domingo, junho 04, 2006





A FOICE

Adeus, Raul

Morreu Raul Indipwo. Os media continuaram a usar a expressão calina «vítima de doença prolongada.» E, pelos vistos farão assim, por muitos anos e… maus. Resquícios dos tempos da Censura, quem sabe? Também era proibido usar o termo suicídio e os benfiquistas eram encarnados. Vermelhos? Nunca. Vermelhos eram os outros, os mafarricos, os comunas. Para além do registo que aqui se faz, fica também o sentimento de ver partir um Amigo, aos 72 anos. Repousa em Paz, Raul.


Natural de Angola e há muitos anos residente em Portugal, Raul José Aires Corte Peres Cruz, de seu nome completo, formou o Duo Ouro Negro, em 1959, com o também já falecido Milo MacMahon, igualmente angolano. Após uma apresentação no Cinema Roma, em Lisboa, a gravação de três discos e o regresso a Angola. Por puco tempo. Lisboa e o Mundo esperavam por ele. o Duo Ouro Negro começou a ter uma expressão internacional, com actuações no espaço de um ano na Suíça, França, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Espanha e Portugal. O grupo vai adquirindo uma notoriedade que já ultrapassa o âmbito nacional.

Um ponto alto da sua carreira: eles actuam em 1967 no Olympia e no Alhambra, em Paris. E ainda nesse ano obtêm um enorme sucesso na Sala Garnier da Ópera de Monte Carlo, perante os Príncipes do Mónaco. Em Lisboa, já os dois angolanos tinham lançado, em 1965, o kwela (uma dança ritual africana), que seria considerado o ritmo de Verão do ano.

Em 1968, conquistam o Canadá e os Estados Unidos, chegando mesmo a actuar no Waldorf Astoria, um dos hotéis até hoje mais conhecidos de Nova Iorque. Mais tarde, o grupo foi até à América Latina e ao Japão, tendo chegado, já nos anos 70, à Austrália.

Com a morte de Milo MacMahon, no final da década de 80, a carreira do Duo Negro, que se notabilizou com músicas como «Maria Rita» ou «Vou Levar-te Comigo», termina. Seguir-se-á uma carreira a solo de Raul, que organizou o seu próprio grupo de danças e cantares angolanos. Ao mesmo tempo, Indipwo abraçava, cada vez mais, a pintura. Onde o seu talento começou a ser notado igualmente. E reconhecido, o que muitas vezes não acontece. E agora a Morte «levou-te com ela.»
A.F.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu querido Raul

Conheci em Benguela, já lá vão uns anos, 1995? uma primita tua que me disse que gostava muito de ti porque tu eras muito bom para os meninos e as meninas. Não me recordo do nome dela, Madalena, talvez.
Tu já não tinhas o Milo, o Ouro Negro já tinha acabado, aiuéé, e tinhas um grupo grande de gente a acompanhar-te. Gente bonita. Como tu.
Lembraste que nos conhecemos em Luanda, numa exposição da tua pintura? Ficàmos amigos, porque era fácil fazê-lo.
Ontem ouvi na rádio a notícia. Chorei, chorei muito com a desgraça que todos sentimos. Mas tu não morreste, viverás sempre nos nossos corações. A Benedita Chingua disse-me que aqui tinha esse blog. Pois aqui ficam as minhas lágrimas e a minha saudade. Até breve, querido