sexta-feira, setembro 26, 2008

NOVO CONCURSO

INICIATIVA SORUMBÁTICO + TRAVESSA DO FERREIRA

Medir um livro

O Travessa do Ferreira, mais uma vez em colaboração com o Sorumbático (http://sorumbatico.blogspot.com), oferece um exemplar deste livro ao leitor que, até às 24 horas do próximo dia 2 de Outubro (quarta-feira) der a resposta que mais se aproxime da correcta à seguinte pergunta:

«Somando a altura do livro com a sua largura, que número se obtém (em milímetros)?»

Boa sorte!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!






NOTA - De novo o aviso: cada concorrente pode fazer duas tentativas. Não serão consideradas válidas respostas de anónimos.



Medir un libro

Una vez más Travessa do Ferreiro, con la colaboración de Sorumbático (http://sorumbatico.blogspot.com) regala un ejemplar de este libro al lector que, hasta las 24:00 del 2 de octubre (miércoles) poste una respuesta que se aproxime más de la correcta a la pregunta siguiente:

¿Sumando la longitud del libro con la anchura, cual es el resultado que se obtiene (en milímetros)?

Buena suerte!!!!!!

NOTA - De nuevo: cada uno de los concursantes puede hacer dos tentativas. Por supuesto, no serán consideradas validas las respuestas de anónimos.

quarta-feira, setembro 24, 2008




Há dias em que

Antunes Ferreira
Manuela fechou, pensativamente, o livro, depois de assinalar o local de intervalo na leitura com o marca páginas. Curioso: era publicidade de um laboratório de produtos farmacêuticos, a cartolina num azul forte e polido, os comprimidos revestidos branqueando, o nome em times bold a negro e o faz bem a em verdana itálico e vermelho. Chamativo.

Levantou-se, e iniciou o seu percurso de fuga e retirada, como dizia o avô Geraldo. Caminhou de vagar, como se estivesse numa nuvem celestial de algodão branco contemplando o Filho. Não, o dela, obviamente, mas o outro, de Maria. E, naturalmente, de harpa melodicamente empunhada. Sorriu-se interiormente, sabia lá, a nível do ventrículo esquerdo, que nisto de teclados da parte de dentro, nunca se localizavam com grande precisão. Quem sabe? Talvez com o sextante adaptado pelo Gago Coutinho, pelos idos de 1919, se bem se lembrava. A sôtora Miquelina, no Maria Amália, até lera um texto escrito pelo próprio inventor, em que se referia ao horizonte artificial ou algo assim.

Saindo do jardim, virou à direita, a caminho da Calçada da Estrela. No passeio, um cego tocava desesperadamente um violino. Pelos arquejos do pobre instrumento, devia ter uma corda só. Mas o artista não desanimava. Prosseguia arranhando sons e decibéis, como se de São Carlos se tratasse – com vestido comprido, obviamente.


Parou e deitou um euro na caixa dele. Pensava que já não havia coisas destas, mas a realidade desafinadíssima provava o contrário. Prosseguiu, enquanto desnovelava o emaranhado que fervia nos lobos cerebrais. Pois era, a vida madrasta não dava ponto sem nó. E não se contentava com chips, downloads, iPods e por aí fora. Ainda precisava das notas espúrias de violinos desdentados.

Atravessou na passadeira para os peões, como boa cidadã imbuída do mais apurado senso cívico. Um táxi passou-lhe um rente quase secante. Tal gente não se apiedava nem quando visse a respectiva mãe a vender pó branco na Maria Pia. Conduzir um carro a verde e preto (que piada, tinham voltado aos velhos tempos e às idosas cores) seria sinal de impunidade? A ser assim, não haveria zebra que resistisse.

Foi tudo muito rápido. Primeiro, descortinou o avô Geraldo, entre outros passantes que estavam plantados no passeio, cigarrito pendurado na beiça, no café era proibido fumar e a ASAE, cuidado. O velho, direito que nem um fuso, jornal debaixo do braço, também a viu. Vinha no outro lado da rua, em passo marcado, coronel na reforma era sempre e sempre seria militar.
Depois, guinou à esquerda, em direcção a ela, a face aberta de satisfação, quiçá mesmo de alegria e pôs um pé no empedrado remendado de asfalto. Avançou. O camião de uma cervejeira nem travou. Bateu-lhe, atirou-o ao chão e passou-lhe por cima.


Manuela não quis acreditar. Mas, as formigas humanas num ápice rodearam o velho esmagado, o diário empapando-se em sangue acabado de verter. O condutor descera da viatura, ai a minha sorte, há dias fodidos, em que nem se pode sair de casa, o sacana do velho bem podia ter olhado. Ó amigo, não se chateie. Não teve culpa nenhuma, nunca ia adivinhar que o cota fazia uma alarvidade assim.

E outro, o gajo ia a olhar todo lampeiro para aquela tipa, tão embeiçado que nem via mais nada. Podia ter sido pior, se você se tivesse descontrolado e tivesse ido para cima de mais gente, com o pessoal que por aqui vai era uma tragédia. Uma hetacombe, anexou um cavalheiro já de certa idade, com ares de professor primário reformado. E o primeiro, hecatombe, se não se importa.

A mim tanto se me dá, não me aquenta nem me arrefenta. Que se lixe essa merda qualquer coisa em ombe. Voltaram-se para Manuela. A senhora viu? Ele pareceu-me que ia a deitar-lhe o olho malandreco... Amarrotada: é o meu avô Geraldo. Era, corrigiu o de óculos e talvez docente retirado. Se fosse catedrático, jubilado.

terça-feira, setembro 23, 2008

PoiZé


Cá está o novo boneco do Zé Oliveira. Reparem só, por favor, no pormenor delicioso do título do jornal que o primeiro senhor está a ler. PoiZé...






