quinta-feira, julho 31, 2008






NA ROTA DO CALENDÁRIO

Julho, The Examinator

Maria Lúcia Garcia Marques

Poderia ser “The Terminator” que quase iria dar no mesmo. Porque é este um mês confluente das tensões fatídicas que vêm com os famosos, discutidos, rejeitados e, hoje recuperados “exames de avaliação”. Toda a minha vida vivi e convivi com eles – fui sujeita e sujeitei outros a um número deles cuja conta já perdi. Houve tempos e casos em que eles eram tão marcantes que o meu tempo (e, por vezes, até o da família) se media, numa espécie de a.c. ou d.c., por um antes d... e um depois de...como se, a esse propósito, Cristo tivesse alguma vez descido à terra ...!

Sem querer teorizar sobre um assunto que, aliás, está na berra, penso, no entanto, que nós, portugueses, não conseguimos ainda entender que a avaliação seja um dado natural e essencial ao bom rumo de qualquer exercício, estruturação das verdadeiras competências ou puro ajustamento dos diversos poderes. Continuamos a acreditar piamente que “quem tem padrinhos não morre na prisão”, o que, em termos vivenciais, se traduz em costumeira azáfama de mover céus e terra agenciando cunhas, compadrios ou simples conhecimentos, a todos os níveis e a todos os propósitos.


Porque não pensar que, para o caso específico dos estudantes, os exames poderiam e deveriam constituir episódios sazonais na vida de cada um, não propriamente agradáveis mas de certa maneira saudáveis como as vacinas. Exactamente o contrário do que deles fizeram algumas novas pedagogias – ou pedagogias mal entendidas – aliadas ao lusitano pendor para o “deixa andar”, rarificando até ao limite as chamadas “avaliações”, encarando-as pelo lado errado e fazendo delas o que nunca deveriam ser: momentos excepcionais, altamente “perigosos”, expostos aos acasos da sorte e aos insondáveis caprichos de uns quantos mestres à moda antiga.

Ora, como já disse, passei a vida a lidar com a situação (sobretudo a nível universitário) e não posso honestamente deixar de constatar que, quando regulares e próximos q.b., os actos de avaliação constituem um factor indispensável à interiorização dos saberes, à apropriação pessoal e útil do aprendido, ao convívio solitário com as questões e dificuldades que desenvolvem aptidões tão preciosas para a vida futura como a presença de espírito, a distribuição e aproveitamento metódico do tempo e das interrogações, a pertinácia, a endurance, a imaginação e, porque não?, a chamada “lata” que mais não é que uma imaginação exercida em estado absoluto de necessidade.

Gostei de, num apropósito afim deste, ler as palavras de Roberto Carneiro: “(a avaliação) obriga a que recuperemos a ética do esforço, do estudo, do método, da disciplina, da cooperação, do mérito, do trabalho persistente e humilde, do empreendedorismo e abertura ao risco”.

Mas, à revelia de todos os descrentes e desconfiados, podem crer que os ditos exames são por vezes pontos de encontro afáveis, se não bem-humorados, entre os professores e os seus alunos, em que dá para se tomar o pulso e a medida do que restou das respectivas interrelações académicas. Tais foram aqueles que eu recordo enquanto professora de Língua e História Pátria, no velhíssimo 2º ano de liceu em que, por exigências do programa, tinha que dar algumas luzes de “História de Portugal” a crianças de 11-12 anos. Foi assim que, a propósito da 1ª dinastia, me lembro de ter destacado a figura e o papel de duas Rainhas: Isabel de Aragão e Leonor Teles. No ponto seguinte (agora chama-se “teste”) perguntei: “Na primeira dinastia houve duas rainhas importantes. Diga quais foram e porquê”.

Obtive estas duas pérolas como resposta:
• a Rainha Isabel de Aragão foi muito importante e até foi Santa porque fez sair rosas da saia em vez de pão que levava para os pobres porque o Rei não queria que ela andasse com eles porque eram más companhias. A D. Leonor Teles não foi nada importante porque era muito má.
• a Rainha D. Leonor Teles foi muito importante por ter muito jeito para a política e porque, além de ser muito inteligente, também era aleivosa e barregã.


Ainda a respeito da mesma Figura, no exame oral de fim do 1º ciclo, perguntava a uma examinanda aflita: Então a menina não se lembra de uma Rainha, já no fim da 1ª dinastia, que foi muito falada... Nada! A menina não se lembrava. Uma Rainha que teve um papel muito importante na política... Silêncio. Então nunca ouviu falar da Rainha D. Leonor Teles? Aí o semblante da moça iluminou-se e, num sorriso feliz, exultou: Ah, uma que era fresca...!

Naquele Julho esbrazeado, naquela sala sufocante, o certeiro desplante daquela “avaliação” foi uma lufada de ar... fresco e verdadeiramente redentora.

terça-feira, julho 29, 2008




AQUI & ALI

Castelo do Drácula


Antunes Ferreira
U
m trota mundos (prefiro o estrangeirismo ao globetrotter, este lembra-me sempre os gigantes do basquete da minha juventude), pois, um trota mundos como eu, vai parar a locais onde o mais pintado nunca se lembraria de ir, até porque não saberia onde era e, naquela altura, não havia GPS, só sextante e bússola, q.b.. E mais uns pozinhos.

Mau: naquela altura – quando? Esclareço. Nos idos dos oitentas. Chega? Bom, prossiga-se. Estava na Roménia para entrevistar o Presidentul Niculae Ceausescu. Coisas que a vida nos traz e que não podemos enjeitar. Serviço é serviço, conhaque é conhaque. E, assim e por isso, lá fui até ao Mar Negro onde Sua Excelentíssima Excelência tinha um modestíssimo palácio estival. Coisa para o pequeno: 28 quartitos.

