sexta-feira, abril 28, 2006

Dois Amigos

Antunes Ferreira
Nestas coisas de internets, blóguios, imeiles & outros – o mal é um sujeito meter-se nelas. Como estagiário de ajudante de auxiliar de praticante de aprendiz de navegante informático-estupidificado, não adianta queixar-me. Apenas posso constatar a infelicidade. Quando não se nasce com o cuzinho virado prá lua ou, até, quando tal acontece sem nenhuma inclinação para tais matérias, não se pode, muito menos se deve, entrar nessas cavalarias altas.

Ora bem, enunciado e confessado o meu pecado computadorizado, adiante que se faz pressa. Trata-se, aqui, de enunciar um registo em dois andamentos. E a inépcia é tal que nem sei onde colocar a clave de sol. Em qual das cinco linhas? Mete dó, sobretudo si fa sol aqui. Não haja dúvidas: em partituras e computas sou um menos zero muito à esquerda (da vírgula? Só?).

Primeiro canto, que me perdoe o prof. Cavaco. O Amigão Carlos Rodrigues que, vejam lá, anda em esteira de ser ROC, sabe bué de inglês. Eu, aqui à puridade, arrisco-me a dizer que ele é mais british que portuga. O que só lhe fica bem. Concomitantemente, solicitei-lhe auxílio face a uma nota explicativa (???) de um telefone fixo adquirido na loja Shi Fa Hua.

O papel em causa está escrito em sino-britânico, o que complica um tanto mais a vida de um cidadão cumpridor tanto quanto possível dos seus deveres cívicos, incluindo os fiscais. Não só atravesso nas passadeiras, mas pago atempada e correctamente o IVA, o IRS, o selo do automóvel e as taxas camarárias. Juro. No entanto, não venho aqui para me autopropagandear. E as agências de publicidade estão, como o resto, cada vez mais caras.

Ora o Carlos prometeu-me que analisará não só a bula telefónica, mas também o aparelhómetro. Fiquei-lhe, logo, intensa e imensamente grato. Há, porem, um busílis. O emérito e jovem economista também me tinha garantido – e sem intervenção bancária, com OPA ou sem – que acedera ao rogo que lhe tinha o (pseudo) autor feito: colocar, sempre que lhe fosse possível, uns comentários no travessa.etc.com.

Até à data, espero, naturalmente sentado, que tal desiderato se concretize. Penso até que melhor fora – deitado. Mas, tenha-se bem presente que a esperança é a última coisa a morrer com o homem, e, além disso, também era a criada (como então se dizia) da minha Avó materna, na Rua de Infantaria, 22, em Portalegre. Ao tempo não havia meio caminho andado, andava-se todo. Adenda em tempo: o mancebo veio, leu, inspeccionou, ligou, desligou, et cetera o bicho e niente. Louve-se a intenção, agradeça-se a diligência. Ao china e em força, trocar o phonio.

Passe-se, agora, ao segundo andor. Que leva ao pálio o caríssimo joliva santos. Dois motivos para que ele aqui se inclua. Estamos os três involucrados na mesma desordem laboral. Somos, por conseguinte, camaradas, que não se veja qualquer acinte nisso. Os militares também o são e daí não vem qualquer mal ao Mundo.

Neste contexto, nem a mais leve sombra de suspeita. O joliva é baril. Não é que a haja em outros casos ou outras alíneas, nada disso. Todavia, o João é um vero e óptimo cúmplice deste inábil ancião a caminho dos 65. Em abono da verdade, tenho de escrever que o capanga sou eu, não ele, pois como já antes referira, não vá o sapateiro alem da chinela. Em termos cibernéticos e não só. Há qu’anos não usava esta bendita expressão...

Vem agora o Santos que, embora da casa, todos os dias me faz milagres, dizer que está à minha inteira disposição e que é um prazer aturar-me e rebeubeu/pirolito. Não era preciso. Eu sei. Ainda assim, ou, talvez, por isso eu passo uns largos tempos a chateá-lo. E ele a aguentar-me, o que é obra dados os cento e tais e tais quilitos com que a balança me ameaça e envergonha.

Está devidamente debitado o tema. Que melhor título para ele que não seja – Dois Amigos? Ambos lampiões, mas ninguém é perfeito. Não descobrem Vocências outro mais incisivo. Isto porque presunção e água benta... Gostem ou não gostem, fica este. É um tanto como diz o Solnado: «Meu filho. Quer queiras, quer não, vais ser bombeiro voluntário». Já está.

quinta-feira, abril 27, 2006

O jolivadependente

Antunes Ferreira
O João Santos é bué de fixe. Se o Soares era, mais razão tem o joliva de ser. E mais não disse. Salvo seja, é a minha fada madrinha, ainda que sem varinha de condão. Aliás, a tê-la, seria pouco: condão, nada, teria de ser de reizão. Com carradas de reizão, digo, razão.

Se o João não existisse, este blóguio não era nada. Se o Santos não empurrasse, nem sequer vinha acima, à superfície. Nesta altura do campeonato, sou o que se pode chamar um jolivadependente. Não se leia que lhe estou a chamar droga, nem uma droga. Não poderia fazê-lo. Se o fizesse estava lixado com f. Nunca mais o homem me ensinaria coisas do tipo html e quejandas. Olá; nessa não caio eu.

Volta, não volta, o jbigodes apaparica-me. No seu Muito cá de casa – um blóguio a sério, que me faz uma inveja danada, pois tem inúmeras mariquices, tremidos e retorcidos, sem barrocos mas agradáveis à vista (desarmada) – planta uma escrevinhadela cá do je. Tudo indica que se trata de masoquismo puro; o João autoflagela-se por sincero prazer. Se o não conhecesse bastante bem, até pensaria que o menino é Opus... Porra! Lagarto, lagarto, lagarto – ainda que ele seja lampião.

Esta de resto é a única pecha que lhe conheço. É estranho, mas a perfeição nunca existiu no seu, dela, estado mais puro e cristalino. E se alguma vez a houve, enferrujou-se, oxidou-se, desapareceu nas profundezas do nicles.

Amijoão: Aqui exaro, sem qualquer solenidade nem rigor formal, muito menos legal, um obrigadinho éokeuledesejo. ‘Pera aí. O que era que eu tinha para perguntar ao senhor gajo? Passou-me. É a pdi. Porém, à volta kátespero.

Consultar o veterinário


Antunes Ferreira
Aquele homem que, durante o dia todo, é activo como uma abelha, forte como um touro, trabalha que nem um cavalo e que ao fim da tarde se sente cansado que nem um cão... deverá consultar um... veterinário. É muito provável que seja um ganda burro.

Já não sei onde li isto, vão uns anos. Creio que na revista brasileira semanal O Cruzeiro, mais precisamente nas páginas Pif-Paf, assinadas pelo grande Vão Gogo. Aliás o meu Amigo Millôr Fernandes – Millôr Viola Fernandes, de seu nome completo – um dos maiores humoristas do País Irmão, é capaz disso e de muito mais.

Agora, foi o Norberto que me trouxe a frase lapidar. De recordação em recordação, venho despejar-me na actualidade. Por vezes é-nos difícil saber porque sim e porque não. As coisas ocorrem e enquanto decorrem a pergunta sente-se no ar: porquê? Não se sabe muito bem, nem muito mal. O Cruzeiro não foi, de nascimento, original. Tratou-se de parto duplo, diferido no tempo.

Na verdade, a revista Cruzeiro, ainda sem o O inicial começou na primeira década do século XX. Teve o seu sucesso, mas, o tempo inexorável fê-lo cair até atingir a irrisória tiragem de 13.807 exemplares em 1928. Em Novembro desse mesmo ano, Assis Chateaubriand adquire o título. Chatô, como já então era conhecido, comprara a sua primeira publicação, o matutino O Jornal, quatro anos antes.

O futuro magnata tinha então 32 anos. O periódico será o primeiro de um império que chega a ter 40 jornais e revistas, 36 estações de rádio, 16 emissoras de TV, uma agência de notícias e uma empresa de publicidade, então chamada propaganda, formando o império jornalístico conhecido como os Diários Associados.

Mal acaba de comprar a revista que passará a intitular-se O Cruzeiro, Chateaubriand apresenta ao então ministro da Fazenda, Getúlio Vargas, o projecto de uma revista com papel de qualidade superior, muitas fotos, intelectuais do melhor nível, assinatura de todos os serviços estrangeiros de fotografias e notícias, a ser rodada a quatro cores em rotogravura. Com tiragem semanal inicial de 50 mil exemplares (nos anos vinte o máximo chegara aos 27 mil), circularia em todas as capitais e grandes cidades do país. Isso serve como uma luva para os planos políticos futuros de Getúlio que, mais tarde chegará a Presidente do Brasil.

Era uma outra época, senhores, muito outra. Em que não havia computadores nem se temia a SIDA. Em que aos restos da Grande Guerra se começavam a juntar os ameaços da II Mundial. O nazismo despontava. Benito Mussolini ainda não encontrara Clara Petacci; mas Hitler já rascunhava o Mein Kampf. Franco, o general de Pacotilha, anão e barrigudo, estagiava sobre milhares de mortos para Caudilho.

