quarta-feira, janeiro 31, 2007


Reflexão

Um coxo não costuma correr a maratona, nem um mudo dá aulas de dicção.Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a sexualidade.Dá que pensar…

domingo, janeiro 28, 2007




À VOLTA DO ANO

Janeiro

Maria Lúcia Garcia Marques
J
aneiro é lã e neve. No meu hemisfério, claro.

Lã daquela forte, honesta, natural. Lã poveira das camisolas dos pescadores, dos nossos homens de Vila do Conde, da barra de Aveiro, que vão morrer no mar a 20 metros da praia porque somos um desespero de um povo que só acorda com a enchente e com o braseiro e não sabe prever – nem suster – estas cóleras de Janeiro. Mas lã também que borda, gentil, fantasias trazidas nos desenhos de outras terras: um Oriente traduzido, em quente, nos tapetes de Arraiolos. Que povo tão pródigo somos que bordamos todo esse luxo para pôr aos pés! E as mulheres tecedeiras, e as mulheres bordadeiras, ponteando as cores macias ou profundas, as barras densas de flores e volutas, as aves suspensas, as simetrias, os realces e os matizes em fundos propícios, enchendo os olhos e os espaços de festa e aconchego.

Janeiro ...

Janeiro é neve. Também. Algures, que não no meu horizonte, que nunca vi nevar. Nevar neve como a dos invernos de Bruegel: imensas e profundas paisagens, pontuadas de figuras curvadas sob o peso de um frio que nos entra pelos olhos e nos deixa uma sensação de luto – luto branco, descarnado sentimento do trágico da vida. Talvez que haja aqui muito da memória que me vem (nos vem a todos, creio) da “Balada da Neve”, decorada na infância, ouvida depois glosada, a todos os propósitos, mas que ainda diz, na crueza da sua simplicidade: “mas as crianças, Senhor / porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?” Porque Janeiro é assim, duro e dúplice: do frio dos sem-abrigo aos jogos e luxos da neve dos ricos. Da paz imaculada dos campos à perfídia nocturna dos lobos descendo os caminhos da fome ao cheiro dos povoados.

Porque Janeiro é assim – fechado e sisudo, tempo de interiores e sabores seguros. Como a sopa, uma boa “sopa da pedra” bem quente e farta, familiar e antiga como a lenda.

Janeiro pode ser tempo de solidões confortáveis acompanhadas a chocolate, licor de tangerina, aguardente de medronho e frutos secos – televisão sem som à laia de lareira, manta nas pernas e um livro a gosto – tudo segundo e conforme os momentos e as inspirações.

Os silêncios de Janeiro pedem música de Brahms, ou uma ária de Verdi (porque não a de Filipe II no “Dom Carlo”, na desgarrada solidão do seu poder e do seu amor enjeitado – “amor per me no a ...”?) Talvez o “Romeu e Julieta” de Prokofiev, talvez a “Valsa triste” de Sibelius ...

Quando eu escrevia poemas de amor, lembro-me de um que se chamava Janeiro e que acabava mais ou menos assim:

[...] no inverno, o ritual da secreta germinação
a voz que hiberna
(porque paro no frio
e me comovo com um colo nu
ou uma fonte ao vento?)
mas subitamente o teu riso
é uma faiança antiga
um perdão intacto
e janeiro nele
uma amêndoa brava.

N R - Sim senhores: a Maria Lúcia começa aqui um texto que pretende que seja regular, mês após mês. Pretende ela e muito justamente - e exijo-o eu. Sem imposição - só persuasão... - muito menos látego (note-se que estou a ler as Memórias do meu grande Amigo Edmundo Pedro, obra acabada de sair e que, no I Volume, vai até à sua permanência de quase dez anos no «campo da morte lenta», o Tarrafal)... Longe vá a ideia negativa, absurda e abstrusa. Lagarto, lagarto, lagarto.

Cada vez mais sinto que este blog vai cumprindo, às vezes com dificuldades penosas, aquilopara o que o criei: um espaço de convívio, de colaboraão, de fraternidade, de solidariedade, em resumo, de Amizade compartilhada. Outros mais se nos irão juntando, penso e desejo. Por isso, o À VOLTA DO ANO tem de ser saudado calorosamente. Muitíssimo obrigadérrimo, Maria Lúcia. A.F.

sexta-feira, janeiro 26, 2007



Dois grandes Amigos

Antunes Ferreira
Um destes dias, e tal como agora me vai acontecendo, depois de mudar de casa, entrei na livraria O Paço, no Centro Comercial do Lumiar, que é pequenino, mas, por isso mesmo, aconchegadinho. A Dona Deolinda e o Senhor Francisco Sousa, esposo amantíssimo, são os patrões da lancha e tentam estar em dia com as novidades editadas. Difícil tarefa nos dias que vão correndo. Mas que eles tentam levar a bom porto.

Vai daí, zás! O Leonel Gonçalves, como sempre de pêra em riste e como sempre também, afável, simpático, amigo. Desde os tempos do Diário de Notícias que quase não nos víamos. O Leonel, homem chave da instituição, director da antiga Biblioteca, depois promovida e bem a Centro de Documentação. Eu, um plebeu da escrita, jornalista que chegaria a Chefe da Redacção do matutino.