NA ROTA DO CALENDÁRIO


Setembro, se bem me lembro...

Maria Lúcia Garcia Marques
...era
o tempo doce das compotas. De figo, de abóbora com amêndoa, de tomate com pau de canela, cravo-de-cabecinha e um toque de hortelã... E da marmelada e sua “filha” geleia. Feitas em casa. Naquela espécie de cerimónia alquímica em que se reuniam as mulheres da família, oficiando na cozinha quase conventual, em pacientes e ritualizados gestos e tarefas, que se sucediam ordenadamente como passos de uma dulcificada via-sacra...




Aos meus olhos meninos, obrigada que estava a uma distância cautelosa, por força do calor dos fogões (ainda a lenha) e das caldas ferventes que se transmutavam em lavas olorosas, os utensílios manipulados afiguravam-se-me mágicos e seculares, saídos das páginas dos velhos contos de feitiços e mezinhas milagrosas. Eram os tachos de cobre, os passadores de rede, as colheres de pau, os raladores de cascas e frutos secos e, na sua domesticada agressividade, as facas e os garfos. Meus olhos espantados, ao nível do tampo da mesa enorme, folheado a zinco, comungavam desta celebração, um pouco como a descreve Fiama Hasse Pais Brandão na sua auto-biografia “Sob o Olhar de Medeia”:



Os marmelos provocavam uma das raras celebrações caseiras que Marta amava, porque reunia a mãe, a criada antiga e ela, em torno da peneira e da calda de marmelo. (...) A mãe e a criada, numa manhã de Setembro, preparavam os dois grandes alguidares que colocavam sobre dois bancos. Enquanto a criada descascava os frutos e tirava as pevides, que dariam a geleia, a mãe fazia uma calda espessa de açúcar, à qual se juntaria a polpa das gamboas, cozida e passada pela peneira de crina. Marta prezava esses objectos antigos, com muitos séculos de uso: um aro de madeira afeiçoada, um tecido entrecruzado de fios de crinas, séculos e séculos, em que os homens haviam repousado nas suas tarefas, pedindo o constante auxílio das plantas e animais. (...) Aquele objecto caseiro e de celebração – a peneira de crina – acompanhou gerações e ainda hoje suscita o desejo de uso, o mais belo desejo em relação a uma coisa.



Marta ampara a peneira, enquanto a Maria trabalha. Maria com a palma da mão, tão lisa como a madeira do aro, esmagava os quartos cozidos da fruta com uma cadência singular: dois tempos breves e um longo, seguidos de pausa, e balançava os ombros como se dançasse. Dançava, deveras, recordou Marta: com o tronco flectido, os braços dobrados em dois ângulos diferentes, as mãos regulavam o compasso, e mesmo os pés executavam passos mínimos alternados... Marta amparava a peneira lateralmente, fascinada por poder participar nessa celebração
.


E depois, em minha casa, era a fascinação de ver encher as tigelas de faiança antiga com a pasta finíssima da marmelada que logo adquiria uma nata vidrada que apetecia tocar com um dedo guloso e ladrão...


E mais tarde, eram os boiões da geleia, que, alinhados a contraluz sobre a mesa pareciam gigantescas pedras preciosas, brilhando na transparência das suas colorações afogueadas, entre o oiro velho, o ruivo e a cor de vinho (consoante o ponto do açúcar e a maturação dos frutos).
Era o fascínio total: com solenidade, inspirava profundamente aquele odor acre que me entontecia um pouco mas me investia naquela atmosfera de ancestral domesticidade e feminino magistério.


E é ainda esse perfume que me traz à memória a breve cena que hoje relembro religiosamente e marcou a minha infância. Foi quando a Carlota (a nossa Maria daquela época) passando um olhar pela mesa da cozinha onde se alinhavam as tigelas e os boiões brilhando na luz oblíqua do fim da tarde, comentou para a mãe, entre cansada e aliviada:
- Bendito seja Deus, mãe, que este ano saiu-nos tudo bem...
- Bendito seja, filha!


E, curvando-se para mim, que ferrada ao bordo da mesa me maravilhava, perguntou:
- E a menina, sabe dizer o “Bendito”?


O que quer que isso fosse, eu não sabia. Então ela, pausada e maternal, foi recitando para mim os versículos da sua grata crença que mais tarde recuperei e guardei para as coisas boas da vida:





Bendita seja a luz do dia
Bendito seja Quem a cria e deu à noite o seu luar
Bendito pelas ondas do mar e pela terra do chão
Bendito pelo trigo do pão e pelo vinho da uva
Bendito pelo sol e pela chuva
Pela água da fonte e pela erva do monte
Bendito pela lã da ovelha
Pela lenha das brasas e pela telha das casas.
Bendito pelo fogo da luz seja o Senhor Jesus
Que está no altar da Igreja mesmo que a vista O não veja.
E a Virgem Santa Maria, sua Mãe e nossa guia
Seja bendita também.
Ela nos dê um bom dia
Nos assista e nos conforte
Nos dê graça e nos dê luz
Ora e sempre
Amen Jesus.

domingo, setembro 21, 2008

Agora, a sério

Comunas e burguesia

Antunes Ferreira
Pronto. O presidente do governo madeirense afirmou ontem no Funchal que Portugal está a viver «em cima de uma panela de pressão». E disse mais. De acordo, ainda, com a Comunicação Social, Alberto João Jardim acentuou: «Isto tudo é de uma grande irresponsabilidade», tendo considerado como sendo facto «insólito em qualquer democracia europeia», que em Portugal as sondagens recentemente publicadas indicarem que há

«uma intenção de voto de 20 por cento nas organizações comunistas todas somadas». O que, para ele, Jardim, «é impensável em qualquer país da União Europeia». Assim, disse ainda «um em cada cinco eleitores está disposto a votar no partido comunista».

