segunda-feira, junho 30, 2008



Sem comentários

Ora cá temos o meu cunhado de Chêteaugay, Montréal, Québec, com mais uma colaboração no Travessa. Por mail - mas boa. Como sempre. Já se sente falta dos seus comentários, mas esta foto vale por milhões. Este é o exemplo de um País em crise, ainda que eu continue a considerá-la muito estranha e enigmática com atrás disse. Por mais que me tentem desdizer, contradizer, insultar ou, até, ameaçar, reafirmo: nós não prestamos. E nem são necessários exemplos de ignorância, analfabetismo (hoje amaciamos para iliteracia...) ou estupidez aguda - e congénita. Somos, desgraçadamente, assim. A.F.

sábado, junho 28, 2008

Guia Prático da Ciência Moderna

Antunes Ferreira
Este miminho, de origem brasileira como se vê, foi-me enviado pelo Jorge Correia Jacinto, almirante na boa vida, o que quer dizer desembarcado da Marinha. Por outras palavras: na Reserva. O Navegador, ex, é um dos mais assíduos correspondentes que tenho. Não estou bem certo, mas por vezes penso que a nossa amizade é coeva do Vasco da Gama, para não dizer mesmo do Dom Fuas Roupinho. Um destes dias, com mais tempo, hei-de averiguar.


Ora pronto. Termino o prolegómenos, alias apenas necessário para enquadrar o Jorge Jacinto no lugar que lhe compete – e que merece em absoluto. O que aqui fica registado - e que se verifica no País nosso filho (coitado) -, poderá perfeitamente aplicar-se universalmente. O que implica que isso também acontece neste este Portugal em crise.

Curiosa crise, de resto. Os apartamentos de luxo, T muitos com áreas de 680 metros quadrados e mais, vendem-se nos alicerces aquando do começo da construção. Automóveis de grande cilindrada, é um vê-se-avias. Um só exemplo: em Guimarães, onde a cutelaria está na tal crise, há uns tempos um amigo levou-me a contar Maseratis: seis. Com os donos a fechar as respectivas fábricas. Claro que os brutais aumentos dos combustíveis fazem parte da crise. No entanto, os bólidos continuam na ordem do dia – e a circular. E as gasolineiras, coitadas, continuam a ter lucros indescritíveis.

Restaurantes caros, para não dizer caríssimos, estão cheios. Lagostas, faisões, caviares das mais diversas origens e qualidades enchem as mesas desses locais em crise. E as bebidas pornograficamente cobradas (e caritativamente pagas) não deixam de acompanhar essa desgraçada crise. Que afecta igualmente os Bancos, com resultados de que se queixam todas as assembleias-gerais deles. E as roupas de marca? E o resto, em crise?

Poderia continuar. Não o faço. A crise, essa, continua. Estranho, não é? Desta feita, porém, deliciem-se com o texto. Com a sua grafia original. Ainda não existe o famigerado acordo. Apesar do pesar, o preço dele não subiu. Isto – porque não tem preço.

GENERALIDADES

1. Se mexer, pertence à biologia.
2. Se feder, pertence à química.
3. Se não funciona, pertence à física.
4. Se ninguém entende, é matemática.
5. Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

LEI DA PROCURA INDIRETA

1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

LEI DA TELEFONIA.


1. Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.
Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA.

Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você.

LEI DA GRAVIDADE.

Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS.

80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu.

LEI DA QUEDA LIVRE.

1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS.

A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.

LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA.

Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

LEI DO ESPARADRAPO.

Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

LEI DA VIDA.

1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.

LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS.

Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto


sexta-feira, junho 27, 2008

O homem que derrotou Sócrates


Antunes Ferreira
H
á um Português que desde há alguns dias tem levado mais porrada na Internet do que o primeiro-ministro Sócrates. Um espanto, um verdadeiro espanto, como diria o Jô Soares, exclamação que ficou indelevelmente marcada na nossa língua. Uma adenda: optou-se pelo termo porrada, calão assumido, vulgaríssimo, convenhamos, e o mais expressivo. Pancada, tareia, agressão são demasiado soft para o caso vertente.