Ninguém conseguiria imaginar, sequer, a Internet, o mail e os endereços informáticos. A propósito, contou-me a Sandra Barrosa, jurista e minha querida colega de trabalho, que tem uma senhora conhecida, já de certa idade, que, muito pouco acostumada com as linguagens cibernéticas escreveu a uma amiga que o seu endereço era guilherminav alfarroba jimeile. Come.

Si non e vero, e bene trovato. O ridículo é só comparável ao do ajudante de camionista de empresa de mudanças que, referindo-se a uma velha casa de onde ajudara a retirar o recheio para ser levado a nova habitação, «ali era tudo ilustres e patifarias». O que o homem, na sua santa inocência e no seu analfabetismo congénito era que «ali era tudo lustres e pratarias»...

Eu bem avisei. Para quê e porquê? Esta prosa insípida e revivalista veio a propósito de nada. Que, quer se queira, quer não, não é propósito que se veja, nem nada. Não quero, no entanto, deixar de registar aqui – e ainda reportando-me a O Cruzeiro – os nomes de António Accioly Neto, durante décadas seu director e os dois da vida airada, David Nasser ao teclado da Underwood e Jean Manzon à objectiva da Rolleiflex. Os maiores criadores de reportagens sensacionais – e mentirosas, porque inventadas.

Feche-se o escrito. Já deu, de resto, o que tinha a dar. Mas, sem que antes volte à asserção com que ele, pobrezito, começou. Um destes dias também o copista tem de ir consultar o veterinário. Desta feita, por ser um grande camelo.

terça-feira, abril 25, 2006

Um Facho no 25 de Abril

Antunes Ferreira
Para o que me havia de dar. Embora seja sempre melhor assim, à aventura, sem plano antecipadamente elaborado, sem consulta a uma qualquer agência de viagens, sem, sequer, reserva de quarto de hotel, sem bússola, sem kit do Benfica, perdão, de sobrevivência, sem nada disso, com os anos entrados por vezes parece duvidoso, para não dizer algo inquietante.

Mas deu-me. E, sem mais delongas, muito menos justificações, a Raquel e eu metemo-nos no Hyundai de 99 e fomos. Para onde? Para onde calhasse? Para a Assembleia da República, por via das comemorações? Nem pensar – nenhum de nós tinha convite. Em tempos troglodíticos eu tinha. Tive. Mas, presentemente, convém não esquecer que o ovo de onde saí já com ar preocupante era de um bronco sáurio, muito bronco. Passou a época, a minha, e como a festa ou baptizado não se vá sem ser convidado, rumámos ao deus-dará.

Bom, não foi totalmente assim. De repente, no domingo à noite, ainda eu resmoneava sobre o empate de Alvalade, veio à cachimónia raqueliana: e se fossemos até à Foz do Arelho? Nesse preciso momento de inspiração cara-metadista afastei o que estava interiorizando, ou seja, o vero masoquismo que é ser e continuar a ser leão. E, bem assim, a chatice que teimava em estragar-me o apetite – o que não é fácil.

Porra: eu até sou virgem. De signo, tá visto, nasci a 20 de Setembro. Pois. Mas, no que toca ao chuto futebolês, uma desgraça nunca vem só: Académica e Sporting. A primeira, ab initio; quanto ao segundo, fui empurrado pelo meu tio e padrinho Armando e, depois, já com os olhos bem abertos – não é que persisti? Agravante, portanto.

Vai daí, somente com a ajuda do mapa do Automóvel Clube, chegámos às caldas num tiro. A última e única vez que fora à Foz do Arelho e, naturalmente, à lagoa de Óbidos, ali mesmo ao lado, tinha 13/14 anos e já rapava clandestina e furiosamente os queixos em busca da barba que me emancipasse. Há meio século, mais coisa, menos coisa. Embora velhos sejam os trapos, ao que dizem, já vão chegar os 65 – bem pesados.

Almoço nas Caldas, sem loiça do burgo, um casal simpático e novo, com a filhota Joana, na mesa ao lado, diz que não tem nenhuma dificuldade o caminho, é sempre em frente, contornando, claro, as 34 rotundas que existem pelo caminho. E, ainda de acordo com sugestão do jovem há na Foz um hotel que não sabe se continua em obras ou se já reabriu. Dá-me o nome. Comida feita, companhia desfeita. Isto sem faltar um comentário meu, carregado de ironia: «Muito obrigado. Vamos até lá. Será giro, no 25 de Abril ficarmos no Hotel O Facho…»


A memória Grandel(l)a

Que era, em verdade, uma Guest House, tal como reza o cartão da casa, construída em 1910, um pouco à frente da Casa Grandella, na Rua Francisco Almeida Grandela, 3. Um éle ou dois? Para todos os gostos. Sim senhores. A Dona Elsa é a recepcionista. Vai logo avisando que os quartos não têm ar condicionado nem televisão. Mas casa de banho privativa não falta. Ficámos, para dormir com a patine e frente ao mar de ondas a preceito.

É obra O Facho. A porta de entrada está despintada, com branco e rosa salpicando-se mutuamente. Mas entra-se na recepção e pronto. Cai-se na armadilha de onde já não se quer escapar. Nós não quisemos – e bem.A escadaria é um monumento. Mas, pasmem: há elevador. Modernices a cromado, logo ao lado de um bengaleiro onde, entre outros apetrechos, está pendurado um verdadeiro chapéu colonial. O móvel exibe-se entre duas cabeças de veado plantadas na parede. Só visto.

O quarto, no segundo andar, é o que é – muito aceitável. A casa de banho moderna, água quente e fria, um esmero. Móveis quiçá de 1910, da fundação de O Facho, portanto. E o mar lá em baixo com suas ondas altas morrendo em espuma na areia. Diz-me a Raquel que por ali passou férias com uma amiga, quando eu estava no primeiro ciclo do COM, que tem pé até quase ao Brasil. Não confirmo, nem desminto. Mas é bonito e, sobretudo, repousante.


A Dona Ester, também cozinheira, empregada de quartos de pé alto, telefonista e ofícios correlativos, tem tempo, ainda, para ser a esposa do patrão. Ele é proprietário do estabelecimento desde há 26 anos. Ela já ali está há 20. No varandão, as cadeiras e mesas de leitura de madeira e lona escura, alinham-se sem ocupantes. Mansamente. Porém pode ler-se na cor delas, acastanhada e desbotada que por ali estiveram muitos veraneantes, muitas revistas e muitas sestas. Agora, sós, orbitram o mar.

O Verão é o que os sustenta. A casa enche-se de turistas, entusiasmados com as obras já feitas e as paredes por pintar, com o que resta da antiga a descascar-se paulatinamente. É o salitre do mar. É o diabo. E com os inúmeros quadros emoldurados a restos de oiro de pintura, naturalmente – e como o resto, um tanto escalavrados. Muitos – e alguns bastante bons. O espanto maior é quando se entra no bar. Mas isso fica para depois, que é hora de jantar, depois de uma sesta em dueto, o sono tranquilo enovelado no rumor das ondas.


Descobrir o Adamastor

A Dona Elsa, que também faz uma perninha de anjo-da-guarda, no caso anja, no momento cobrindo-nos com as saus asas invisíveis, diz que mesmo ali ao lado há um restaurante bom. E não é. Bom. É óptimo. O Adamastor. Patrões jovens, empregadas idem, interior aspas. Tem um ano de existência. Bem hajam os empresários, pelo que fizeram de um alentado barracão, quem sabe se antigo armazém de artes de pesca. E pelo que servem. Na Rua Francisco Almeida Grandela, obviamente, o 3-A.

O interior totalmente novo, mostra junto às janelas grandes, de vidraças generosas, os antigos tijolos em meio arco. O telhadão é suportado por enormes vigas de madeira negra, aparelhadas a goiva e com ferros a semelhar os de 1910. Ano da República e destes casarões ilustres.

A recuperação é sensacional. Tudo excelente. Mesas de um pé só, de vidro plástico; cadeiras do mesmo material, brancas, azuis e vermelhas. E toalhas a condizer e pratos em consonância e talheres a preceito. Num estilo moderníssimo e vivíssimo. E as cadeiras que a princípio poderiam motivar suspeição – são muitíssimo confortáveis. E o ambiente sossegado. E a cozinha um brinco. E os sanitários impecáveis, esterilizados.

Faltava o palato emitir opinião. E sem uma hesitação que fosse, o veredicto, directo: manjares estupendos. Maravilha das maravilhas: um branco à pressão que a menina me recomendou – de deuses. Notas? Um bacalhau no forno nadando em azeite puro de oliveira, frito com muito alho, tomate e cebolinhas e loureiro; batatas alouradas à padiro e cogumelos de raças distintas. E um pernil de suíno que nem se adianta o celestial que estava, por medo da falta de babete. Tenro, gelatinoso, ressumando odores paradisiacos, a desfazer-se, complacente, na boca, com um puré de batata alourado em outro óleo de azeitona, ervilhas frescas, de truz. Sobremesas nos triques. E uma aguardente zimbrada prá digestão, oferta da casa. Gente boa.