O governante madeirense opinou também que enquanto se assiste a este cenário «a burguesia portuguesa, com a sua tradicional incultura, acha que está tudo bem, que os direitos sociais dos trabalhadores podem continuar a ser violados, porque o que interessa é ganhar dinheiro e que o mercado continue a funcionar selvaticamente».



Acrescentou ainda que «há um fenómeno muito desagradável em Portugal: os partidos políticos fecharam-se como que numa concha, tornando-se em centros de interesses individuais e de grupo, tornando-se mais em lobbies do que representantes do sentir da Nação portuguesa».
Ora toma. Quem havia de dizer? A riqueza do pensamento político-cultural do Senhor da Madeira é, realmente, ofuscante. E a sua coerência, espantosa. Se não, veja-se: em Portugal ocorre o «impensável» na UE: um em cada cinco eleitores está disposto a votar no PC; mas, por outro lado, a inculta burguesia portuguesa vai violando os direitos sociais dos trabalhadores, num mercado a funcionar selvaticamente.

Não fosse já conhecido o discurso habitual do líder regional – e as gentes pasmavam. Claro, cidadão ignaros, ralé, arraia miúda, diria o Fernão Lopes, tinham de aprender com as tiradas sapientes e profundas do Dr. Alberto João. E não apenas os da Região Autónoma. Todos. O povo, que já não é quem mais ordena, agora tem de ser quem mais aprende. Com o grande dirigente. Ao pé do qual o finado Kim il-Sung não passava de um aprendiz de feiticeiro. Jardim, neste contexto, deixa, por exemplo, Arnaldo Matos – lembram-se dele? - a quilómetros-luz de distância.


AJJ é um fenómeno. Indiscutivelmente. Capaz de afirmar aos berros e de dedo em riste, o que raríssimos Portugueses (para não dizer fundamentalisticamente nenhuns) conseguiriam sequer sussurrar. Não se vá mais longe: entre ele e Hugo Chavez, neste particular, venha o diabo e escolha. As suas diatribes, bastas vezes a roçar a inconveniência e, até, a má educação, ressoam pelo nosso País inteiro. Uma tal truculência virulenta pede meças ao mais pintado. E, parece que muitíssima gente tem medo dele. Veja-se Jaime Gama, veja-se até Cavaco Silva que, anote-se, é o Presidente…, mas só da República.

No mesmo saco: os comunistas e a burguesia que se cuidem. O verdadeiro grande educador está um luta. Atenção, seus filhos da p…romiscuidade política mais abjecta. Que seria da Madeira sem Jardim? Ora essa: que seria de todos nós os Portugueses sem Jardim? Que seria de Portugal? Viver sobre uma panela de pressão é incómodo, perigoso, fatal. Mas, sosseguem, gentes: temos quem nos salve.

(Como sempre também publicado no http://www.sorumbatico.blogspot.com/ e noutros)

quinta-feira, setembro 18, 2008





Repor a Verdade

Tendo a Insolentíssima Senhora Dona Ana/ónima Salina publicado neste blogue uma torpeza
i-n-q-u-a-l-i-f-i-c-á-v-e-l (a propósito de um suposto aniversário) e no intuito de repor a Verdade, vem o signatário informar, para esclarecimento da atoarda propalada, que:

a) Não é dito cujo Chefe de quem-quer-que-seja, muito menos desta emula da Lucrécia Borges. Terá sido, quiçá. Quem sabe? Vidas.

b) É vergonhosamente falso o que insinua a supracitada Salinas, sem s. A ser que no próximo Sábado, dia 20, ou seja, depois de amanhã, se viesse a verificar uma tal ocorrência, aqui se declara que o alegado Chefe faria apenas 274 tristonos Otounhos.

E, por ser verdade, verdadinha, aqui fica exarado o repoimento, perdão, o depoimento que está conforme com a legislação aplicável e em vigor. Assim seja.

NE – Mas, pelo sim, pelo não, gifts are welcome. Baibai
NA COZINHA É UM DESCANSO


Frango com whisky

Antunes Ferreira (com a ideia do Maia Figueiredo)
Há por aí tanta malta que se considera como sabendo cozinhar, que é um vê-se-te-avias. De tal maneira que já propus às entidades competentes a reformulação do ditado clássico «De médico e louco todos temos um pouco», para «De cozinheiro, treinador de futebol e mouco todos temos um pouco». E ainda tenho dúvidas sobre se deva acrescentar (ou não) elementos como político/mentiroso, arrivista, pseudo-desenrascado, golpista e falcatrueiro. Continuo a congeminar.

Não desfazendo, eu cá sou um cozinheiro insolente, i.e., excelente. Não é que me gabe, mas é a pura verdade. E quem diz a verdade não merece castigo. E a verdade é como o azeite: vem sempre ao cimo da água. E, por azeite…



Aqui vos deixo esta receita, magnífica, de lamber os dedos. Eu próprio já a fiz em casa e deu super certo... É porreira para ser feita todos os dias, mas, em festivos, é óptima. Aqui vai – e muito bom proveito.

Ingredientes:

- Uma garrafa de whisky (do bom claro!) Passe a publicidade, Bushmills, Cardhu, Monkeys de 20 anos, Old Parr, e quejandos;
- Um frango com mais ou menos um quilo e setecentos;
- Sal, pimenta, alho, piripiri e ervas de cheiro, a gosto;
- 150 ml de azeite virgem;
- E nozes diversas salgadas e picantes q.b.