Feita a conversa, durante a qual só registei duas interrupções pelo meio, a cargo da Dona Elena, (sua amantíssima esposa, doutora honoris causa por 26 universidades espalhadas pelo orbe e ex madama de casa de… ia dizer putas. Já disse.) rumei a outros lugares do país que fala também língua novi latina. Ora toma! Embrulha e aplaude, que eu não duro sempre.

Em Bran, na Transilvânia, fomos (a minha caríssima metada e os três rebentos também tinham ido, a expensas próprias) ao castelo do Drácula. Que parece que era o Príncipe Vlad Tepes, que nasceu em 1431 e governou o território como Vlad III. Embora não fosse um vampiro, a sua crueldade, o seu gosto pelas execuções e pelo sangue levou a que fosse considerado como
sendo-o.

O pai de Vlad III, Vlad II, era membro de uma sociedade cristã chamada Ordem do Dragão, criada por nobres da região para defender o território da invasão dos turcos otomanos. Por isso Vlad II era chamado de Dracul - Dragão, membro da ordem - e, por consequência, seu filho passou a ser chamado Draculea, filho do dragão, isto porque em romeno o sufixo «ea», bem como o «cu» significam filho de.


Bom, já chega. No terreno que existe em frente ao castelo (que também tem um lago magnífico), umas camponesas com os seu trajes garridos à base do branco e vermelho (ao contrário seria indiscutivelmente pior…) vendiam artefactos de pele de borrego. Coletes, calças, jaquetas, e barretes que para eles são cachulas.

Turistas russos perguntaram os preços. Como as senhoras não falavam tal língua, na universal figura e com os dedos diziam quanto. Os então soviéticos e em especial as acharam muito caro. Niet, niet, e faziam com as mãos os gestos dos preços serem muito exagerados. E uma das vendedoras logo esclareceu: «Natural! Bééééé!». A necessidade aguça o engenho diz o rifão. Estava tudo dito.


Que vinho!

Francisco Seixas da Costa*
H
oje, almoçando sozinho em casa, rodeado de jornais, na maravilha de silêncio que pode ser um jardim neste "Inverno" de Brasília, foi-me servido um vinho que, logo ao primeiro paladar, me pareceu estranhamente bom. Degustei segunda vez: era, de facto, excepcional. Suave logo ao primeiro gole, macio na "mastigação", mas forte no final, sem ser agressivo e sem acidez excessiva. Como, na véspera, havia mandado abrir um simpático Quinta do Crasto, que me havia parecido banal, o que atribuí à abertura tardia, pensei que fosse a noite que o tivesse melhorado. Como diria o Augusto Gil, na "Balada da Neve": "fui ver". E não é que tinha acabado de iniciar uma garrafa de Barca Velha 83, pequena safra comprada nos idos de Londres, nos anos 90!


O que aconteceu? Numa visita de rotina à minha adega, há dois dias, tinha apontado, para ilustração do excelente funcionário que me ajuda na respectiva gestão, uma garrafa isolada de um outro vinho, de que só restava uma garrafa, pedindo que o trouxesse para quando eu almoçasse a sós. Ou eu apontei mal ou ele percebeu mal. E o escolhido acabou por ser o Barca Velha 83.

E que têm vocês a ver com tudo isso? Nada. Apenas queria transmitir-lhes a certeza de que uma surpresa resultante de um engano (bem caro!) pode transformar uma refeição banal num almoço principesco. Arrependido? Qual quê! Só se vive uma vez! E, já agora, garanto, o Barca Velha 83 está magnífico!

Boas férias!

*Embaixador de Portugal no Brasil
Grito de Alerta

Ana Serras
N
esta encruzilhada onde me encontro, neste ponto espaço-tempo do conflito, do terramoto interior, senti que a eternidade cortou o meu tempo. Chegou o momento da decisão. Essa decisão existencial, que não é objectiva, por tão interior ser, que pertence ao TODO, que nos liga ao universo, onde ninguém está só, e compreendi a totalidade de tudo o que me rodeia, na qual o acaso não desempenha qualquer papel, a qual contem uma ordem, que muitas vezes nos escapa e vi, vi tudo diferente: as árvores, as flores, as pessoas, as coisas. Surgiu-me, qual visão no escuro, o momento da decisão, a opção de todo o meu ser, ser inteiro, total e derradeiro.
E perguntei-me: será que o meu corpo físico tem vontade de acompanhar este resto da caminhada, tem força, é capaz de vir atrelado a? Tudo me vem das entranhas, do ponto central de mim, no qual tudo se cruza, onde reina o silêncio, onde a realidade é uma ilusão, onde não há registo de factos, nem acordar de memórias, o ponto onde habita a essência. E o encontro deu-se, como um raio que trespassa e fere, o encontro comigo mesma aconteceu! Tudo foi diferente, a partir desse momento mágico, e decidi, que não perderia essa força, resultante da simbiose do eu com o mim, e ouvi música, dancei qual chama de vela, live, livre, toquei o verdadeiro Absoluto, não manifestado, que em nós reside: veio daí uma serenidade, uma plenitude e a pulsão incontornável de mergulhar em tudo inteira, ir ao fundo, para além da pele de todas as coisas.
O meu corpo acompanhará este sentimento de irradiação de mim para o que me cerca e, quando este desistir da caminhada, ficará o ETERNO, o que nos outros deixo, a inter-relação subjectiva da Verdade, da qual só nos apercebemos dos efeitos. E choro, choro lágrimas que são universais, que pertencem a esse canto da vida, que em cada um provoca algo de diferente e pergunto-me: onde fica o espaço para o meu canto? A que tempo ele pertence?


