Neto Chamo-me Francisco Adão, para os amigos Chico, para as miudas boas, Chiquinho amorzinho. Fiz o sétimo ano no Salvador Correia, minha mãe veio com nove rebentos para a capital e ficou no Casa Branca. É lavadeira, a minha velha, Leocádia de seu nome, o meu falecido pai sempre lhe chamava a Leoa, dele, está claro, não de qual leão sem juba e satelizado de moscas.

Servente de primeira no Hospital Maria Pia, o mais velho sonhava que eu fosse médico. Tou-lhe vendo, na bata branca, camisa de Macau fresquinha, co estetotoscopo no pescoço, deitando receita nos doente, apalpando as minina enfermeiras, mulatas de três assobio, cuequinha e sutiã malé, por baixo, só a pele nua mesmo, algumas de fazer perder a cabeça de cima num homem. E levantar a de baixo.

Até um fato de lã

Juntando todos os angolares possíveis e impossíveis eles compraram-me a passagem para Lisboa, no Moçambique, segunda classe. O meu filho num viaja nos porão, soletrara entre os dentes ralados a minha velha. Eu já tinha um enxoval como se fosse de casamento, tal era o entusiasmo de seguir para a cidade a que chamavam de Ulisses. Até um fato de Inverno, de lã cinzento-escuro, comprado na Saratoga, ali à Mutamba.

Uns dias antes da partida, o meu primo Jeremias convidou-me para ir com ele no Avis, cinema a céu aberto, ali para os lados de Alvalade. Um tio era porteiro de uma vivenda ou antes de um palácio da Diamang, que ali tinha vários. O tio Joaquim era um pobre diabo, um meia-leca, ninguém dava nada por ele. Só na Cuca é que era campeão. De Luanda, Cacuaco e demais arredores até à Mabubas.

Tio Joaquim tinha um segredo. Era dos nossos e ninguém sabia. Muito menos eu, que até ia no Puto, para estudar Medicina; donde, um maricas feito com os brancos. Tudo indiciava que era assim – mas não era. Primo Jeremias, filho dele, quem sabe se calhar só da tia Catarina, nestas coisas o soba é que a sabe toda. Sucessor dele na sanzala era o filho da irmã. O filho da mãe, como a malta dizia na brincadeira. A mulher do soba podia ter muito pai de muito filho…

O cinema era o pretexto para conversar. Antes de sentar, a baía lá no fundo com miríades de luzinhas a tremelicar, mais pareciam cus-de-lume ou pirilampos em língua de branco, barcos de pescadores que saiam noite fora para a faina, tudo lhes sussurrava como os N’goleiros do Ritmo que aquela cidade era linda, era de bem querer, minha cidade é linda, hei-de amá-la até morrer.

Médico da guerrilha

Primo Jeremias ficou de boca aberta quando eu lhe disse que queria ir na Faculdade de Medicina de Lisboa para me licenciar e voltar como médico para a guerrilha. Então tu não é um reles traidor da Pátria, pois não? Jeremias é marçano da mercearia do patrão Santos, no Sambizanga. Nem sei se tem a quarta classe, mas creio bem que não. É um patrício entroncado mas baixinho. Usa óculos de aro grosso de plástico a imitar tartaruga

Eu sabe que sou cambuta e caixa d’óculos diz ele. Você, primo Francisco, que aprendeste com os tugas no liceu, tens de saber mais do que aquilo que nós pensava, aka. Mas eu nunca imaginou que eras patriota. Tu vai viver uma grande aventura só para voltar e ajudar os combatentes. Primo Joaquim franze o cenho e endireita as lunetas que lhe escorregam na cana do nariz.

Não te preocupes, primo. Eu vou, mas daqui a sete anos estou de volta. Não volta não, primo Francisco. Você arranjas lá uma tuga loira lhi namoras lhi saltas na espinha se casa com ela e vai ter muitos filhos, uma menina mulata de carapinha amarela. Não se engane, primo Francisco, tu não enganas a mim, porque eu sei que você não vais voltar do Puto.

O bar do cinema ia fechar. A Revolta na Bounty já dera o que tinha a dar, criados varriam o chão de cimento afagado, apanhavam as piriscas, adeus dizia o Marlon Brando, farto de fragata mas cheio de mulheres bonitas. Primo Joaquim escorropichou o último Constantino e disse que ia contar no tio Joaquim. Conta, primo, conta. É bom que a malta saiba com que conta em relação a mim. Ainda agora não sei se ele percebeu. Mas foi. Contar no tio.

O mais estranho é que nem sequer embarquei. Um amigão, o Jofre, branco de Angola, veio contar-me que o inspector Albuquerque, da PIDE, dissera na Portugália que me ia catrafilar, pois eu andava metido com os apoiantes dos turras do MPLA, que por ali muitos havia. E acrescentara que quando ele (eu) estiver em São Nicolau, campo de prisioneiros no deserto, nem pelos pentelhos o (me) haviam de safar, os cabrões dos pretos.

O Jofre, tão angolano como eu, meu companheiro de carteira desde a primeira classe até ao sétimo ano do liceu, dera-me uma dica. Estivesse eu, de madrugada, em frente à Liga Nacional Angolana metido na sobra e uma carrinha Datsun azul escura me apanharia e seguiria ao seu e meu destino. O mais difícil era enganar os pides até à madrugada.

Na cama da Manela

Não foi. Nem vale a pena pormenorizar mas entre o fim da tarde e o começo da noite, a cama da Manela ajudanta de cabeleireira enchera-se de mim e ela aconchegara-me ao peito rijo, de mamilos castanhos e escuros, e eu em troca enchi-a de seiva branca, de árvore de borracha não. Minha, quente, espessa, viva. Por tudo o que de buraco tinha ela. Ninguém, mas mesmo ninguém sabia sequer que eu a conhecia e com ela pinocava. Segredo absoluto. Logo, a PIDE também não.

Datsun, Mabubas, Quitexe e por aí fora, nada a empanar a viagem, só um furinho de merda no pneu direito da frente, nem foi preciso usar a bomba, mais solavanco menos solavanco lá seguimos mancando automobilisticamente. Chegados ao destino, em plena mata, conheci os camaradas que ali tinham a base deles. O negrume de nova noite espalhava-se por entre as árvores. Deitei-me num pano de tenda estendido sobre capim seco.

Foi apenas o começo. De semanas e meses e semanas e um ano e dois e mais semanas de jogar ao jogo mortal da guerra. Habituei-me ao perigo e quando me quiseram promover a comandante disse que não, pela primeira vez na guerrilha. E foi preciso explicar que havia de ser médico para cuidar do nosso povo, tão maltratado e amesquinhado durante séculos. O pessoal parece-me que me entendeu.

E agora, por entre a sanguineira amaldiçoada, aqui estou eu, tentando verificar se algum dos nossos abatidos ainda tem réstia de vida. Os feridos, mesmo os mais graves, já seguiram de padiola a fazer de maca para a base. Tem um médico cubano lá. O camarada doutor Mariñon já salvou gajos em pior situação do que a da maioria destes.

Acabados, esfarrapados, grotescos

Os que jazem estão acabados, esfarrapados, escorridos de sangue, braços e pernas sem dono, até uma cabeça caída no chão, grotesca, com os olhos muito abertos e o teclado fechado, entre os dentes uma meia língua decepada por eles, quais lâminas afiadas ou presas de tubarão. O curandeiro de Havana, devidamente encartado, dera-me um estetoscópio que eu usava como amuleto. Não sou, nunca fui, creio que não virei a ser supersticioso, no entanto.

Sirvo-me dele para tentar saber se em alguém ainda bate o coração, entre os mortos não é fácil, mas, às vezes. Tarefa macabra, diligência fútil e desnecessária, Sem razão. Vou aproveitando para contar as baixas mortais. Porra, são 14 ou 15, talvez menos, talvez mais, pela confusão e o sangue é complicado chegar a número certo, tal é a mistura da enxurrada da morte.

Identifico quase todos, falta um ou dois, que estão irreconhecíveis. As bazucas e os morteiros dos soldados de camuflado desta vez trabalharam muito e bem, à mistura com as rajadas ziguezagueantes das Bredas montadas nos Unimogues. É verdade que eles também levaram porrada de criar bicho; mas nós, mais. Na guerra é assim. Dizia a sôtora Maria Helena, no Salvador, a propósito dos combates na mata, Deus guarde os nossos soldados, que havia um ditado muito antigo: quem vai à guerra, dá e leva.

Comandante Linguiça João chega na mortandade, ergue o sobrolho, nele um sinal de espanto, quase de incredibilidade, coça o cocuruto e anda em volta, passos leves de bailarina de pontas, parece que não quer estragar mais o capim e o folhedo. Chico – não começa por camarada, algo está mal na sua cabeça, ou será no coração? – Chico, manda apanhar essas coisas e depressa que os sacanas voltam. Por favor.

Continua-me o sobressalto com aquele por favor. Nem comandante lhe chamo. João, estás bem? Não, não estou. Estava se entre esses estivesse, esquartejado, exangue. João andou no Seminário de Luanda, conheceu pessoalmente o bispo Moisés Alves de Pinho, a que a matula dos muceques chamava Dom Moisinho Alves dos Pés, só não foi ordenado porque saíra a tempo para a luta armada. Alcunhavam-no o Jesuíta. Taciturno e impassível.