Modo de preparar:

- Arranje o frango;
- Beba um copo de whisky;
- Barre o frango com uma massa composta de sal, pimenta, alho, piripiri e as ervas, previamente misturados em almofariz ou batedora;
- Junte o azeite.
- Beba outro copo de whisky.
- Pré-aqueça o forno durante cerca de dez minutos.
- Sirva-se de mais uma boa dose de whisky, enquanto aguarda; coma as nozes diversas como aperitivo.
- Coloque o frango numa assadeira grande.
- Sirva-se de mais duas doses de whisky.


- Axustar o terbostato na marca 3 , e debois de uns vinti binutos, botar para assassinar. Digo, assar o páxaro, hic.
- Emborcar uma doje de visque debois de beia hora, dispemxar as nojes, hic, e gontrolar a assadura do ganzo.
- Tentar zentar-ze duma gadeira, servir-se de ouuuuuuutra doje , hic, xufixientemente abundante de visque.
- Cozer(?), costurar(?), cozinhar, sei lá, que se liche, o vrango.
- Deixaaaar o filho da buta, hic, do bato no vorno por umas guatro horas.
- Tentar retirar o galo do vorno, hic. Não gueime as mãos, garago!
- Bandar mais uma boa doje de whisky pra dentro. De você, é claro.
- Tentar nogamente tirar, hic, o sacana do piru do vorno, porque na primeira , hic, teenndadiiiva dããão conxeguiuuuuuuu.
- Apanhar a merda da abe que gaiu no xoalho e enjugar o filho da buta com o bano do jão, hic, e cologá-lo numa pandexa ou qualquer outra borra, bois avinal você nem cosssssssssta muito dessa borra mesmo.

- Tá bronto. Bom probeito, hic.

Tenho de acradexer ao balandro do Baia Videirego esta, hic, noba contribuixão aqui para esta cacada de blóguio. Viz-lhe, à contribuixão, nunga ao Baia, umas alteraxõejitas, pra belhorar as coijas. Axim éké. Biba!



MAIS LIVROS


PARABÉNS PAULO COSTA
E JOÃO RODRIGUES!!!!!!!!!
Ora cá estamos.
Primeiro: o valor oficial (conforme a fotografia mostra) é de 312mm. Assim, o Júri não teve mais trabalho do que a ordenação dos valores propostos.
De entre tantos e tão bons palpites, o mais próximo foi 309mm, dado por Paulo Costa (primeiro) e por João Rodrigues (já quase ao fechar da loja) a que correspondem, portanto e respectivamente, o 1.º e 2.º prémios.

Pede-se então a ambos que, até às 24h de amanhã, sexta-feira (dia 19), escrevam para
sorumbatico@iol.pt indicando dois ou 3 três livros da sua preferência (de entre os já indicados), bem assim como morada para envio. O Paulo Costa receberá dois, e o João Rodrigues receberá um.
Podemos dizer - o Carlos Medina Ribeiro (o Einstein desta iniciativa) e eu, seu fiel companheiro, que nem chego aos calcanhares dele, nem chego para as encomendas - que estamos satisfeitíssimos e, óbvio, que isto não fica assim. Há mais…
Obrigado a todos!

segunda-feira, setembro 15, 2008




CONCURSO «MAIS LIVROS»
INFORMAÇÃO IMPORTANTE

Uma informação que se afigura MUITO IMPORTANTE:
No Mais Livros que termina, como se tem dito, às 24:00 de quarta-feira, 17 (depois de amanhã), é necessário que, naturalmente após sabidos os resultados, que aqui serão informados, os premiados contactem, de imediato, o Carlos Medina Ribeiro – sorumbatico@iol.pt. A data limite para esse contacto é: 24:00 de sexta-feira, 19. Sem falta. Se o não fizerem – perdem o direito aos prémios.
Tomem nota: os livros serão enviados aos vencedores através do correio e sem quaisquer custos de portes.

domingo, setembro 14, 2008

VIRA O DISCO E… TOCA O MESMO

Enquanto prossegue (e bem) o concurso Mais Livros – este textículo não impede que continuem a responder; podem e devem!!! – aqui fica um outro Vira o disco… Servirá para entreter ócios e, quiçá, propiciar aos leitores, um intervalo para também concorrerem.
Um pedido: por obséquio, se se rirem, não gargalhem muito fortemente, que podem desequilibrar a resma dos livros e… lá se vai o concurso. Forca, com ç!



Boas ovelhinhas

Antunes Ferreira
Abre
o pano. Cena única. O Senhor Bispo chegou à freguesia da Senhora do Ó, para uma visita pastoral. O pároco Felício aguardava-o. «Se Vossa Reverência quiser visitar a minha igrejinha…» «Ó padre, foi para isso que eu cá vim».
Por fora, branquinha caiada de fresco. Por dentro, um espanto. Mármores de Estremoz, púlpito barroco, turíbulo em prata lavrada. «Padre Felício, boa igrejinha, boa igrejinha, como diz»…

«Saiba Vossa Reverência que foram as minhas ovelhinhas que me fizeram este miminho. Algumas até deram trabalho nas obras e nos seus dias de descanso»… «Boas ovelhinhas por aqui tem, boas ovelhinhas!» «E a minha casinha?» «Pois vamos lá, padre». Uma vivenda de três pisos, piscina, court de ténis… «Boa casinha, boa casinha. E chama o padre a este monumento a sua casinha…» «Saiba Vossa Reverência que as minhas ove…» «Não diga mais… Boas ovelhinhas, boas ovelhinhas!»