Não se prolongue a explicação. Não se estenda a prosa em jeito de suspense. Hitchcok só houve um. Com copyright e tudo. É muito difícil esquecerem-se filmes como «O homem que sabia demais», «Psycho» ou «Os pássaros». Quem diz pássaros, diz aves. E quem diz aves, diz frangos. E quem diz frangos, diz Ricardo. O tal que conseguiu derrotar, ainda que momentaneamente, o chefe do Governo, no sofrimento.

De seu nome completo Ricardo Alexandre Martins Soares Pereira, tem vindo a ser, com Scolari, o guarda-redes da Selecção Portuguesa de Futebol. A sua actuação no Euro 2008 e, em especial na partida contra a Alemanha, foi um desastre. Entre os postes, fora dos postes, de olhos abertos ou de olhos fechados, foi uma capoeira inteira. De frangos? De perus, dizem as más-línguas. De avestruzes, afirmam as péssimas. Isto, porque não maiores.

Futeboleiros como somos, Ricardo foi crucificado, nomeadamente a nível internético. Conseguiu ultrapassar Sócrates. Olá, também a equipa eliminada pelos germânicos parece ter suplantado o dito Executivo que nos governa (?). Mas, o expoente, o mais «mal amado» tem sido, inegavelmente, o homem que é conhecido por ter especial queda para os penaltis. Para os defender – e para os marcar. Há crise? Há. Ricardo.

Para já, Ricardo devia receber uma condecoração e uma proposta para o Guiness Book. Bater Sócrates por ser tão batido – é obra.

Legenda da foto: Ricardo vai para o Inter... marché

(Também no www.sorumbático.blogspot.com)

sábado, junho 21, 2008




Acabou-se a estória,

acabou-se a glória,

acabou-se a vitória

Por Antunes Ferreira
Somos, realmente, muito mauzinhos, pois nem mauzões sabemos ser. Por vezes, porém, a maldade, ainda que rasteirinha e videirinha, origina galhofas duras, dolorosas, mas que fazem sorrir - ou mesmo rir, ainda que não seja à gargalhada. Vitória e glória acabou-se a estória. No caso presente poder-se-ia dizer - estória e glória acabou-se a vitória.

Nós, os Portugazinhos não prestamos. Disse-o, escrevi-o, digo-o, escrevo-o e repeti-lo-ei as vezes que bem entender e que julgue que sejam as necessárias. Reafirmo - nós os lusitanitos, nos quais me incluo, infelizmente, pois creio não fazer parte das honrosas excepções - algumas, bastantes, mas percentualmente diminutas, que, na verdade, só servem para confirmar a regra atrás enunciada - não P-R-E-S-T-A-M-O-S. O governo também não? Mas esquecemo-nos que integra Portugas depois de nós termos elegido o partido que de onde saiu. Qualquer que seja.

Os deuses que a esmagadora maioria de nós idolatrou são chutadores na canela, uns quantos muito bons, um, muitíssimo bom, os outros mais ou menos, sendo que alguns, poucos, escapatórios. Não ganharam o Euro2008. Também já não tinham ganho o Euro2004 que decorreu em casa. Será a famigerada pouca sorte dos Cabrais, que se cita perante os falhanços?
Serão os árbitros contra a selecção Portuga? E os árbitros auxiliares? E os quartos árbitros? E os delegados da UEFA? E os apanha-bolas? E os roupeiros? E os agentes da autoridade? E os stewards vigilantes? E os bombeiros? E os maqueiros sanitários? E os homens das bilheteiras?