Demo-nos muito bem – muitíssimo – apenas nos conhecemos. Leonel Gonçalves estava, como o estavam os seus Serviços, permanentemente à disposição dos escribas. Duvidam? No que me toca – sempre esteve, a sua disponibilidade era total, até fora de horas. E sem gritarias nem exorbitâncias. O homem é assim mesmo, que se lhe há-de fazer…

Foi uma festa. Pareceu-me que punha em dia uma conversa que durara 16 anos no jornal fundado por Adolfo Coelho e Tomaz Quintino Antunes. Tem piada. Numa noite assoberbadíssima, já não sei porquê, estávamos os dois à conversa por mor de qualquer coisa de que eu precisara e, sem motivo aparente, sai-se o Leonel. «Este Tomaz Quintino Antunes ser-lhe-á alguma coisa?» Sem comentários mas com muito riso.

Tive a ideia que tínhamos charlado na véspera, tal o efluir da empatia transmudada em palavras. Contámos imensas coisas um ao outro e ficámos logo, de jura jurada, combinados sobre os contactos futuros (a curto prazo) e as coisas que íamos fazendo. Foi aí que ele me falou da entrevista que fizera à Manuela de Azevedo.

O Leonel escreve bem, ainda que ele diga que é assim-assim. Malandrice. Escreve bem. Aliás vão ter o prazer de o comprovar. Isto porque lhe pedi para publicar aqui a peça em causa ao que anuiu com uma condição prévia: obter a autorização da onde a entrevista fora publicada. Dito e feito. Tiro e queda.

A partir de agora, mais um colaborador de qualidade. O qual penso utilizar com a maior frequência e do qual vou abusar, salvo seja. Com escritos do dito cujo, originais para este cantinho. Venham de lá essas prosas, ó Leonel.


********

Dava eu os primeiros pontapés na escrita em letra de forma, quando conheci a Dona Manuela de Azevedo. Já lá vai quase meio século. Foi no falecidíssimo Diário Ilustrado, uma quase universidade de jornalismo quando as não havia. Em pouco tempo, ele própria me disse para eu deixar cair o Dona. E ficou para mim apenas a Manuela.

Grande Jornalista, com caixa alta. Mulher de armas e de convicções, intimorata, vertical e Amiga. Alguns foram os que me ensinaram muitas coisas deste ofício das letras. Poderia citar um Norberto Lopes, um Mário Neves, um Diamantino Faria, um Pereira da Costa, um Trabucho Alexandre, um Raul Rêgo, um Vítor da Cunha Rego, e outros, poucos. Nesse acervo entrou, e numa mais se foi, a Manuela de Azevedo.

Com ela aprendi como se faz uma grande reportagem. De tal privilégio me apossei para escrever umas quantas. E não resisto a, sumariamente, aqui contar um simples episódio. Ao fim de largos anos reencontrei a minha querida Manuela de Azevedo no Diário de Notícias, crítica de teatro e outras artes, abalizada e prestigiada. Foi uma alegria.

A partir de então, voltámos a conviver no dia-a-dia. A conversar, a trocar opiniões, a fazer tudo aquilo que os amigos gostam de fazer. Tempos depois, segui para a Roménia a fim de reportar o terramoto que ali se dera, tendo sido o terceiro jornalista estrangeiro a chegar a Bucareste. Durante nove dias, longos, duros e trabalhosos enviei crónicas para o DN.

Na volta, e de acordo com opiniões tão imparciais quanto possível, foi-me dito por gente diversa, que as coisas tinham corrido bastante bem. Mal me preparava para me sentar à minha secretária quando toca o telefone. Isso é que foi uma reportagem e peras! Era a Manuela de Azevedo. Ponto final. De todos os elogios profissionais que fui tendo ao longo da vida – e foram uns quantos – esta reportagem e peras é, sem dúvida, o mais valioso.

Reunidos num mesmo texto mágico aqui ficam a Manuela de Azevedo e o Leonel Gonçalves. A conversa entre os dois – segue dentro de momentos… Em doses devidamente… doseadas. Para já, os primeiros passos.


(O título e os subtítulos são da responsabilidade do Travessa do Ferreira)




MANUELA DE AZEVEDO

Apaixonei-me por Camões


Leonel Gonçalves
Entrevista publicada na revista Faces de Eva – Estudos sobre a mulher, n.º 16, 2.º semestre de 2006 – Edições Colibri e Universidade Nova de Lisboa

Manuela de Azevedo nasceu em Lisboa, em 31 de Agosto de 1911, mas passou a adolescência na Beira Alta. Fez os estudos liceais em Viseu, onde iniciou a primeira actividade profissional, como professora do ensino particular. Cedo se lhe manifestou a vocação para o jornalismo, estimulada pelo pai, director do jornal Notícias da Beira. Colaborou em vários jornais da região até que, em 1938, entra para o jornal República, como jornalista profissional. De 1942 a 1945 foi chefe de Redacção das revistas Vida Mundial e Vida Mundial Ilustrada. Insatisfeita com o jornalismo semanal, «vagaroso», surge-lhe uma oportunidade e entra para o Diário de Lisboa, onde fez todo o tipo de notícias e revelou todo o seu talento em crónicas e reportagens inéditas e arriscadas. A vida nos campos de arroz do Vale do Sado, a pesca ao cachalote na Madeira, onde esteve 13 horas num pequeno barco, sem comer, ou a descida a centenas de metros, nas Minas de São Domingos, são exemplos disso. No capítulo das entrevistas, saliente-se as que realizou com Ernest Hemingway e com o ex-rei Humberto de Itália.
Em 1960 entrou para o Diário de Notícias, jornal onde já estivera, por um curto período. O seu trabalho aqui vai incidir especialmente na área cultural. Faz crítica de teatro, música, dança, artes plásticas e literatura. E escreve sobre o património e as grandes figuras literárias e históricas portuguesas dos séculos XIX e XX. E sobre a Casa da Camões em Constância, a infindável paixão da sua vida. Foi ainda correspondente ou
colaboradora de vários jornais e outras publicações estrangeiras. Como escritora, tem uma vasta obra: 19 títulos publicados, compreendendo poesia, conto, romance, teatro e ensaio. Jornalista, escritora, tradutora,
conferencista, Manuela de Azevedo conserva, aos 95 anos, uma lucidez e uma energia impressionantes e é ainda a alma da Associação da Casa-Memória de Camões em Constância, de que foi fundadora.