«Se Vossa Reverência me quisesse dar o prazer de entrar, tenho aí um Porto de 1936…» «Padre, eu sou mais de uísque…» Pois que sim. Tinha um uísque de 25 anos, envelhecido em cascos d… «Pois, então, vamos a isso» Outro espanto, o interior, alcatifa de dez centímetros de pelo, um sujeito até corria o risco de se perder nela, cortinas de cambraia, televisor de alta definição… «Bons interiores, bons interiores!» «As minhas…» «Há-de mas apresentar, as suas ovelhinhas»…



Empregada do pároco, uns vinte e poucos torneadíssimos, com tudo nos respectivos lugares – e que lugares!!! -, vestido de preto a preceito, especial para a circunstância, avental branquinho, bandeja de prata, elegante e esbelta e um decote de não sei se te diga se te conte. Copos servidos, repetidos, «boas bebidas, boas bebidas, por certo ofertas das suas ovelhinhas…», a jovem escultura ajoelhou-se para beijar o anel bispal – e retirou-se. Sua Reverência esbugalhou os olhos, nem queria acreditar. Pelo decote em baixo, até se apercebera das fivelas dos sapatos da moçoila…

«Felício: Você tem uma boa empregada! Uma boa empregada! Uma boa empregada!» «Saiba Vossa Reverência que nunca lhe toquei num cabelo, juro por Cristo Nosso Senhor e sua Santa Mãe, nunca lhe toquei num cabelo». «Boa pontaria, Felício, boa pontaria. Boa pontaria!!!!!!»

Cai o pano e cai o ponto. Palmas. Muitas.

sábado, setembro 13, 2008




INICIATIVAS SORUMBÁTICO/TRAVESSADOFERREIRA
www.sorumbatico.blogspot.com/ www.travessadoferreira.blogspot.com/


Mais livros

Mais uma vez o Sorumbático e a Travessa do Ferreira se juntam para um passatempo conjunto. Desta feita, trata-se de adivinhar, até às 24:00 horas de quarta-feira dia 17, qual a altura (em milímetros e do lado das lombadas) da pilha de livros que aqui se vê.

Cada leitor poderá dar duas respostas (no mesmo comentário ou não), e o que mais se aproximar do valor certo terá direito a escolher dois dos livros da pilha.

Atenção: Se a afluência de concorrentes for muito grande, haverá um segundo prémio (outro livro) para o segundo classificado.

Boa sorte!

sexta-feira, setembro 12, 2008




POVÃO: OLHA LÁ!!!!!!!!!!!!!!!

Amanhã, Sábado, volta o tempo de concurso. A tal iniciativa dos Sorumbático & Travessa, como sempre. A correr – antes que se faça tarde!!!


MESMO A SÉRIO

…ao fundo do túnel


Antunes Ferreira
É sabido,
consabido e, até, multissabido (deixem-me pleonasmear ou neologismar…) que é universal a asserção «uma luz ao fundo do túnel». Em Portugal, Mário Soares ficou ligado a ela quando tentou alimentar as esperanças dos Portugueses num futuro melhor, aquando dos momentos realmente muito difíceis que se viviam nos domínios financeiro e económico, quando o FMI era um examinador impiedoso face ao aluno cábula, desleixado e mal comportado que o nosso País era. Ficou gravado nas memórias de quase todos nós um nome: Tereza Ter-Minasian. E por aqui me fico.

Políticos, dirigentes, empresários, religiosos (são apenas uns parcos exemplos da panóplia universalizada) todos eles usam a expressão e, frequentemente, dela abusam. Serve para tudo, mas principalmente para anunciar caminhos perfeitos ou quase que contentem os cidadãos quanto ao futuro.



É utilizada, tão repetidamente e por tanta gente, que hoje é uma prostituta vulgar. Podia ser uma call-girl eufemísticamente rotulada. Mas, não. É uma… mulher de vida fácil, a que normalmente chamamos uma meretriz, sem receios puritano-linguísticos, uma puta. Pobre afirmação. Na sua raiz uma intenção esplêndida; no dia-a-dia, uma acusação cáustica: rameira.

A que vem este arrazoado? O destemperado propósito (?) do incêndio ocorrido na quinta-feira no Túnel sob a Mancha. Desde a sua inauguração em 1994, aconteceram nele apenas dois desastres complicados, qualquer deles incêndios, As pessoas que o utilizam podem, naturalmente, comentar, olá, que boa trampa nos saiu esta prenda. Dois acidentes graves em 14 anos, para além de outros, menores, é obra, é preocupante, é o diabo.




Para os proprietários do segundo maior túnel do Mundo – registe-se, a título informativo e rememorativo que o primeiro é japonês – o comentário é bem outro. Em 14 anos de existência, só se verificaram dois eventos de proporções grandes e, felizmente, sem vítimas mortais em qualquer deles. Não é o caso do copo quase vazio para uns e quase cheio para outros: nele a água está a metade do recipiente. Quem não o está são os que emitem as opiniões.

O incêndio, de acordo com fontes oficiais, foi extinto umas quantas horas depois de ter deflagrado. Ele deveu-se a um camião cisterna que transportava materiais inflamáveis e que terá tombado. O fogo que aconteceu espalhou-se a outras cerca de 30 viaturas. Seis camionistas receberam cuidados hospitalares devido à inalação de fumo.