Hoje, não. Hoje, agora mesmo, corre-lhe o sangue nas veias, nas artérias, nos afluentes mais pequenos. Não há espaço nem tempo para a insensibilidade, aliás aparente. Está, mais do que chateado, comovido. Da cabeça aos pés, ou melhor, às botas. Ele não o diz, limita-se a negar que esteja bem. Assim mesmo, negativa absoluta, sem motivo para dúvidas por não ter rodeios. O comandante Linguiça João não está bem. Ponto. E o cabeça de coluna Francisco Adão também não.

terça-feira, setembro 26, 2006



São Mateus nos valha…

Meninas e Meninos

Tal como estava prometido (e programado) aqui temos a segunda parte da famigerada Feira de São Mateus 2006. A Cláudia Pereira, que nos meteu nesta enorme alhada (ver 13 comentários ao texto anterior que este contempla e dir-me-ão se não tenho razão. TREZE, até à data…) pode começar já a avançar com outro artigo, mais maneirinho, como se advertiu. Se ao mesmo ou a este aqui dado a público se seguirem mais comments, ora então muitos parabéns, jovem viseense. E que São Mateus nos valha… uns à faca, outros à navalha. AF




FEIRA DE SÃO MATEUS 2006 (2)
É impossível meter a Sé
dentro da Igreja Nova

Cláudia Pereira
Tento esgotar o tema da nossa Feira. Se mo permitem, retomo o que anteriormente escrevi, abordando já o tema do espaço ou da falta dele. A procura é mais que muita e a oferta é limitada. Jorge Carvalho recebe solicitações de comerciantes que, pretendendo marcar na presença na feira, lhes vêem o pedido ser declinado por falta de espaço. “Pagando ou não, é impossível meter a Sé dentro da Igreja Nova”. Além disso, a Direcção da Expovis nunca poderia ficar indiferente a solicitações tão especiais, como sendo as da APPACDM e Cáritas, etc…. às quais, gratuitamente, são concedidos espaços para que possam angariar fundos para as suas causas, obviamente entendidas como nobres. Torna-se ridículo, por isso, vir alguém dizer que a Expovis se preocupa em propagandear a venda de espaços.

Fala-se muito da morte do chamado corredor central. O terreno da Feira não estica. Jorge Carvalho é peremptório quando afirma que “o terreno disponível e delineado para a realização da Feira foi-nos entregue tal qual aí está e os metros quadrados não esticam”.

O corredor central teve, portanto, de se deixar cair. Não se fazem omoletas sem ovos. O espaço disponibilizado falou mais alto. “Não é que não tenhamos pena e que também a nós não nos agradasse contentar tudo e todos... mas era humanamente impossível. Como em tudo, na vida, não se pode agradar a Gregos e Troianos e nós tivemos de fazer as opções que, depois de discutidas, nos pareceram as melhores” – frisa Jorge Carvalho. “Só no dia da inauguração registaram-se à volta de 35 mil entradas. Mas é claro que no final do certame se fará o balanço, o mais rigorosamente possível, das entradas pagas e não-pagas”.

A recolha do lixo é, igualmente, motivo para alguma controvérsia. A explicação do Presidente diz que foi aberto um concurso público e ganhou a empresa Higilusa. A recolha dos lixos é efectuada em regime de permanência. Existem contentores em número considerado suficiente e todos os dias, à noite, são recolhidos e esvaziados. Se há queixas – que parece não haver – a Expovis só tem de contactar a empresa responsável.

Todos os dias
é um dia novo

A engrossar o rol de críticas à Feira actual, ouve-se que “não existe preocupação com o fruir dos visitantes”... Vejamos: o Executivo faz sempre um esforço enorme para ir ao encontro dos gostos mais diversos e diversificados, sabendo, de antemão, ser tarefa ciclópica. Ainda assim, concretiza aquilo que considera ser a gestão mais adequada, destacando-se a presença das louças de Barcelos, o artesanato, os carroceis, os carrinhos de choque, as farturas, enfim, tudo o que é importante e fundamental numa feira com este figurino e que se deseja manter popular. Quer dizer: todos os dias é um dia novo - e diferente. Se um dia há quem não goste, temos a certeza de noutro haverá quem goste e o equilíbrio revela-se perfeito.

Em termos da programação, ponto muito apetecido pelos “profetas da desgraça”, Jorge Carvalho reafirma que a mesma é elaborada atendendo aos gostos de um público tão variado como é o da Feira. E o exemplo não tarda: “O Quim Barreiros arrasta multidões. A Feira enche com ele e, tenho de referir que, o Grupo que aí esteve, o Mercado Negro, teve menos seis ou sete mil pessoas. E o curioso é que eu próprio vi muita juventude frente ao palco, alegre, divertida e de braços no ar. Não vi a mesma coisa noutros grupos que já actuaram e, também lhe digo, vou estar atento à actuação dos Boss AC” O que se verificaria já depois desta entrevista

“ Nestas coisas de programação dita erudita, para intelectuais ou pseudo-intelectuais, temos de ter em conta que a Expovis é uma empresa e, embora noutro plano, claro, não pode deixar de ter em atenção a sua saúde financeira. E depois, por amor de Deus, nós temos de dar ao público o que ele quer, quando não estaríamos a fazer uma feira para o próprio umbigo”.

Enquanto eu aqui estiver, a Feira oferecerá aos visitantes aquilo e só aquilo que os visitantes desejarem e demonstrarem que gostam. A Feira – e outra coisa fora disso torná-la-ia inviável – tem de apostar numa programação que agrade e tenha saída e não numa programação que dê prejuízo.

Temos aí o
Viseu, Naturalmente e nós estamos atentos e sabemos o que acontece com os programas eruditos. Ora, eu pergunto: onde estão, nas alturas próprias e nos espectáculos próprios, esses ditos intelectuais? É que aqui na Feira nós vemos e sabemos onde estão as pessoas que gostam dos programas que introduzimos e delineamos. Mas, para terminar este assunto, eu gostaria muito que todos os que têm críticas viessem até aqui falar comigo, porque eu tenho, através dos números, a resposta a todas as dúvidas que possam existir”.

A Feira está aí e os números de um balanço que já se pode adivinhar confirmam que os responsáveis da Expovis, uma vez mais, fizeram das tripas coração para ofertar à cidade, e a quantos de fora a visitam, um certame de coração e com coração.

Ao alto, Jorge Carvalho, o Presidente da Feira

quarta-feira, setembro 20, 2006




FEIRA DE SÃO MATEUS/2006 (1)

Um certame de coração
e com coração

Cláudia Pereira (Correspondente em Viseu)
Conforme o prometido, eis-me aqui. Então, se me permitem, “vamos lá analisar o caso, de forma calma, sem escárnio e sem mal-dizer... Começo por dizer que a coisa mais fácil e simples deste mundo é chegar à fala com o Presidente da Feira de S. Mateus, Jorge Carvalho. Verifiquei-o por experiência própria. Nunca, ao que constatei, o líder do Executivo da Expovis se recusou a receber fosse quem fosse! É só chegar à secretaria, perguntar por ele, entrar e falar. É claro que para todos aqueles que chafurdam nos pântanos da maledicência anónima, dar a cara e confrontar directamente os responsáveis, conversar com eles e esclarecer dúvidas... bom, esta parte está fora de questão, não é? compreende-se!...

Parece ser infantil atirar pedradas às pessoas e meter de seguida as mãos aos bolsos como se não fosse nada connosco. Infantil, estúpido e perigoso. E depois lembra aquele velho ditado “só se atiram pedras às árvores que dão bons frutos”. Vamos por partes. Tentemos responder às críticas que por aí têm circulado; por alíneas, se possível. A intenção é essa - pelo menos. Assim dê-se a palavra a Jorge Carvalho. Por assuntos - para ser mais compreensível.

Bilhetes caros

Fala-se em termos de comparação de que as entradas na Feira de Março, em Aveiro, custam 1,5 euros (dos quais 37,5% revertem a favor das Corporações de Bombeiros daquela cidade). Todavia, atente-se no sofisma desta afirmação. A Feira de Março cobra-se de 1,5 euros, mas apenas em dias normais. Os críticos não referem – porque lhes não convém ao discurso - que os dias de espectáculo são cobrados a dez euros. E acrescenta Jorge Carvalho, “se nos vierem provar que a cidade está preparada para pagar ingressos no valor de dez euros nós até cá trazemos o Júlio Iglésias para actuar...”

Política de receitas

A direcção da Feira prossegue a política seguinte: Bombeiros Voluntários, Rádio Renascença, Paróquia de São José e Confraria de São Vicente de Paulo – 100 % das receitas, por cada dia. Pergunto: chega para bater os 37,5% da Feira de Março? A política da nossa Feira é, em meu entender, muito mais abrangente e muito mais justa, pois entrega totalmente os dias festivos às referidas Instituições, sendo, por isso mesmo, tudo da responsabilidade delas – bilheteiras, espectáculos, etc... A direcção da Feira não tem nisso qualquer intervenção, permitindo que as Instituições programem e executem os seus “dias” como bem lhes apetecer.

Agradar ao público

Os dirigentes da Feira conseguem, assim, prosseguir os seus objectivos de agradar a um público que é, necessariamente, diverso e diversificado e tem-no conseguido, isso mesmo se percebendo pelo crescente número de visitantes, de ano para ano, contrariamente ao que as más-línguas apregoam. Se fosse minimamente verdade que a Feira estivesse a perder qualidade, a primeira coisa a ressentir-se disso seriam as bilheteiras.

Ora, não é o caso. E a Feira, como qualquer outra empresa, de qualquer género (até se pode invocar as empresas de Comunicação Social para este exemplo), perderia drasticamente o seu mercado de acordo com a perda de qualidade. Perderia expositores e público visitante. Pelo contrário, os números são claros. A Feira nem perde Expositores muito menos Visitantes.


Um novo recorde

I
sto deveria fazer com que os opositores de serviço metessem a viola no saco. Apenas um exemplo. Se uma Televisão for fraca, o público-alvo muda de canal. É assim com tudo e em toda a parte. Quem assim não o entender não possui a mínima noção de nada nesta vida. “Neste momento, alguns dos números a que já tivemos acesso, apontam para um novo recorde de bilheteiras, quer dizer cerca de 200 mil entradas pagas. Ora, isto, por si só, é o melhor elogio a que a gestão da Expovis pode aspirar” – remata Jorge Carvalho.