LG - Comecemos pelo princípio. Nasceu em Lisboa, mas estudou em Viseu, num percurso geográfico atípico. Foram razões familiares?

MA - Meu pai, António de Albuquerque Azevedo, era um republicano histórico, foi propagandista da República, com Egas Moniz, e muitos outros, era laico, eu também sou laica, tentei não ser, mas não resultou. Era funcionário das Finanças, pertencia ao partido «camachista», elite da política, contrário ao Partido Democrático e, por isso, andava sempre em bolandas, com a casa às costas. Fiz exames de instrução primária sempre atrasados, começava os anos lectivos e não os acabava porque mudava de terra.
Quando tinha doze anos, fomos parar a Mangualde. Aqui entusiasmei-me com o teatro. Eu já ia ao teatro com os meus pais, desde os quatro anos, vi a Palmira Bastos fazer Revista, imagine.

LG - Isso foi na altura da I Guerra Mundial...

MA - Sim, por volta de 1918. Um dia, ao jantar, ouvi o meu pai dizer à minha mãe: «estive numa reunião do Hospital da Misericórdia, se calhar tem de fechar, não há dinheiro, vai ser uma desgraça». Eu fiquei a pensar naquilo e, como costumava fazer brincadeiras de teatro com colegas da minha idade, comecei a dizer-lhes, e a puxá-los, para fazermos um espectáculo a favor da Misericórdia. Falei ao meu pai dos nossos projectos e ele disse que isso não devia ser, como até ali, uma representação em casa de cada uma, mas um espectáculo numa sala. Fomos em comissão falar com o Sr. Padre Bernardo, para ensaiarmos com ele a parte musical. Ele acedeu e o meu pai foi o ensaiador da parte dramática. Fizemos um espectáculo com grande sucesso e, a seguir, andámos de terra em terra, numa camioneta, a recolher dinheiro.

LG - Com os vossos pais?

MA - Claro. Fizemos uns espectáculos de comédia, uns monólogos, coisas próprias da época e das nossas idades. Ainda em Mangualde, já eu tinha 16 anos, estava, às vezes, à janela e via que as crianças andavam na rua a brincar e pensei que aquele fulgor poderia ser canalizado para qualquer coisa útil. O meu pai era então director de um jornal, o «Notícias da Beira». Resolvi escrever uma carta para o jornal a dizer que me fazia muita impressão ver que, enquanto as mães e os pais iam trabalhar para o campo, as crianças ficavam ali na rua ao deus-dará, e que seria interessante arranjar-se alguma maneira de as ocupar nos trabalhos escolares ou ensinar-lhes a fazer alguma coisa, em particular a costura. Aquilo deu um movimento enorme. Íamos aos armazéns de lanifícios, pedíamos panos, as senhoras importantes da vila colaboraram, criou-se uma organização que ainda hoje lá está.

LG - Deve ser para si um grande orgulho...

MA - Muito grande. Depois foi orientado pelos padres, está com muita força, tem um auditório muito bom, desenvolveu-se e mantém mais ou menos o mesmo espírito.

LG - Foi uma adolescência riquíssima...

MA - Pois foi. Devo isso muito ao meu pai, que me incitava sempre a fazer coisas, a participar em iniciativas.

LG - Foi também nessa região que teve, como professora, a sua primeira actividade profissional...

MA - Estive na província até aos 22 anos. Depois de acabar o liceu fui dar aulas num colégio particular, em Viseu. Tenho um grande amor a Viseu, fiz lá parte da minha vida e tenho lá alguns amigos, também amigos de Aquilino Ribeiro. Ainda hoje colaboro numa revista chamada Aquiliana, editada em Viseu, onde conto muitas coisas relacionadas com Aquilino, ficámos amigos, encontrávamo-nos, muitas vezes, em Lisboa, quase sempre na Livraria Bertrand, no Chiado, frequentada também por Gaspar Simões, Gago Coutinho, Afonso Lopes Vieira e outros intelectuais.

LG - Foi Aquilino quem fez o prefácio do seu primeiro livro, de poesia. Quando começou a escrever?

MA - É curioso como apareci poeta. Tinha 14 anos, adoeci com gripe, estava de cama e, de repente, vieram-me uns versos à memória, não tinha papel e escrevi-os na parede. A partir daí comecei a fazer versos, de maldizer, aos professores e aos colegas. A minha mãe não gostava nada que eu perdesse tempo com os versos e até me pôs no quarto uma lâmpada de 25W, para eu desistir de escrever. Mas continuei, e tive, em certa altura, uma orientação literária do meu professor, Correia de Oliveira.

LG - Não era o «poeta de Belinho» ...