A Lusa e a RTP conseguiram contactar um condutor de um camião português, Eric Costa que informou que outros portugueses tinham sido também «encurralados» no Eurotúnel por via do acidente. As diligências para que se tivessem obtido tais resultados ficam com os seus autores, demonstrando, uma vez mais, que quando nos metemos de cabeça nas coisas mais complexas, conseguimos atingir os nossos objectivos. Somos, regra geral e como o tenho escrito, mauzinhos. Mas, por vezes…



Neste novo caso da passagem subterrânea do canal da Mancha bem se pode dizer que, para os que ficaram apanhados na ratoeira, foi muito difícil encontrar a famosa luz ao fundo do túnel. As conclusões do imbróglio seguirão dentro dos momentos que sejam considerados necessários. Há, porém, uma que já se pode apontar. Nele não dever haver acusações contra José Sócrates ou contra o seu Governo. Desta – safaram-se. O que é cada vez mais raro. Já quanto a Carlos Queiroz…

(Também publicado no www.sorumbatico.blogspot.com , no http://www.anonimasalina.blogspot.com/ e em mais uns quantos. Qualquer ainda me chamam fábrica de encher chouriços...)
Eu, pecador, me confesso...
OLÁ GENTE! ASSUNTO: RESPOSTAS

Palavra, palavrinha,

que não venho com desculpas ranhosas ou com o fado da desgraçadinha que andava no gamanço pedindo pró filhinho estrabeculoso. Juro! (Alto lá: quem mais jura, mais mente) Mas o facto – incontornável, inequívoco e censurável – é que me atrazo (com s) no praso (com z) que devia respeitar no que concerne às respostas aos comentários que, generosa e compassivamente, Vossas Insolências me têm enviado. Mas, não faço mais do que o meu dever (a quem? Quanto?): Vou alinhavando umas linhas que Vs.Is. bem merecem, mas já não chego para as encomendas. Nem com a prestimosa ajuda da estagiária de ajudante de auxiliar de praticande para sicratária que podem admirar na ilustração. Ela bem se esforça, tadinha, mas não consegue nada... Um homem não é de pau (o que é muito diferente de um homem de pau feito) e a pdi* já conta – e de que maneira. Claro que estulto seria se não reconhecesse que, por vezes, poucas, (gaba-te cesto...) a preguiça, pois é, não é? Donde, tenho esperanças de lá chegar, antes de chegar ao forno crematório… Muito obrigado Antunes Ferreira
# O que vos rogo, batendo ca mão no peito, é que tenham dó de mim e que continuem a mandar os vossos comentários, muitos, o que muito agradeço, e que merecerão sempre resposta, mas... sei lá quando. Isto é que vai uma crise, uma estranha crise. Portanto, não me deixem só, keuçou muito medricas... Mas não digam a ninguém...

+++++++++++++++++
*Puta da idade, ca vossa licença

quinta-feira, setembro 11, 2008



Não há nada

como ir às fontes

O Carlitos entra na igreja chega ao confessionário, ajoelha-se e diz: «Sr. Padre, venho confessar-me; eu cometi o pecado da carne. Fui seduzido por uma mulher que se oferece, que se dá».Padre Francisco: «És tu, Carlitos?» «Sim, Sr. Padre, sou eu…» «E com quem estiveste tu?» «Ai Padre, isso não! Eu já disse o meu pecado... ela que venha cá também e confesse o dela».


«Repara, Carlitos, mais tarde ou mais cedo eu vou saber. Assim é melhor que mo digas agora. Foi a Isabel Fonseca?»«Padre, os meus lábios estão selados». «A Ritinha Sousa?» «Por mim, jamais o saberá...» «Ah! A Maria Manuela?» «Não direi nunca!!!» «A Rosa do talho?» «Padre, não insista!!!» «Então só pode ter sido a Catarina da pastelaria. Foi ela, não foi?» «Padre, isto não faz sentido...Estou mudo e sairei calado.»

O Padre rói as unhas desesperado e diz-lhe então: «És uma cabeça dura, Carlitos; mas no fundo do coração admito o teu silêncio e admiro a tua hombridade. Olha, rapaz, vais rezar vinte Pais-Nossos e dez Ave-Marias... E vai com Deus, meu filho...»

Carlitos sai do confessionário e vai sentar-se num banco da igreja. O seu amigo Pedrito desliza para junto dele e sussurra-lhe: «E então? Resultou?» «Se resultou! Tenho cinco nomes de gajas que dão umas marteladas!!!»

NE - O Maia Figueiredo continua em forma. Fosse eu o Comandante V. Moura e o tipo tinha ido aos Jogos Olímpicos de Beijing. Ganhava, sem espinhas, os 56,7 quilómetros das anedotas. Seria tiro e queda! A não ser que também eu fosse seleccionado. Aí, já a coisa fiava mais fino… (com algumas, ligeiras adaptações cá do je… A.F.

quarta-feira, setembro 10, 2008


Dois anões resolvem se divertir e vão para a zona. Depois de uns drinks, eles pegam umas meninas e sobem para os quartos. Mesmo estando animadinho, o primeiro dos anões não consegue ter uma boa ereção e por mais que se esforçasse nada conseguia fazer. Fica ainda mais desapontado quando ouve o seu amigo no quarto ao lado: «Um, dois, três e... jaaaaaá»!

Novamente o anão tenta se entusiasmar, mas ... nada. Passado mais alguns minutos ele ouve novamente seu amigo gritar: «Um, dois, três e... jaaaaaaaaaaaá»! O anão tenta se animar, encorajado pelos gritos do companheiro no quarto ao lado, mas ... nada. Nem sinal de vida!!!
Passado mais um tempo, ele volta a ouvir: «Um, dois, três e... jaaaaaaaaaaaaaaaá»!

Aí ele pensa: «meu amigo está se divertindo pacas... e eu aqui nesse sufoco sem conseguir nada« . E ouve outra vez: «Um, dois, três e... jaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá»!
Passada a hora do programa, os anões se encontram para irem embora, vê o amigo todo suado, descabelado, ofegante, e o que broxou comenta: «Pô! Foi uma droga! Por mais que eu me esforçasse, não consegui ter nenhuma ereção»!


- Ereção!? - O outro anão responde, perplexo . E eu, que nem consegui subir na cama ?




