Raio de País
Antunes Ferreira
Raio de País este. Das três grandes notícias de hoje, duas já aconteceram, uma está para. Duas são futebolísticas, a outra, política. Duas fazem mover multidões e despertar o interesse de milhões de cidadãos: as do futebol; a da política sai como que a medo, pressupondo a indiferença que a rodeará. É assim que vamos vivendo. Ou melhor – sobrevivendo.
O futebol é uma ciclópica obra por todo o orbe terráqueo. E com o Mundial na Alemanha à porta, então é que são elas. A divulgação das listas dos convocados para integrarem as selecções concorrentes tornou-se, assim, um dos maiores acontecimentos, senão mesmo o maior por todo este planeta azul.
E por azul. A segunda grande notícia do futebol indígena é a dobradinha à moda do Porto. Desta feita sem grande conotação gastronómica, ainda que originando trocadilho, arte em que somos, nós os portugas, mestres. Enquanto em mil e uma coisas (quase diria quase todas...) continuamos a ser o cu da Europa, nos trocadilhos arriscamo-nos a ser ou os primeiros, ou dos primeiros. Trocadilho e desenrascanço são palavras nacionais e, o que é mais grave, nacionalistas.
O Futebol Clube do Porto veio, ontem a meio da tarde, ao Jamor, conquistar a Taça de Portugal, em detrimento do Vitória de Setúbal. Já vencedores da SuperLiga (a tal do patrocínio da empresa de apostas televisivas que parecem ilegais, pelo menos por cá), os Dragões levaram, desta feita, para a Cidade Invicta o troféu que Cavaco Silva lhes entregou, como mandam os cânones.
A festa voltou às ruas, nomeadamente à chamada Marginal junto do Estádio portista. Milhares de pessoas – devidamente ornamentadas a azul e branco - pularam, bailaram, cantaram e berraram slogans, alguns bem pouco edificantes. As rimas de conduta, orvalho, comilona e calções foram gritadas até à exaustão. Sabe-se que é prática portuense, a utilização, frase sim, frase sim, de palavrões.
O azul está na moda
Entendamo-nos. O fenómeno não é apenas caseiro. Na circunspecta (???) Londres, os blues invadiram as artérias para entoar cânticos de glória ao Chelsea bicampeão, e sobretudo ao José Mourinho, hoje por hoje o melhor representante de Portugal na Terra. E, quem sabe, talvez na Lua e em Marte, pelo menos. Mas, com o mal dos outros, pode a gente bem.
Para não fugirmos à onda do Alemanha 2006, a expectativa irá desvanecer-se por volta das 20 horas TMG. Será então que o seleccionador nacional dará conta dos 23 por si eleitos para serem os protagonistas portugueses de equipamento vermelho escuro, sublinhado timidamente a verde.
Os nomes dos escolhidos estão quase certos. De resto, um diário desportivo da nossa praça, o Record, já publicou a lista, ainda que sem confirmação oficial. Mas o Sargentão não costuma fazer muitas novidades. E, por mais que os analistas, os comentadores, os especialistas, os técnicos, os dirigentes, enfim os treinadores de bancada que todos somos, se tenham já erguido para apostrofar o brasileiro – ainda assim há uns resquícios de esperança que...
Para já, a polémica alimenta-se dos seleccionados para o Europeu de sub-21 que decorre intramuros. Bastou que se azedasse o já de si pouco amistoso relacionamento entre Solaria e Agostinho Oliveira, para o pessoal se enchesse de brios e vituperasse o chefe, como a si próprio se qualifica o sôr Luís Felipe, assim, com e. Ai dele, se as coisas correm para a banda do torto.
A quebra da confiança
Ora bem, para o fim ficou a outra. A queda do Governo Sócrates na confiança dos nossos concidadãos. Uma quebra acentuada, publica o Correio da Manhã, que promoveu uma sondagem tendo como parceiro a Aximage. De acordo com ela, 44,3 por cento dos inquiridos considera que o Executivo está a governar pior do que esperava.
Os ministros, tal como o líder, também caem, na opinião dos interrogados. A época vai mal para o Poder. É a reforma da Segurança Social que, ainda que imprescindível, ameaça muita gente, a maioria dela ainda sem saber exactamente porquê. É o encerramento das maternidades que motiva reacções em cadeia um pouco por todo o País. É o diabo. Note-se, porém. O impacto na opinião pública é despiciendo. Todos estão muito mais preocupados com os nomes da selecção.
Renova-se, porém e entretanto, a observação inicial. Que esta é uma trampa duma terra, já é afirmação comummente aceite. Que, para nós, o futebol tem uma dimensão e as correspondentes medidas que a enformam, também não é novidade. Que, por outro lado, a política e, principalmente, os políticos andam pelas ruas da amargura tampouco é inédito.
Somos o que somos. Valemos o que valemos. O Salazar já dizia que o pior mal que podia acontecer em Portugal era os políticos. Daí a decisão unívoca de os capar. Ninguém pretende que assim aconteça, agora, longe vá o agouro. Porém, desde os tempos do Sertório que, no entender do romano, este era um povo que nem se governava, nem se deixava governar. É um tanto como escreveu Stefan Zweig: «O Brasil é o país do futuro.» Anátema que não há meio de ser ultrapassado.
Veja-se o que está acontecendo, nomeadamente em São Paulo: a caça aos polícias. Por mor dos políticos, arguiu-se. Por cá, nada; políticos - por mal dos nossos pecados.
segunda-feira, maio 15, 2006
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1 comentário:
Salazar acabou por nao capar todos os que devia...!!!
Faltas-te tu AF
Já li uns poucos de arigos e de uma maneira ou de outra acabas sempre por bater na mesma tecla... SALAZAR..!!
Porque será?
Nao estou a defender a pessoa em questao, mas já te deste ao trabalho de olhar para o país em que estás inserido? Que raio fizeram os teus sucias?
Para que bem contribuiram eles?
Ganhas bem onde estás? Olha, eu nao ganho e fartei-me de estudar, dou ao litro até mais nao e nao consigo fugir aos impostos, nem estar sentado numa cadeira o dia inteiro com pouco ou nada a fazer, e nem por isso escrevo baboseiras.
Será da idade?
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