Os novos sanitários

Não é também verdade que haja falta gritante de equipamentos básicos. A Feira tinha, no ano passado, as suas instalações sanitárias todas juntas, por não existir rede de esgotos. Este ano optou por dividi-las e espalhá-las pelo recinto. São cinco ao todo e estão lá para quem não for cego, nem de olhos, nem de espírito. Construiu-se uma rede de esgotos nova já este ano – não se vê mas existe – e isso permitiu a construção de cinco novos lavabos, a saber: um junto ao palco (16 às 24h), dois na zona comercial (08 à 01h) e outros dois na zona das enguias (08 às 02h). Pretendia-se acrescentar mais um na zona dos carroceis, porque sabemos que daria jeito, mas a rede não o permite.


O caso das bilheteiras

Este ano, também para gente de olhos abertos, foram desenhadas e construídas novas bilheteiras, para anular o efeito caixote que as anteriores tinham. E, já agora, também se fala de aglomerado de feirantes sem ordem aparente. Nada. Existe ordem em tudo o que respeita à Feira... Pode é não ser a ordem que outros lhe dariam, mas isso já é outra história. Estamos aqui como no futebol: treinadores de bancada há-os aos milhares, mas se calhar nenhum joga à bola nem nunca jogou. Ou não sabe nada do desporto-rei. A arquitectura do recinto da Feira está concebida por forma a optimizar os seus espaços e, ainda, de modo a permitir que, em caso de qualquer incidente, se consiga uma adequada e rápida actuação dos meios de socorro, ambulâncias, bombeiros, polícia, etc... (Continua na 2.ª parte)

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NOTA DO EDITOR

A Cláudia esmera-se – mas alonga-se… Daí que o travessadoferreira publique agora esta primeira parte de um trabalho muito interessante – a jovem está cada vez melhor e a cumprir – e depois sairá a segunda. Desde já aviso: não se trata de censura. Muito menos de telenovela. Mas, há que gerir o espaço principalmente de um blogue. Mau: lá vem o velho Chefe da Redacção do DN… E por isso algumas (minúsculas) emendas, algumas (pequenas) correcções. Os vícios maus ficam; os menos maus vão-se. A jovem correspondente terá de aceitar que assim seja... Regras são regras. Mas estou seguro que as aceita.
Por outro lado, aqui renovo o convite à Cláudia. Menina: arranje mais uns colaboradores e/ou correspondentes para esta aventura. E que escrevam – eles ou elas. Noutros locais, pois em Viseu já temos e estamos bem servidos. Mulţumĕsc frumŏs. Passe Vocência a palavra ao Presidente da Feira. Ele que veja o blogue e comente se gostou ou não. Se sim, sim; se não, não. Penso que ter mais comentários de outras gentes também daria mais ânimo ao maluco titular do travessadoferreira.blogspot.com.
AF

segunda-feira, setembro 18, 2006

Roberto Marinho
As ligações perigosas

Antunes Ferreira
Sem que nada o pudesse indiciar, sequer, surge-me no monitor o cidadão Gustavo Duarte, brasileiríssimo, muito simpático e bem-educado - e jovem. Já não sei o motivo, mas logo na primeira oportunidade ficamos amigos. Para o caracterizar, depois de muita prosa através do msn, tenho de utilizar o brasileirismo: é um cara muito legal.

Tenho vindo a incentivá-lo para botar alguma coisa neste blogue. O malandreco, alem de se ver livre da namorada, foi dizendo que sim, logo que possível, é agora, amanhã – enfim um rosário de muitas contas, mas de escrita, nada. Ontem, porém enviou-me o texto que me prezo de publicar de seguida.
A autora, a jornalista Ana Lira, figura de destaque da editoria da Rabisco (rabisco@rabisco.com.br), Revista de Cultura é bem conhecida no Brasil. A Rabisco acaba de completar quatro anos, com direito a vela e tudo. Por isso – e mesmo sem que ela o soubesse previamente – aceitei a proposta do Gustavo e aqui vai disto.
Mas, antes, umas linhas sobre a autora, aliás publicadas na citada Rabisco.
Ana Lira na verdade é Ana Paula, mas por motivos de segunda ordem reduziu seu nome a algo mais simples. Nascida na capital do agreste, Caruaru, e moradora da Veneza Brasileira há um par de décadas, adora ver montanhas e área verde por todos os lados, embora tenha uma paixão enorme pelo mar. Leitora compulsiva, ela divide espaço entre os textos da faculdade e a montanha de livros e jornais que habitam seu quarto e que esperam uma vaga na sua agenda, já que a criatura não consegue ler mais de uma obra ao mesmo tempo.
Tudo dito, retrato fiel, presumo. Agora o texto, conservando a grafia e a semântica brasileiras, o que mais interessante ainda o torna para os leitores portugueses. Afinal, com pequenas divergências, a língua de Camões ou de Jorge Amado é a mesma.

Dez anos além do Cidadão Kane
Documentário sobre Roberto Marinho faz aniversário invadindo salas alternativas no dia pela democratização da mídia

Ana Lira (analira@rabisco.com.br)
Durante a última década o Brasil vem sendo palco da proliferação de salas alternativas de cinema e cineclubes. Esses ambientes, a princípio, foram concebidos para que o público tivesse acesso a obras que não são veiculadas nos circuitos comerciais. No entanto, muitos deles têm servido, também, como espaços de fomentação da tão sonhada liberdade de expressão, que aqui no país é tão concreta quanto o mito da democracia racial.

No dia 17 de outubro, foi celebrado em todo o país o Dia Pela Democratização da Mídia e muitas dessas salas ficaram lotadas para a exibição de um dos mais polêmicos documentários realizados mundialmente: Muito Além do Cidadão Kane. O filme, que trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro, completou dez anos servindo como instrumento de protesto contra a censura. O próprio filme, realizado por Simon Hartog para o canal 4 da BBC de Londres, é proibido em terras tupiniquins desde a estréia, em 1993, por decisão judicial.

A primeira justificativa para a censura foi a ausência de um documento vindo da Inglaterra autorizando a veiculação da obra. Hartog tomou conhecimento do fato e permitiu a exibição em qualquer parte do planeta. Porém, a película mostra o que boa parte dos representantes do poder brasileiro não queria que viesse a público e uma segunda ação judicial foi movida proibindo de vez a projeção do filme nacionalmente. Os advogados da Rede Globo tentaram vetar a circulação da fita em outros países, mas não conseguiram, e foi esse fracasso que permitiu que uma minoria seleta da população brasileira conseguisse ver o que o resto do país não viu: a face da mídia do Brasil que não vira atração de TV.

Ao longo de quase duas horas, são mostrados com uma narração criticamente irônica em off fragmentos de uma história de manipulação de resultados (como os cortes efetuados na edição do último debate entre Luiz Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que influenciaram a eleição de 1989); de censura a artistas (como Chico Buarque que por muitos anos foi proibido de ter seu nome divulgado na emissora); de criação de mitos culturalmente questionáveis (como é o caso de Xuxa) e de veiculação de notícias frívolas e tolices em programas de auditório.

Os depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto, Fausto Neto, entre outros jornalistas, historiadores e estudiosos da sociedade brasileira se intercalam com as imagens dos acordos firmados por Marinho com representantes do alto escalão da política nacional, com trechos dos programas da emissora na época (Domingão do Faustão, Fantástico e Xou da Xuxa, considerados pela produção do filme como fúteis) e com a situação de miserabilidade do Brasil: telespectadores que recebiam menos de um salário mínimo e assistiam todos os dias a Rainha dos Baixinhos oferecer um café da manhã delicioso ao público, quando boa parte daqueles que a assistiam em seus barracos sequer tinham um pedaço de pão para comer. Um verdadeiro paradoxo sociocultural.


As razões que levaram Simon Hartog a produzir o documentário sobre os bastidores da Globo - e, por tabela, de outras emissoras brasileiras de grande porte, como o SBT – não são totalmente claras. Porém, tendo ou não os europeus segundas intenções, o mérito do registro não é comprometido, visto que ele traz à tona uma série de questionamentos éticos que parecem esquecidos pela mídia brasileira há muito tempo. Não é a toa que na última pesquisa da organização Repórteres Sem Fronteiras, o Brasil ficou 71º no ranking das nações com maior liberdade de imprensa. Há algo de podre no reino da Dinamarca...



quarta-feira, setembro 13, 2006





Promessa e compromisso

Antunes Ferreira
Não tenho o prazer de conhecer pessoalmente o jornalista Pedro S. Guerreiro. Mas sou seu leitor assíduo, bem como do Sérgio Figueiredo e da Luísa Bessa. Aliás, embora não seja o meu domínio, de forma nenhuma, registo aqui que, como quase leigo na matéria, o Jornal de Negócios é bom, bem feito e acessível a ignorantes como eu.

Nunca me permitiria, pois, discutir o que o jornal e em especial estes três colunistas dão à luz do dia. Como velho jornalista que sou – caldeado em muitas situações, algumas bem difíceis, outras menos agradáveis, outras ainda mais empolgantes – tenho para mim que o que hoje se publica quotidianamente pouco ou nada tem que ver com o que se paria quando, por exemplo, chefiava a Redacção do Diário de Notícias.

Mas tenho de acrescentar que já lá vão uns bons quinze anos. Se o Mundo mudou o que mudou neste espaço de tempo, como não haveria de mudar a maneira de fazer jornais? E já nem me refiro a estes «mistérios informáticos», a estas tecnologias de ponta, a estas cibernéticas democratizadas.

Somos o que somos e no tempo em que estivemos, estamos e, quiçá, ainda estaremos. Completo 65 anos já na próxima semana e um destes dias disse a minha mulher Raquel que com o peso do calendário, volta não volta precisaria de duas canadianas. Isto em frente de testemunhas tão idóneas quanto possível.

