segunda-feira, maio 22, 2006

Camões e Luandino

Antunes Ferreira
Corolário de uma obra que abriu novos caminhos da escrita na Literatura Portuguesa, José Luandino Vieira foi distinguido na sexta-feira passada com o Prémio Camões 2006. Tornou-se assim, aos 71 anos de idade, o terceiro autor africano honrado com este galardão, depois do moçambicano José Craveirinha (1991) e do angolano Pepetela, em 1997. O prémio foi criada em 1988 pelos governos de Portugal e Brasil, no valor de cem mil euros, para enaltecer um escritor cuja obra tenha contribuído para o enriquecimento cultural em português, e é a mais importante distinção literária da lusofonia.

Desde 1989 já foram distinguidos oito escritores portugueses, sete brasileiros e três africanos. A saber: 1989 - Miguel Torga (Portugal); 1990 - João Cabral de Melo Neto (Brasil); 1991 - José Craveirinha (Moçambique); 1992 - Vergílio Ferreira (Portugal); 1993 - Rachel de Queiroz (Brasil); 1994 - Jorge Amado (Brasil); 1995 - José Saramago (Portugal); 1996 - Eduardo Lourenço (Portugal); 1997 - "Pepetela" Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, (Angola); 1998 - António Cândido (Brasil); 1999 - Sophia de Mello Breyner (Portugal); 2000 - Autran Dourado (Brasil); 2001 - Eugénio de Andrade (Portugal); 2002 - Maria Velho da Costa (Portugal); 2003 - Rubem Fonseca (Brasil); 2004 - Agustina Bessa-Luís (Portugal) e 2005 - Lygia Fagundes Telles (Brasil).

José Vieira Mateus da Graça nasceu em Vila Nova de Ourém, a 4 de Maio de 1935. Foi para Angola aos três anos de idade na companhia de seus pais que eram colonos portugueses. Foi preso em 1959. Voltou a ser preso em 1961 e condenado a 14 anos de reclusão. Solto em 1972, fixou residência em Lisboa, onde trabalhou numa editora. Regressou a Luanda em 1975. Desempenhou diversos cargos directivos no MPLA. Foi Presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. A sua obra de ficção tem sido muito premiada. A sua obra, que originou a sua prisão e projecção mundial, explorou com raro génio literário o calão vernácula nos então bairros indígenas de Luanda, vulgo musseques.

Angolano por opção

Por opção decidiu-se por ser cidadão angolano; pela sua participação no movimento de libertação angolano escolheu o nome de Luandino como homenagem a Luanda e contribuiu para o nascimento da República Popular de Angola. Fez os estudos primários e o Liceu em Luanda, tornando-se depois gerente comercial para garantir o sustento.

Acusado de ligações políticas com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) foi preso em 1959 pela PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), no âmbito do que ficou conhecido como "processo dos 50". Em 1961 voltou a ser preso pela PIDE, tendo sido condenado a 14 anos de prisão e a medidas de segurança. Em 1964 foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde passou oito anos, tendo sido libertada em 1972, em regime de residência vigiada, passando a viver em Lisboa. Em 1975 volta a Luanda onde passa a viver.

O júri que atribuiu o Prémio este ano foi constituído por Agustina Bessa-Luís (Portugal), Francisco Noa (Moçambique), Ivan Junqueira (Brasil), Paula Morão (Portugal), José Eduardo Agualusa (Angola) e Evanildo Bechara (Brasil). Apenas foi conhecida a deliberação, diversas individualidades pronunciaram-se sobre ela, a maioria das quais se congratulou com o verificado. Ao acaso, respiga-se, apenas, aqui, a opinião da escritora Lídia Jorge.

A romancista congratulou-se com a atribuição do Prémio a Luandino Vieira, considerando que se trata de um autor cuja «grande qualidade literária constitui um grande marco histórico que nunca passa». "Ele é também um marco revolucionário pelo movimento que criou em Portugal a favor da liberdade de expressão", sublinhou Lídia Jorge. A seu ver, a obra e a personalidade de Luandino Vieira lembram o «papel fundamental que a literatura deve ter como inconformista contra as situações sociais». Finalmente, fez voto no sentido de que o prémio funcionasse «como estímulo para que (o premiado) apresente em breve novos livros como só ele sabe escrever».

Canção para Luanda

Muito bem. Tenho um enorme prazer e uma profunda honra de ter conhecido a esmagadora maioria dos premiados desde que o galardão foi criado. O mesmo se passa com a boa Amiga que é a Lídia Jorge. E até, singular coincidência (?) também conheço o Luandino – de há bastantes anos. Não posso dizer que tenha ido com ele aos pássaros, nem fisga tinha. Aliás, nunca tal diria, pois que o segredo é a alma do negócio.

Tal como acima reza, o autor agora premiado – e não é a primeira distinção que ele possui – já faz parte há muito, da galeria dos Autores em Língua Portuguesa. Por mérito e direito próprios. Acervo que se registe de tal plêiade tem de inclui-lo forçosa e obrigatoriamente. Não vamos mais longe. O seu poema Canção para Luanda, datado de 1957, não pode ser esquecido em qualquer desses trabalhos de recolha e registo.

Aliás, de Angola, onde passei uns oito anos de entusiasmo, felicidade e também de pesar, houve um outro nome, que foi meu jornalista no semanário «A Palavra», que é, igualmente, incontornável. Refiro-me ao Aires de Almeida Santos. Dele recordo, com saudade e eterna amizade o verso Meu Amor da Rua Onze que, no meu modesto entender, é uma das obras primas da poesia lusófona, mas não é suficientemente conhecido e divulgado, pelo menos por estas bandas. Prometo que aqui o vou trazer, logo a seguir. Grande poeta que veio trabalhar para o jornal, depois de ter saído do inferno prisional de São Nicolau.

Zé Luandino, Amigo: um abração de parabéns – mas sobretudo de agradecimento. Uma perene ajuda para entender e amar Angola e, em especial, Luanda é o cartão de visita de quem o pode usar de pleno direito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Antunes Ferreira
Já sabe que o Luandino Vieira recusou o Prémio Camões? Sublinhando o seu agradecimento pela distinção, o escritor justificou a decisão evocando «razões pessoas, íntimas». O Ministério da Cultura já anunciou em Lisboa que a opção do escritor será «naturalmente respeitada».
Este gesto é muito deselegante. Um senhor que nasceu Português e mudou para Angolano devia ter orgulho em receber o Prémio, nunca recusá-lo por razões futeis como as que apresentou. Lembro aqui o ditado em que o povo diz «pérolas a porcos».
Vá lá, senhor Ferreira, aplauda de novo o tal Luandino...

Anónimo disse...

Este foi o gajo que se vendeu aos turras? Este vive em Angola? Renegou Portugal? Quantos mortos e feridos terá causado nos tropas portugueses que se bateram nas Províncias Ultramarinas?
Tenho 65 anos, fui soldado atirador em Angola, estive no Quitexe,Henrique de Carvalho, Neriquinha e para acabar Luanda. Nunca ouvi falar deste gajo. E ainda bem. Olha, rapaz, fica em Luanda. Não venhas. Fazes cá tanta falta como uma guitarra num enterro.