O que me rodeia violenta-me muitas vezes, sinto sempre que deveria fazer mais e diferente, mas logo a seguir vem a responsabilidade pelo outro, pela minha missão por estas paragens e abafo o grito de liberdade que sou. Porquê esta obsessão em fazer bem, correcto, coerente, se muitas vezes o meu voar me empurra para o alto da montanha, para o vento frio a dar no rosto, para a chuva a encharcar-me, para o sol a tostar-me, para o mar a tocar para mim, para a liberdade total que se solta do meu interior e me chama? Não exijo compreensão, não aceito hipocrisia. Não tolero representações absurdas: quero o total, o encontro com a essência de tudo, o ser inteiro e que ele me apareça, tanto no mais íntimo, como no mais material de todas as coisas.

Quero sentir, em liberdade, o fluir de tudo em mim, que me trespassa tantas vezes como uma espada e, por isso, me magoa, me faz sofrer e quero afirmar, que desse sofrimento aconchegado, acalentado com as lágrimas do quotidiano, sai um grito de esperança infinito, de convicção, pois, um dia, os homens vão compreender, sentir, que têm tudo nas mãos, que uma árvore é um ser vertical, total, que uma planta é um pormenor lindo e frágil de igual importância, que um animal é sempre um companheiro e que todos, mas mesmo todos, somos pontos de um círculo gigantesco, estabelecendo as inter-relações que escolhemos, mas todas tendo algo a ver com todos e tudo. E esse grito, esse grito é de alerta, de alívio, de alegria, de força, de solidariedade e representa o grito, em verdade, da vida em nós, que se propaga pelo universo e que é eterno.
Não foi esse grito mesmo, que eu estive aqui a dar?
Julho de 2008


Pontapé de saída

É o começo. O pontapé de saída. Esta contribuição da Ana Serras é a primeira pedra do nosso PONTO DE ENCONTRO. A ideia que foi plantada começou por indo ganhando raízes e, agora, brotou a primeira flor do embrião que é a nossa vontade de avançar. O muito obrigado do Travessa (e o do louco que sou) fica aqui registado, sem tabelião, nem papel selado, nem acta, nem nada. Abaixo a burocracia! Que se lixe a burrocracia! Morra a certidão!
Só uma adenda: de médico e louco todos temos um pouco. E os esculápios que se cuidem. Venham mais colaborações. A. F.


segunda-feira, julho 28, 2008




Do tu - e eu

Antunes Ferreira
P
ronto. Lá estou eu a meter o pé na argola – no que sou reincidente, o que só agrava a questão. Mas, segue uma pequena explicação para esta liberdade que nunca é, foi ou será libertinagem. Há que ter maneiras, mininas e mininos. Daí que eu, pecador, me confesse da forma que mais me apraz – escrevendo.

Já se me dirigiram alguns cidadãos (e algumas cidadoas…) perguntando-me, com ar mais ou menos irónico, menos ou mais indignado, muito ou pouco ofendido, assim-assim desconfiado: mas de onde é que nos conhecemos para me tratar por tu? Mea culpa, mea maxima culpa. Na verdade, isto não é o da Joana, diz o Povo. Se com razão ou não, depois esclareceremos.


A minha provecta idade e a total desvergonha que possuo desde as fraldas (dizem que fazia gandas mijas nos colos mais respeitosos, austeros e venerandos. Também podia ter escrito xixi, mas gosto mais do vernáculo que utilizei) levam-me a que entre, frequentemente, por ínvios caminhos. E, pior, já não tenho cura.

De gozão não me livro. De crítico, também não. De irónico, muito menos. De malandro, muito mais. Enfim, de incontinente, ainda não, felizmente. Alto lá, de incontinente verbal, ainda sim. Escrevo, como sabem, porque gosto de escrever e gosto que gostem do que escrevo. Bem, mal, antes pelo contrário. Presunção e água benta, cada um toma a que quer. Donde, se o querem, têm de me aturar assim.


E, lá escrevia o nosso Trindade Coelho – abyssus abyssum invocat (uma erudiçãozita até que nem fica mal...), ou trocando em moedas pequenotas, o abismo atrai para o abismo. Óbvio que já os Romanos assim diziam, mas o escritor - sem grandes adjectivos – foi na onda e deu-se ao luxo de até publicar texto com tal título. Feitios.

Ora muito bem. Tu e eu é, para mim, forma de se tratarem entre si Amigas e/ou Amigos. É a minha ideia e a minha prática. E penso que, podendo ser erradas ambas, é melhor ter uma(s) do que não ter nenhuma. O tu é salutar e é monossílabo, o que quer dizer que é muito mais curto do que você, Vocelência, ou, mesmo, Vossa Insolência, i.e., Excelência. Por isso o uso e dele abuso.

Tu dirás se bem, se mal. Depende exclusivamente de tu (ou será de ti?).



REFERÊNCIAS



A língua do mar

Francisco Seixas da Costa*
N
o ano em que todos quantos se exprimem em Português celebram o nascimento, há quatro séculos, do Padre António Vieira, um dos seus mais brilhantes cultores, não deixa de ser interessante que a reunião de cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Lisboa, tivesse, precisamente, o tema da língua no centro da sua agenda.

O Português é, sem sombra de dúvida, uma das quatro grandes línguas de cultura do mundo, não obstante outras poderem ter mais falantes. Nessa língua se exprimem civilizações muito diferentes, da África a Timor, da América à Europa – sem contar com milhões de pessoas em diversas comunidades espalhadas pelo mundo.

Essa riqueza que nos é comum, que nos traz uma literatura com matizes derivadas de influências culturais muito diversas, bem como sonoridades e musicalidades bem distintas, traz-nos também a responsabilidade de termos de cuidar da sua preservação e da sua promoção.