MA - Não, era primo. Ajudou-me muito e incentivou-me a publicar os versos. Mas era preciso uma «autoridade literária» para fazer o prefácio. Naquela zona, ocorreu logo o nome de Aquilino Ribeiro. Escrevi-lhe uma carta e um dia fui com o meu pai, de táxi, a casa dele, em Moimenta da Beira. Passámos lá uma tarde agradável, estivemos duas ou três horas a falar de literatura e poesia, tomámos chá e biscoitos. Aquilino disse-me que não entendia muito de poesia, mas que deixasse os versos que um amigo dele, em Lisboa, conhecedor do género, lhe diria da sua qualidade. Dias depois, mandou-me uma carta a informar que o amigo lhe disse que os versos eram bons e que podia escrever o prefácio. Fez um texto muito bonito que me deu muita confiança para continuar a escrever.
CONTINUA PROXIMAMENTE

quarta-feira, janeiro 24, 2007





Crónica vibrante


O Ricardo Charters de Azevedo é boa praça. Não bastava já que fossemos amigos há mais de seis séculos, mais ano, menos ano, desde que nos conhecemos no nosso Lyceu Camões, que brincássemos com os primos deles, os Câmara de Oliveira, meus vizinhos no Restelo e também escravos do reitor Sérvulo Correia, e fomos reencontrar-nos por mor das Europas.

O (bom) malandro foi nomeado (e com todo o mérito) Representante da União Europeia em Lisboa, depois de um singular, por excelente, percurso na instituição. Herdou funções de um outro amigo, o goês António Menezes. E aqui serviu durante, nomeadamente, o processo do euro. No qual também participei, pois fui encarregado da Comunicação da Comissão Euro do Ministério das Finanças e, depois, da Comissão Nacional que aglutinou as duas, a das Finanças e a da Economia.

Isso levou a que tivéssemos tido muito que fazer em comum. A Amizade, mais do que qualquer outra componente, marcou sempre presença notória nas relações profissionais que tivemos durante três anos e picos. A velha cumplicidade dos bancos liceais voltou. Ricardo, porém, fez mais. Durante os cinco longos anos em que, logo a seguir, me embrulhei sobre mim próprio com uma maldita depressão bipolar, ele acompanhou-me na medida do possível. Os Amigos com caixa alta são assim.

É óbvio que não esteve à minha cabeceira, nem o podia fazer. Para isso estavam minha mulher Raquel, meus filhos, minhas noras, meus netos e mais alguns familiares e uns quantos Amigos. Um exemplo: a Bebé. Isto é a Maria Gabriel Abrantes, que marcou nesse dramático período uma porrada de golos no desafio da mesma Amizade, que ela ganhou – e de que maneira. Mas, embora de longe, o Ricardo acompanhou cuidadosamente a teia emaranhada em que me debatia.

Agora, continuamos cúmplices. Nas auto-estradas informáticas, então, é um vê-se-te-avias. Somos correspondentes de correio electrónico multi-quotidiano. A mim enche-me de prazer esta epistolografia computadorizada; a ele, penso que também. Penso, uma ova; tenho a certeza. Diz lá que não, companheiro – se fores capaz.

Mandou-me um texto notável que de seguida publico sem cuidar do copyright. Que se lixe. Com umas linhas introdutórias que não resisto a registar. Diz o caro marmanjo: «Arnaldo Jabor é, para mim, uma das figuras mais interessantes do Brasil, nestes tempos que correm. Escreve umas crónicas semanais. É grande responsável pela manutenção de alguma lucidez. Minha e de muito boa gente, penso eu!».

Posto isto, registados os factos e documentados notória e notarialmente, dou minha fé de que o excelente pedaço de prosa que se segue mantém a grafia original para que o saboroso da língua portuguesa do Brasil não se perca. Já chega de parlapié. Segue-se o naco de escrita – magnífico. A.F.




O consolador

Arnaldo Jabor
Um dos sintomas do mundo louco é a masturbação. Sim, não me refiro à mera punhetinha, à mera coça na miúda, ao mero estrangulamento de peles vermelhas, ou a doces siriricas, românticos delíquios, orgasminhos secretos de mulheres; refiro-me à solidão social reinante, que provoca a solidão sexual, mesmo dentro da permissividade total de hoje. Em meio a tanta liberdade, nunca fomos tão sozinhos. Tínhamos os pecados, tínhamos as proibições que perfumavam os prazeres deliciosos mas, hoje, com a crise do amor romântico, com tudo permitido, ao sexo foi designada a função de substituir frustrações políticas e sociais.

Eu pensava essas coisas graves, quando subitamente me surge uma serpente na TV: um reluzente e enorme vibrador! Sim, um pênis artificial que uma mulher exibia, elogiando os benefícios da masturbação contemporânea. Ela louvava com orgulho o chamado dildo manejando-o com naturalidade e destreza, enquanto o inquietante objeto fálico ronronava como um gatinho angora. No dia seguinte, vejo no Saiajusta um fino debate sobre as vantagens do bom e velho ÍNgomsolator Tabajara. Aí, me bateu a verdade inapelável: o vibrador explica a solidão em que vivemos, no amor, na política, nas artes.

O pré-víbrador foi inventado na pré-história; há-os até de pedra, pênis artificiais flintstones e, no início do século 20, foi recomendado no tratamento das histéricas frígidas. Tinha o romântico nome de consolador, ou seja, um consolo para damas solitárias, uma nostalgia, uma saudade. Hoje, não. Hoje o pênis natural é que ficou no banco de reservas. Hoje o dildo não consola ninguém; veio para afirmar, para nos substituir e nos deixar a nós desconsolados. Nos tipos de vibradores, há um retrato de nosso mundo imaginário: há os em forma de coelhinhos infantis, há os negros de ébano, imensos, evocando a África profunda, há os árabes, terroristas, há os imperialistas, americanos, há os autoritários, ibéricos.