Será, portanto, uma cabala ciclópica contra os futebolistas nacionais - e mesmo contra os naturalizados? A ser assim, minhas Senhoras e meus Senhores, não se abateu sobre nós, futebolisticamente falando, um terramoto de 9,8 na escala de Richter. Foi mesmo um tsunami.
Os bonecos que aqui publico e me foram enviados pelo Zé Oliveira, são testemunhos de que, além do mais, somos masoquistas, adoramos fazer graça com o revolver do punhal nas nossas entranhas. Um harakiri a la portuguaise. Talvez seja melhor dizer graçolas. Já dizia o Otto Glória que o treinador que hoje ganha é bestial; o mesmo técnico que amanhã perde é uma besta. Mas já o Cândido de Oliveira, anos antes, também assim afirmava.

Enfim, acabou-se a estória, acabou-se a glória e acabou-se a vitória. Em 2012 há mais.
Para já, segue-se a crise. Segue-se? Acorda-se.

(Também em http://www.sorumbatico.blogspot.com/ )

quarta-feira, junho 18, 2008



Três bons malandros


Antunes Ferreira
O
Carlos Pinto Coelho é boa praça. O Mário Zambujal, idem. Sou muitíssimo amicíssimo dos dois. Que querem? Uma desgraça nunca vem só. Que os que me lêem – parece que ainda os há, poucos, mas há, e certamente bons cidadãos – me relevem o tom intimista deste escrito. Porém, não podia ser outro. Passo a explicar, justificar não, que a Amizade não se justifica.


Um destes dias, mais precisamente na sexta-feira, uma tal Luísa Barragon mandou-me um mail. Transcrevo a parte que para o caso interessa. «Dr. Antunes Ferreira: O Carlos Pinto Coelho teria um enorme prazer de o poder entrevistar para o programa de rádio "Agora Acontece" a propósito do seu livro "Morte na Picada". Temos gravação na próxima 2ªfeira, dia 16 de Junho, às 11H00. Diga-me, por favor, se poderemos agendar»?


Claro que pois claro, disse logo à Senhora, cuja amabilidade e simpatia me deixaram desvanecido. Naturalmente, pedi-lhe para retirar o Dr. E, apesar do telemóvel dela se estar a ir abaixo das canetas, ainda tive a oportunidade de saber, naturalmente por ela, ser filha do Salvador Ribeiro, fotógrafo de mão cheia, com quem eu trabalhara no «Jornal Novo». E fizera um Amigo.


Encurtando. O CPC, o malandro, já me dissera que me estava a preparar a armadilha microfónica. Um carinho dele, no que é especialista. Desta feita para comigo, seu amigo de decénios, etc. e tal. Lá fui a Miraflores, ao Estúdio Tcha Tcha Tcha. Tive o privilégio de conhecer pessoalmente a Luisinha, «uma querida», de acordo com o meu editor.


Veio o Carlos e ipso facto estávamos na cabine de gravação, entretidos numa conversa de compinchas, a que também se podia chamar entrevista. Conduzida pela mão de mestre do meu interlocutor. E a ser difundida por toda a parte (até por Macau). São 84 (eu escrevi oitenta e quatro, não haja dúvidas) as Rádios que a emitem. Só o Pinto Coelho.


De resto, um aparte. Nunca compreendi como a RTP se deu à estupidez crassa de acabar com o Acontece que, anos a fio, o Carlos produziu, escreveu, apresentou e sei lá mais o quê. O melhor programa cultural da televisão em Portugal. Ponto. Nada. O melhor, o mais ágil, o mais audaz – o mais vivo. E posso assegurar que não é de agora que o escrevo, nem por força do CPC ser meu Amigo. Já o fiz e repeti-lo-ei.




Terminámos. Pareceu-me que a coisa tinha corrido bem, mais por mérito do entrevistador do que do entrevistado. Mas, quando saía da sala do estúdio, há um gajo, perdão, um Senhor gajo que comenta assim a charla. Estava parvo. Era o Mário Zambujal. Há quantos anos o não via. Noites a fio passámos juntos (salvo seja…) no «Diário de Notícias»; ele, chefe da Redacção; eu, Chefe Adjunto. O maior fazedor de títulos que encontrei em toda a minha vida profissional.
De resto, assistira ao seu lado à facilidade de escrita – escorreita, directa, irónica – que tinha. Por ali passaram textos e ideias da «Crónica dos Bons Malandros» que seria classificada de óptima, (apenas…) e já vai na 34.ª edição. Se não assisti ao parto, acompanhei a gestação.