A Língua Portuguesa não é propriedade de nenhum país, é de quem nela se exprime. Não assenta hoje – nem assentará nunca – em normas fonéticas ou sintácticas únicas, da mesma maneira que as palavras usadas pelos falantes em cada país constituem um imenso e inesgotável manancial de termos, com origens muito diversas, que só o tempo e as trocas culturais podem ajudar a serem conhecidos melhor por todos.



Mas porque é importante que, no plano externo, a forma escrita do Português se possa mostrar, tanto quanto possível, uniforme, de modo a poder prestigiar-se como uma língua internacional de referência, têm vindo a ser feitas tentativas para que caminhemos na direcção de uma ortografia comum.

Será isso possível? Provavelmente nunca chegaremos a uma Língua Portuguesa que seja escrita de um modo exactamente igual por todos quantos a falam de formas bem diferentes. Mas o Acordo Ortográfico que está em curso de aplicação pode ajudar muito a evitar que a grafia da Língua Portuguesa se vá afastando cada vez mais.

O Acordo Ortográfico entre os então “sete” países membros da CPLP (Timor-Leste não era ainda independente, à época) foi assinado em 1990 e o próprio texto previa a sua entrada em vigor em 1 de Janeiro de 1994, desde que todos esses “sete” o tivessem ratificado até então.


Quero aproveitar para sublinhar uma realidade muitas vezes escamoteada: Portugal foi o primeiro país a ratificar o Acordo Ortográfico, logo em 1991. Se todos os restantes Estados da CPLP tivessem procedido de forma idêntica, desde 1994 que a nossa escrita seria já bastante mais próxima.

Porque assim não aconteceu, foi necessário criar Protocolos Adicionais, o primeiro para eliminar a data de 1994, que a realidade ultrapassara, e o segundo para incluir Timor-Leste e para criar a possibilidade de implementar o Acordo apenas com três ratificações.

Na votação que o parlamento português fez, há escassos meses, desse segundo Protocolo, apenas três votos se expressaram contra. Isto prova bem que, no plano oficial, há em Portugal uma firme determinação de colocar o Acordo em vigor, não obstante existirem, na sociedade civil portuguesa – como aliás, acontece em outros países, mesmo no Brasil -, vozes que o acham inadequado ou irrelevante.

O Governo português aprovou, recentemente, a criação de um fundo para a promoção da Língua Portuguesa, dotado com uma verba inicial de 30 milhões de euros e aberto à contribuição de outros países. Esperamos que esta medida, ligada às decisões comuns que agora saíram da Cúpula de Lisboa da CPLP, possa ajudar a dar início a um tempo novo para que o Português se firme cada vez mais no mundo, como instrumento de poder e de influência de quantos o utilizam.

A Língua portuguesa é um bem precioso que une povos que o mar separa mas que a afectividade aproxima. Como escrevia o escritor lusitano Virgílio Ferreira

Da minha língua vê-se o mar.
Da minha língua ouve-se o seu rumor,
como da de outros se ouvirá o da floresta
ou o silêncio do deserto.
Por isso a voz do mar
foi a da nossa inquietação.

* Embaixador de Portugal no Brasil

Um Embaixador bué da fixe

O Travessa tem muito prazer e muita honra de abrir uma nova secção REFERÊNCIAS com um excelente texto do Francisco Seixas da Costa, Embaixador de Portugal no Brasil - e meu grande Amigo. O artigo foi hoje mesmo (2008/07/28) publicado no diário «O Globo» e aqui o transcrevo, mesmo sem a autorização do jornal, muito menos do Autor. Sabe-se, porém, como sou um desavergonhado.


O Chico Seixas da Costa, é bué da fixe, como me ensinaram os meus netos, e, quiçá, o melhor diplomata português na actualidade. Para mim, é. (A Amizade não é lisonja, garanto, e quanto a exagero, nem pó...). E tem vindo a fazer uma obra magnífica em terras de Santa Cruz. As relações ente os dois países muito lhe devem, e em todos os domínios. Ele sabe dinamizá-las, desenvolvê-las, entrosá-las de uma maneira que nunca é demais referir e encomiar.
Quando este blogue engatinha ainda no que pretende vir a ser uma caminhada firme e apoiada - o PONTO DE ENCONTRO que tenho vindo a referir e que, felizmente, muitos já apoiam - a publicação deste trabalho do Embaixador é muito importante. A nossa Língua, comum a muitos milhões de seres humanos, encontra-se em momento crucial: o de alcançar, de pleno, o lugar a que tem inteiro direito . Com Acordo - ou sem...
Volte por aqui, querido Amigo. Para continuar. A.F.

sexta-feira, julho 25, 2008



O cheiro da feira

Antunes Ferreira
A
inda me lembro do cheiro da feira das Cebolas. Em Portalegre. Era muito puto, um criançola, ia com o meu Avô Braz, pela mão dele não fosse o diabo tecê-las, em busca de carrinhos de madeira trabalhados à mão, que os catraios apontavam, deslumbrados, e bonecas de papelão moldado, com olhos a fingir de verdadeiros que enlevavam as garotinhas.
Podia recordar-me de tudo o mais, dos cavalos do carrossel, das cores da barraca do circo que embandeirava ali perto, dos ciganos que, lá no fundo do terreiro, vendiam pilecas como se de baios se tratasse, do homem que engolia espadas a troco de meio tostão no chapéu.

Mas, o que perdurou para sempre foi o cheiro. Do algodão doce enrolado nuns pauzinhos, das farturas a sair das frigideiras imensas, gordas de azeite, por vezes um tanto esturricadas e dos filhos menores delas, os churros da autoria com direitos de propriedade de Don Pablo, espanhol de Badajoz. Da carne de porco frita, com muito colorau, alho e louro, uma carne que - dizia a malta – era ós códradinhos. Na verdade, cubos mal amanhados.