Com a ironia e o jesuitismo q.b. característicos, a goesa que me caçou há quase meio século, respondeu, na constância dos presentes, que o que eu queria eram duas canadianas, mas de 18 aninhos cada uma. E para quê? Acrescentou. Tu já não sabes o que havias de fazer com elas. Reticências, por favor.

É assim a vida. Venho eu escrevendo com alguma pertinácia e vezes repetidas que o País não está tão mal quanto o pintam os vencidos da política, os idosos restelianos. Ainda se pode ler acima o que penso do desempenho do meu Amigo Fernando Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças de José Sócrates. E, zás, sai a terreiro o Pedro S. Guerreiro na edição de ontem do JE com o escrito que me permito transcrever de seguida.

Não pedi permissão ao autor, muito menos ao diário para o fazer. Mas creio que serei relevado da falta cometida – que não tem nada de involuntária. Dissera eu o contrário e estaria a mentir com quantos dentes ainda tenho na boca. Pois, funcionando como uma espécie de álibi, aqui está o artigo de que gostei tanto que o insiro no travessadoferreira. Tenho dito.

Há vida dentro de défice

Pedro S. Guerreiro
É
à confiança que o primeiro-ministro manda que lhe leiam os lábios: o peso da despesa pública na economia portuguesa vai cair este ano. É a primeira vez em décadas. Não é uma promessa, é um compromisso. Promessa foi estabelecer esse objectivo no Orçamento do Estado de 2006; compromisso é estar em Setembro com a informação económica e orçamental necessária para já poder descruzar os dedos.

No segundo trimestre deste ano, a despesa pública não só caiu face ao PIB como foi menor que a verificada no mesmo período do ano passado. Para um país que esteve obcecado com défice e contas públicas durante anos esta é uma grande notícia. Se for uma tendência sustentada, isto significa o princípio do fim da dependência das receitas crescentes. Era a fatalidade endémica das nossas contas públicas: uma despesa impossível de conter e que exige sempre que as receitas cresçam mais. Ou seja, que se cobrem mais impostos. Ou seja, duas subidas da do IVA de 17% para 19% com Durão, de 19% para 21% com Sócrates. Isso e venda de património e técnicas criativas.

José Sócrates diz hoje neste jornal que não será assim este ano. Que a despesa cai mesmo em 2006. Que o «monstro» das despesas com pessoal do Estado, essa componente hiper-rígida do nosso Orçamento, também cai. Há várias maneiras de olhar para estes números (e é necessário que se observe que a redução da despesa beneficia da saída de professores e de laboratórios nacionais destas contas), mas entre ver um copo meio cheio ou um copo meio vazio, é mais justo vê-lo a encher-se. Porque é um travão à despesa.

É em face deste cenário optimista (que inclui a «novidade» de o País dispensar este ano um orçamento rectificativo) que o governador do Banco de Portugal vem credibilizar a expectativa de ter um défice de 4,6% este ano sem recursos a receitas extraordinárias (no PSD ainda se jura a pés juntos que assim não será; o Banco Central Europeu duvidou do mesmo na semana passada). Mais: Constâncio admite rever em alta o crescimento da economia este ano – já se fala em aumentos do PIB de 1,3%. E isto num ambiente de retracção do investimento (parte do controlo da despesa vem também daí, o que não é necessariamente bom), com uma contribuição negativa da construção, que amarga ante uma estagnação na obra pública e uma quebra evidente no imobiliário, como mostram os dados do crédito à habitação agora revelados, com o menor número de contratos celebrados em cinco trimestres.

A economia portuguesa está a enfrentar os seus traumas. Já exporta de novo, já atrai investimento directo estrangeiro, já amedronta evasores fiscais, já começa a controlar a despesa pública. Desobstruindo estes atrasos de vida colectivos, pode enfrentar-se os seguintes da lista: flexibilidade laboral, investimento em inovação, burocracia, informalidade. No próximo ano, diz o Banco de Portugal, a recuperação do investimento (público, empresarial e das famílias) poderá dar um novo impulso à economia. É em 2007 que os projectos de IDE que Manuel Pinho e Basílio Horta exibem começarão a render, primeiro na construção de infra-estruturas, mais tarde nas exportações.

Esta é uma justa recompensa para os portugueses, que têm aceite apertar os cintos sem, apesar de tudo, grandes convulsões sociais. É também uma vitória do primeiro-ministro – até porque, contra a opinião corrente de então, soube afinal escolher bem o seu segundo ministro das Finanças.
(In Jornal de Negócios, 2006-09-13)

segunda-feira, setembro 11, 2006







O Ministro das Finanças

Antunes Ferreira
Tenho muito prazer e muita honra de poder dizer sem margem para dúvidas que o Fernando Teixeira dos Santos é um Amigão. Outro tanto posso dizer em meu nome e da minha cara-metade Raquel, da Tina, sua esposa que faz parte igualmente e por direito próprio dessa alínea da Amizade. Ponto.

E porquê esta declaração prévia? O Professor Teixeira dos Santos encetou comigo essa Amizade, quando era Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças de outro bom Amigo, o então Ministro da pasta Sousa Franco, infelizmente já falecido. Ora eu pensei que dificilmente apareceria nesse Ministério fulcral e dificílimo, cujos titulares são sempre os maus da fita, alguém que ultrapassasse o meu colega desde o primeiro ano do Camões até à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

No entanto, o que privei com o então Secretário de Estado levava-me já a pensar que seria Homem para grandes voos, nomeadamente nesta política maneirinha que temos. Quando substituiu o anterior titular, fui, óbvia e naturalmente dar-lhe um abraço e desejar-lhe a melhor sorte do Mundo. Quatro anos de Terreiro do Paço tinham-me proporcionado a possibilidade de avaliar a dimensão da tarefa.

O tempo foi passando e entrou-me pelo bestunto, aliás pouco cristalino, que o Ministro estava a ultrapassar, quase diria todos os dias, as expectativas que nele depositara. E hoje, sem pejo nem hesitação, tenho de aqui o dizer: o meu Amigo Fernando Ministro das Finanças Teixeira dos Santos é, talvez, o governante que em tão melindrosa pasta melhor tem sido. Ou seja, que se lixe a dubitativa: o melhor.

E o peso que lhe caiu, cai e continuará a cair sobre os ombros é imenso. Recordo que Teixeira dos Santos tem também a Administração Pública nos muitos encargos pr que é responsável. Que os Funcionários Públicos ou os trabalhadores da FP ou o que lhe queiram chamar, me relevem se algum pecado cometo. Mas a Função Pública é um enorme problema.

Por todo esse oceano encapelado, o Fernando meu Amigo, o Ministro das Finanças de José Sócrates, vem navegando com mão firme e mestria. Para além dessa excelente prestação, há que realçar o modo como ele vive a função. Não apenas na dimensão política; e Teixeira dos Santos é um político de mão cheia. Mas também na relação humana.

A gente da Comunicação Social já nele confiava e bastante bem o acolhia como Secretário de Estado. O professor Teixeira dos Santos conversou então com imensos jornalistas e fez-me sempre a atenção de me pedir para estar presente nesses encontros, muitos deles conformando entrevistas. E, na modéstia do que me foi possível, tenho muito orgulho em dizer que bastantes foram os newsmen ( e women...) que eu próprio apresentei ao governante.

A revelação de que neste ano de 2006 não haverá um Orçamento Rectificativo, feita pelo próprio Primeiro-Ministro, tem por fundamento o trabalho profundo, sério e honesto que o Ministro das Finanças vem fazendo dia após dia. Há quanto tempo não havia uma peça orçamental colada à principal como mezinha de cura duvidosa?

Pois agora, com tudo o que possa dizer, comentar, criticar, apostrofar, não haverá o malfadado documento. Por isso este escrito de um contribuinte que aplaude o Ministro «que lhe vai aos bolsos». Para os (poucos) me lêem: agradeço que acreditem que não trago escondida neste escrito nenhum pedido, cunha ou similar. O Ministro Teixeira dos Santos não é dessas coisas. Muito menos de «encomendas» para que digam bem dele. Eu digo, porque assim penso e creio que muita gente mais também

O meu Amigo Fernando, portuense orgulhoso, professor emérito, governante credível, político consumado, tem, porém, uma falha - aliás lamentável. É dragão e até assiste a jogos dos tripeiros no camarote pintodacostiano, debruado a azul e branco... No melhor pano cai a nódoa, que o mesmo é dizer ninguém é perfeito.

quinta-feira, setembro 07, 2006




O caso Mateus
- um berbicacho

Braz Ferreira (Correspondente nos Emiratos Árabes)
M
esmo longe de Portugal tive um real desprazer de seguir o caso Mateus. De início até julguei que os agentes da Al Qaeda tinham envenenado o nosso tão conhecido rosé.

E pensei com os meus botões ou talvez eles tenham pensado comigo: In vino veritas..., donde, com o vinho matarás... Já viram o que seria morrer de uma talagada só. Mesmo que se saiba que tem vinho que é pior que veneno, ainda até hoje esta dádiva de Baco é sinonimo de saúde e de bem-estar. Não é que os médicos americanos disseram que dois copos por dia ajudam a combater o colesterol? E se fossem três, ou quatro ou cinco, ou mais? Será que conseguíriamos de vez embebedar este tipo de safadeza?

Agora envenenar o Mateus, isso aí já passa dos limites do teste do álcool...
Tenho uma amiga,loira, que me disse um dia que uma alcoólica era uma cólica árabe... E também é de sua autoria, que um copofone era um telemóvel em forma de copo... Desde então pintou o cabelo e deixou de dizer disparates.