NE - Esta estorinha curta e gargalhástica foi-me enviada pela Amiginha {íSiS} de Sir Stephen que, deste modo, vem aumentar o número de colaboradores da Travessa, o que muito me apraz registar. Como é norma no Travessa, a grafia e as expressões vão no português do Brasil. Que adoro. Estão a ser dados os primeiros passos, tenho a certeza, do projecto que idealizei no domínio do relacionamento e da troca de saberes, experiências, valores, culturas, cores, sabores e sensações as mais diversas entre os que integram a lusofonia. Mas, não só. Da América Latina e de Espanha já há bastantes comparticipações. Espero que, com o ritmo possível, se juntem a nós bloguistas dos outros PALOP, bem como de outras nacionalidades de características latinas.

Todos os que vierem, com boa intenção, coração aberto, espírito sem teias de aranha, boa disposição q.b., fruindo da LIBERDADE e da DEMOCRACIA têm aqui um lugar onde podem exercer sem peias o que pretendem alcançar. Todos, ouviram, todos os que não se autoexcluirem por não quererem comportar-se normalmente - sem insultos nem agravos.

As polémicas sobre os mais diversos temas são muito bem vindas e as portas estão desde já abertas. Abertas? Escancaradas!!! A.F.

terça-feira, setembro 09, 2008





PoiZé

O Zé
Oliveira é um caricaturista e cartunista (ele prefere cartoonista…) excepcional. Chega a Queima das Fitas e os finalistas não o largam para que lhes apanhe as feições e os hábitos, com destino marcado, como o fado: o respectivo Livro de Curso. Nessas alturas, nem vale a pena tentar, sequer, encontrá-lo: já o encontrou a estudantada e ponto final. Directas são um passatempo danado para o Zé. Para o que lhe havia de dar. Dar, não, vender - e bem.

Conhecia-o de nome, apenas. Mas, por singular coincidência, a internet deu-nos o pontapé… de saída. Volta não volta, não é que descobrimos que tínhamos muitos amigos comuns, que assim e que assado, o malandro até sabia que eu tinha debutado nos bonecos (aliás fraquitos, para não dizer mauzitos) assinando como Rico. Isto, em Angola, onde o rapaz também tinha estado, fardado.

Daí em diante, olhem lá, fomos descobrindo uma quantidade de coisas que também partilhávamos e de gentes que igualmente. Ainda por cima, o fulano também era jornalista, de carteira e tudo, ainda que caducada. Mas, na verdade, não se pode ter tudo. Por mor do me(a)u «Morte na Picada» viemos a conhecer-nos de caras, sem qualquer intenção malévola - tauromáquica. De chipalas, como se diz pelas bandas angolanas. Foi em Alcobaça, onde fui fazer uma apresentação e promoção do livreco. Com a cumplicidade do Zé Lopes Fialho e da respectiva, a Elisabete artesã no vidro. Tudo isto depois contarei noutras linhas. Fica prometido.

O Zé começa hoje a colaborar aqui no nosso Travessa. Tenho, teremos todos, o maior prazer, o maior contentamento e a maior honra em acolhê-lo nesta casa que já é, também, dele. A secção – que será tão regular quanto lhe seja possível – é esta, o PoiZé. PoiZé mesmo.
Antunes Ferreira


MESMO A SÉRIO

A justiça portuguesa

não é apenas cega, é surda,

muda, coxa e marreca


Clara Ferreira Alves - No semanário «Expresso»
Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.

Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.


Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado. Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.


E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos.

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida? Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático? Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico? Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana? Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?


Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma. No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou? E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê? E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina? E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.


Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa




NR - Mesmo sem pedir autorização à autora, mesmo sem o fazer também ao Expresso, mas mencionando e sublinhando ambos, aqui publico um texto, no mínimo, demolidor. E, cheio de razão. Não conheço pessoalmente a minha colega de profissão Clara Ferreira Alves. Mas conheço e reconheço os seus méritos que me levam a caracterizá-la uma GRANDE JORNALISTA. Assim mesmo, em caixa alta. Porque entendi que este artigo é oportuno, claro, desassombrado, honesto e vertical, aqui o deixo à vossa consideração. Digam-me o que pensam desta situação estranhíssima – e gravíssima. Obrigado. A.F.

sábado, setembro 06, 2008



VIRA O DISCO E… TOCA O MESMO

Hipocondríaco

Antunes Ferreira
bois que se exportam, há bois que se importam e há bois que… não se importam. A afirmação é calina de repetida, mas serve perfeitamente para mais este Vira o disco… e toca o mesmo. Porque esta é a estória dum exemplo destes últimos. Mais precisamente o Serafim Malaquias, porteiro, reformado da Função Pública, mas em muito bom estado. Na sua, dele, opinião.

Malaquias tinha casado pela quarta vez, era viúvo praticante, enterrara a Manela, a Julinha e a Lena, tadinhas. Especialista em gravata preta e fumo no braço, já se podia considerar um expert em velórios maritais. Mais correctamente, viuvais. De repente, descobrira a Micas, empregada na Fruta Fácil, FF, frutaria de qualidade, países de origem afixados, como mandava a ASAE.

Ver-te e amar-te foi-obra-de-um-momento. No Registo Civil, de que era frequentador frequente, tão bem o conheciam que já nem lhe pediram o BI. A Micas resplandecia, empunhando, qual Duarte d’Almeida, mas com mãos e calçadas de luvas brancas, o ramo a que alguns chamavam buquê. Vá lá saber-se puquê…

Tinha vinte e quatro risonhas Primaveras, enquanto que o Serafim já ia nos sessenta e muitos. Mas, o Amor não escolhe idades. O apartamento de porteiro, que já albergara a última donzela, a Lena, passou, assim a ter uma nova inquilina – a nova bis Miquelina da Purificação do Ó, para os amigos, Micas.