Do peixe seco e salgado, algum era bacalhau, outro pixelim, outro ainda sei lá o quê. Dos pasteis do dito cujo, mais batata e salsa e cenoura do que o peixe propriamente referido. Das iscas com o bofe a adubar o molho, com elas ou sem elas, sendo que estas últimas eram as batatas cozidas. Na ausência do tubérculo, o fígado cortado fino, macerado em vinha-d’alhos e convenientemente frigido comia-se em cima de fatia de pão – alentejano, óbvio. De resto, o melhor do Mundo – e arredores. E do chouriço assado – em álcool.

Para mim, gaiato de seis anos, mais coisa, menos coisa, o mais importante da feira, para além dos cheiros que dela se evolavam, era a mão segura do meu Avô, o Senhor Tenente da Guarda-fiscal reformado, de bigodes brancos encerados, que ia nas procissões sob o palio, ao lado do Reverendíssimo Bispo e do Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal. Digníssimos representantes das forças vivas da cidade.


Era uma mão forte, rugosa, segura. Mão que agarrara contrabandistas raianos e que passara revista segurando a espada, aos guardas de Kropatchek ao ombro, em sentido. Era uma mão simultaneamente acolhedora, até mesmo carinhosa, fértil em carícias. E a plebe que connosco se cruzava, tirava o chapéu e dizia deus o salve Senhor Tenente. Nessa altura, empanturrava-me de poder. Gente boa e respeitosa, comentava ele. Eu não compreendia lá muito bem – mas gostava.


Até que um dia o Avô Braz me comprou um balão de gás, azul e cheio que nem zepelim. Olha lá, menino, deixa que te ate o cordel na ponta do dedo para que não voe. E nunca mais o apanhas. Mas o ninho de travessuras que eu era corria sem dar execução à ordem do Avô Senhor Tenente. E o balão, no uso do direito que muito justamente lhe assistia, soltou-se e voou. Lá para cima, num céu cada vez mais longe – sem nuvens.

Foi uma choradeira. Do vendedor nem o rasto. Esgotara a mercadoria, ainda talvez lhe tivesse restado um pouco de hélio, mas fechara os taipais, no dia seguinte haveria mais, ponto final, parágrafo – na outra linha. Bem se afadigou o distinto Oficial na tentativa vã de calar-me a berraria correspondente. Parecia a sirene dos bombeiros, comentaram depois, uns quantos mais chistosos.

Só se calou a boca com um torrão d’Alicante, a que os galfarros chamavam de alicate, cortado em fatias com um facalhão de matar porcos, por Doña Mercedes, também fronteiriça, que montava banca em todas as feiras da zona e adjacentes. Lá voltei, mastigando el turrón de azucar y almendras, sem hipóteses de choradeira.

Mas, no dia seguinte, Domingo, de manhã bem cedinho, antes da missa, levou-me, sempre pela mão, o magnífico e imponente Avô - para comprar outro balão. Desta feita, verde alface. Com o nó do cordel bem apertado no dedo indicador, que era o mais indicado. Com tudo isto, o que ainda de quando em vez me entra pelas narinas – é o cheiro da feira. Das Cebolas.

quinta-feira, julho 24, 2008




Orgulho Português

Há quem diga que, às vezes,
até dá gosto ser Português



Num hotel para esquiadores na Suiça havia um cartaz informando as condições da neve:

- Neuchatel, 12 cm, mole;

- Lausanne, 18 cm, escorregadia;

- Schaffhausen, 15 cm, consistente.

Entretanto, por baixo, alguém acrescentou:

- Sebastião da Silva, 24 cm, rija.

(Mais uma colaboração, caríssimo Leonel Gonçalves. Espero outras!!!!)



A Divina Providência

Antunes Ferreira
N
ão há fome que não dê em fartura, diz o Povo na prática da sabedoria que lhe é característica – e milenar. Mas, não trato aqui de escalpelizar os rifões populares, coitados, que para o assunto só servem mesmo de termo de iniciação do escrito. Seja-me relevada a falta.

Entro ao que vim: a Divina Providência – cautelar. Houve um tempo, não tão afastado como isso, em que o cidadão comum, quando ouvia a expressão, franzia o cenho e perguntava – mas que raio é isso? De que se trata? Os ínvios percursos jurídicos davam – e dão, e darão – motivos mais que sobejos para essas inquirições vindas da plebe. Da plebe – e não só. (Há que tempos que não usava esta expressão, de tal forma que, ao fazê-lo hoje, sinto um gozo avolumado).

Uns quantos privilegiados sabiam do que se tratava e outros, em número ainda menor, até sabiam como apresentá-la aos doutos tribunais. A síndrome do Santo dos Santos vigorava e ninguém diria que esse quase mistério insondável das escrituras judiciais caminhava a largos passos para o vulgar de Lineu. O que acabou por acontecer.




Hoje, qualquer fulano interpõe uma providência cautelar. Não acreditam? Uns exemplos, a esmo. A CMP e mais precisamente o seu presidente Rui Rio, decidiu-se pela requalificação do tristemente conhecido Bairro do Aleixo. Onde a droga circula com uma olímpica serenidade. Na prática, demolir-se-ão cinco torres de muitos andares.

O pessoal não gosta. Diz que Rio disse que não demolia (para ganhar a Câmara, em tempo eleitoral) e vai mesmo demolir. Toma lá com uma providência cautelar. O edil desvalorizou a hipótese/ameaço: «é normal que metam uma providência cautelar, hoje em dia em Portugal mete-se uma providência cautelar por tudo e por nada».