Mas voltemos ao nosso Mateus, conhecido no mundo inteiro. Envenenado? Me pareceu um grande disparate, mas comecei a indagar. Primeiro, fui a um dos muitos supermercados de bebidas alcoólicas que se podem encontrar nos Emirados Árabes e comprei um garrafa de Mateus rosé. Depois, no supermercado Choitram comprei umas boas costeletas de porco, pois isso também se vende nos países árabes, mas só para estrangeiros.

Rosé e costeletas de porco

G
relhadas e acompanhadas por um bom rosé, não há veneno que dê jeito.

E assim foi, sentado na beira da piscina, lá fui petiscando as costeletas banhadas em molho indiano de caril e bebericando o tal de Mateus. Até hoje ainda não morri, mas talvez seja um veneno ao retardador. Vai-se la saber? Com o Bin Laden tudo é possível.

Mas graças a Deus e a Allah (se por acaso o Bin estiver a ler este blog) até hoje nem uma pequenina dor de barriga me atingiu. Alguma acidez no estômago, sim, motivada pelo molho indiano, mas além disso nem sombra, mesmo que fraca, de veneno.

Então voltei a convocar os meus botões, e pensei: se não envenenaram o vinho rosé, então o que é o tal caso Mateus? A minha imaginação então começou a divagar, devagar. Por esta razão levei algum tempo até voltar a abrir o web site da RTP e da SIC. A notícia continua a dar que falar. Isto porque só falavam no Mateus para aqui, Mateus para acolá.

De repente, me lembrei de um amigo que tive no Brasil que se chamava Mateus e que gostava de pato no tucupi. O cara era de Belém do Pará, boa praça, bom garfo e bom de copos. Era capaz de beber mais de vinte diferentes tipos de caipirinha. E cerveja nem te conto.

Uma vez, vi ele fazer a roda de uma árvore amazónica, daquelas de três metros de diâmetro, com latinhas de Antártica, pois Brahma, nem morto, como ele dizia. Mas se a Antártica também estivesse envenenada, aí é que ele se tivesse enganado. Mas será que envenenaram também a cerveja brasileira?

Liguei para a nega Fulô, amiga do Mateus, para lhe pedir que ela desse um pulinho na casa do Mateus para ver se ele ainda respirava entre duas enroscadas, das quais só ele sabe apanhar. E ele estava vivo, o que indicava que também era boato o envenenamento da Antártica brasileira.

O AFC e o JFC, equipas de futebol

E então Sr. Mateus qual é o seu caso? Ah tribunais e futebol... Se isto continuar, daqui a pouco temos várias equipas com as cores da Académica, ou, pelo menos, duas: AFC, ou JFC. Explico; Advogados Futebol Clube e Juízes Futebol Clube.

Já imaginaram 22 caras de batina preta e colarinho branco batendo uma bola...e o povo assistindo de babaca. Pois é entre Valentins e outros que tais, somos nós, POVO, que continuamos a pagar o pato (não o do meu amigo Mateus do Brasil) e a passar por verdadeiros imbecis.

Pagando entradas para uma cambada de pseudo dirigentes que só tem qualidades de gritadores e na maiorias das vezes só estão aí para esconder dinheiro das transacções dos astros do futebol. E se isto continuar, ainda um dia vamos terminar sendo eliminados, não por falta de golos, pois ainda os sabemos marcar, mas por falta de vergonha na cara de certos dirigentes do futebol português.

À vossa saúde, brindemos com Mateus, o nosso rosé nacional, pois esse ainda tem nome honrado na área internacional.

quarta-feira, setembro 06, 2006





Quando eu queria ser jornalista

José Martins (Correspondente em Banguecoque)
Durante a minha vivência em Banguecoque conheci muita gente, de ministros a embaixadores e outros; e, claro, não podiam faltar os jornalistas. Nunca cheguei a entender a razão por que também gostava de ser jornalista. O virus chegou-me na Beira, em Moçambique, quando ainda era um jovem na casa dos 30. Conheci o Henrique Coimbra, o Rui Cartaxana do Diário de Moçambique, o Inácio de Passos, o falecido e brilhante jornalista Gouveia de Lemos, o Roberto Cordeiro e ainda outros de que não me lembro, do Notícias da Beira.

Quando o Gouveia de Lemos veio de Lourenço Marques para a Beira organizar o Notícias da Beira, um dia entrei no seu gabinete de trabalho e disse-lhe: «Sr. Gouveia de Lemos eu quero ser jornalista!» E perguntei-lhe logo se no seu jornal havia lugar para mim. O bom homem animou-me; que não perdesse as esperanças. Uns meses depois, disse o mesmo ao Cartaxana, um rapaz da minha idade e famoso na Beira pelas suas intervenções jornalísticas.

Aconselhou-me a comprar um livro na Salema para a iniciação ao jornalismo. Era nessa altura viajante da firma City Stores e até nem sabia porque cargas de trabalho queria uma profissão de parco salário, dado que alguns meus amigos jornalistas tinha mais cotão nos bolso que moedas. Quando observava algo de interesse jornalístico no meu caminho, telefonava para a redacção do Diário de Moçambique a noticiar o facto. Não havia proventos mas amor à camisola. Sentia a vaidade de ao outro dia ver a fotografia e a notícia que tinha partido de mim.

De Moçambique zarpei para a Rodésia do Ian Smith e a vontade de ser jornalista ficou pelo caminho. Regressei a Portugal em 1976, já como mecânico profissional e passados dois dias de chegar à pátria minha amada estava a trabalhar na empresa de bebidas J. Cândido da Silva, em Ramalde (conhecido como o lugar dos «cornos grandes». Não eram os dos homens, mas os dos bois dos lavradores daquele meio rural).

Naquela empresa, um armazém de bebidas com uns trinta empregados, todos eram camaradas do tio Álvaro Cunhal, simpatizantes do Otelo Saraiva de Carvalho, do Vasco Gonçalves e outros políticos que apareciam da noite para o dia. Todos, homens e mulheres, andavam de autocolantes na lapela dos seus ídolos. Um motorista de barbicha no queixo (que me desculpem os que usam pêra, mesmo que sejam do partido político em que não alinho), procurou mentalizar-me para me associar ao partido, e até me ofereceu bilhetes de transporte para a festa do Jamor. Eu não fui; nem para o partido, nem para o Jamor.

terça-feira, setembro 05, 2006








Multa de dois cabritos
para mulher que use
calças


Companheiro de muitas lides e de muitas nocais, o Alberto Guimarães e a sua extremosa esposa Manuela, são Amigos do peito que, felizmente, reencontrámos por estas paragens ditas europeias. Claro que não me posso esquecer de um tal Hélio Santa Bárbara Teixeira, maila Marta e prole, nossos vizinhos da rua Nicolau Castelo Branco, casas encostadinhas, com um mamoeiro ao meio encostado a um muro meramente simbólico os quais, por espaçadas vezes, também vislumbramos.

O Beto Guimarães faz parte do grupo de meus correspondentes que se vai tornando bué de enorme. Imeiles bem-vindos, coisas com graça, mas, sobretudo, apontamentos de uma Angola em que convivemos e nos tornámos Amigos.

Desta feita, uma minúscula traição: tem tanta laracha o texto que me imeilou – que não resisto a registá-lo neste blogue. Com isso, espero e desejo que o Al continue e, quer ele, que a Manelinha – e os Amigos deles, que nossos Amigos serão – contribuam como colaboradores/correpondentes nestas lides. Ó Alberto, uma mukanda: muda-te com as tuas bikuatas para o travessadoferreira. Antes que seja tarde... E com a devida autorização da caríssima metade. AF


Um Decreto Real de truz

Alberto Guimarães
O rei Bingo Bingo, máxima autoridade tradicional da região do Cuito Canavale, no leste de Angola, proibiu as mulheres de usarem calças, sob pena de pagarem uma multa de dois cabritos ou dez mil cuanzas (cerca de 100 euros).

A decisão, que consta de um decreto recentemente aprovado pelo soberano onde se estabelecem novas regras de conduta que devem ser seguidas pelos súbditos, determina a proibição de uso pelas mulheres de qualquer peça de vestuário «destinada ao homem».

«Qualquer soba (autoridade tradicional local) que encontrar uma mulher a usar calças ou outro vestuário destinado aos cidadãos do sexo masculino deve multá-la em dois cabritos ou dez mil cuanzas», refere o decreto real, divulgado em Luanda pela Rádio Ecclesia, a emissora católica.A preocupação do rei do Cuito Canavale com o uso indevido de vestuário masculino levou-o a solicitar a «estreita colaboração da polícia e de todas as forças da lei» para que sejam presas todas as mulheres infractoras.

O decreto real estabelece também novas regras nas relações entre homens e mulheres, determinando que «o homem que engravidar uma moça em idade escolar e não queira casar com ela, pode pagar uma multa de quatro cabeças de gado bovino ou o equivalente em cuanzas».
Para o casamento, o soberano estabeleceu que o alambamento (dote) a pagar pelo homem à família da noiva será de «duas cabeças de gado bovino», especificando que os animais podem ser entregues vivos ou «convertidos em dinheiro equivalente». Totalmente afastada fica a possibilidade, até agora comum, deste pagamento ser feito em cerveja ou refrigerantes.

O monarca do Cuito Canavale estabeleceu ainda que as ofensas morais implicam o pagamento de uma multa de uma cabeça de gado bovino, enquanto o homicídio obriga ao pagamento de dez cabeças de gado bovino à família da vítima, sendo ainda o autor da morte «entregue à justiça do Governo».O mesmo acontece a quem for encontrado a consumir produtos estupefacientes, estabelecendo o decreto real que «deve ser entregue à polícia nacional». Nestes casos, o soberano entendeu que deveria poupar trabalho aos tribunais e definiu que os consumidores de drogas devem «permanecer presos durante dez meses».