A Foz do Arelho, nestes preparos, merece a volta sem revolta. Essa comemorou-se naturalmente, por tudo o que é sitio, até na Madeira, à revelia dos diktats do senhor Alberto João. Nós também o fizemos. A dois. Os únicos clientes de uma Guest House em equilíbrio permanente, porque permanentes são as obras que a habitam. E o bar do Facho? Só visto, meninos, só visto. Madeira trabalhada a formão puro. Candeeiros-estatuetas. Livros. E uma guitarra. Para além do óbvio, as bebidas.

segunda-feira, abril 24, 2006

Não atam, nem desatam

Antunes Ferreira

Se um faz o mal, o outro arranca a caramunha. Parecem dois compadres à compita por um lugar… à sombra. Dois pontitos os separam, ainda com vantagem para os comandados por Paulo Bento. Aliás, deixem-me que vos diga este mais parece nome de Papa do que de treinador de futebol. Mas, pelo que se tem visto, até é.

Já os orquestrados pelo senhor Koeman, que também é Ronald, são de outro sofrimento. Não é que os leões não o tenham, bem pelo contrário. Mas os vermelhos têm vindo a insistir na asneira. Olá, mas os de Alvalade também. Serão irmãos gémeos, ainda que de cores diferentes? Ou, ainda pior, talvez sejam siameses. E, parece, não há cirurgião que os consiga separar. Unidos, de resto pela (má) cabeça.

Já os tripeiros são outra loiça. O patrão P da C, por mais apitos dourados, prateados, platinados, cobreados, que lhes possam cair em cima, esfrega as mãos por causa das bolhas fruto das palmas. Os ditos instrumentos monocórdicos, aparentemente esquecidos, não lhe fazem mossa. Os dragões, carago, nom som de modas; bai tudo a eito, canudo. E mudos, que o chicote estala.

No sábado, à mistura com porrada q.b., foi a festa no 25 de Abril. Estádio, meus amigos, estádio de Penafiel. O outro é só amanhã. Como? O quê? Não sabem? Então não se lembram do que aconteceu em 1974? Ah, sim, lá vem a estória de que eram muito pequenos, alguns mesmo ainda não tinham nascido. Mas há milhões e milhões de humanos nessas condições que comemoram o Natal a 25 de Dezembro. Sempre!

Pois os portistas sagraram-se uma vez mais campeões. Nada mais fácil; face a concorrentes como os dois deslavados lisboetas, é como tirar o chupa-chupa a um puto de cinco aninhos. Talvez o exemplo não seja feliz. Há catraios que dão muitíssimo mais canseira ao assaltante. Mons parturiens.

Desgraçadamente – é assim. Bem podem os Vieiras, Veigas e outros tentarem ser Francos. O que é evidente é que os verde-e-brancos, para lá das escorregadelas que já são habituais, ainda se arriscam a cair nas urnas, no muito próximo dia 28. Um Mendes, um Soares e um Guilherme são mais denominações políticas do que desportivo-leoninas. Mas, tudo indica que foi o se pôde arranjar.

E pronto. A Liga das Apostas Ilegais caminha para o fim. Da competição, infelizmente. No estado em que se encontra o chuto na canela indígena, só mesmo uma lotaria televisada é que vinha para este paísinho patrocinar tais cenas. Totalmente e permanentemente chocantes. Mas, por mal dos nossos pecados, para todas as idades. Se esta terra fosse como a dos vizinhos do lado, árbitros, dirigentes, negreiros (que o mesmo é dizer agentes FIFA), mesmo alguns ditos técnicos e uns quantos jogadores – todos al paredón!

Mas estamos por aqui, plantados à beirinha da água do mar poluído. Nós também poluídos. Esta merda desta terreola não ata nem desata. Tal qual o Benfica e o Sporting. Mal parecia que assim não fosse: são portugas. De nome, porque de futebolistas é outra a conversa. Aliás, num tal potpourri nem se sabe como eles conversam. A pontapé, tá visto. E até à bofetada.

domingo, abril 23, 2006

Agar-tecimentos, porra!!!!!!!!!!!!!!!!

Quem não sabe é como quem não vê. Aos que ainda caem na esparrela e chegam por ínvio caminho a este desgraçado Travessa do Ferreira, os meus pedidos de desculpas mais reverenciados. Isto é que eu sou uma besta! Muito obrigado. É já a terceira vez que tento publicar isto - e o resultado está à vista...

Como não m'alembro de como se apagam burradas nestes locais solitários em que a vaidade s'apaga... todo o cobarde faz força, todo o valente se caga..., tenho de recorrer, uma vez mais ao João Santos, meu Mestre em blóguios, ou então ao meu sobrinho Jacinto João, o Joca, que me meteu esta blogodependência no cristalino bestunto. Só assim poderei apagar os textículos inacabados, um deles nem isso, pois só tem um começo envergonhado de título.

De qualquer das formas, retomando o que tentava dizer - o novo comentador é o meu querido Fernando da Bandeira, sem da. Desde a CCS do QG de Luanda que tentamos acertar o passo, militarmente falando, está claro. Mas a puta da vida empurrou-oe ao seu clã para o Québec e a mim fez-me voltar à minha Lisboa para fruir da Liberdade e da Democracia que, desde que me conheço como homem, são escopos, felizmente alcançados.

No entanto, sempre que possível, encontramo-nos, ou cá, ou lá, e isto (ainda) não vai ficar assim! Destas ameaças - que a Nanda e a Raquel apoiam sem restrições - gosto eu. Mais do que de pevides, de castanhas piladas - ou de canetas. É obra. Estejamos onde estivermos, é certo e sabido e ponto assente que, por mais quilómetros que entre nós existam, estaremos sempre juntos. Pela minha parte, até... ao forno crematório.

Boa, sôr engenhokas Fernando Bandeira!!!! Volta sempre, mais e mais, a estas páginas desgarradas e muitas vezes desvairadas. Que sirvas de exemplo a muitos outros no escrevinhanço com que me honraste. Um destes dias, pelo calor da neve invernal, vou tomar banho à piscina da tua casa. Tá combinado.

Henrique, o ANTUNES FERREIRA

Agar-tecimentos

Tenho mais um comentário e mais um comentador. É, realmente, a incontornável dimensão do Código Da Vinci. Tal como me foi recomendado (e eu próprio ainda vou tendo umas - poucas - intenções) vou-me atirar, depois desta leitura que acabará dentro de

sexta-feira, abril 21, 2006

Um Código policial


Antunes Ferreira
Ando, uma vez mais, à volta do Código Da Vinci. Que me impressionou suficientemente aquando da primeira visita que lhe fiz para o ler supersonicamente. Mais tarde, passados uns tempos, voltei às páginas da autoria de mister Dan Brown, buscando, em linhas diagonais, o que mais me impressionara no contacto inicial. Depois, saltitei entre capítulos e parágrafos, em busca de afirmações mais controversas que originaram as miríades de críticas que foram produzidas. Agora, calmamente, ou, pelo menos tanto quanto possível, ando a mastigar o romance. E a rumina-lo.

Ainda que o maestro Umberto Eco tenha vindo a terreiro apostrofar o anticristo made in USA – aliás acompanhado de muitos outros cidadãos impolutos e qualificados – persisto em gostar muito do livro. Como policial, antes do mais, Como repositório de estilo, está bem escrito, como está bem traduzido (já fiz umas incursões pelo english original). Como entretenimento é quase incontornável.

Se assenta em verdades históricas ou não, isso são outras contas de outro rosário que não me fariam grande mossa se as fizesse correr entre os dedos, caso fosse crente. E como já fui – mas curei-me... – daí penso não vir grande mal ao Mundo. É uma obra de ficção (e de fixação), um romance. Esotérico, como se pode constatar. Perante isso e os factos, para mim, está tudo dito.

Já as afirmações do senhor Brown a este respeito não me agradam muito, nomeadamente na nota que antecede o texto. Se reivindica, como o faz, a certeza científica do que pariu, fico descorçoado. Não habia nechechidade, digo, ainda que plagiando o bacoco cónego Remédios. Como é sabido, no melhor pano cai a nódoa. E destas, algumas há que não desaparecem, por mais que sejam borrifadas com o spray que não deixa auréolas.

A Igreja Católica que, primeiro, tentou passar por cima da obra, deu-se conta do verdadeiro tsunami que ela causou. Em causa estava e está uma organização que tem suscitado desde que José Maria Escrivá a criou, uma controvérsia permanente que está cada vez mais longe de terminar. A Opus Dei. Mas, perante os mais de 60 milhões de exemplares que já se venderam, cuidado. O Santo Ofício, Torquemada, a tortura e os mais de dez milhões de executados já foram. Mas o medo da heresia ficou.

Por conseguinte, em Março do ano passado,a Santa Sé promoveu um seminário em Roma para desmontar alegados «erros e distorções» existentes no romance maldito. E aos microfones da Rádio Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, arcebispo de Génova - um dos mais férreos guardiões da «pureza» da fé católica – exortou, veemente: «Não leiam nem comprem o Código Da Vinci!!!»