Com a inseminação artificial e os dildos, cria-se uma civilização de abelhas sem zangões. E não há uma contrapartida do consolador para homens. As tais mulheres de plástico (como vi anunciadas numa revista, com o genial slogan: She needs no food nor stupid conversation) não resolvem. É muito sinistro aquela pobre boneca sendo estuprada no silêncio da ignomínia. A mulher de borracha é uma metáfora analógica; já o vibrador é uma metonímia digital — a parte pelo todo. A mulher de borracha nos angustia com sua presença incómoda; ela nos inquieta, mesmo esvaziada no fundo do armário, como uma ocultação de cadáver. O pênis digital não; ele tem vida própria não tem inconsciente, não tem desejos e manias.

O consolador é uma coisa em si, já o homem é para si, cheio de projetos, opiniões. Ele não é um pedaço, está inteiro; o homem é que foi amputado dele.

O consolador não perua (com trocadilho, please); ele é um amante dedicado, sempre pronto para satisfazer sua dama.

O consolador é uma fantasia feminina de auto-suficiência, mas é também um velho sonho masculino: ser livre e solto como um pênis voador, sem inibições, comendo todo mundo numa boa, voando, irresponsável, o velho sonho do passaralho, capaz de proezas infinitas. Os homens gostariam de ter a autonomia de voo do vibrador, seus movimentos giratórios, sua beleza aerodinâmica. Vamos assumir logo: temos inveja e ciúmes do vibrador. Se uma mulher põe um vibrador na cama com o parceiro, isso pode provocar uma crise: "Ele é melhor que eu, quem você prefere?"

Um vibrador pode provocar broxadas irreversíveis; um vibrador pode gerar terríveis discussões de relação (DR's), a que ele assistirá impassível, ali, na cama, como um juiz da Vara de Família (com trocadilho).

O vibrador parece uma arma. Está pronto para entrar, aonde? Ele não recusa portas, pode estar na mulher ou no homem e, por isso, é angustiante. Ele pode desencaminhar machos, principalmente nesta era GLS, de oscilações entre homo e hetero.

Vejam o sucesso crescente do fio terra...(quem não conhece a expressão, informe-se ou se toque — com trocadilho...)

Mas, o vibrador não é um objeto cotidiano, que possa ficar à vista de todos, ali, como um bibelô, um telefone (se bem que os há nesse formato). Onde guardá-los? Nas gavetas e desvãos, encafuados e ocultos, sentem-se de longe as vibrações dos vibradores. Eles estão ali como uma bomba-relógio. Além do mais, o que dizer aos filhos que perguntarem: "Mãeêê...posso brincar com esse minhocão preto aqui? Legal! Essa piroquinhã anda sozinha!..

Eu fui educado para achar que as mulheres eram românticas, apenas uma conseqüência do desejo masculino. Hoje, a mulher pega, mata e come machos constrangidos e inseguros, perplexos diante de tanta liberdade. Ficaram mais fálicas que qualquer um de nós. Quem pode competir com seus parceiros portáteis? Elas estão numa falicidade (com a mesmo) vingativa quase, recuperando séculos de submissão. E o vibrador é sua espada para nos castrar num espelho.

A tecnologia não tem volta. Assim, jamais vamos restaurar um romantismo simbiótico entre sexos analógicos. Talvez inventem vibradores com alma, o inverso de homens maquinicos: vibradores em crise, em dúvida, vibradores que discutam a relação, que tenham de ser estimulados aos poucos, que precisem de preliminares, que podem até broxar, humanizados como nós. Na progressiva desumanização do sexo, os corpos estão apenas virando lugares onde se expressará o prazer das máquinas, seremos apenas o campo de provas da eficiência técnica das coisas. Quanto maior o orgasmo, mais caro o equipamento.

Dirão os vendedores: "Faz um test drive com esse bofe(machão) aí..." Com o tempo, seremos apenas uma lembrança, uma nostalgia" romântica, uma fantasia erótica evocada em meio a orgias tecnológicas e sem alma.

quarta-feira, janeiro 17, 2007



ANTÓNIO LUCIANO DE SOUSA FRANCO

Uma homenagem

Maria Lúcia Garcia Marques
Realizou-se ontem (16 de Janeiro), na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, uma cerimónia académica de homenagem ao Professor António Luciano Pacheco de Sousa Franco, com o lançamento de uma monumental edição – três volumes – do in memoriam que lhe dedicaram os seus pares. Voltou a ficar mais próxima a recordação do amigo e foi pretexto para tirar da gaveta o texto que escrevi a poucos dias da sua morte e que nunca tive coragem de publicar.


Ao Amigo
- a 18 de Junho de 2004

Cumprimos hoje o último dos rituais – o requiem do 7º dia. E ainda não aceitamos que o António Luciano tenha partido. Mas, de facto, «O Amigo - morreu»! Assim, como se escreve. Em duas palavras – na curva de um minuto para o outro, sem aviso, sem predição, sem adeus ... assim!

