terça-feira, junho 06, 2006



REGISTO

Olá Zé Medeiros Ferreira

Antunes Ferreira
Na sua edição de ontem o Diário de Noticias traz na secção de opinião a habitual coluna do meu grande e «velho» Amigo José Medeiros Ferreira. Há uns largos tempos que não nos encontramos – o que é uma pena, no meu modesto entender – mas, agora, reparei num pormenor que me deixou realmente contente. O madeirense/açoriano (sabiam? Se não, tomem nota porque é verdade…) tem o seu mail impresso à frente do nome. É, portanto, tiro e queda.

Por um lado, e porque concordo uma vez mais com o meu camarada Medeiros Ferreira, aqui te deixo, Zé, um abração e a minha admiração pelo teu texto. Os pseudoanalistas que por aí pululam deveriam ser aconselhados por quem de direito – para não dizer obrigados… - a ler o artigo de fio a pavio, parando mesmo nas vírgulas. Depois, degluti-lo-iam. Estas tuas linhas necessitam de um tubo digestivo a preceito. São de muito alimento e não é qualquer que as aprecia no palato intelectual e nas papilas culturais. Para não falar do tacto… político.

Por outro, fico satisfeito ao cubo por ter sido o «meu» Diário de Notícias a inserir uma prosa tão importante. Muitas que tu pares, Zé, o são também. Mas esta, oportuna, esclarecida e incisiva, deu-me na mouche. Não é que outras me dessem outro sabor. Desde os tempos do «nosso» Portugal Socialista de 1974/5/6 e… que me delicio com o que escreves e me faz recordar a «nossa também» greve académica de 62. No entanto, esta… Por isso, o meu muito obrigado.

Daí que, independentemente do mail que te mando com este agradecimento e com a Amizade de sempre, aqui declaro sub legis libertas que publico o teu texto (excelente) no meu blog travessadoferreira.blogspot.com. Nele vou matando a fome de escrever, já que nas colunas dos media escritos não me dão acolhimento por ser «muito velho, ultrapassado e fora de moda.»

Não peço autorização ao «meu» DN que voltei a ler com atenção e agrado, depois de a sua nova Direcção o ter assumido na plenitude. É, de novo, um grande jornal. Conheço de passagem o António José Teixeira. Bravo. Conheço mal o Eduardo Dâmaso. Parabéns. Mas, essa sim, conheço muito bem e gosto muito da «minha» antiga estagiária Helena Garrido que continua a ser para mim a Leninha – com grande qualidade e apurado faro jornalístico. Óptimo.

Faço-o consciente de que o não devia fazer, deontologicamente. Mas o DN é, ainda, um pouco de mim, da minha juventude, do meu amor à escrita, do meu destemor na paginação, das minhas entrevistas, da minha opinião e, sobretudo das minhas reportagens por esse Mundo fora. Daí que, com o que creio ser o aval do quotidiano onde deixei bastante de mim – transcreva no meu humilde blog o Artigo, sem mais adjectivos, do José Medeiros Ferreira.



Sobre o alarmismo social


José Medeiros Ferreira jmedeirosf@clix.pt
Professor universitário

Os nossos cientistas económicos e sociais deviam ler os livros dos profetas inseridos na Bíblia para entenderem bem o seu papel quando fazem estimativas e projecções. Há profetas para todos os gostos: desde os pessimistas Isaías e Jeremias, aos exilados esperançosos como Ezequiel e Daniel.

"Profetas desarmados", na florentina expressão de Maquiavel, só existem na altura em que a profecia é anunciada, e desaparecem de qualquer responsabilidade política e comunitária quando esta se revela errada ou não se cumpre. E como recomendam sempre muita "penitência", à guisa de remédio e salvação, podem defender-se com os resultados dessas medidas punitivas. E estas, umas vezes dão resultado, outras não. Ser profeta da desgraça tornou-se chique no Portugal dos salões televisivos e dos fóruns radiofónicos. Bocas cheias de gafanhotos é o que não falta.