O Senhor Gonçalves Pereira, presidente do incrível CJ da FPF não ficou satisfeito com a cegada, mais uma, que foi a reunião a dois tempos do órgão federativo. Ora toma lá com uma providência cautelar. Uma não; duas. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa deu provimento às duas, suspendendo a efectivação das deliberações surgidas da tal sessão. Os campeonatos que esperem.



A Airplus TV Portugal requereu à Autoridade Nacional das Comunicações (Anacom) a nomeação de uma nova comissão de avaliação para reapreciar as propostas para a Televisão Digital Terrestre (TDT) paga, depois de concurso em que a Portugal Telecom (PT) conquistou o primeiro lugar. "Este júri não demonstrou ter as qualidades de competência e de isenção necessárias para avaliar um processo desta natureza", afirmou o presidente da operadora sueca em Portugal, Luís Nazaré. E, desde logo, se aventou nova hipótese: ora toma lá com uma providência cautelar.

Providências cautelares são, nos dias que vão correndo neste Portugal taciturno, corriqueiras. Andam por aí, como ameaçou o outro. Divinas Providências.

(Também publicado no www.sorumbatico.blogspot.com onde colaboro todas as semanas, normalmente aos Sábados)



Bruxa é bruxa

Um homem vai à bruxa.
Chega lá e bate á porta. Do outro lado ela pergunta: - Quem é?
O homem responde: - Hum, já estamos a começar mal !

(Enviada por imeile pelo Esteves Quina. Venham mais!...)

terça-feira, julho 22, 2008


O julgamento da velhinha

Juiz: Qual sua idade?
Velhinha: Tenho 86 anos.
Juiz: A senhora pode nos dizer com suas próprias palavras o que lhe aconteceu no dia 1º de abril do ano passado ???
Velhinha: Claro, doutor. Eu estava sentada no balanço de minha varanda, num fim-de-tarde suave de verão, quando um jovem sorrateiramente senta-se ao meu lado.
Juiz: Você o conhecia?
Velhinha: Não, mas ele foi muito amigável...
Juiz: O que aconteceu depois?
Velhinha: Depois de um bate-papo gostoso, ele começou a acariciar minha coxa.
Juiz: A senhora o deteve?
Velhinha: Não.
Juiz: Porque não?
Velhinha: Foi agradável. Ninguém nunca mais havia feito isto comigo desde que meu Ariovaldo faleceu, há 30 anos.
Juiz: O que aconteceu depois?
Velhinha: Acredito que pelo fato de não tê-lo detido, ele começou a acariciar meus seios.
Juiz: A senhora o deteve então?
Velhinha: Mas claro que não, doutor...
Juiz: Por que não?
Velhinha: Porque, Meritíssimo, ele me fez sentir viva e excitada. Não me sentia assim há anos!
Juiz: O que aconteceu depois?

Velhinha: Ora Sr. Juiz, o que poderia uma mulher de verdade, ardendo em chamas, já de noitinha, diante de um jovem ávido por amor? Estávamos à sós, e abrindo as pernas suavemente, disse-lhe: Me possua, rapaz!
Juiz: E ele a possuiu?
Velhinha: Não. Ele gritou: 1º de abriiiiiiiiiiiiiiiiillllllll! Foi aí que eu dei um tiro no filho da puta!!!

Esta estória deliciosa foi-me mandada pelo meu cunhado Raul Palhau, que reside em Chateauguay, junto de Montreal. Mas, que continua a ser de espírito e de comportamento, na esmagadora maioria das vezes, Portuga. Ela é de origem brasileira e por isso mantenho a grafia e os termos utilizados. Um destes dias, temos aí o estrambólico Acordo e então é que vão ser elas. Desfrutem. A.F.


«Morte na Picada»
Contos da guerra em Angola


Antunes Ferreira
Como certamente já sabem, dei à estampa o me(a)u primeiro livro de ficção, «Morte na Picada», numa edição da Via Occidentalis, (occidentalis@netcabo.pt). Que parece – manda a decência e a prudência que o não diga eu, mas... – que vai indo bastante bem junto do público. O editor «ameaça» uma 2.ª edição. Espero, para ver. De qualquer modo, o que só se poderá verificar, naturalmente, depois da análise das vendas.



Aquando do seu lançamento na fnac do Colombo, no dia 15 de Abril (mais de 200 pessoas presentes), Joaquim Furtado – um grande Jornalista, autor da série A Guerra Colonial, um enorme êxito na RTP - afirmou, na apresentação que fez, que o livro, «de que gostei mesmo muito», em seu entender, «é o melhor que, no género, e sobre o tema, foi publicado em Portugal». E acrescentou que alguns dos contos mereceriam «uma adaptação televisiva e, até, cinematográfica.

Tenho de acentuar o meu prazer e o meu orgulho pela disposição do Joaquim Furtado para apresentar o livro. E nunca é demais acentuar que o Grande Prémio Gazeta do Jornalismo do ano de 2007 foi concedido ao trabalho televisivo. Foi o reconhecimento da qualidade da obra produzida, mas também do seu autor. Por vezes, neste nosso País, acerta-se. Foi o caso do júri do prémio. Como também tenho de sublinhar o gosto, a satisfação e o agradecimento ao Joaquim Vieira

e ao Fernando Farinha.

Como já disse acima, a editora da obra é a Via Occidentalis, (www.via-occidentalis.blogs.sapo.pt) de Lisboa. No blogue podem ser consultados todos os dados sobre o livro, cujo preço de capa é € 14,70. Pode ser comprado pela Internet. A equipa que me acompanhou nesta aventura é excelente. O prefácio é assinado por outro grande Jornalista, o Joaquim Vieira e a capa e as fotos do interior são de Fernando Farinha, para muitos o maior repórter fotográfico da guerra de Angola.