E como na natureza, à volta de qualquer despojo, a vida movente começou a reorganizar-se atraída pelo precipício desse súbito vazio. Em busca de um sentido: primeiro circular e assombradamente curioso, depois judicioso como se a vida – ou a morte – precisassem de explicação ou sequer... autorização. Todos esquecemos – e imperdoavelmente nós, as mulheres, dadoras de vida – que a morte nasce com cada vida que pomos neste mundo. É o forro silente, subtil e absolutamente inseparável de cada momento de existir. Nasce a oriente, como uma estrela negra a caminho do sol, e para ele sobe até que, de repente, o atinge e apaga a luz da nossa vida. E tudo o que celebrávamos fica suspenso num pasmo e num silêncio tão vazio que é como se as raízes tivessem sido arrancadas com tanta força e perícia que nem tivéssemos sangue para nos aterrorizar ou lágrimas para (nos) chorar.

E foi assim que O Amigo partiu. E, subitamente, todos fomos próximos e queridos, todos nos apropriámos de bocados da sua vida que exibimos cruzados com a nossa, todos achámos que o conhecíamos – oh, como o conhecíamos bem ...!: é aquela história e aquela confidência e as pérolas que recolheramos das suas pródigas palavras, do seu sábio e escolhido convívio ...! Era O Amigo e estava ali, à nossa mão, à nossa mesa, padrinho dos filhos que íamos fazendo, enquanto ele ungia a sua solidão com profundos exercícios de saber e nos representava a todos nos altares e nas barricadas, nos olimpos e nas mesas de trabalho. Era a nossa salvaguarda, a nossa válvula de segurança, a nossa ração de combate, a nossa reserva de conhecimento e redenção para os dias difíceis que vêm sempre depois do carnaval da liberdade e dos tropeções da emancipação.

Era O Amigo-solidário e disponível. Com os defeitos das suas enormes qualidades que, complacentemente, adoptáramos todo inteiro e guardávamos como a jóia de família. Em alegre e benévola com-partilha.
Foi O Amigo que um dia – como não tínhamos pensado seriamente nisso ...? – escolheu o seu caminho privado, arrumou os seus afectos, acendeu a sua lanterna, saiu a terreiro e proclamou a sua verdade e a sua vontade, estendeu a sua mão e seguiu o seu caminho, por outrem acompanhado.

E num afã confuso de formigas surpreendidas por um obstáculo, os amigos movimentaram-se para longe ou para junto, reticentes ou definitivos, mas sempre na sua órbita. E foi o momento de se redesenharem e definirem nessa contraluz que não deixava, no entanto, de os iluminar. E O Amigo deixou o altar da amizade e da devoção sincera pelo palco do agir público, da admiração vistosa, do espectáculo do “poder-aos-molhos”.
E dos amigos choraram os olhos – O Amigo virara de bordo, era outra a face da Lua ... – mas mesmo na sombra, estávamos todos lá!

Porém, caído em mãos ávidas e bárbaras, criminosas na sua ignorância de criança que espatifa vorazmente o brinquedo demasiado sofisticado para ela, foi usado, explorado e, exaurido, tombou no átrio mesmo da sua nova ambição. E os amigos olham agora o futuro oco, ouvem o silêncio dos passos de quem partiu para longe – para lá? – do Ali onde o tinham imaginado sempre, tutelar e, a seu modo, fiel.

E sabem que, se, no seu caminho, O Amigo foi, porventura, muito do que queria ser, encontrou quanto buscava e partiu para a Luz, o caminho deles teve o que nunca mais terá: a pegada companheira, o orgulho e o júbilo da sombra amiga, a alacre cumplicidade do ser excepcional que era O Amigo-que-partiu.
E calam. In perpetuam rei memoriam!



... e agora, eu

Antunes Ferreira
Ontem estava fora do País, fazendo pela vida. E apesar de saber da Homenagem ao Prof. António de Sousa Franco, que os seus colegas de ensino lhe prestavam na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, não pude estar presente. A omnipresência, segundo dizem, é propriedade dos deuses. E eu... Gostaria de o ter feito. O meu Amigo merecia-o. De resto, o Ricardo Charters, outro Amigo de longos anos – estamos todos a ficar velhos… - recordara-me a sessão solene.

O António Luciano foi um Amigo desde que entrámos no Camões para o 1.º ano liceal (era assim que então se dizia). Das carteiras do edifício da Praça José Fontana, passámos para os anfiteatros da novíssima Faculdade de Direito, acabada de estrear, ainda a cheirar a tintas. Ao longo doa anos nunca nos afastámos – por mais longe que estivéssemos um do outro. Trocámos extensas cartas durante os oito anos em que me encontrava em Angola. Quantos desabafos e quantas revelações. A Amizade é assim. Vive-se. Não se agradece, nem se justifica.

No DN muitas e muitas vezes lhe pedi colaboração, nunca recusada. E quando me convidou para criar o Gabinete de Comunicação do Tribunal de Contas, a que presidia magistralmente (como, de resto, sempre fez durante toda a sua vida pessoal e profissional), aceitei, naturalmente. Depois foram os anos do Ministério das Finanças, ele como titular da pasta, eu como seu diminuto colaborador. Pensando bem (agora), talvez não o devesse ter feito, dadas as vicissitudes que se verificaram ali no Terreiro do Paço, e a minha tristeza e desânimo pelo que não fui capaz de fazer – com ele. Mas, ninguém deve chorar sobre o leite entornado.

