terça-feira, maio 16, 2006

Fado…foi
Fado…é…
Fado…será...sempre Fado



São, cantora portuguesa de Montreal (Quebeque – Canadá)


...
O Fado, nasceu um dia,
Quendo o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro,
Que estando triste,cantava,
Que estando triste, cantava.
...

(José Régio)

O poema que a seguir apresento representa a minha modesta contribuição para o Fado. Tem como título «Que bem que o meu povo canta», mas também o poderia chamar de «O Fado...fora de portas», na medida em que a nossa canção nacional é exprimida pelos cantores da diáspora portuguesa com o mesmo carinho, a mesma efusão e a mesma paixão dos outros que residem em terras de Portugal.
Emigrantes, ansiosos de escapar ao «fatalismo» que é fundamental na própria essência do Fado, fizeram-se ao mar rumando para países novos, de costumes, de língua e de leis diferentes, almejando reconstruir nova vida, melhor futuro para si, e para os filhos.
Na bagagem, na maior parte das vezes parca em bens materiais, levavam contudo um avultado cofre no plano sentimental, cheinho daquela palavra que os portugueses criaram, e que só os portugueses entendem: Saudade. E que melhor maneira existe de exprimir essa Saudade que não seja através da sua expressão musical, nas notas utilizadas para compôr o Fado?
Amante do Fado que sou, e emigrante em terras canadianas que também sou, quis deixar, no poema que segue, uma alusão ao cantar do Fado fora de Portugal, num reconhecimento por todos os artistas - porque o são legítima e inequivocamente – masculinos ou femininos, que mantêm viva, e vibrante, a nossa canção nacional em terras distantes daquele jardim à beira-mar plantado. Bem hajam!


Que bem que o meu povo canta

Ai que bem que o meu povo canta!
Vestido de fadista ou de estudante,
Em terras do Funchal ou de Emigrante,
Na amurada dum navio, ou à luz vacilante,
De velas num salão de restaurante,
Ai, que bem que o meu povo canta!

Com voz de saudade, ai tanta! tanta!
Pungente, no soluço do amante,
No grito do ciúme lancinante,
Vibrante, na alegria esfusiante
Dum enlace ansiado, mas distante,
Que bem, que bem que o meu povo canta!

Maior ou menor, ou ainda à porfia,
Marialva, fidalgo, faminto, brigão,
Em tons de vitória ou de desolação,
A cavalo, com garbo, ou capote na mão,
Visceral, gutural, alegre ou chorão,
O cantar do meu povo é vida, é magia!

Com o tanger da guitarra, trinada, chorada,
Fiel companheira que realça a expressão,
Que apoia, introduz e prolonga a unção
Da sina cantada com tal emoção,
Que a alma dilata e eleva o coração.
A voz do meu povo é sereia encantada.

Castiço, antigo, moderno, bairrista,
Erudito, do vulgo, distinto, ou rufia,
No sol do Outono, em Primavera fria,
Em terras boreais ou nas do Meio-dia,
Na poderosa língua da lusofonia,
Como o meu povo sabe dizer: "É fadista!"

De costumes brandos e trabalho honrado,
Serrano ou ilhéu, com o mar a seu lado,
Com alma de Fé, pelo mundo espalhado,
Diáspora vibrante, e o berço ansiado,
Cidadão do mundo por ele desvendado,
Ai, que bem que o meu povo canta o Fado!

@Armando Fernandes
Châteauguay, Abril de 2002

1 comentário:

Anónimo disse...

Vivó fado! O fado é quinduca, o vinho é quinstroi! Esse cunhado Armando é uma boa prenda. Está por lá a ganhar umas croas largas e ainda dá bafos sobre o fado. Que sabe ele de fado? E faz versos... E a malta que o ature. Vá mas é plantar nabiças, que só lhe fazem bem