Foi uma festa. O Carlinhos ia entrevistá-lo de seguida. «Já não se escrevem cartas de amor», o motivo do encontro. Que, vejam lá, decorreu excelentemente. Como nos desafios de futebol, a segunda parte foi melhor do que a primeira, opinião minha. O malandro do Zambujal acabara de me fazer mais uma acintosa maldade: só às quatro da matina correra os taipais da leitura sem parança. Dormira umas escassas quatro horitas, portanto, e por mor da entrevista.


Teríamos ficado por ali uns bons cinquenta e sete anos, cinco meses, três dias, oito horas, 27 minutos, 43 segundos e dois décimos na costura das lembranças – e das malandrices. É que eu, ainda que em patamar mais abaixo, também me enquadro nesse quadro dos malandros. Dos bons, Mário dixit. Mas, tudo tem um fim. O Zambujal jurou-me que iria ler o «Morte na Picada». Acreditei e acredito, ainda que com algumas reservas. E, para fechar com chave electrónica, trouxe-me a casa no seu BMW. Gente fina é, realmente, outra coisa.


Pronto, está feito. Ninguém tem nada a ver com esta prosa. Ou, quem sabe, se calhar, terá. Não bati no Sócrates, o que é já tão banal de tantas repetições, que já é um ponto a meu favor. Não critiquei a des(união) laranja, que já se tornou calina. Não encomiei a selecção portuga de futebol, o que poderia parecer seguidismo da sua omnipresença. Não falei da crise, de tal forma é óbvia. Nem sequer aflorei o miserável índice de confiança na economia nacional.


Limitei-me a fazer a crónica do reencontro de três bons malandros. Sem que nisso se veja qualquer tentativa soez de plágio, pois o Mário é único e implagiável. Até me dando ao luxo de uns quantos neologismos espúrios. Porra! Os Amigos são, sobretudo, para as ocasiões.


As fotos do crime são da Luisinha Barragon


(Também no www.sorumbatico.blogspot.pt )

sexta-feira, junho 13, 2008



Transportadores rodoviários de mercadorias

Um morto - para quê?...


Antunes Ferreira
S
ejamos francos: foi um episódio tristíssimo que se pode, inclusive, qualificar de criminoso. Dúvidas? Meteu morte, assaltos, privação de liberdade, alteração à ordem pública, foi contra a economia do País. É preciso mais? Além disso, veio, uma vez mais, trazer à superfície uma questão aparentemente colateral, mas incontornável. A saber.

Que raio de gente somos nós, os Portugueses? Já o escrevi, reescrevi e mantenho tudo o que expressei: salvo honrosas e bastantes, felizmente, excepções, nós não prestamos. Assim mesmo, soletrando: n-ó-s----n-ã-o----p-r-e-s-t-a-m-o-s. Se for necessário, exemplificarei noutro escrito o porquê desta afirmação. Para já, porém, não me afasto do que aqui me trouxe.

Se existe representatividade de organizações de classe neste País, ela tem de funcionar. Quero dizer, ela tem de responsabilizar pelos actos praticados pelos seus associados. E estes têm de proceder de acordo com essa relação. A não ser assim, para que servirão elas? Para serem desrespeitadas sempre que as partes assim o entendam? Pobres associações, pobre País.


A Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários de Mercadorias, Antram, terá de, a partir de agora, sublinhar que, supostamente, representa os… transportadores rodoviários de mercadorias portugueses. A Antram terá, presumo, de alterar os seus estatutos para incluir neles essa suposição. Caso estranho? Mas, bem vistas as coisas, o que é que não é estranho em Portugal?