«Morte na Picada» tem sido, felizmente, muito bem recebido junto de ex-combatentes das guerras coloniais que, apesar de se tratar de ficção, vêm nas suas páginas um retrato muito próximo da realidade. O que não admira, pois que nela participei. E, por isso, costumo dizer que, para mim, foi uma infelicidade, sobretudo porque estava contra esse crime. Aliás, deixem que vos diga que, para mim, uma guerra é sempre sinónimo de crime. A ADFA, Associação dos Deficientes das Forças Armadas, aplaudiu a obra e já deu nota dela por dois meses consecutivos no seu jornal mensal Elo.

Se já o adquiriram e leram, muito obrigado E se, por singular acaso, tiverem gostado dele, terão de comprar muitíssimos mais exemplares. São excelentes prendas de aniversários, casamentos, divórcios, baptizados, Natais, Carnavais, Anos Novos, Páscoas, Pentecostes, vinte e cincos de Abris, cincos de Outubro, dezes de Junhos. Até para funerais. Oferecer o «Morte» na morte fica bem em qualquer velório que se preze. E, além disso, recomendem-no, publicitem-no, propagandeiem-no, impinjam-no aos vossos Amigos, conhecidos, desconhecidos & outros, SARL. Os euros estão tão raros e... caros...

Fotos (de baixo para cima)

Capa

Joaquim Furtado

Joaquim Vieira

Fernando Farinha - inauguração de uma exposição sua






domingo, julho 20, 2008


Estória Chinesa
Os dois vasos

Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela levava ao ombro para ir buscar água ao rio. Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito.
Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada do rio até casa, enquanto o rachado chegava meio vazio. Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora a chegar a casa somente com um vaso e meio de água.

Naturalmente o vaso perfeito era muito orgulhoso de si e dos resultados que alcançava, enquanto que o pobre vaso rachado se envergonhava do seu defeito, isto é, de só conseguir fazer metade daquilo que deveria fazer. Depois de vários anos, reflectindo sobre o que considerava a própria amarga derrota por ser rachado, o vaso falou com a senhora durante o caminho: «Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que eu tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até à sua casa...»
A velhinha sorriu: «Reparaste que lindas flores há somente do teu lado do caminho? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto a gente voltava, tu regava-las. Assim, durante estes anos pude colher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa. Cada um de nós tem o seu próprio defeito. Mas é o defeito que cada um de nós tem, que faz com que a nossa convivência seja interessante e gratificante.»

É preciso aceitar cada um pelo que é... E descobrir o que há de bom nele.

(Enviado por imeile pelo Pedro Jorge Veloso Amaro de Oliveira, Amigão há mais de meio século. Espero que a próxima colaboração seja escrita mesmo por ti, Pedroca. Que venha, para tomar parte no PONTO DE ENCONTRO.)

sexta-feira, julho 18, 2008




Portugal e Brasil
Ponto de encontro neste blogue

Antunes Ferreira
Tenho vindo a pedir os telemóveis de muita gente boa, para poder contactar com o pessoal mais facilmente, a fim de implementar e desenvolver o projecto que tenho para o meu www.travessadoferreira.blogspot.com e que, como já sabem, é conferir ao meu/vosso/NOSSO blogue a característica de PONTO DE ENCONTRO entre os nossos dois Países fraternalmente ligados. No que estou, pela minha parte, a desenvolver todas as diligências que, naturalmente, me forem possíveis.
>Vou solicitar a colaboração da Embaixada de Portugal em Brasília, que tem à frente dela um diplomata
fora de série, o meu querido Amigo, Dr. Francisco Seixas da Costa e na qual se integram mais dois bons compichas de longos anos: o Adriano Jordão e o Carlos Fino. Seixas da Costa criou um blogue magnífico Embaixada de Portugal no Brasil, www.embaixada-portugal-brasil.blogspot.com, que vos recomendo vivamente visitar. Tem tudo sobre as relações entre as duas Nações.


Este é um desejo que já ultrapassa a simples intenção. Ambiciosamente, neste momento possui muitos comparticipantes – como é o vosso caso. Mas, com o vosso empenhamento, a ajuda, o entusiasmo e a alegria que tenho encontrado da vossa parte – iremos longe. A internet (apesar dos aspectos negativos que ainda apresenta) tem uma força incomensurável e desenvolvimento tecnológico que se actualiza dia a dia.

PS – Quando navegarmos em velocidade de cruzeiro, quero alargar o Travessa aos outros PALOP. Que acham?


O quelima de trásosmontes
é munto montanhoso

E
u axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem
direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q
á razões qd um aluno não vai á escola. primeiros a peçoa n se sente motivada
pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.


Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto
montanhoso? ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? ou cuantas estrofes tem um cuadrado? ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã?

E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os lesiades', q é um livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah.

Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver???

O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um gravetame do camandro. Ah poizé. tarei a inzajerar?

Este é um texto muito especial que reflecte bem o que hoje em dia os estudantes são capazes de escrever (???). Poderá ter algum exagero, mas quem mo mandou, garante que não. Erros ortográficos - nem vale a pena contá-los. Expressões e abreviações do msn são permanentes e constantes. E isto, num jovem de 14 anos, no 9.º ano do ensino obrigatório, que tem doze. Não me admira. Numa das Universidades onde dei aulas, mais precisamente num curso de pós graduação, uma aluna deu, no primeiro parágrafo do trabalho que lhe cometera – 11 erros de ortografia. Que, para o caso, era mis hortugraphya.
Quando lhe disse que já nem sequer tinha lido o resto da «obra tia» dela, por mor dos erros, respondeu-me: «Sôtor, não se preocupe. Eu até vou para a Televisão…» Donde, as calinadas mis soezes que se ouvem e vêem nos ecrans da nossa praça. Como nas rádios. É fartar, vilanagem! Querem mais ou chega?
A.F.