O decreto real também abrange a área do ensino, determinando que os alunos que tiverem cinco faltas injustificadas devem ser denunciados ao soba, que os castigará «com trabalho na horta ou na lavra».

Por outro lado, apenas os cristãos ficam autorizados a realizar a circuncisão dos filhos nas unidades de saúde, enquanto os restantes súbditos são obrigados a «obedecer a todas as regras da cerimónia segundo os costumes locais». Quem não respeitar estas regras «não terá qualquer ajuda», determinando ainda o rei que os sobas que não fizerem respeitar este decreto serão punidos com uma multa de «dois cabritos».

Comentário in fine: como se trata de coisas angolanas, resta-me acrescentar que se tal rei Bingo Bingo por cá houvesse, nunca o sacana do caso Mateus chegaria onde chegou. Mas, como não o há – nem bingo se pode fazer, quanto mais ao quadrado. AF

segunda-feira, setembro 04, 2006





SUSPIROS DE BANGUECOQUE

Muito se engana
quem cuida!

José Martins (Correspondente)
V
ocês sabem lá! (Para os que se lembram, não plagiei a Maria Fátima Bravo…) Quantas memórias eu tenho, para contar, no já longo período que vivo no «País do Sorrisos». Quase 30 anos… Meu Deus, como a nossa vida corre no tempo e a mocidade parte num ápice. Não vou, porém, chorar e encharcar lenços de lágrimas. Quem andou (dizem) que não está para caminhar. Eu ainda caminho e ainda deito os «olhinhos de carneiro mal morto» à bela que se cruza comigo…

Esta cidade, a dos anjos, aonde aterrei, pela primeira vez, há 29 anos, fascinou-me! E por cá fiquei e me adaptei, formidavelmente, aos olhos amendoados. Segui a linha do Fernão Mendes Pinto; meti a sua personagem dentro de mim. Não corri Seca e Meca; não pirateei no Golfo do Sião, com o António Faria; não cheguei ao Japão e nunca fui vendido como o Pinto.

Histórias, tenho uma nau carregada delas. Lidei com muita gente e quase toda de bem. No princípio da década de 90 do século passado, e quando em Macau ainda medrava a «Árvore das Patacas» (que produzia excelentes frutos…), tinha uns amigos que nos fins de semana viajavam até a Banguecoque. Note-se que eles não vinham até aqui pelos meus lindos olhos.

Era, sim, pela magia que esta cidade encerra, onde, mesmo sem terem bebido a água de coco, depois de a visitar a primeira vez, desejam voltar sempre. O meu amigo Canelas (não é o nome real) vinha amiudadas vezes a Banguecoque. Porem, não andava de amores com nenhuma «beldade». Era de todas e não era de nenhuma.

Ou melhor, um valdevinos que me dizia, sem saber que repetia o Jorge Amado, «ser impossível dormir com as mulheres todas do Universo mas que se devia fazer um pequeno esforço...». O Canelas já era cria de uns cinquenta e tais anos, careca de quase à nascença e as raparigas dos bares engraçavam com a sua cabeça limpinha de pelo e gostavam de lha beijar.

O ditado é dos carecas é que elas gostam mais está vivo em Banguecoque! Numa das noites, e na volta dos «machos alegres» pelas travessas dos prazeres, entramos num bar o «Crazy Horse» da «Soi Cowboys», para os lados da Sukumvit. Junto ao balcão, num tablado, dançava à go-go uma meia dúzia de raparigas.
Uma delas dispara do tablado e cai nos braços do Canelas; e ao mesmo tempo carimba-lhe a careca com os lábios. O nosso homem estava felicíssimo; só que eu fazia esforço para conter o riso dado às marcas dos lábios da rapariga na cabeça pelada. Aquela malandreca era useira e vezeira no carimbar das carecas dos clientes do «Crazy Horse».

Só mais tarde e quando se viu mirado num espelho é que o Canelas com um lenço retirou aquelas printes de beijocas, vergonhosas, do alto do cocuruto luzidio. Ora então. Quando dois pândegos vagueiam durante a noite banguecoquiana são espécies de macacos em cima de árvore que querem sentar-se em todos os galhos. A noite ainda era uma criancinha e seria necessário fazê-la crescer. Lá pela madrugada estaria grandinha, depois de emborcada uma dúzia de garrafas pequenas de cerveja Closter. Pouco alcoólica e excelente para uma lavagem à bexiga.

Seriam umas 11 da noite, cedo ainda para se cair no abismo paradisíaco subimos as escadas exteriores até ao primeiro andar do «Bar Cleópatra», do meu velho amigo Vinai também proprietário do famoso «King Castle» na travessa do Paptong. A meia dúzia de cervejolas que já tinha emborcado fizeram com que eu tivesse que ir vertê-la. Normal e natural.

O Canelas ficou sentado num patamar elevado de onde via dançar as Cleópatras num estrado erguido no centro do balcão em forma oval, vestidas a rigor, iguaizinhas como aquelas que se viram, num filme, com o nome da insaciável e devoradora de homens a Rainha do Egipto. Quando regressei da «xixidela» não vi o gajo.

Olhei à minha volta e encontrei-o, sentado a um canto, acompanhado de uma beldade. Dirigi-me para lá e sentei-me. Não me intrometi no idílio de dois amorosos à primeira vista… Deixá-los lá desfrutar o amor que bem me parecia não ser traiçoeiro mas sim real. Entretanto, entre os beijinhos a namorada do Canecas proferiu uma palavra…

Que estranho, pensei, esta voz não é feminina… Procurei em bom português tentar apagar, dentro dele, aquela chama de amor ardente que se lhe notava e aumentava. Ó Canelas, vê se tomas juízo há ali no tablado raparigas lindíssimas, porque estás assim de amores com esta? E respondeu-me: Olha, Zé, gosto dela porque tem as carnes durinhas…. Acto contínuo pediu-me para o levar ao hotel. Obedeci ao Canelas.

No dia seguinte, sábado, tinha combinado darmos um passeio e almoçarmos. Às nove da manhã fui buscar o meu amigo ao hotel. A porta do quarto estava entreaberta pois o criado assim a tinha deixado depois de lhe levar o pequeno-almoço.

Espreitei pela talada da porta e vejo o Canelas sentado na borda da cama a falar sozinho. Entrei e perguntei-lhe: “Ó Canelas que tal a noitada”! com uma cara mais do que fod…, respondeu-me: «Porra, porra era um homem!!!!!!!!!!»
CURIOSO


ALGUMAS COISAS DE QUE
QUASE NUNCA NOS LEMBRAMOS
(OU QUE NÃO SABEMOS MESMO...)



O Jorge Morbey é um Amigão de longa data que andou e amou lá pelos orientes. De há tempos meu escriba com regularidade, sempre oportuno, sempre bem vindo, sempre um gajo do caraças. Desta feita, aqui fica uma excelente contribuição do Jorge, o Morbey, que vem comprovar que um blogue também pode (e deve!) ter fait divers. Daí que o nomeie já para novo correspondente em parte incerta. E os ricos que paguem a crise - já!!!!!!!!! Olá Jorge; estás em tua casa. Abusa. AF

Os Sete Pecados Capitais:

1. Gula; 2. Avareza; 3. Soberba; 4. Luxúria; 5. Preguiça; 6. Ira; 7. Inveja.

Os Dez Mandamentos:

1º - Amar a Deus sobre todas as coisas; 2º - Não tomar o Seu Santo Nome em vão; 3º - Guardar o sábado; 4º - Honrar pai e mãe; 5º - Não matar; 6º - Não pecar contra a castidade; 7º - Não furtar; 8º - Não levantar falso testemunho; 9º - Não desejar a mulher do próximo; 10º - Não cobiçar as coisas alheias.

Os Três Reis Magos:

1 - O árabe Baltazar - Trazia incenso, significando a divindade do Menino Jesus; 2 - O indiano Belchior - Trazia ouro, significando a sua realeza; 3 - O etíope Gaspar - Trazia mirra, significando a sua humanidade.

Os Doze Apóstolos:

1 - Simão Pedro; 2 - Tiago (o Maior); 3 – João; 4 – Filipe; 5 – Bartolomeu; 6 – Mateus; 7 - Tiago (o Menor); 8 – Simão; 9 - Judas Tadeu; 10 - Judas Iscariotes; 11 – André; 12 – Tomé.
Após a traição de Judas Iscariotes, os outros onze apóstolos elegeram Matias para ocupar o seu lugar.

Os Doze Profetas do Antigo Testamento:
1 – Isaías; 2 – Jeremias; 3 – Jonas; 4 – Naum; 5 – Baruque; 6 – Ezequiel; 7 – Daniel; 8 – Oséias; 9 – Joel; 10 – Abdias; 11 – Habacuque; 12 - Amos

Os Sete Sábios da Grécia Antiga:

1 – Sólon; 2 – Pítaco; 3 – Quílon; 4 - Tales de Mileto; 5 – Cleóbulo; 6 – Bias; 7 - Períandro

As Musas da Mitologia Grega (a quem se atribuía a inspiração das ciências e das artes):
1 - Urânia (astronomia); 2 - Tália (comédia); 3 - Calíope (eloquência e epopeia); 4 - Polímnia (retórica); 5 - Euterpe (música e poesia lírica); 6 - Clio (história); 7 - Érato (poesia de amor); 8 - Terpsícore (dança); 9 - Melpômene (tragédia);

As Sete Cores do Arco-Íris:
1 – Vermelho; 2 – Laranja; 3 – Amarelo; 4 – Verde; 5 – Azul; 6 – Anil; 7 - Violeta

O QUE SEMPRE PERGUNTAM E MUITOS NÃO SABEM


As Sete Maravilhas do Mundo:
1 - As Pirâmides do Egipto; 2 - As Muralhas e os Jardins Suspensos da Babilónia; 3 - O Mausoléu de Helicarnasso(Também conhecido como O Túmulo de Máusolo em Éfeso); 4 - A Estátua de Zeus, de Fídias; 5 - O Templo de Artemisa (ou Diana); 6 - O Colosso de Rodes; 7 - O Farol de Alexandria.