Os transportadores rodoviários de mercadorias, vulgo camionistas ou proprietários de empresas de camionagem devem exigir da Associação que diz representá-los essa alteração estatutária. Ou, em alternativa, continuarem a marimbar-se para a dita e fazerem as greves, paralisações, limitações da liberdade rodoviária, até mesmo originarem a perda de vidas. Com Antram – ou sem.

Daí que talvez seja melhor, se é que isso ainda é possível neste País à beira-mar plantado, correrem os taipais da Associação a quem os associados não ligam peva. Isto é, para quem eles, camionistas/associados, se estão nas tintas. Se nem para conduzir uma greve legal a Antram serve, para quê continuar a dizer que existe e a ser negada durante três dias. Comparado com a auto intitulada Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários de Mercadorias, Pedro, o discípulo sobre o qual seria erigida a Igreja, foi um herói. Apenas negou Cristo por uns momentos. Nunca durante um tal lapso de tempo: mais de 72 horas. É obra.

Estou, convictamente, com a Constituição Portuguesa (apesar de ser Português…, e fazer parte dos que não prestamos. Excepções são outros). Estou, assumidamente, com o direito – contemplado no texto fundamental – à greve. Só as ditaduras, de direita ou de esquerda, o proíbem. E Portugal é uma Democracia e um Estado de Direito.

Nós, porém, esquecemo-nos quase sempre, mas sempre de acordo com as nossas conveniências, do binómio direitos-deveres. Os primeiros têm de cumprir os segundos. Naturalmente, a inversa é verdadeira. Mal seria que assim não fosse. Neste Portugal dos Pequenitos – não é o de Coimbra, do Bissaya Barreto, é este em que vamos sobrevivendo – isso não passa duma apetência – vaga. Lastimavelmente.

Não é caso virgem, recordo. Ainda recentemente, depois do Governo ter assinado com as organizações de classe dos professores um acordo que, ainda que provisório, poria fim, também transitório, à luta dos últimos e logo um grupo de mestres auto-proclamados independentes veio dizer que o dito entendimento não era para eles, porque não o reconheciam. Com Fenprof ou com… nada.

Greve selvagens são excrescências de um passado ditatorial e salazarento. No «Estado Novo» a greve era proibida. Donde, a necessidade de se enveredar por formas de luta grevista ilegalíssimas. Participei – e com alguma, pequena, responsabilidade – na greve estudantil de 1962 e, por isso, falo de experiência própria.



Mário Lino e Antram tinham chegado, ao fim de muitas reuniões e muitas horas, a um acordo que aparentemente punha fim à greve dos transportadores rodoviários de mercadorias. Mas foi necessário ouvir e convencer os mesmos para que findassem a paralisação do País. Que dizer mais desta cegada?

Ainda na quinta-feira fui esperar à Portela um amigo que vinha em voo directo de Viena para Lisboa. Directo, uma ova. Tiveram de parar em Barcelona, para… atestar o depósito. Estou a ver a cena: mire Usted, por favor. A llenar el depósito porqué en Lisboa no hay combustible o casi. Sin embargo, perdóneme por las molestias. Por supuesto. E, o catalão, recordando ao utente: Antenciò: no es permet fumar!...

Disseram as agências que o Executivo de José Sócrates preparava uma requisição civil. E – só? E a manutenção da ordem pública? E o exercício da autoridade democrática do Estado? E a liberdade de circulação? Revelo-me um autoritário? Um facho? António José Teixeira, jornalista de quem sou admirador confesso, não é autoritário, muto menos fascista. E, perante as câmaras da SIC, onde é Director de Informação, fez as mesmas perguntas.

Só me entristece saber que o inefável Portas igualmente o fez. Mas, o bom é inimigo declarado do óptimo. E, para terminar: no melhor pano cai a nódoa.