Há quem considere a Ordem tout court, como os seus próprios membros gostam de a chamar, um Estado dentro do Estado. O simbólico Vaticano é tão pequeno que não comporta uma situação dessas, dizem, aparentemente convictos e tentando convencer, os católicos mais elitistas e, como tal, mais importantes. Dentre eles, os legalistas afirmam que a figura jurídico-constitucional não existe, é apenas uma efabulação para caricaturar algumas coisas que o mereçam. E acrescentam que o Direito Canónico também não contempla situação tão aberrante.

Naturalmente que é o que lhes compete fazer. Noblesse oblige. Não deixa, porém, de ser uma verdade que a Opus tem posições verdadeiramente imperiais em muitos casos e em muitas instituições, nomeadamente nas dos círculos financeiros. E como quem tem o dinheiro é que detém o verdadeiro poder...

Dan Brown sabia no ninho de víboras em que se metia quando começou a construir o esqueleto do seu livro. No entanto, seguiu em frente. Ter-se-ia apercebido do cataclismo que iria originar? Ter-se-ia embriagado perante os milhões que poderia ir embolsar? Penso que estes dois componentes sobrelevaram nele a «cruzada» contra a maçonaria sagrada.

Este é, tão só, um pequeno apontamento, apaixonado, de um romance pelo qual me... apaixonei. Por isso não é uma crítica. Imparcialidade, isenção, distanciamento não couberam nestas linhas. O Tribunal da Santa Inquisição condenar-me-ia à fogueira. Felizmente que até já presidi ao Bombeiro do Ano. Numa organização, que era habitual, do Diário de Notícias. Há fotos.

terça-feira, abril 18, 2006

A ponte a pé

Antunes Ferreira

A ponte aí esteve. A rebentar. Abrenúncio! Uma ponte a rebentar, como se fora na II Guerra, Coreia, Vietname, Bósnia, Iraque e outros quejandos, não é, forçosamente, algo que se exare em qualquer suporte que se utilize. Veja-se, somente a título de menção, o que aconteceu à malograda que tentava atravessar o rio Kwai. Bom, então - a rebentar, pelas costuras.

A ponte que aponto e que penso que mais alguém também aponte, não é a ponte Vasco da Gama ou a ponte 25 de Abril; nem a de Dom Luís, a do Freixo, a da Arrábida ou a do Infante, obras de arte de arquitectos e engenheiros; muito menos as pontes dentais, igualmente obras de arte, mas de dentistas, odontologistas e correlativos. Falo da ponte que decorreu até domingo, por força da Páscoa. Essa, sim, foi uma ponte e tanto. Há até quem diga que uma tal ponte lhe causou uma ponte, digo, ponta tremenda. Há gente para tudo.

Quinta-feira é... o quinto dia da semana; tem por hábito anteceder a sexta, que é, coincidência ou não, o sexto. Ora estas foram santas, o que resultou num feriado com todos, qual bacalhau cozido. E o sábado que se seguiu, pasmem, sendo a véspera de domingo, o de Páscoa, também alinhou. A não ser assim, ficaria um pouco à maneira de um galheteiro a que faltasse o azeite. Logo, a conclusão impunha-se e impôs-se: ponte. Para um país em que as pessoas se esfalfam a trabalhar, é bom que as tenham deixado fazer tal. Mas também não vem mal ao Mundo que lhes sejam outorgadas mais uma que outra ponte. Apontem, por favor.

Para a semana é o 25 de Abril, por enquanto e ainda, feriado. Muita gente se interroga porquê. Não se preocupem, Amigos. E não respondam a provocações. (Esta frase tem copyright). A data calha à terça-feira. Daí que à segunda chamar-se-lhe-ia um figo. E na seguinte, o Primeiro de Maio é uma segunda-feira. Porque não alargarem-se as comemorações do Dia do Trabalhador à terça, 2? Assim, sim. Assim é que dávamos nos vinte da produtividade. E sempre descansávamos do feriado.

Parece-me ouvir uns ruídos que tomo por salutares manifestações de discordâncias diversas. Excelente. Democracia é isso mesmo: poder discordar-se e poder dizê-lo. Ora bem. Esta seria mais uma oportunidade para as oposições se atirarem por antecipação ao Executivo Sócrates. Mesmo que não venha a conceder uma só ponte que seja, o culpado do calendário é o engenheiro. Toda a gente o sabe. Até o São Pedro, tradicionalmente ligado a tais eventos.

Bom, toda a gente, toda a gente, não será bem assim. Esses tipos das sondagens dizem que os portugueses voltariam a dar a maioria absoluta aos socialistas. Claro que sondagens e inquéritos são o que são – e valem o que valem. Mas parece que os cidadãos ouvidos responderam sem grandes hesitações. Tresloucados sempre os houve, há e haverá. Então não querem lá ver... Com tantas maldades por parte do Governo, de que têm sido vítimas, os lusos ainda voltariam a meter nas urnas os votos para que nova vitória do PS se verificasse.

E as oposições? Estarão condenadas, nos tempos mais próximos, a chuchar no dedo? Ou será que o senhor Dr. Mendes, o senhor Dr. Castro, o senhor Dr. Louçã ou o senhor Sousa não serão alternativas válidas? Estulticia. Qualquer deles daria, por certo, um melhor primeiro-ministro. Só os estúpidos dos eleitores é que não vêem uma coisa tão simples.

Bom, vai o mísero autor pregar para outra freguesia. Aqui, já deu o que tinha a dar. Pontes novas – zero. Ainda que façam muita falta e continue a ser bem necessário que se inspeccionem e reparem as antigas que disso necessitarem. Mas a massa não abunda, dizem. Ponte, agora, só a pé. O que se chama a pontapé. Revejam-se, portanto, pontes, viadutos, passagens superiores e afins. Para que não haja outro Entre-os-Rios. Ponte, i.e., ponto final parágrafo.

sábado, abril 15, 2006

Amigos - alguns há

Antunes Ferreira
Numa quadra como esta que atravessamos com maior ou menor – ou nenhum – fervor, permanecem no local do pensamento, a que chamam cérebro, alguns elementos no mínimo, imprescindíveis. E ainda que corra o risco de entediar aqueles, creio que poucos, que ainda têm a subida paciência de ler estes gatafunhos informatizados, eis que, de novo, o tema da Amizade emerge num mar de águas paradas.

Já não preciso de explicar as minudências que ligam os amigos. De resto, as explicações são cada vez mais indesejadas, rarefazem-se, são uma espécie de lince da Malcata. E não se antevê nenhum programa, sequer intenção, de salvá-las desse cemitério dos elefantes onde o marfim abundava. Hoje, é o que se sabe. Daqui a pouco nem os proboscídeos.

Tenho, como já repeti até à exaustão, amigos de todas as qualidades, cores e feitios, espalhados por este orbe de que vamos dando cabo tranquila e paulatinamente. Desde benfiquistas até portistas, é um leque tão amplo como o que percorre o traçado do CDS ao BE. Por que bulas não havia de ter, outrossim, alguns saudosistas?

Sem adiantar muito, um exemplo apenas desta filosofia. Acabo de fazer compras pascais num hipermercado. Até aqui, o corriqueiro. Uma vontade aconchegada de verter águas contra a parede levou-me aos sanitários. Se calhar por mimetismo, se calhar pelos vasos comunicantes, aconteceu que entrei num dos privados. Fechei a porta, naturalmente, e eis-me perante as típicas amostras da veia grafítica lusitana.

O clássico «neste logar solitário…», assim mesmo com o; o refinado «o Joãozinho leva no…» e por aí fora. No meio do labiríntico fraseado, dois mimos: «SEXO SALVAJEM. Olá, eu sou a Jara. Fasso tudo. Telem…»; e, ao lado, em maiúsculas garrafais – VOLTA SALAZAR. Exactamente. Sic. Sem qualquer ponto de exclamação. Afirmação ou desejo? Venha quem vier – e escolha. Para porta de cagadeira, não está, de todo, mal, convenhamos.

Esta conjugação de alguma forma feliz do sexo salvagem com o frade de Santa Comba tem que se lhe diga. Diz-se que a salazarenta personagem teria morrido virgem não fossem duas fêmeas. Muitos, alegadamente bem informados, referem como a primeira a Senhora Maria, sisuda governanta do Esteves, embiocada a negro, aparentemente assexuada, mas…

Outros, porém – nada disso. Quem o levou ao castigo foi a francesa, jornalista, a Cristine Garnier. Que o entrevistou nos anos 50 e, depois… As fotos do entrecruzar de olhares entre o ditador de pacotilha e a redactora estão espalhadas por aí. E, se não houve nada, então o mosntro era mesmo capado. Das pupilas, duas, nem falar.

De qualquer forma, o amigo Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal Patriarca todo-poderoso, talvez o mais íntimo do Oliveira Baltazar, perdão, Sal-azar, e muito provavelmente seu pseudo confidente (o Botas, ao que consta, não os tinha) nem que fora seu confessor confessaria algo assim. O segredo é a alma do negócio, dizem os tratantes do comércio. E a grandeza do confessionário, dizem os tratantes da alma.


Tem o escriba um Amigo que não classifica, nem quer fazê-lo, politicamente. A não ser pela negativa. É o que eu chamo um gajo porreiríssimo. Até pertence ao grupo dos leões de Alvalade. Sem o Miguel Galvão Teles que é mais um do gang sucio. Tradicionalista, homem de palavra, conceitos rígidos, enformados no passado. Mas, um Homem de Bem, que não deixa um amigo só, nomeadamente em momentos mais críticos.

