segunda-feira, setembro 04, 2006





SUSPIROS DE BANGUECOQUE

Muito se engana
quem cuida!

José Martins (Correspondente)
V
ocês sabem lá! (Para os que se lembram, não plagiei a Maria Fátima Bravo…) Quantas memórias eu tenho, para contar, no já longo período que vivo no «País do Sorrisos». Quase 30 anos… Meu Deus, como a nossa vida corre no tempo e a mocidade parte num ápice. Não vou, porém, chorar e encharcar lenços de lágrimas. Quem andou (dizem) que não está para caminhar. Eu ainda caminho e ainda deito os «olhinhos de carneiro mal morto» à bela que se cruza comigo…

Esta cidade, a dos anjos, aonde aterrei, pela primeira vez, há 29 anos, fascinou-me! E por cá fiquei e me adaptei, formidavelmente, aos olhos amendoados. Segui a linha do Fernão Mendes Pinto; meti a sua personagem dentro de mim. Não corri Seca e Meca; não pirateei no Golfo do Sião, com o António Faria; não cheguei ao Japão e nunca fui vendido como o Pinto.

Histórias, tenho uma nau carregada delas. Lidei com muita gente e quase toda de bem. No princípio da década de 90 do século passado, e quando em Macau ainda medrava a «Árvore das Patacas» (que produzia excelentes frutos…), tinha uns amigos que nos fins de semana viajavam até a Banguecoque. Note-se que eles não vinham até aqui pelos meus lindos olhos.

Era, sim, pela magia que esta cidade encerra, onde, mesmo sem terem bebido a água de coco, depois de a visitar a primeira vez, desejam voltar sempre. O meu amigo Canelas (não é o nome real) vinha amiudadas vezes a Banguecoque. Porem, não andava de amores com nenhuma «beldade». Era de todas e não era de nenhuma.

Ou melhor, um valdevinos que me dizia, sem saber que repetia o Jorge Amado, «ser impossível dormir com as mulheres todas do Universo mas que se devia fazer um pequeno esforço...». O Canelas já era cria de uns cinquenta e tais anos, careca de quase à nascença e as raparigas dos bares engraçavam com a sua cabeça limpinha de pelo e gostavam de lha beijar.

O ditado é dos carecas é que elas gostam mais está vivo em Banguecoque! Numa das noites, e na volta dos «machos alegres» pelas travessas dos prazeres, entramos num bar o «Crazy Horse» da «Soi Cowboys», para os lados da Sukumvit. Junto ao balcão, num tablado, dançava à go-go uma meia dúzia de raparigas.
Uma delas dispara do tablado e cai nos braços do Canelas; e ao mesmo tempo carimba-lhe a careca com os lábios. O nosso homem estava felicíssimo; só que eu fazia esforço para conter o riso dado às marcas dos lábios da rapariga na cabeça pelada. Aquela malandreca era useira e vezeira no carimbar das carecas dos clientes do «Crazy Horse».

Só mais tarde e quando se viu mirado num espelho é que o Canelas com um lenço retirou aquelas printes de beijocas, vergonhosas, do alto do cocuruto luzidio. Ora então. Quando dois pândegos vagueiam durante a noite banguecoquiana são espécies de macacos em cima de árvore que querem sentar-se em todos os galhos. A noite ainda era uma criancinha e seria necessário fazê-la crescer. Lá pela madrugada estaria grandinha, depois de emborcada uma dúzia de garrafas pequenas de cerveja Closter. Pouco alcoólica e excelente para uma lavagem à bexiga.

Seriam umas 11 da noite, cedo ainda para se cair no abismo paradisíaco subimos as escadas exteriores até ao primeiro andar do «Bar Cleópatra», do meu velho amigo Vinai também proprietário do famoso «King Castle» na travessa do Paptong. A meia dúzia de cervejolas que já tinha emborcado fizeram com que eu tivesse que ir vertê-la. Normal e natural.

O Canelas ficou sentado num patamar elevado de onde via dançar as Cleópatras num estrado erguido no centro do balcão em forma oval, vestidas a rigor, iguaizinhas como aquelas que se viram, num filme, com o nome da insaciável e devoradora de homens a Rainha do Egipto. Quando regressei da «xixidela» não vi o gajo.

Olhei à minha volta e encontrei-o, sentado a um canto, acompanhado de uma beldade. Dirigi-me para lá e sentei-me. Não me intrometi no idílio de dois amorosos à primeira vista… Deixá-los lá desfrutar o amor que bem me parecia não ser traiçoeiro mas sim real. Entretanto, entre os beijinhos a namorada do Canecas proferiu uma palavra…

Que estranho, pensei, esta voz não é feminina… Procurei em bom português tentar apagar, dentro dele, aquela chama de amor ardente que se lhe notava e aumentava. Ó Canelas, vê se tomas juízo há ali no tablado raparigas lindíssimas, porque estás assim de amores com esta? E respondeu-me: Olha, Zé, gosto dela porque tem as carnes durinhas…. Acto contínuo pediu-me para o levar ao hotel. Obedeci ao Canelas.

No dia seguinte, sábado, tinha combinado darmos um passeio e almoçarmos. Às nove da manhã fui buscar o meu amigo ao hotel. A porta do quarto estava entreaberta pois o criado assim a tinha deixado depois de lhe levar o pequeno-almoço.

Espreitei pela talada da porta e vejo o Canelas sentado na borda da cama a falar sozinho. Entrei e perguntei-lhe: “Ó Canelas que tal a noitada”! com uma cara mais do que fod…, respondeu-me: «Porra, porra era um homem!!!!!!!!!!»

3 comentários:

Anónimo disse...

Bom, mais um correspondente, a desanimar o comentador da treta que, a propósito da Cláudia Sofia escreveu que não haveria mais nenhum. O homem enganou-se, o que acontece. Só conheço um que nunca se enganava, o Prof. Cavaco Silva quando era Primeiro-Ministro. Hoje em Belem se calhar não é bem assim.
Para o senhor do comentário: um pontapé no trazeiro. Para o AF: muito bem. Continue com o blog que está óptimo

Anónimo disse...

Senhor Dr. Antunes Ferreira
Desculpe, mas esqueci-me de assinar, pois não sou nem nuca fui nem serei anónimo que para mim é igual a cobarde!E volto a repetir: o seu blog está óptimo!

Anónimo disse...

Ó meu Caro Gabriel e Senhor:
Gostei da sua frase em relação ao esquecimento do nome...
Farto-me de dizer isso às pessoas, mas muitas há que só a coberto do ano9nimato é aue são capazes de "endireitar" a coisa...
hc