sexta-feira, abril 21, 2006

Um Código policial


Antunes Ferreira
Ando, uma vez mais, à volta do Código Da Vinci. Que me impressionou suficientemente aquando da primeira visita que lhe fiz para o ler supersonicamente. Mais tarde, passados uns tempos, voltei às páginas da autoria de mister Dan Brown, buscando, em linhas diagonais, o que mais me impressionara no contacto inicial. Depois, saltitei entre capítulos e parágrafos, em busca de afirmações mais controversas que originaram as miríades de críticas que foram produzidas. Agora, calmamente, ou, pelo menos tanto quanto possível, ando a mastigar o romance. E a rumina-lo.

Ainda que o maestro Umberto Eco tenha vindo a terreiro apostrofar o anticristo made in USA – aliás acompanhado de muitos outros cidadãos impolutos e qualificados – persisto em gostar muito do livro. Como policial, antes do mais, Como repositório de estilo, está bem escrito, como está bem traduzido (já fiz umas incursões pelo english original). Como entretenimento é quase incontornável.

Se assenta em verdades históricas ou não, isso são outras contas de outro rosário que não me fariam grande mossa se as fizesse correr entre os dedos, caso fosse crente. E como já fui – mas curei-me... – daí penso não vir grande mal ao Mundo. É uma obra de ficção (e de fixação), um romance. Esotérico, como se pode constatar. Perante isso e os factos, para mim, está tudo dito.

Já as afirmações do senhor Brown a este respeito não me agradam muito, nomeadamente na nota que antecede o texto. Se reivindica, como o faz, a certeza científica do que pariu, fico descorçoado. Não habia nechechidade, digo, ainda que plagiando o bacoco cónego Remédios. Como é sabido, no melhor pano cai a nódoa. E destas, algumas há que não desaparecem, por mais que sejam borrifadas com o spray que não deixa auréolas.

A Igreja Católica que, primeiro, tentou passar por cima da obra, deu-se conta do verdadeiro tsunami que ela causou. Em causa estava e está uma organização que tem suscitado desde que José Maria Escrivá a criou, uma controvérsia permanente que está cada vez mais longe de terminar. A Opus Dei. Mas, perante os mais de 60 milhões de exemplares que já se venderam, cuidado. O Santo Ofício, Torquemada, a tortura e os mais de dez milhões de executados já foram. Mas o medo da heresia ficou.

Por conseguinte, em Março do ano passado,a Santa Sé promoveu um seminário em Roma para desmontar alegados «erros e distorções» existentes no romance maldito. E aos microfones da Rádio Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, arcebispo de Génova - um dos mais férreos guardiões da «pureza» da fé católica – exortou, veemente: «Não leiam nem comprem o Código Da Vinci!!!»

Há quem considere a Ordem tout court, como os seus próprios membros gostam de a chamar, um Estado dentro do Estado. O simbólico Vaticano é tão pequeno que não comporta uma situação dessas, dizem, aparentemente convictos e tentando convencer, os católicos mais elitistas e, como tal, mais importantes. Dentre eles, os legalistas afirmam que a figura jurídico-constitucional não existe, é apenas uma efabulação para caricaturar algumas coisas que o mereçam. E acrescentam que o Direito Canónico também não contempla situação tão aberrante.

Naturalmente que é o que lhes compete fazer. Noblesse oblige. Não deixa, porém, de ser uma verdade que a Opus tem posições verdadeiramente imperiais em muitos casos e em muitas instituições, nomeadamente nas dos círculos financeiros. E como quem tem o dinheiro é que detém o verdadeiro poder...

Dan Brown sabia no ninho de víboras em que se metia quando começou a construir o esqueleto do seu livro. No entanto, seguiu em frente. Ter-se-ia apercebido do cataclismo que iria originar? Ter-se-ia embriagado perante os milhões que poderia ir embolsar? Penso que estes dois componentes sobrelevaram nele a «cruzada» contra a maçonaria sagrada.

Este é, tão só, um pequeno apontamento, apaixonado, de um romance pelo qual me... apaixonei. Por isso não é uma crítica. Imparcialidade, isenção, distanciamento não couberam nestas linhas. O Tribunal da Santa Inquisição condenar-me-ia à fogueira. Felizmente que até já presidi ao Bombeiro do Ano. Numa organização, que era habitual, do Diário de Notícias. Há fotos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se gostaste de ler o livro " Da Vinci CODE" , vais certamente ser conquistado por um outro livro de Dan Brown, isto é, pelo romance " Anges & Démons". É certo que se trata de romances e portanto de obras de imaginaçao. No entanto...toda a obra de imaginaçao tem como base uma tela que, ela, é real.
Abraços
FLBandeira