Escrevi mal, atrás. Mea culpa. Assim, tento aqui traçar-lhe o perfil, que para retrato a óleo não tenho aptidão. Nem pachorra No que concerne à política (a que ele chama politiquice), comunas, nem vê-los. A terminologia que aqui se usa é dele. Bloquistas, al paredón. Socialistas, os maus da fita. Maus? Péssimos. Escapa um que outro para se aplicar o teorema da excepção. Para ele, sou um xuxa, com cartão e tudo. E dos primeiros, o que, não fosse eu seu amigo, seria circunstância inapelavelmente agravante.

Acertámos, vão uns tempos, um trato: nada de política nas nossas conversas. Mesmo assim, ele descai-se, ao que se segue um sorriso meio malandro, meio de cumplicidade. Eu, que antes ripostava com muitas pedras na mão, hoje – nem pio. Tudo bem.

*****

Vejam-se alguns exemplos, aleatórios: José Sócrates, além de falso engenheiro (nem sequer se chegou à alameda Afonso Henriques, quanto mais o Técnico) é o paneleirote. Perdoar-me-ão o escrito, mas é a reprodução ipsis verbis. O parceiro, que é o actor X, até foi nomeado director do Teatro… do Porto.

O Vitorino não é do Governo, mas é um gatuno. De alto coturno. Não acreditam? Para já não falar no que anteriormente se passou, veja-se agora o caso Bragaparques. Não subsistem quaisquer dúvidas. Se não fossem as influências do poder socialista, tão corrupto como o citado António, já o pardal de perna curta estaria em…, sei lá, Caxias, Peniche ou Tarrafal, aqui com o necessário beneplácito do Presidente de Cabo Verde.

O gajo da Economia – o Manuel Pires – é uma besta chapada. Tudo aquilo em que se mete dá buraco. O homem é tão mau que já lhe foram tiradas todas (ou quase todas, vá lá) as competências que teria. Querem mais? O famigerado Plano Tecnológico, que é, igualmente, um atoleiro e não avança nem recua: faz que anda mas não anda, como dizem os brasileiros. O homem que se cuide. Um destes dias nem no Porto o deixam entrar.

O das Finanças, um Zé do Telhado a la socialista: tira aos ricos, para… não dar aos pobres. Teixeira dos Santos é duplamente culpado. Por ser o Ministro das Finanças e o manda-chuva da Administração Pública. Reforma do Estado? Qual? Cento e muitas medidas? No papel, que é o que só faz este governo governado. O professor da Faculdade de Economia da Cidade Invicta já deu o que tinha a dar: porrada nos contribuintes, aumentos de impostos e, até, persegue os que fogem ao Fisco. Coisas...

Segurança Social? Qual? Quem é que mais se abotoa com massas que são de todos nós? Como? O titular da pasta é um pateta que quando abre a boca entra um regimento de moscas. Enquanto isso, mete a mão nos bolsos dos reformados, com a cobertura do Fernando portuense do Terreiro do Paço. De resto, um destes dias, tal como esta dupla sinistra já avisou, acabam-se os euros e os cêntimos e fina-se a dita Segurança. E anda um pobre-de-cristo a descontar uma porrada de anos para isto…

O Costa da Justiça? Então não viram maior cavalgadura? Por causa dele, a citada Justiça é só in. Tinha alguma coisa que se meter com os juízes? Com os Magistrados do Ministério Público? Com a Polícia Judiciária? Com os advogados? Com os funcionários judiciais? Até mesmo com os coitadinhos dos réus? A propósito. Grassa por aí o mais desenfreado banditismo e o crime aumenta todos os dias exponencialmente. E o poder assobia.

Donde, o outro Costa, da Administração Interna. Em vez de atacar a gatunagem, os falcatrueiros, os assassinos, os escroques, os chulos, os traficantes, os colarinhos brancos – o gajo ataca as forças de segurança. Nunca tal se viu, manifes de polícias e correlativos (a não ser num Governo laranja, mas foi caso espúrio, ainda que tenha sido o primeiro). Não há agente da PSP, não há soldado da GNR que o não abomine. Nem a Polícia de Fronteiras escapa, meninos.

Poderia ir por adiante. Focar o caso do louco Campos da saúde… Mas encerro com o traidor. O execrável Freitas das Necessidades – e das necessidades. Não contente de ser um trânsfuga, um vira-casacas, um safardana, ainda se dá ao luxo de defender os árabes e vituperar os cartonistas dinamarqueses. Ora essa! Onde está a liberdade de criação? Temos de nos pôr quotidianamente de cócoras – e voltados para Meca?

Ora aqui está. Não temos um governo – temos um boião de propaganda. E a ser governo, é tão só virtual. Não existe uma acção verdadeira. Há só promessas e projectos. Já nem se passa do papel; não se sai, sequer, do teclado. Este País assim não se safa. Enterra-se cada vez mais. Enterra-se? Já está enterrado, nem os pés prá cova já tem direito a ter. É um refrão. RIP.

E o que, apesar de tudo isto, o Executivo já fez? Sem comparação com qualquer outro anterior? E a coragem que exibe e usa? E o que já deu publicamente conhecimento do que começou a fazer e continuará? E a realidade? E o MIT? E o Bill Gates? E a energia eólica? E a informatização do País? E a aposta na Ciência e na Investigação? E a moralização na Segurança Social? E a justiça tributária? E a redução do malfadado défice? (Que, anote-se, e ainda segundo o senhor em causa, é de inteira culpa do Guterres). Olhem lá: lembram-se do lobo e do cordeiro?

Exaro aqui, de vontade própria e sem que ninguém mo tenha solicitado: subscrevo 92,5 % daquilo que o Executivo tem feito. Estou seguro que ninguém tentaria sequer encomendar-me o sermão. E não se trata de apoio por solidariedade partidária. Que fique claro: José Sócrates e a sua equipa já fizeram mais neste período de governação do que outros ao longo de décadas. Com coragem, determinação e objectividade. Até com teimosia. Talvez disparando simultaneamente em demasiadas direcções. Aqui, nem o Lucky Luke.

Pois é assim, gente. Este cidadão que vos pintei é anti-socialista primário, binário, terciário e quase septuagenário. É absolutamente real. Vive. Creio que amargurado, mas vive. Os amigos ficam contentes com isso; entre eles, eu.

quarta-feira, abril 12, 2006

Nu tícias


Esta é uma história inqualificável. Ponto final. O travessadoferreira.blogspot com tem de a registar. Por todos os motivos – e mais um. Os Bórgias passaram; o cardeal Richelieu passou; o Mussolini passou; o Franco passou; o Estaline passou; o Hitler passou; o Ku Klux Klan passou; até o Salazar passou.

Estes novos ditardorzitos rastejantes que por aí proliferam já passaram. Por vezes ainda vêm ao de cima da merda em que se auto-enterraram, com a veleidade de saírem do lúmpen que são. Para arrotarem postas de pescada. Com bocas escancaradas onde nem sequer as moscas varejeiras se arriscam a entrar por mor do fedor inquinado.

Aqui fica a transcrição dessa pulhice, tal como o meu caríssimo Oscar Mascarenhas ma transmitiu. Porra, Amigos! Há quem não saiba que o 25 de Abril aconteceu real e verdadeiramente. Mais precisamente em 1974.




CT da Lusa questiona trabalho de Oscar Mascarenhas
Maria José Oliveira
Jornalista apresenta "propostas" para livro de estilo e até hoje não assinou qualquer trabalho jornalístico
A situação laboral de Oscar Mascarenhas na agência Lusa foi questionada pela comissão de trabalhadores (CT), num comunicado do dia 16 de Março, por aquele jornalista ter sido contratado em 2003 para, entre outras tarefas, prestar apoio na elaboração de um livro de estilo que "tem tido anúncios sucessivos, sem resultados correspondentes ou explicações para esta ausência".
Os trabalhadores apontam que num rol de "movimentos de pessoal polémicos" destaca-se "a contratação de um jornalista [Mascarenhas] para assessorar a administração, função que a pessoa acumulou com a presidência do conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas, tendo regressado à função jornalística clássica após a mudança de administrador [substituição de Luís Delgado por José Manuel Barroso]".
Mascarenhas começou a trabalhar na Lusa em Julho de 2003, a convite de Delgado, então administrador-executivo da agência, tendo acumulado esse cargo com a presidência do CD até Dezembro de 2004.
Como nota a CT, o antigo redactor do Diário de Notícias e ex-editor do Jornal do Fundão foi contratado para assessorar Delgado num "conjunto de tarefas" que incluíam a formação deontológica dos jornalistas da agência noticiosa e "renovação permanente do livro de estilo".
No I Encontro de Quadros da Lusa (2004) foi dada a garantia de que Mascarenhas apresentaria "um livro de estilo renovado" até ao fim desse ano. O anúncio não passou disso mesmo e em Outubro do ano passado, já sob a administração de José Manuel Barroso, a direcção de informação da Lusa divulgou que o jornalista iria deixar de assessorar o administrador para redigir trabalhos "escolhidos entre os de maior responsabilidade" e que exigissem uma "preparação mais cuidada e aprofundada". Foi-lhe atribuída a "categoria de redactor principal do Grupo I, Escalão 5" e um salário mensal de 3734,74 euros. O PÚBLICO apurou que, desde a sua contratação, o profissional não assinou qualquer trabalho jornalístico.
Considerando as questões suscitadas pela CT como "infelizes", Mascarenhas disse ao PÚBLICO desconhecer a data de conclusão do livro de estilo, frisando que está a "preparar propostas". "A única entidade representativa dos trabalhadores que não tem nada a ver com o livro de estilo é a CT. A lei não lhes concede legitimidade", acrescentou. Sobre a sua situação na Lusa, escusou-se a reagir: "Não me pronuncio sobre isso."