Qual o motivo porque?
1 - Durante a Guerra de Secessão, na América, quando as tropas voltavam para o quartel após uma batalha sem nenhuma baixa, escreviam numa placa imensa 0 Killed (zero mortos). Daí surgiu a expressão O.K., para indicar que tudo está bem.

2 - Nos conventos, durante a leitura das Escrituras Sagradas, ao se referir a São José, diziam sempre Pater Putativus, (ou seja: Pai Suposto) o que era abreviado P.P.. Assim surgiu a ideia, nos países de colonização espanhola, de chamar São José de Pepe.

3 - Cada Rei no baralho representa um grande Rei ou Imperador da História: Espadas - Rei David (Israel); Paus - Alexandre Magno (Grécia/Macedónia); Copas - Carlos Magno (França); Ouros - Júlio César (Roma)

4 - No Novo Testamento, no livro de São Mateus, está escrito - «É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus...». O problema é que São Jerónimo, o tradutor do texto,
interpretou a palavra kamelos como camelo, quando na verdade, em grego, kamelos são as cordas grossas com que se amarram os barcos. A ideia da frase permanece a mesma, mas qual parece mais coerente?


5 - Quando os ingleses chegaram à Austrália, assustaram-se ao ver uns estranhos animais que davam saltos incríveis. Imediatamente chamaram um nativo (os aborígenes australianos eram extremamente pacíficos) e perguntaram qual o nome do bicho. O homem começou a dizer e repetir «Kan Ghu Ru», e, portanto, os ingleses passaram ao inglês, «kangaroo» (canguru). Depois, os linguistas determinaram o significado, que era muito claro: os indígenas queriam dizer: «Não te entendo»...

6 - A parte do México conhecida como Yucatán vem da época da conquista, quando um espanhol perguntou a um indígena como se chamava esse lugar, e o índio respondeu «Yucatán». Mas o espanhol não sabia que ele estava informando: «Não sou daqui».


7 - Existe uma rua no Rio de Janeiro, no bairro do Caju, chamada PEDRO IVO. Quando um grupo de estudantes foi tentar descobrir quem foi esse tal Pedro Ivo, descobriram que na verdade a rua homenageava D. Pedro I, que quando foi rei de Portugal, foi aclamado como D. Pedro IV. Pois bem, algum funcionário da câmara pensar que o nome da rua fora escrito com erro, colocou um O no final do nome. O erro permanece até hoje…


8 – Na gíria das cozinheiras e dos cozinheiros «olha o bispo!» quer significar cheirar a esturro. Porquê. Num convento que o bispo ia visitar, as freiras afadigavam-se na cozinha para preparar o banquete para o visitante. E, de repente, ao chegar à janela, a cozinheira chefe gritou: «Olha o bispo!!!» Todas acorreram à janela cheias de entusiasmo para ver o prelado… E o cozinhado esturrou.

sábado, setembro 02, 2006



É quase um missil...

Melanoma pode ser vencido

Não me canso de avivar o tema, felizmente por boas razões. Nos Estados Unidos, que também têm coisas e performances notáveis em muitas disciplinas, a investigação médica é uma delas. As actuais descobertas no domínio do combate ao cancro aparecem-nos quase diria dia sim, dia não. A busca de metodologias para tentar curar esse ciclópico flagelo da humanidade tem nos States uma enorme componente, para não dizer mesmo a maior. Se estou errado ou exagerado, digam-mo.

Registo aqui mais um avanço na luta contra o melanoma, a forma mais grave do cancro da pele. Socorro-me, uma vez mais, das divulgações inúmeras por parte das agências noticiosas e de órgãos da Comunicação. Para todos vai o muito obrigado do travessadoferreira. E, se não os incomodasse muito, um outro apelo aos médicos, nomeadamente aos oncologistas: se algum ou alguns quiserem enriquecer este blogue com pareceres ou opiniões, comentem aqui mesmo. Se pensam que podem escrever algo mais em artigo «perceptível pelo comum dos mortais…» – e que não tenha mais de quatro A4, pois o espaço é o que é – só têm que o mandar, por e-mail, acompanhado ou não de ilustrações, para o meu endereço: ferreihenrique@gmail.com. Antecipadamente, muito obrigado. AF


Os doentes de melanoma têm uma nova esperança no combate à doença. Pela primeira vez, cientistas norte-americanos conseguiram tratar dois de 17 doentes através da manipulação genética. Um avanço na ciência que está a entusiasmar os médicos na área da oncologia, mas que só poderá ser aplicado nos hospitais dentro de quatro anos.

O director do serviço de Dermatologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, João Abel Amaro, tem vindo a acompanhar, nos últimos anos, os trabalhos de investigação do cientista norte-americano Steven Rosenberg e dos seus colegas do Instituto Nacional do Cancro, dos EUA. Em declarações ao Correio da Manhã mostrou-se entusiasmado com os resultados, agora publicados na revista científica Science. «Estes avanços são extremamente importantes porque vêm dar resposta de tratamento às formas mais malignas de casos de melanoma, quando os doentes têm metástases que afectam órgãos e não respondem às terapêuticas», especificou.

João Abel Amaro explicou que a nova técnica de manipulação genética consiste em introduzir nos linfócitos (glóbulos brancos) genes que transformam a célula e atacam as células cancerosas, as quais fogem aos mecanismos de controlo do sistema imunitário. «É quase um míssil encaminhado para exterminar as células malignas.»


Como já se disse, esta nova técnica foi aplicada a 17 doentes em estado avançado de melanoma, mas o cancro desapareceu somente em dois pacientes. O dr. Steven Rosenberg, inquirido sobre o porquê do tratamento funcionar nuns doentes e não noutros, respondeu: «Este é um tratamento em fase experimental e de desenvolvimento. Os doentes foram tratados há dois anos e esperámos este tempo para publicar os resultados da investigação para ver se, de facto, os tumores desapareceram, o que aconteceu». O cientista considerou que hoje dispõe de tecnologia mais avançada que permite melhorar a resposta dos doentes ao tratamento.

O primeiro curado

Mark Origer, morador em Wisconsin, EUA, foi o primeiro doente com quem o tratamento foi bem sucedido exultou: «É uma honra ser o primeiro!» Foi-lhe diagnosticado o melanoma depois dele ter descoberto um sinal nas costas. Fez uma cirurgia mas, três anos mais tarde, o cancro voltou. Experimentou vários tratamentos – sem resultado. Em 2004, o cancro tinha-se espalhado por metástases até ao fígado.

«Estava desesperado porque os tratamentos não surtiam efeito e aconteceu numa altura em que a minha filha ia casar. Eu queria estar presente no casamento». Foi então que soube dos ensaios clínicos do médico Rosenberg e foi aceite na investigação. Começou uma nova vida a partir daí.

Eficaz para outros tumores

As investigações foram desenvolvidas pelo dr. Rosenberg apenas em doentes de melanoma, mas a equipa de cientistas por ele liderada demonstrou que é possível modificar em laboratório células similares de imunização que atacariam outro tipo de tumores, designadamente os cancros da mama, pulmão e fígado.

Dê-se, de novo, a palavra ao médico: «Descobrimos os genes que podem transformar as moléculas em linfócitos normais que conseguem converter as células e reconhecer o cancro da mama, do cólon ou outros tipos. Mas ainda não começámos a tratar esses doentes. Esses são os ensaios clínicos que esperamos iniciar nos próximos meses».

O investigador mostrou-se, contudo, cauteloso com as grandes expectativas criadas com os resultados do ensaio clínico. «Tratámos Mark Origer há pouco mais de ano e meio e continuaremos a acompanhá-lo clinicamente, de três em três meses, durante cinco anos. Por enquanto, é difícil falar numa cura, uma vez que os tratamentos só ocorreram nessa altura». Os trabalhos de investigação de Rosenberg tiveram início há 30 anos, quando encontrou um doente que lhe deu uma ideia, que culminou agora. «Trabalhamos contra-relógio para desenvolver as pesquisas». Os doentes com melanoma em fase mais avançada não respondem aos tratamentos feitos por cirurgia, quimioterapia nem radioterapia. A nova técnica vem agora dar resposta aos casos mais graves da doença.

Portugal: 800 novos doentes por ano

E m Portugal surgem todos os anos cerca de 800 novos doentes de melanoma (oito a dez por cada 100 mil habitantes), uma doença provocada por factores genéticos e grande exposição ao sol. Afecta em especial indivíduos dos 30 aos 50 anos e mata cerca de 200 portugueses por ano. Ouvida pela jornalista Cristina Serra do matutino que citamos e transcrevemos, a presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro congratulou-se com a descoberta de uma técnica para tratar doentes de melanoma, uma doença que assume uma grande importância em Portugal, país onde a tradição da exposição solar tem levado a um aumento da incidência do cancro.

(É tudo, Travessadoferreira agradece ao CM e à Cristina Serra o que deram a público e que permitiu este texto)


sexta-feira, setembro 01, 2006



Correspondente em Viseu

A jornalista Cláudia Sofia é, desde hoje, a primeira correspondente do travessadoferreira. Em Viseu. O que me dá muitíssimo gozo, prazer e orgulho. Este blogue acolhe a Cláudia, a quem por brincadeira chamo Só Fia, convicto de que se trata de uma excelente aquisição, porque ela sabe escrever. O que começa a ser difícil de encontrar.