Seguiram-se uns diabólicos cinco anos em que estive possuído por uma doença que não desejo nem aos meus piores inimigos, que os tenho. Uma depressão bipolar, seis psiquiatras e finalmente a Dr.ª Alice Nobre que me pôs fino e a quem chamo a minha Santa da Ladeira. Sequelas do Ministério? Dos aborrecimentos que ali se verificaram? Das minhas chatices? Da minha incompetência? Da minha ingenuidade? Ou da minha publicidade? Sim? Não?

Quando recomeçava a viver normalmente, caiu-me em cima a morte do António Luciano. Apesar de ainda muito combalido pois saía do negrume da maleita infame, acompanhei a sua mulher Matilde e a filha Inês, naquilo que me foi possível, do velório da Estrela até aos Prazeres, uma caminhada a pé que nunca mais esquecerei. Ponto final.

Por tudo isto, repito que muito gostaria de ter tido o privilégio e a honra de assistir à Homenagem Universitária de ontem. António Luciano Pacheco de Sousa Franco sempre foi um Professor. O Professor. A Universidade era a sua casa, a par com a residência particular, é óbvio. Por mais funções que tenha desempenhado, ele era um Mestre. E em todas – foi-o.

Um dia, num jantar em Bruxelas, durante um Ecofin, no Chez Leon, juntamente com o Rodolfo Lavrador – um quase filho-amigo… - disse-lhe, corroborando uma afirmação do Sérgio do Cabo, seu ajunto e outro bom amigo, que ele, António Luciano, era um extraordinário político, ainda que o negasse com frequência. Rimo-nos muito.

Na volta a Lisboa, sentado ao seu lado no TAP 347, acrescentei ao que atirara na véspera, frente a uma radiosa travessa de marisco, que ele era o Presidente da República de que Portugal necessitava. Estou a vê-lo. Afivelou aquele seu peculiar sorriso apetencialmente naif mas profundamente irónico: «Henrique Armando: Achas?...» E ficou-se por aí - e eu também. Se não achasse, não lho tinha dito.

Um Abração, Amigo. Vou ali atender gente da Comunicação. Volto já.

terça-feira, janeiro 16, 2007





«GRANDES PORTUGUESES» NA RTP

Salazar e Cunhal entre os dez primeiros

Antunes Ferreira
L
eio e pasmo. Este nosso País é, definitivamente, o exemplo acabado da caixinha das surpresas. Os órgãos de informação, praticamente todos, destacam uma notícia que aqui também se publica. Repito: leio-a e pasmo. O que se calhar é uma incongruência e um disparate. No que toca ao leio, nada a objectar; no concernente ao pasmo – sou uma besta. Neste rectângulo à beira-mar plantado, tudo vai sendo, cada vez mais, possível. E menos motivo de espanto. Pasmar só se for da pasmaceira em que gostamos de viver, releve-se o trocadilho fácil e idiota.

Antes do mais, vamos à notícia, datada de 15 deste mês.

«No programa da RTP 1 «Os Grandes Portugueses», os dez que se destacaram são os políticos Álvaro Cunhal e António de Oliveira Salazar, os reis D. Afonso Henriques e D. João II, os poetas Luís de Camões e Fernando Pessoa, o navegador Vasco da Gama, os estadistas Infante D. Henrique e Marquês de Pombal e o diplomata Aristides de Sousa Mendes.

O programa televisivo, da responsabilidade da jornalista Maria Elisa, começou em Outubro, tendo sido seleccionadas cem das maiores figuras nacionais, das quais foram votadas no domingo as dez consideradas mais importantes.

A votação dos portugueses, por telefone, para escolher a maior figura nacional de entre os dez finalistas começou à meia-noite de domingo e decorrerá até Março. Na próxima terça-feira, a RTP 1 divulgará o nome das dez personalidades públicas que assumirão o papel de defensores dos finalistas.»


Em frente. Perante uma tal constatação, verificaram-se, de imediato, reacções que poderiam ser pouco esperadas, principalmente para quem anda um tanto a leste do paraíso. No entanto, os que, mais atentos ou menos distraídos, vão tentando perceber Portugal e os seus compatriotas indígenas, a «novidade» não o foi, de modo nenhum.

Refiro-me, já o entenderam, ao facto do ditador de Santa Comba Dão figurar nesta elite, talvez pseudo, mas real. E, ainda, à realidade de ser seu compagnon de route, o antigo secretário-geral dos comunistas portugueses. Não há que enganar: nós, portugueses, salvo umas quantas excepções, entre as quais tenho a veleidade de me contar, adoramos o látego.

Não admira, portanto, que os dois políticos mais importantes no grupo do must nacional na História, constem dois defensores e executores de tais métodos. Somos assim, não há volta que se possa dar. Na verdade, se entre nós se pode falar de res publica, a política que os lusos mais adoram é a da cenoura e do chicote. Não quero com isto falar de burros. Mas…

Os restantes elementos que integram o pelotão dos eleitos podiam ser estes ou outros, tantos há. Foram os escolhidos através de votação, o que em si mesmo é bom. A votação, está bem de ver. Permito-me no entanto, um aplauso para o facto de o diplomata Aristides de Sousa Mendes dele fazer parte. O cônsul de Portugal em Bordéus que, durante a II Guerra Mundial salvou milhares de pessoas, principalmente judeus, contrariando as ordens salazarentas.

Palpitante, verdadeiramente palpitante e, até, picante, o facto de entre os «dez mais» estar um verdugo provinciano que desgraçou um diplomata-heroi, e estar este também, o desgraçado. Os eleitores de um terão sido os mesmos que escolheram o outro? Sim? Não? Sei lá. Este doce rincão natal é pródigo em situações abstrusas. Mais uma, menos uma – que é que faz?