Resposta de um Jornalista
Talvez um dia me lembre de assinar um «trabalho jornalístico aprofundado, cuidado e de grande responsabilidade» sobre o que leva o jornal Público a fazer duas notícias, no espaço de três semanas, a partir de um mesmo comunicado da Comissão de Trabalhadores da Lusa. Calhou-me agora a mim estar na berlinda por causa da revisão do livro de estilo da agência. Uma jornalista do Público questionou-me sobre o assunto, vai para dez dias, em termos bastante respeitosos, tratando-me até, como julgo merecer, por «senhor». No entanto, no prolongado parto da notícia, a jornalista não encontrou espaço para publicar sequer o essencial do que eu lhe disse, por preferir, no seu inquestionável critério, dar notícia do que eu não achei apropriado comentar – e de assuntos sobre os quais nem sequer me perguntou. Registo esta notável aplicação prática do preceito ético de «ouvir as partes com interesses atendíveis no caso».
Tenho de gastar algum espaço do Público para resumir o que disse na conversa que mantive com a jornalista. Com afabilidade e pedagogia, expliquei-lhe que a elaboração ou revisão de um livro de estilo é um processo interno de uma redacção, não pode ser imposto sequer pela Direcção, uma vez que contém matérias deontológicas, objecto de auto-regulação dos jornalistas. Tem de ser discutido e aprovado pelos jornalistas, em plenário ou através do seu Conselho de Redacção. Por isso, mesmo que uma Comissão de Trabalhadores de um órgão de informação fosse composta só por jornalistas, ela não teria competência atribuída para se pronunciar ou sequer ser informada sobre o debate do livro de estilo – seria uma intromissão numa área de competência exclusiva das estruturas dos jornalistas. Sobre o que fiz ou não fiz nessa matéria, expliquei à jornalista que não poderia revelar, sob pena de estar a tornar pública uma informação para a qual não estou habilitado. Mas há quem de direito, na Lusa, que o saiba. É quanto me basta. Custa-me deixar insatisfeita a curiosidade da jornalista do Público e da Comissão de Trabalhadores da Lusa. Mas tem de ser. Ao público do Público pesa-me tê-lo maçado com um assunto que, como diria José Saramago, não lhe faz cair as escamas dos olhos. Sirvam-se sempre desta minha excelente disposição!
Oscar Mascarenhas

*** * ***

Humildemente, eu
Oscar, irmão

Este nosso país é uma merda carregada de invejosos/medíocres/inúteis. Face ao que contas – e para além do recurso ao tradicional pqp – fico assarapantado; não devia ficar, nos dias que vão correndo – mas ainda fico.

Um Jornalista (escrevo, convictamente, com caixa alta) como tu, não tem que provar nada a ninguém. Um Homem como tu, não tem que se submeter a qualquer CT, que, ainda por cima, não tem que se meter, como muito bem acentuas, em casos destes. Não vá o sapateiro além da chinela.

Um Livro da Redacção é… um livro que a Redacção utiliza, ou deve, ou tem de utilizar para uma redacção escorreita do que lhe competir produzir. Leva muito tempo a elaborar? Obras destas não se fazem num fim-de-semana, muito menos sob pressão de quem quer que seja. E ainda que prazos sejam prazos – quem os impõe? Ou o autor a si próprio, ou alguém que tenha contratado esse trabalho intelectual com o escriba.

E ainda que estes, no Egipto faraónico, escrevessem agachados, nos dias de hoje quem se puser de cócoras não o é. Será, tão só, um estagiário de ajudante de auxiliar de praticante de apara-lápis. Note-se que, por estes dias, lápis é objecto em vias de extinção e sem um Spielberg que os tente reabilitar e ressuscitar.

Um dia (que nunca esqueci, esqueço e esquecerei) quando fui eu próprio vítima de uma canalhice – mais uma… - tu foste, dentre os nossos camaradas (?) jornalistas (?), o quase único Amigo e Profissional que se levantou para, sem receio, muito menos tibieza, sair em meu auxílio, dizendo publicamente que não autorizavas ninguém a duvidar da minha honestidade. A partir daí, cimentei o que já interiorizava a teu respeito. Ainda que um Amigo seja melhor do que um irmão, tu passaste a ser para mim as duas coisas.

Foi quase a história do leão moribundo. Felizmente sem o fim no forno crematório. Bem tentaram muitos – muitos camaradas (?) de profissão – passar-me a certidão de óbito antecipada, o que, pelos vistos, lhes dava muito gozo. Só que não me acobardei. Por vezes isso acontece-me. E com um Homem ao meu lado como tu, Oscar Mascarenhas, foi-me muitíssimo mais facilíssimo sair do bueiro.

Sabes bem que os Árabes tiveram carradas de razão quando enunciaram o rifão «Os cães ladram, mas a caravana passa». Ao longo de uma vida profissional impoluta e magnífica, nos meios de comunicação, no nosso sindicato, nas comissões em que, por direito próprio, participaste, como Cidadão interveniente a diversos níveis, foste motivo de admiração e encómios. Justa e justos.

E agora pretendem uns quantos meter-te na lama de um atoleiro falsificado. Tenho de dizer que nem um só salpico te atinge. Não o merecerias se tal acontecesse. Não o mereces. E não acontecerá.

É a minha vez de te dizer – e a uns tantos – que estou ao teu lado, para o que der e vier. Não invoco uma qualquer solidariedade espúria. É assim – porque é assim. E porque me dá prazer. E porque sei de certeza feita que tenho as minhas razões, mas tenho, sobretudo, a minha razão. Em nome de quem te admira não falo, pois não me foi passada procuração. No meu – estou aqui. Contigo.

Obviamente, considera-te abraçado, se fazes favor.

Henrique, o Antunes Ferreira


NR – Vou meter este fdp de imbróglio no meu travessadoferreira.blogspot.com, mesmo que não estejas de acordo…

sábado, abril 08, 2006

Trocas e baldrocas

Antunes Ferreira
Trocas de galhardetes a sério são as dos futebois. Já foram mais. Mas, agora, são o que são e valem o que valem. Mas há, ainda e também, as outras. Quando dois fulanos começam a escrever bem um do outro – cuidado. E embora se saiba que cão que ladra não morde, dois a fazê-lo (salvo seja) alternadamente são, no mínimo, preocupantes. E há, ainda, a velha questão de se saber se os canídeos sabem do rifão…

Já o escrevi – e o joliva¬_santos@netcabo.pt também assim procedeu. O Muito cá por Casa que o sôr gajo acarinha e publica é um primor. Cuidado com amor, produzido com competência, paginado com arte, o blog é motivo de satisfação para quem o visita e a isso se habitua, como é o meu caso. E ainda que a Margarida (que eu não conheço pessoalmente, mas que deve ser senhora para se pôr num altar, pela paciência e persistência…) se queixe de que o Muito cá por Casa anda muito lá por casa, e o malandro do caro metado se faça de novas, as coisas são o que são - e o que tem de ser tem muita força.

Mas o camaradão-joão, não contente do enorme trabalho que o encanta, pois corre por gosto, donde não se cansa, grafou nas colunas do seu mais que tudo, que pensava que me podia tratar por Antunes Ferreira, só. Pode, homem, claro que pode. E deve, ainda que eu não tenha nada que ver com a vida contabilístico-financeira do citado Santos. Deve, deve.

Eu, mesmo fora deste habitat bloguista, já me permiti - com a sem-vergonha que uso quotidianamente e de que não abuso por mor do IVA a 21%, e a perigosíssima Praça do Comércio é igualzinha ao Terreiro do Paço – tal liberdade. E, note-se, noutros lugares bem menos simpáticos do que os blogs. Melhor: que já foram simpáticos, mas, agora…

Esta é uma troca de galhardetes a que eu corro os taipais já. Por este andar, ainda se transformava numa troca bélica. Numa nova guerra do alecrim e da manjerona? Quem sabe? Nunca fiando, meninas e meninos. Vejam o que acontece com o Saramago e o Lobo Antunes. Sublinho, entretanto, que a comparação, aliás espúria, não aquece nem arrefece. É apenas; está tudo dito.