Também publicado em www.sorumbatico.blogspot.com

sexta-feira, junho 06, 2008




Cavaleiros
do Apocalipse-B


Há novos cavaleiros da desgraça
Que passam cavalgando sobre nós,
Anunciando alto e a uma só voz
Que o pássaro da morte já esvoaça;


Que paira sobre nós uma ameaça
De ver o terrorismo mais atroz
Cobrir com vento fétido e feroz
A pobre gente incrédula que passa.


As nuvens deslizando lentamente
Por sobre a humanidade ameaçada
Carregam ódio e raiva acumulada.


E a chuva que despejam mansamente
São lágrimas do céu molhando a terra
Carpindo o desespero que ela encerra.

12/07/2006 José Manuel P. Serra


Reencontro internético


Ontem mesmo recebi um mail de um cidadão que me dizia que tinha descoberto o meu endereço por meio de mensagem que uma amiga lhe enviara. E perguntava-me se eu era, por acaso, um vizinho dele quando miúdo, no Bairro do Restelo, e que tinha ido, pensava que comigo para a Faculdade de Direito. E, o descarado inquiria informaticamente - se eu era o Rico. Claro que era; claro que sou. Há quanto tempo não o encontrava. Penso que pouco falta para chegarmos a uma distância de quase meio séciulo.


Era, realmente, o José Manuel Pimentel Serra, cuja vivenda, quase em frente da minha, apenas tinha a rua Tristão da Cunha, o quintal das trazeiras dele e o jardim da frente do meu N.º 40. No resto, andavamos em liceus diferentes, mas tivemos a mesma ideia de nos metermos com os Códigos & correlativos. Temos a mesma idade e tivemos as mesmas esperanças e desilusões de juventude. Fomos para a tropa quase ao mesmo tempo. E, agora - a magia da Internet.




Já combinámos que amanhã nos abraçaremos na Feira do Livro, onde vou ter uma sessão de conversa sobre o me(a)u livro «Morte na Picada», mais autógrafos que, diga-se de passagem pode saldar-se num enorme flop. Explico: o horário dela é das 18:00 às 19:00. Boas horas, não fora o caso do Portugal-Turquia começar às... 19:45. Mas, alea jacta est. Ponto.


O Zé Manel, quem haveria de dizer, escreve versos. E mandou-me o que aqui fica com o prazer de o publicar e a alegria do reencontro informático. É um soneto, como já viram, e ele avisou-me no seu segundo mail (a tréplica da minha réplica, para nos lembrarmos da linguagem jurídica), que é mais para o clássico. É o que é, este compincha e tem mais do que direito a sê-lo. Mesmo que o poema fosse «desrimado», eu publicava-o. Nem é. Podem atestá-lo. O malandro (bom), se quiser, tem aqui espaço para continuar a «rimalhar». Ou para outros trotes. Tás'ouvir, ó Zé Manel Serra? Antunes Ferreira





terça-feira, junho 03, 2008

Alunos brasileiros

É triste, mas os textos em baixo são citações de alunos brasileiros no Exame Nacional do Ensino Médio, em 2006. E os comentários dos professores que corrigiram as provas vão de seguida entre parênteses. Também poderiam ser de estudantes de cá, mas - não são. E o dito Acourdo Hortugráfico? Não vem para aqui chamado? De todas as maneiras, tenho de agradecer ao Amigão Eduardo Salvado Pena esta contribuição para o Travessa. A.F.


O sero mano tem uma missão...
(A minha, por exemplo, é ter que ler isso!)


O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas..
(Levei uns minutos para identificar o El Niño...)

O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente .
(?)

Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.
(Faz sentido)



O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes.
(Achei que fosse a pesca dos pássaros.)

É um problema de muita gravidez.
(Com certeza. Se seu pai usasse camisinha, eu não lería isso!)

Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia
(Que pena! Também ursos e elefantes sumiram de lá.)

A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando
(Foi trazida nas caravelas, certo?)

O cerumano no mesmo tepo que constrói, também destrói, pois nós temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos.
(Não conte comigo)

Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais uns aos outros
(Com algumas diferenças básicas!!)