Apareceram logo comentários principalmente a propósito do Botas. A maioria dos quais – e são muitos – favoráveis e encomiásticos. E saudosos. Por este andar, ainda descobrimos que ele foi um democrata ab initio e que só a malfadada cadeira o impediu de conceder a independência às suas «províncias ultramarinas». Duvidam? Pois façam o favor de ler o mimo que se segue, da autoria de um Senhor Hélder Sá.


Obviamente… Salazar

Talvez por ter nascido no Séc. XX, talvez por ser uma estudioso da História de Portugal, talvez por saber o que aconteceu de 5 de Outubro de 1910 a 28 de Maio de 1926, talvez por saber que os republicanos nos "enfiaram" na 1ª. Guerra Mundial, talvez por saber que o Prof. Salazar nos livrou da 2ª., talvez por saber que os republicanos de Afonso Costa e sua camarilha (de que o PS se diz herdeiro) deixaram o País na bancarrota, talvez por saber que em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão, talvez por saber que o Prof. Salazar foi uma pessoa íntegra (ao contrário da gatunagem que tomou de assalto o Poder em 25 de Abril de 1974), talvez por saber que o Prof. Salazar passava as suas férias no Forte de S. Julião da Barra e na sua humilde casa do Vimieiro (Santa Comba Dão), talvez por saber que o Prof. Salazar não soube lidar da melhor maneira com a questão ultramarina (assumindo a sua condição de Homem e não de Deus), por isto é o maior Português de sempre!

Em Portugal, hoje, há liberdade de pensamento e de expressão. Os cidadãos exprimem as suas opiniões sem receio de serem alvo de processos de intenção, de serem presos sem culpa formada, de serem vigiados por um Big Brother, que intramuros se chamou a PIDE/DGS, de serem censurados pari passu.

Isso devia levar a que votassem em consciência e com coerência. Tem dias. O que o Senhor Hélder Sá (que não conheço) escreve pode ser perfeitamente premonitório. Temos todos um ror de dias diante de nós para escolhermos o falecido Presidente do Conselho como a maior figura nacional em mais de oito séculos de História. Ou ele – ou o Senhor Jorge Nuno Pinto da Costa. Ou o Senhor Alberto João Jardim. Tudo democratas da mais fina água. E não nos apressemos. O prazo limite é Março. Ainda dispomos de muito tempo… Depois não venham dizer que não os avisei…

terça-feira, janeiro 02, 2007




Embaixada de Portugal no Brasil – Bravo!!!


Ora aqui temos mais um blogue. Apenas? Há milhões e milhões deles por todo o Mundo. Porquê este anúncio, aliás prazenteiro?

Pois muito bem. Trata-se do blogue da Embaixada de Portugal em Brasília. Que aparece com intenções bem definidas, isto é, destinado a divulgar Portugal no Brasil e, até, o vice-versa. É bonito. É uma bela ideia. É de referir e divulgar. O que faço com todo o prazer e muita satisfação.

Na Embaixada tenho, que eu saiba, três excelentes Amigos. Se mais ali tiver, digam-mo, para me penitenciar da falta cometida, ainda que involuntariamente. O Francisco Seixas da Costa, que não a faz por menos: é o Embaixador e está tudo dito. Um comunicador como ele não se podia quedar apenas pelas funções eminentemente diplomáticas, que são muitas e pesadas. Nada que ele rejeite, muito pelo contrário. O Chefe da Missão Portuguesa em terras de Vera Cruz apadrinhou o blogue. Tenho a certeza.

Depois vem o Adriano Jordão, pianista e meu cúmplice há uma porradaria de anos: desde os bancos do Lyceu Camões, vejam lá. Na altura, ele e o mano tocavam acordeon, como então se dizia. Este careca praticante, alem de ter casado com a Rosinha, irmã de outro meu colega da mesma colheita, o Vieira da Cruz, da Praia do Ribatejo, foi, anos a fio, meu vizinho na Lapa. Para o que um homem está guardado…

Não há dois sem três: o Carlos Fino. Jornalista com caixa alta, que o mesmo é dizer dos óptimos. Dá-se ao luxo de falar russo, esteve anos a fio na então União Soviética e outras paixões russas. Daí ter sido, inclusive, o intérprete do então PR, um tal Mário Soares na visita deste à URSS com os pés prá cova. O Carlos é mesmo fino. Desde a política internacional até às questões comunitário/europeias – é um alho.

Não admira, pois, que este blogue seja como a pescada ou o vestido: antes de o ser, já o era. Muitos menos pasma que seja excelente: com estes ingredientes e com tais cozinheiros, nem a Maria de Lurdes Modesto, nem o Pantagruel, nem a Enciclopédia Gastronómica. Petisco informático assim, benza-o deus. Qual quê? Banquete, meninos, banquete.

Não é que os meliantes seus autores disso necessitem. Alem de serem isso mesmo, têm como agravante a clássica recidiva. São reincidentes. São contumazes – sem Tomaz. Livra! Abrenúncio, t’esconjuro, mafarrico!

Dito isto, só tenho que apresentar a Suas Insolências e naturalmente ao blogue supracitado os meus parabéns e os desejos de uma vida longa ao serviço dos ideais e das ideias que os norteiam. Aos três, que afinal são quatro, tal como os do Monsiu Alexandre Dumas, os meus agradecimentos. Qualidade, não lhes falta. A.F.