Por isso aqui fica a minha posição. Sentado, tal como o compadre sulista das anedotas, pois cavar deitado é muito difícil, senão mesmo impossível. Quanto à que o João assuma, estou-me, declarada e realmente nas tintas. Mas, pelo sim pelo não, vou enviar-lhe, através do blog, pstá claro como vinho tinto, uma fechadura de segurança, daquelas que recentemente foram instaladas num organismo que nós conhecemos. Nós – os dois. E outros mais.

Já não se pode confiar em ninguém éoké. No vaso nocturno, digo, no caso soturno que estamos a viver, tranquem-se minhas Senhoras e meus Senhores. Não esperem pela casa roubada. Trancas e portas de aço revestido a cimento armado. Isto se a palavra é uma arma, como o companheiro Santos acentua.

O (Ó, o sacrista do Black Chancelery não tem acentos) Santos, segue aqui um abração e muito huiscacho (quem não saiba o que é, pergunte). Só não segue um queijo por via dos apêndices capilares. Mas, ainda que não tenha o prazer de a conhecer – dadas as inúmeras citações e os repetidos queixumes do ex-pouso parece-me que somos amigos desde o bibe aos códradinhos – o queijo respeitoso e sentido vai para a Margarida. Sentido! À vontade.

quinta-feira, abril 06, 2006


O País está de Tango


Apareceram por Lisboa, principalmente nos murpis, novos anúncios de uma cerveja muito conhecida e muito consumida entre nós. Por certo que eles também proliferam pelo País, só que aqui à mão é mais fácil vê-los e apreciá-los. Trata-se de um cruzamento entre cerveja e... groselha. E, pelos vistos, a genética não tem nada a ver com esta bebida hermafrodita. Muito menos o falecido senhor Darwin, por mais que o copo pudesse ser considerado e integrado na teoria da evolução – bebedola...

Chama-se o produto Tango. E os publicitários, aproveitando-se de uma afirmação do senhor Durão B., hoje em Bruxelas e que então era primeiro-ministro em Portugal (acontece-nos cada uma) desarrincaram um slogan apelativo: O País está de Tango. Foi só mudarem o a por um o e o pobre Portugal lá volta à (má) ribalta. Não se sabe, porém, se, na EU, o antigo dirigente do MRPP tentará cobrar direitos de autor. E aos preços que se praticam na propaganda, mesmo entre nós, a bolada não seria de desprezar. Muito menos se conhece a opinião que poderia ter o também finado Mao Zedong.

Já havia botelhas de cervejola + gasosa. O chamado panaché engarrafado entrara no universo consumista dos portugas. Agora, o limão e a lima dão lugar à groselha. Não me admira se, mais dia, menos dia, sairá a público um enxerto cervejo-mazagrinesco. Para quem franza o cenho perante tal denominação, há que acrescentar que a só juventude dos admirados inquiridores poderá servir de justificação a tal atitude.

Isto porque, nos tempos em que o autor se dava ao luxo de ser puto, a malta dessedentava-se, para além dos pirolitos de berlinde, com a groselha, a limonada ou o mazagrin. Este era uma mistura de café (chicória?) com água, acurada q.b. e com umas gotas simbólicas de sumo de limão. Estava-se pelas décadas de 40/50. Quando apareceram pelo Jardim Zoológico os primeiros vendedores de esquimó fresquinho, foi uma festa – e um espanto.

Era um tempo muito especial, em que os benfiquistas eram encarnados porque não podiam ser vermelhos. Em que não havia suicídios, apenas cidadãos que se debruçavam exageradamente das janelas e varandas de um quarto andar qualquer. Em que os namorados, melhor, os conversados, tinham mesmo de conversar do passeio para a fenestra. Em que as jovens não podiam usar biquíni nas praias.
Contava-se, então, à boca pequena, a anedota daquela mademuázele francesa que, em Santo Amaro de Oeiras toma sol em tais preparos. Felizmente que um zeloso cabo-de-mar, zeloso guardião da moral e dos bons costumes, por ali passava. «A mademuázele não pode usar isso». «Isso, quê?». «Esse fato de banho». «E porrrquê»? «É um de duas peças, o que é proibido». «Entao senhorrr guarrda: qual delas querrr que eu tirrre»?
Era bem o tempo do quem não está connosco está contra nosco.

A mistura da cevada com a água, o malte e o lúpulo, convenientemente fermentada e para consumo humano, já tem mais de seis milénios. O pão líquido, como lhe chamavam os sumérios foi durante muito tempo utilizada como medicamento. Ou produto de oferta aos deuses. Os romanos que, de princípio, a desprezavam em detrimento do vinho, foram quem a levou para o Norte europeu, pois ali não se dava a vinha.

No caso vertente, a erudição sobre esta bebida alcoólica não é de encomiar. O Google traz tudo e ponto. Já a reflexão sobre a sua publicidade é outra coisa. Face à tão propalada crise que atravessamos estes milhentos anúncios pareceriam despropositados. Então – e o emagrecimento? Das pessoas, mas principalmente das empresas. A obesidade – de que o escriba é militante – reveste muitas formas. Combatê-la também.

No entanto, parece que até existe apenas uma. O que é estranho, dada a imensidade de produtos para perder peso que por aí pululam. Isto é que vai uma crise...

Antunes Ferreira




O Andorinha e o Livro do Géneses




Antunes Ferreira

O Andorinha tinha um bom vinho. Há quem o tenha mau, alguns mesmo péssimo. Mas o Andorinha, não. Quando avançava no copo não era sujeito para cantar o hino nacional a três vozes, nada disso. Esvaziava conscienciosamente a garrafa, gole a gole, saboreando o néctar, e ficava-se por aí. Por vezes, raras, diga-se, encetava uma segunda botelha. Mas persistia no seu modo de procedimento: pouco tinto no copo, de cada vez, alumiando-o parcimoniosamente em seguida.

Nunca ninguém o vira amarrotado num passeio, nada disso. Nunca ninguém o ouvira em alta gritaria por mor da bebida. Nunca ninguém pudera afirmar que ele fora apanhado pelo balão da GNR. Nunca ninguém, por conseguinte, lhe pudera apontar um dedo que fosse, vituperendo-o por mau comportamento alcoólico, honra lhe seja feita.

O próprio Noé, depois de abandonar a barca do longo cruzeiro, comportara-se pessimamente, emborrachando-se dia sim, dia sim, com a vinhaça que produzia de videiras dele mesmo. Há, até, quem diga que o dilúvio vinícola era pior e mais vasto do que o universal, de 40 dias. Mal intencionados os que tal defendem. Não se tratava de mais do que uma etilização permanente, que o levou, uma vez, a ser descoberto por um dos seus filhos, Cã, prostrado e nu até ao pescoço, na tenda patriarcal.

Ora, de acordo com o Livro do Géneses, esse amante do sumo de uva (fermentado) terá alcançado a bonita idade de 950 anos, mais coisa, menos coisa. Encarregado por Jeová de repovoar a terra totalmente inundada, tinha levado na famosa arca um casal de cada um dos animais existentes ao cimo da terra. De homens, nada mais do que ele e a sua família. O descendente em linha recta de Adão estaria, assim, conservado em álcool. O que só abona as virtudes da cepa.

Recordo aqui que, na sequência da cena triste na tenda, durante a qual Cã e seu filho Canaã o tiveram de pudicamente o cobrir, o profeta Nuh, como é chamado no Alcorão, ficou pior que estragado e amaldiçoou para sempre esses descendentes. O avô do Noé, de seu nome Matusalém, tão conhecido como o neto, ainda que sem arca, mas também longevo, tinha sido quem prepara as coisas para a ocorrência da inundação total. Em comparação com ela, qualquer tsunami, por mais violente que seja, não era mais do que entretenimento pueril.

Não se persista, entretanto, nos caminhos bíblicos. Tudo se passou há uma porrada de anos e nada se ganha, nada ganha o escriba com tais surtidas nas páginas a que chamam sagradas. O Andorinha, que é ele a quem vimos nestas mal alinhavadas linhas, era, por consequência, muito mais comportado do que o Diluviano. Nada de confusões, Amigos. Tal como o Povo diz – dos enganos vivem os escrivães. Não se cometa aqui um tal pecadilho, ainda que infringindo as tábuas da lei que o Moisés trouxe do alto do Monte Sinai, para cumprir o recado divino.

O Andorinha era amolador de facas, navalhas e tisoiras, com gaita e tudo. Dizia-se dele que quando embeiçava o instrumento era certo e seguro que lá vinha água celestial. Daí que também se dissesse, em jeito de graçola, que ele se vingava no vinho. Aliás, também corria que fora ele o protagonista de estória que não resisto a contar aqui.

Um belo dia o amante dos copos comentava assisadamente para alguns amigos que o corpo humano era uma máquina perfeitíssima concebida por Deus à sua imagem e semelhança. Só que, como tudo o que é próprio deste bicho raro, erecto, alegadamente pensante e frequentemente falante, não se podia proporcionar-lhe sempre a satisfação dos seus desejos. Havia que, tal como se devia proceder para com as crianças, pelo menos em tal tempo.

O corpo, por vezes, tem de ser contrariado, aditava o Andorinha. Por exemplo: quando ele, o dito corpo, pede vinho – faz-se-lhe a vontade e dá-se-lhe vinho. Quando, noutras alturas, pede água, é o momento de o contrariar – dá-se-lhe... vinho.