... provocando assim a desolamento de grandes expécies raras.
(é a depressão animal, né?)

Isso tudo é devido ao raios ultra-violentos que recebemos todo dia.
(Meu Deus! Haja pára-raio!)



Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu, o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo. No dia em que roubarem nosso céu, ficaremos todos sem bandeira.
(Ainda bem que temos aquela faixinha onde está escrito 'Ordem e Progresso'.)

... são formados pelas bacias esferográficas.
(Imagine bacias da BIC.)

Eu concordo em gênero e número igual.
(Eu discordo!)



O serigueiro tira borracha das árvores, mas não nunca derrubam as seringas.
(Estas podem ser derrubadas, porque são descartáveis)

A concentização é um fato esperansoso para todo território mundial..
(Haja coração!)

Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos.
(Que maravilha!)

segunda-feira, junho 02, 2008




A não perder com o Correio da Manhã
A Guerra
Colonial / do Ultramar / de Libertação


Antunes Ferreira
P
ara mim, o melhor programa televisivo sobre o tema. Ponto. Creio que vai ser muito difícil aparecer algo melhor. A RTP acertou no alvo. E de que maneira. Joaquim Furtado, seu Autor e Realizador – que também faz a locução - esgota o assunto. Excelentemente. A esta verdadeira reportagem/documento é difícil colocar adjectivos especiais. Eles estão todos lá e outra coisa não seria de esperar. Não sou fundamentalista, muito longe disso.
Mas o meu Amigo Joaquim Furtado demonstra, com este primoroso trabalho, que não tem igual no espaço jornalístico-televisivo.

Por algum motivo tive a honra de o convidar para apresentar o meu livro «Morte na Picada». E o prazer de ele ter correspondido ao meu pedido. Fez um trabalho tão interessante, tão documentado, tão brilhante – que eu fiquei «envergonhado» com o que de mim e da obra disse. De tal forma que até lhe chamei Joaquim… Letria, no meu agradecimento. O que ele, «magnânimo», me perdoou. Por conseguinte, permito-me «plagiá-los» a propósito da sua série de programas. Que, felizmente, continua.

Por tudo isso, aqui anoto mais esta iniciativa do matutino de grande informação (neste segmento é o jornal de maior tiragem em Portugal) da Cofina. Está a inserir semanalmente, um DVD que é o registo da primeira série de programas. O êxito da apresentação televisiva reflecte-se no que registam os DVD.

vão adiantados. Mas, os anteriores podem ser adquiridos, penso, através de pedidos ao jornal. Já abaixo escrevi que o CM não me paga por este escrito. Eu faço-o com muito satisfação e com muito respeito pela obra e pelo Furtado.


Correio da Manhã está a publicar
Os Anos de Salazar


Antunes Ferreira
O «Correio da Manhã» está integrar semanalmente nas suas edições dois documentos excelentes. E a preços realmente módicos, atendendo sobretudo à categoria deles. Aqui se aponta o primeiro, para que quem assim o entender possa coleccioná-lo. O segundo tem outra nota, já de seguida.

A colecção OS ANOS DE SALAZAR tem como editor-coordenador Afonso Simões do Paço, do qual não se torna necessário fazer a biografia. Mesmo assim, registo que foi editor da revista História (2001) e autor da biografia Salazar (2006). Coordenou a edição e tradução de mais de uma dezena de obras de história. Esta colecção, que tem 30 volumes, já vai no 14.º.

Com uma colaboração excelente, onde se notam as apreciações tão isentas quanto possível e objectivas, bem como o lugar dos diversos autores no quadro político – cada vez mais estou convencido de que não há «independentes» - a obra tem documentação fotográfica e, portanto, documental, que é do melhor e mais completo que tenho visto. Trata-se de um retrato muito bem feito do que foi o «Estado Novo», suas misérias e suas grandezas.

O «Correio da Manhã» (que não me paga esta referência…) está de parabéns. Por mim, vou continuar a coleccionar.