terça-feira, julho 15, 2008


Ainda não sei bem no que isto dará

Uma barata morta

Antunes Ferreira

O trecho que se segue é o começo de qualquer coisa. Pensei num romance: é lixado. Tem de ser grandote. Romances pequenos, mas bons – só o Mário Zambujal vai parindo. Exemplo: o «Já não se escrevem cartas de amor». Um mimo. Mas, no caso vertente, a preguiça congénita que é a minha assusta-me. Nada, nada, que seja uma novela, muito mais curta, benza-a um deus qualquer.
O facto é que, sendo futuramente isto ou aquilo, até mesmo aqueloutro, é mesmo um início. Que, como é minha norma e prática, irá acontecendo ao sabor da maré em que me encontre, ou para o lado para que estou virado. Gente: Roma e Pavia não se fizeram num dia. Aliás, nem em muitos, de empreitada, ainda que com horas extraordinárias. Mesmo sem o novo Código do Trabalho.

Por isso, a «coisa» irá progredindo na inversa proporcional a uma poole de partida. Aí já os motores resfolegam e ainda a corrida nem começou. Vai arrancar, está visto, mas na altura, ainda é só fumaça, diria o almirante Pinheiro de Azevedo. Que isto de velocidades tem que se lhe diga. Não é que os Alentejanos sejam para aqui chamados, longe disso. A minha Mãe até era. Eu, por conseguinte, tenho uma costela. No mínimo.
Para não me deixar ficar nas boxes, irei publicando bocadinhos da papelada. Sem selo branco, está bem de ver. Tal servir-me-á para, herege praticante, não me meter em copas e deixar que as linhas se vão espalhando, cada vez mais ralas, com a gaveta tentadora (e sedutora) aqui mesmo ao lado. Não juro, pois quem mais jura, mais mente. Porém, o propósito fica exarado.
E lidas estas minhas declarações, as achei conformes, e, perante isso as vou assinar, como se diria nos autos da tropa. Com as testemunhas que são Vosselências, ainda que não as rubriquem, mas sem escrivão. Para tal ofício, já basta o que basta. Eu. Que pensava somente em apor o dedo por não saber escrever. No entanto, e infelizmente, parece que sei rabiscar umas coisas. Ite, missa est. Deo gratias.

«Está uma barata morta, de pernas para o ar, no canto esquerdo para quem entra da casa de banho. Há quatro dias, precisamente, se ele não se enganou na contagem. Sempre a mesma, gorda e negra, incorrupta. É por mor da quitina, que não a deixa apodrecer, pelo menos foi assim que aprendeu na escola primária e confirmou no liceu. Tem de dizer à empregada, quando ela vier daí a bocado, que a tem de apanhar.


Involuntariamente faz uma associação com a visita que o levara há quatro dias a Velha Goa. O corpo do Santo, agora transformado em pergaminho, múmia dentro da sua urna envidraçada, de moldura de prata trabalhada carregada de pedrarias, alegadamente preciosas, encontra-se na Basílica do Bom Jesus De dez em dez anos era exposto publicamente.

Anteontem, ele assistiu à última exposição. Que pode ter sido mesmo a última, pois corria que já não voltaria a ser aberto o caixão – podia esfarelar-se o que resta do corpo. Mas pode ser que seja outra a estória, que segue dentro de momentos, como acontecia na RTP da sua adolescência.
No presente momento dá por si a perguntar-se se o Padroeiro de Goa e dos Goeses terá alguma coisa a ver com a quitina. Nunca se sabe, que nisto de milagres há que ter muito cuidado, apurar a desconfiança, mas também reforçar a fé. Só assim se podem desvanecer as dúvidas como esta que se lhe imbricou no espírito a propósito da relíquia.

As exposições públicas dos restos encarquilhados e cobertos a papiro – ou seria couro? Ou mesmo, como de início lhe parecera, pergaminho, tal a cor que adquiriram - são um grande acontecimento para centenas de milhares de católicos de Goa e de toda a Índia, mas não só, porque são muitos os hindus que ali vão pedir a sua protecção. Essas festas enormes servem também de pretexto para os Goeses espalhados pelos quatro cantos do mundo se voltarem a encontrar com as suas raízes na terra natal.

Rogério da Silva Martins recolheu na basílica um folheto com a biografia do nado Francisco Javier. Viera à luz no dia 7 de Abril de 1506, no Castelo-Solar da família Aguarez y Javier o oitavo filho, a que foi dado o nome de Francisco. A sua família, rica de bens materiais, de títulos honoríficos e com elevada distinção, mantinha junto da população uma excelente reputação, graças à sua generosidade e amizade(...).

Naquele dia, o sol de açafrão penetrava suavemente o Índico. Por aqui não há pores de supetão, o ritmo é outro, mesmo nestas posses astro-oceânicas. Não há que ter pressas, de resto despropositadas. O amor deve ser lento, aquecido em lume brando, polvilhado de canela e temperado de gengibre e banhado em água de lanho, que é o coco jovem. E virgem, pronto para ser comido – e bebido (…)»

segunda-feira, julho 14, 2008




Isto é cultura
não é nenhuma ordinarice...

Numa prova de entrada para a Universidade...

Questão : Interpretar o seguinte trecho de poema de Camões:

"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer".


Uma aluna deu a sua interpretação:


"Ah Camões, se vivesses hoje em dia,
tomarias uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Comprarias um computador,
consultarias a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!"

Teve nota máxima. Foi a primeira vez, depois de mais de 500 anos,
que alguém entendeu qual era a ideia do Camões...

(Prestimosa colaboração via imeile da Armanda Pires. Venha mais)