Pois, a dado momento, o Andorinha deixou de se enfrascar. Os amigos e conhecidos não queriam acreditar. Porém, a Alzira apanhadeira que dele se divorciara por mor da bóbida e com ele fabricara cinco filhos, garantia a quem a ouvia que sim, que era absolutamente sim.

Situação incrível, quiçá mesmo impossível. E era então que a senhora, retorcendo as mãos, complementava: «O pobre, coitado, lá se foi através do forno crematório. É a única coisa certa que nós temos. Ninguém cá fica para semente». Perante isso, terminavam as dúvidas. O Andorinha, ainda que tal parecesse impossível, deixara mesmo de beber.

quarta-feira, abril 05, 2006

Panem et Circenses


Nos tempos da Velha Senhora, havia umas quantas asserções que os marcaram, para além de caracterizarem as fontes de onde provinham. Desde a minha política é o trabalho até ao boato é crime e fere como uma lâmina, eram uma caterva delas. Porém, para o autor, a melhor de todas era quem não é do Benfica, não é bom chefe de família. Politicamente correcta para a época, ela simbolizava bem o que o criminoso salazarismo pensava para os lusos: democracia – não, que eles não estavam preparados para ela; futebol – sim, pois enquanto entretinha os cidadãos, estes não pensavam (muito) na Liberdade que não tinham.
Nesse sentido, as duas vitórias dos encarnados na Taça dos Campeões Europeus foram cerejas gigantes no cimo de bolos enfezados de miséria. E o Eusébio, vindo do portuguesíssimo Moçambique, foi transformado no novo herói nacional, a par da Amália e da Senhora de Fátima. Era, recorda-se, o tempo da trilogia dos FFF: Fátima, Futebol e Fado. Então, «a felicidade garantida pelo Santuário» era suficiente, os filmes do António Lopes Ribeiro eram peras doces, o vinho dava de comer a um milhão de portugueses.
A casa portuguesa tinha como cortinas o luar mais o sol que batia nela; bastava um pouco, poucochinho pr’alegrar uma existência singela; não faltavam duas rosas no jardim e o caldo verde verdinho era a melhor vitamina para o povo. E se havia dois braços à espera dum honrado trabalhador, findas as nove horas de um dia de trabalho sem semana-inglesa, ainda se conseguia consumir o fiel amigo de quando em vez. Bendita bem-aventurança.
Hoje, as diferenças são abissais. Exceptuado no futebol. De ópio do povo, passou a realização portuga. São os êxitos internacionais do FCP, o quase sucesso da selecção nacional do senhor Scolari, com as bandeiras por tudo o que era sítio, a tangente do Sporting à Taça das Taças, no Alvalade Século XXI e assim.
Pasme-se: a Federação Portuguesa do Chuto na Canela veio, agora, a público verberar um anúncio televisivo da Galp porque ele é demasiado optimista quanto ao Mundial na Alemanha, que se aproxima a largos passos. Nada de euforias dizem os senhores capitaneados por Madaíl. O seleccionado lusitano vai bater-se que nem um leão – para o meio da tabela. Isto porque, na hipótese quase impossível (para eles) de chegar à final, lá estará o fantasma grego, com correntes e tudo.
Enquanto mais este episódio caricato se verifica, há razões para se especular. São os vermelhos no Nou Camp, na quarta-feira; é o clássico entre leões e dragões no sábado; é a luta cerradíssima – quer pelo título, quer pela sobrevivência - numa Liga que já foi Super e hoje nem se sabe o que é. Que os senhores das apostas na internet me perdoem. Sobre a firma deles é dificílimo de saber o que é; ainda não há decisão definitiva dos juristas a propósito do famigerado patrocínio; e a sua denominação cheira mais a pomada para as entorses do que a apostas desportivas.
Não haja dúvidas. O velho football é quase exactamente o que é o futebol hodierno. Com umas quantas alterações, mas no essencial sem grandes revoluções. As equipas continuam a ter onze jogadores em campo, sendo que um deles é o guarda-redes. Os árbitros ainda vivem em grupos de três elementos. Antes eram os fiscais-de-linha ou bandeirinhas. No tempo actual são juízes auxiliares. Os clássicos massagistas transmudaram-se em fisioterapeutas. Mas, bem vistas as coisas, são todos os mesmos.
Este mundo futeboleiro parece menos turbulento do que o político? Nada disso, Senhoras e Senhores, nada disso. Um está para o outro como a hipotenusa está para os catetos. E nem é preciso que estes últimos sejam ao quadrado, pois quadrados andamos todos nós. Com o estranho e caracoliticamente lento Apito Dourado. Com as arbitragens correctas e imparciais que por aí abundam. Com os excelentíssimos dirigentes que enganam quotidianamente quem os elegeu. Com os parasitas que volteiam em redor do esterco futebolístico.
Os negreiros, ora chamados agentes FIFA, UEFA ou quejandos, já nem precisam de chicote para levar os seus «representados» para as galés. Há tanta gente a esmifrar umas massas à pala do desporto-rei (sem coroa???...) que aquilo que hoje é uma das indústrias mais rentáveis do Mundo precisaria, para se endireitar, da tal alavanca que pudesse mudar a posição do orbe terráqueo.
Já nos finais do Império Romano, o maior poeta satírico de então, Juvenal, foi o autor daquilo de que o povo precisava para viver tranquilo: Panem et Circenses, ou seja, pão e circo. O futebol dá pão a bastante gente; quanto a circo – estamos conversados.

Antunes Ferreira

domingo, abril 02, 2006

O Abominável


Deambulando pelos Himalaias, dizem as lendas, nomeadamente as budistas, o yeti é uma personagem simultaneamente arrepiante e deslumbrante. Os picos eternamente nevados são o habitat de tal criatura monstruosa que, no dizer de tibetanos, nomeadamente monges seguidores fieis do Dalai Lama, é homem, macaco e deus. Uma trilogia assim, deixem-me que vos diga, não tendo nada a ver com a Trindade dos cristãos, muito menos o terá com outra, desta feita mais de cerveja, bifes, batatas fritas e mariscos q.b....

O nome deriva da palavra ela também tibetana yeh-teh, ente resultante da relação entre um macaco e uma ogra, quiçá parente (afastado?) do terrível Bigfoot, o Pé Grande dos indígenas da América do Norte, nomeadamente daqueles que habitavam as montanhas cobertas pela neve. Faça-se aqui uma advertência: não percebendo o autor de árvores genealógicas e afins, não se pronuncia o mesmo sobre colateralidades deste tipo.


Para os homens brancos, designação muito abrangente mas, à partida, imprecisa, deslavada e falsamente ariana, o «coiso» é denominado o Abominável Homem das Neves. Da sua real existência não existem provas, apenas rumores. Os tibetanos defendem-no como um ser benfazejo que os pode, até, proteger. Mas, livrem-se os que pretendem incomodá-lo, da sua cólera. O yeti não é para brincadeiras.

Georges Remi, aliás Hergé, o pai do Tintin colocou-o como figura central de um álbum em que o repórter aventureiro que encantou gerações, se deslocava ao Tibete para tentar salvar o seu amigo Chang. Mais peripécia para aqui, menos para ali, resulta que o verdadeiro salvador do jovem chinês foi, na verdade, um yeti. E, como tudo o que acaba em bem, Chang retornou à dita civilização pela mão de Tintin. O yeti, esse, ficou-se na prancheta do Hergé e nos milhões de álbuns editados a soluçar baixinho.

Abomináveis ou não, Homens ou não das Neves ou do Augusto Gil, os yetis aparecem e desaparecem na boca de cena mais rapidamente do que os etíopes a correr a maratona. Pode-se – e deve-se? – duvidar militantemente da existência deles. No entanto, há muito boa gente que a seu respeito usa citar o castellano: «Pues mira, Chico, yo no creo en brujas. Pero que las hay... las hay»

Aqui muito à puridade há que dizer que, em verdade, o que não falta são homens muito abomináveis, com neves ou sem. Que não têm nada a ver com o yeti. Como disse o dr. Lopes, eles andam por aí. Fazendo enormidades, essas sim abomináveis. E não são poucos. São autores de façanhas pejorativamente péssimas e quase ninguém lhes vai às mãos. São, assim, abomináveis e inimputáveis...

Tenho, agora, uns quantos de lida diária. Que se comprazem na execução de enormidades – mas também de indivíduos. Este é suspeito de... Abate-se (ao efectivo, claro) e já está. Menos um a aborrecê-los. Mas o homem até era... Não era. E, não se queixe, nem ele nem os seus amigos. Pior seria se estivera na Moscovo estalinista. Não ia para o olho da rua; era fuzilado... provisoriamente.

Anda um cidadão a servir uma instituição durante uma caterva de anos e, de repente e inopinadamente – zás! Ninguém o mandou ser cumpridor, honesto, vertical, decente. Isso são «coisas» que não promovem, antes pelo contrário. Fora ele outro e com comportamento diferente e as palmadas nas costas, os louros e aumentos salariais seriam o melhor pagamento para quem fora praticante do sim, senhores.

Abominável Homem das Neves? No Tibete? Só?

Antunes Ferreira