Especialmente para um amigo, o Necas, motorista afrutado e afortunado, que, na sequência de antigos mimos e carinhos e face à notória diferença etária dos esposos, vai daí continuou a atira-se à fruta micanita que era um vê-se-te-avias. Logo duas semanas depois do casório. Ainda por cima – ou por baixo, à vontade dos leitores. O Malaquias, alertado por alguém, deu-se conta disso.

Raio de sorte. Se três enterros já bastavam, agora vinha este – e dele. Nem pó. Fez-se por desencontrado, ainda que as más-línguas lhe chamassem já, não o porteiro do prédio, mas o corneteiro. Infâmias. Mas, como dizia o outro, vozes de burro não chegam ao… décimo segundo andar do imóvel. Ao décimo ainda vá que não vá.

Um belo dia, depois de a marcar com a antecedência devida na Caixa, foi à consulta do médico de família. Entrou, pediu desculpa do incómodo ao Senhor Dótor, mas queria préguntar-le se ele, médico, achava que ele, Serafim era hipocondríaco. O clínico retorquiu-lhe que, nos doze anos que levava de o ver, nunca lhe notara a mania de ter doenças.

E ele – mas ó sôr Dótor, isto aqui pra nós, a minha mulher anda a enganar-me com outro mânfio. Todos os dias de manhã apalpo a testa e vejo-me ao espelho. Não tenho dores e os cornos nem sequer estão a sair. Será por falta de cálcio?

sexta-feira, setembro 05, 2008



Peso a bordo

As companhias aéreas, com a crise do petróleo, estão a fazer economias tirando peso dos aviões.

A Emirates, a Singapore, a Dubai vão retirar os talheres de metal, a Air France, a Lufthansa e outras vão acabar com as revistas e jornais distribuídos a bordo, a TAP, a Iberia, a Qantas e mais umas quantas vão abolir as vendas a bordo. A Air Zimbabwe decidiu (democraticamente) eliminar os pilotos... por serem da oposição ao Mugabe BF

(Esta, com ligeiríssimas alterações, é da autoria do meu irmão Braz, que continua… gozão. É de famelga…)


Somos todos ciganos

Antunes Ferreira
Em tempo salazarento Portugal era o País dos três efes: Fátima, Futebol e Fado. Hoje, Portugal é o País dos três efes: Fundos, Finanças e Futebol. A História, por mais que queiram que ela mude constante e permanentemente, bem ao contrário vai avançando com bastas repetições, mas, sobretudo, com muitas adaptações.



Somos, aliás, uma raça de adaptados – e de adoptados. Costumo dizer que somos ciganos. Não os dos tiros, das desordens, das feiras, dos roubos, da droga – que os há, como é sabido. Se calhar, também possuímos um qb destes nos cromossomas a que temos direito. Porem, aqui, é outro o conceito. Para constatar que somos uma mistura aciganada, basta que miremos a nossa genealogia.

Os residentes sem cartão mas residentes, começaram, segundo dizem, por ser os protoibéricos. Na fila (antigamente eu usava bicha, mas hoje…) encontramos de seguida os ibéricos, os lusitanos, os romanos, os vândalos, os suevos, os alanos, os visigodos, os mouros, e diversos outros que não menciono para não esgotar as listas de registo e as respectivas certidões. Mesmo assim, convém não esquecer os fenícios e os gregos. Muitos.



nos primórdios da nacionalidade, conta-se com um bolonhês e cruzados das mais diversas origens, tonalidades e defeitos, sem certificados de qualidade e de proveniência. Isto tudo misturado – miscigenado para usar palavra erudita que fica sempre bem em escrito – foi originando o Português. E vieram os Descobrimentos. Mais achas para a fogueira. Pretos, indianos, malaios, chineses, coreanos, tailandeses, chinês, japoneses, timorenses. É obra.

Bom, já o tenho escrito, nós colonizámos sobretudo na cama. É esta comezinha constatação, no meu mais do que modesto entender, que pôde justificar a afirmação de que a nossa colonização foi diferente de outras, ou, mesmo, das outras. Não terá sido completamente assim. Mas quem é o escriba para assim perorar, se a mulher com quem casou de igreja e tabelião, é… Goesa?

Acrescento só mais uma pequena «ocorrência». O nosso terceiro e último filho nasceu em Luanda. Quando já nos reinstaláramos em Portugal, findos os anos de Angola, fomos registá-lo na Conservatória dos Registos Centrais. O zeloso funcionário encarregado de fazer o assento, perguntou o nome do rapazito: Luís Carlos etc. Natural de? Luanda. Filho de? Henrique torna e deixa, natural de Lisboa, freguesia de São Sebastião da Pedreira (há uma caterva deles). E de Raquel tal e modos, natural de Raia, concelho de Salcete, antigo Estado Português da Índia. Abreviando: as duas testemunhas arregimentadas à porta conservatorial, eram, um moçambicano, e o outro, damanense. Palavra de honra.


O agente administrativo apontou tudo cuidadosa e conscientemente, à mão, naturalmente, no livro de registos monumental, leu o escrito e deu para assinar. Finalmente, fê-lo ele próprio. Só por pura curiosidade e face ao fácies, perguntei-lhe de onde era. Do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde.

Saímos, agradeci às testemunhas e paguei-lhes o combinado, já que nunca nos tinham visto, sendo que um era amigo de um primo da Raquel, da Beira e outro conhecido do meu sogro que fora director da Alfândega de Damão. E foram à vida deles. E nós, à nossa. Um slogan então muito na moda referindo a banca, saltou de imediato do Paulo o meu do meio: «Olha, agora és nacionalizado, nosso»…

E logo o Miguel, o primogénito, plantou uma alcunha no pimpolho com os seus quatro anos: «a partir de hoje, és o tuti-fruti».E depois, digam-me lá se somos ou não somos ciganos?

(Também publicada no www.sorumbatico e noutros, vários...)