Desde que a direita, através da coligação PSD-CDS, perdeu as eleições legislativas em Fevereiro de 2005 que o muro das lamentações está concorrido. Porém, a partir das últimas presidenciais, o coro dos que exigem medidas radicais aumenta. E se algum naipe está mais silencioso logo acorrem os corifeus a levantar-lhes a voz e a enquadrá-los no tom tremendista que há-de abater as muralhas de Jerusalém. Daquilo que me é dado observar, há quem tome a complacente Constituição por a fonte de todos os males e sobre ela orquestre as trombetas de Jericó. Uma coisa é certa: há quem pense ser possível a subversão do regime e o diga.

As previsões que nos apresentam podem ser contraditórias mas são quase todas catastrofistas: ora é a massa salarial da função pública que é insustentável em termos de despesa ora são os diversos fundos de pensões que, após terem recebido durante algumas dezenas de anos os contributos dos que agora passam à reforma, parecem ter preguiçado nas aplicações e olham para a rarefeita geração vindoura, contando com desespero os tostões que hão-de chegar. Tanto se empurram os funcionários para a reforma e para a disponibilidade, como se pretende estender o curso da sua vida activa, agora para os 67, amanhã para os 70 anos.

Porém, logo outros mais inclinados para a tenra idade e para a inovação acham que a renovação se faz pela transfusão das gerações. E vedam o emprego aos maiores de 50 anos. Todos empolgados nas suas certezas.

Há meios de comunicação social que apresentam listas de nomes de gente reformada com maior ou menor causa de escândalo. No outro dia, um septuagenário entradote até apelou aos jovens para boicotarem a caixa de aposentações. Imaginei logo os mais velhos a deixarem de sair de casa e a bendizerem a inovação do NIB interbancário que lhes permite imaterializar o circuito dos seus rendimentos fixos! E já os vejo, trôpegos, a correrem (informaticamente!) para a bolsa de valores a comprar e a vender papel neste país arruinado em quase tudo menos em acções, em OPA e em grandes negócios…

Reparo que alguma esperança se podia deixar entrar pela janela entreaberta da juventude operosa, mas só que há entre nós peritos de educação mais radicais do que os funcionários da tão bem apetrechada estatística da OCDE. Sendo contra os especialistas em instrução, esses Jeremias provêm das ciências reveladas. Como pergunta serenamente Maria Emília Brederode no blogue www.inquietacoespedagogicas: "Que dizer de um ensino selectivo e elitista que só conseguiu produzir estas mentalidades simplistas e bárbaras?", referindo-se obviamente aos opinativos formados na escola salazarista. E como aí também se escreve ,"o ambiente é de guerra civil opinativa".

Está, de facto, a criar-se um clima de tensão entre os grupos socioprofissionais e etários em Portugal como se não verificava desde os anos 70.

Os focos de incêndio social são ateados um pouco por todo o lado, e há quem considere haver neste momento no País condições políticas para fazer frente às labaredas que se assopram. E tanto se atacam os idosos aposentados como "sanguessugas sociais" na melhor tradição maoísta da revolução cultural, como se descrê de uma juventude demasiado habituada a facilidades, num mundo que deve permanecer "um vale de lágrimas". Descobrir na pirâmide demográfica um degrau onde apoiar o futuro sem que ele se esboroe é tarefa microscópica!

Ainda há poucos anos o País exultava, desmedido, com a Expo'98 e pulava de branco por Timor. Hoje rasgamos as vestes.

Construímos um Portugal ciclotímico.

(In DN 2006/06/06)

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei. Quer do texto do senhor professor Medeiros Ferreira, quer da introduçao do senhor doutor Antunes Ferreira. Muitos parabens.

Anónimo disse...

Ao contrário do sr. Dias, acho isto mau. Os amigos dos amigos a elogiarem os amigos. Isto é uma palhaçada e ilustra bem o estado a que este nosso Portugal chegou. Já não bastava o vendilhão Mário Soares e, agora, aind vêm mais estes xuxas... Péssimo.

Anónimo disse...

Estou espantado porque o Medeiros Ferreira que manda um olho para um lado e outro para o outro ainda não agradeceu ao «camarada» Ferreira. Ou será «comissário»? Se calhar, com escritos como este já foi promovido...