Espero que o exemplo frutifique. Gostaria muito de ter mais gente boa espalhada por Portugal e até no estrangeiro a funcionar no comprimento de onda da correspondência. É fácil. Façam como fez a Cláudia: dirijam-se-me e já está, desde que redijam de forma «normal».Bem vinda Cláudia. E bem vindos todos os outros que se nos queiram acompanhar nesta aventura. AF

Parem lá de fazer birra

Cláudia Sofia
Ora viva, borboleta cor-de-rosa! Os visienses agradecem ter batido asas para nos visitar!
Então, veio recordar a velha infância, não foi? E fez a borboleta muito bem!...

Bene vixit qui bene latuit . E digo isto porque me parece que vocemessê andará meio-perdida no tempo!... Trará ainda na memória as recordações dos seus tempos de traquinices – tempos em que também gritava e fazia birras na Feira, silenciadas elas também com os tais tabefes, – ou não terá dado ainda conta de que houve mudanças de então a esta parte?

A terra batida já foi substituída por calçada, o pavilhão multiusos alberga, com boas condições, os Stands das empresas que todos os anos nos visitam e ali se expõem (e muitos outros novos que engrossam a lista já de si imensa), o recinto exterior tem, também ele, Stands novos para os expositores dos artesanatos, comes e bebes, quinquilharias e também para os ditos «pan pipes»…

A nossa querida Feira de S. Mateus é assim mesmo. É o rodízio da diversão que continua a encher os olhos dos miúdos e dos graúdos, mais as «cenas» dos masoquistas ou aventureiros (vá-se lá saber!) que pagam bilhete para a volta alucinante/impressionante, com os eles e elas a estrebuchar por todo o lado no meio de uma berraria infernal... enfim... O que é certo é que quando as engrenagens abrandam o ritmo, é vê-los a deitar mão ao bolso, procurando mais umas moeditas para mais uma volta de euforia e loucura salutar!

A nossa Feira é sempre uma mistura indecifrável de odores inimagináveis e indescritíveis. São os fritos, são os fumos, é tudo aquilo que se nos entranha nas roupas, na pele e na alma. É, enfim, tudo o que nos marca, como ferro em brasa, e marca a meninice e marca a juventude. Marca e marca até que a morte nos separe. Esta é a "nossa" feira. Goste-se ou não.

- Humm…cheiras a farturas… vens da feira! – e depois as enguias que nos deixam com água na boca só de pensar em lhes afinfar uma trinca, e que, propositadamente, se oferecem nas suas barraquinhas de rosto antigo (melhoradas em condições, claro!) para permanecerem fiéis à tradição!

A Feira é o emaranhado de gente que se atropela, que ri e que chora, enquanto se lambuza com o frango assado e o pão com chouriço, esquecendo, por um dia? por uma noite? – que seja! - as agruras de um quotidiano nem sempre agradável.

É o choro, os gritos, as birras dos mais pequenos, seguidos dos tabefes, sonoros ou abafados, de misericórdia ou não para os ouvidos de todos nós, parolos de uma santa terrinha que tanto maldizemos. Mas... tanto maldizemos como amamos e, em dia de feira, mesmo cheirando mal dos sovacos, cansados e cobertos de pó, brindamos esfuziantes com mais um copo, corpo abandonado a uma dança estranha e ondulante, da bebedeira ou da música que rodopia no ar e toma conta dos nossos sentidos – Ruth, Quim, Rancho ou outro qualquer.

É tudo isto que nos alegra o espírito e nos faz sentir que ali, naquele momento, nada mais interessa a não ser receber de braços abertos o que a Feira tem para nos oferecer. E nós queremos. Queremos até mais não. Queremos sentir o cheiro das farturas, ouvir as engrenagens dos carrosséis, rir da música parola que as bancas teimam em passar, regatear o pechisbeque, gozar do bêbedo que mal se segura nas canetas e vai discursando para o poste de iluminação, andar a coscuvilhar pelas barracas enquanto se faz tempo para ir às enguias, apreciar a arte de quem trabalha à mão e pensar que cada luz (vermelha, azul, amarela…) que ilumina o nosso rosto está ali, tão somente, para nós mesmos brilharmos com a Feira!

Mas, certo, certo, é que não falhamos com a nossa presença!... Esperamos o ano inteiro pela Feira de S. Mateus!... enchemos o recinto para ouvir a tal pimbalhada, de que afirmamos não gostar (é de bom-tom criticar esta cambada e a outra!), andamos de água na boca o ano inteiro para afinfarmos o serrote numa fartura, e nem nos lembramos dos fumos e dos cheiros.
Erguemos os olhos para o céu e em silêncio contemplamos o fogo de artifício, e somos surdos a todo o barulho!…

Nós somos assim, somos os parolos da Beira!... tecemos críticas à organização, nunca nos agradamos do programa, dizemos que é sempre a mesma coisa, que estamos fartos de Feira…
E depois…bem, depois instala-se a melancolia quando disparam os últimos foguetes e segue o adeus àquela que nos acarinhou durante 42 dias!... e num desabafo triste dizemos "agora só para o ano!".

Se tudo isto não é gostar da Feira, meus amigos, porque raio teimamos em lá ir?!







Escrever em Português
– e bem!

Ponham os olhos nele. É um caso sério, mas também um caso raro. Francesco Obino é… italiano. Bastava o nome, né? Italianíssimo, portanto. Estudante universitário, esteve entre nós uns meses a preparar material, especialmente documentação, para defender tese sobre Goa. Fatal como o destino: tínhamos de nos encontrar. Foi em casa do Amigão Aurobindo Xavier, cientista e membro de Honra da «máfia goesa». Tiro e queda. A Raquel e eu adoptámo-lo imediatamente. Um calmeirão molto simpatico, que, no entretanto tinha aprendido Português. E bem.

Falado e escrito, seguro na pronúncia e equilibrado na redacção. Um verdadeiro espanto. Infelizmente foi pouco o tempo em que convivemos. Mas, à partida para a sua Itália, Francesco prometeu-me que visitaria este blogue e escreveria. Aqui está; cumpriu – e bem. Tenho o maior prazer de aqui registar esta sua última missiva. O travessadoferreira fica muito honrado pela sua presença. E, ainda por cima, no vernáculo de que se podem aperceber. Só lhe introduzi umas alteraçõezitas que se contam pelos dedos das mãos.

Espero pela volta do Francesco Obino para voltarmos a conversar, a rir e a folgar. E enquanto isso não acontece, aqui fica o seu esplêndido texto na língua do Camões, do Eça, do Pessoa, do Torga e do Saramago. Mesmo sem a tua autorização prévia, porque tu, mio caro amico, já fazes parte dela. AF

Francesco Obino
Caro Enrico! Quanto tempo? Troppo. Olá, oh Grande Inconvertível da letra escrita no impoluível mundo da Rede, como estamos?

Desapareci misteriosamente uma vez que deixei Lisboa para Itália,
onde, finalmente, me licenciei com a minha tese sobre Goa e o louvor
da comissão (nem sabia onde fica o cais famoso do grande descobridor
que ia buscando o Pai Johannes pelas costas orientais… e só encontrou
cavalos que iam para Ormuz).

É mesmo assim; gozei um pouco da liberdade do licenciado (?) e fiquei
no anonimato profundo a que somente uma tempestade sentimental pode
levar (também houve isso, mas é outra historia…).

Admito e confesso, fui para uma rápida exploração dos Balcãs. Ora
bem, fiz isso dando voltinhas pelas capitais cheias de vontade de
mudança, como Belgrado, e de vida boa, como Sofia. Fiquei um bocadinho
desaparafusado com a vida nocturna sobre o Danúbio, um bocado
desiludido com a procura de normalidade quase bulímica da Sérvia,
entre contrabando de tabaco e gelados excelentíssimos.

Agora, depois de uma indispensável mas curta peregrinação na minha
ilha sacra, a Sardenha, à descoberta de belezas naturais incríveis e
irrepresentável com o meio traidor da palavra que não seja
poesia,…como somente uma ilha pode esconder do olho metropolitano do
morador ignorante de beleza (estou a falar de milaneses alienados que
pensam poderem expatriar a própria alienação na ilha sacra durante o
Verão...). Mas, onde estava eu?… Ah sim, depois disso, bem, estou em Londres para tirar um Msc International Politics num dos meios académicos mais estimulantes que nunca vi e pude imaginar, a School of Oriental and
African Studies.

Comecei já, as férias acabaram pronto esta vez. Mas também tive a
indiscutivelmente única possibilidade de assistir ao Carnaval de
Notting Hill, onde as escolas de Samba estão cheias de senhoras
branquinhas e gordinhas que vão exibindo as curvas curvadas da
silouette que foi, num tremor quase bachico. E o que está a acontecer em Lisboa?

A «Travessa» è sempre o meu contacto mais querido com a língua
portuguesa e com os textos sobre a vida pública e privada do mundo que
vai correndo. Gosto muito de ir lá ler uns artigos e gozar dos efeitos
especiais e do estilo ferreirense, ahah!

Nunca enviei nada para ser publicado no blóguio, é verdade, era uma
promessa, mas o meu português vai se deteriorando, ou pelo menos
ficando sem dúvida um bocado estragado; mas, talvez tenha tempo, vou lá
lançar-me outra vez, a universidade aqui è uma coisa muito séria,
parece…iniciativa individual e o estudo é baseado sobre a pesquisa pessoal
de informações e fontes. Interessante e challenging.
Bene, caro Enrico, a presto j'espère bien!
Um grande abraço dum expatriado irredutível, beijinhos à Raquel
Francesco

P.S.: uma amiga italiana muito interessante, que também está a
trabalhar sobre Goa (em pormenores sobre a Diáspora goesa em
Lisboa) e descobriu o teu blóguio depois de eu lho aconselhar. Disse-lhe
também que a Raquel era goesa da Diáspora lisboeta e talvez vai vos
contactar para perguntar umas coisinhas, informações diaspóricas…
Recomendo-a, ‘tá bem?
Até pronto, oxalá, pois espero voltar para Lisboa antes do próximo Verão…