sábado, junho 03, 2006
RIMAS A METRO
Justificação injustificada
Foi o Armando Fernandes, meu acanhado akuñado que me meteu neste labirinto quase tão complicado como o saralho do Carrilho. E para quem não saiba o que se passou, desde a recusa do aperto de mão na SIC, até ao desgraçado programa na RTP, aconselho que se deixe de wrestlingios e opte pelos golpes do ex-ministro da Cultura, ex-candidato à Câmara Municipal de Lisboa, e outros ex. Que bárbara situação, gente, nem em Guimarães tal ocorreria. RIP.
Com as cegadas carrilhistas, acolitadas pelo Rangel, desviei-me do assunto a que vinha. Mil perdões. Reentro nos carris, neste ano do 150º aniversário do caminho-de-ferro em Portugal. Com maquinista e fogueiro, muito carvão e muitos quilolitros de água, muito vapor e muito apito e, ainda, com muita fumarada, lá vou eu onde pretendia chegar, ainda que parando em todas as estações e apeadeiros, já que sigo em comboio-correio.
Mau, mau, tome eu cuidado com os descarrilanços. A ser assim, nunca mais chego à explicação que almejei. Que o mesmo é dizer ao cais de destino. Olá, destino, fatal, fatal, fado, fado, rima. Concatenado e satisfeito, exaro aqui a culpa do marido duma irmã da minha estimada cara-metade. Reitero firmemente a asserção: foi o Armando que me deu o pontapé no, isto é, de saída nas versalhadas.
Nunca tal fizera em muito mais do que meio século de vida. Poeta, esse sim, é o Fernandes, refinado em Chateaugay, perdão, Chateauguay, de La Belle Province do Canadá. País assim chamado por mor dos portugas que terão afirmado quando ali chegaram – esta terra cana dá. Si non e vero, e bene trovato. Pois o nosso homem (salvo seja) com tanto poema da autoria dele e de qualidade, deixava-me de cara à banda. Eu, que sempre me manifestara defensor indómito da nobre prosa, hesitei. Não digo êxitei, porque me considero um fracassado no verso. Dá Deus nozes…
Nozes por nozes, o que é certo e comprovado é o acidente que sofri; atirei-me a rimalhar que nem gato a bofes. Verdadeiros versos de todo quebrados, quando os puristas apenas falam em pé idem. O desespero traz a coragem, essa é que é essa. A necessidade aguça o engenho. Porém, no caso perdido que sou, nem engenho, e arte – muito menos.
Pedindo, avisada e antecipadamente, desculpa ao blog e aos que se dão ao desplante de o irem lendo, ainda que infringindo o autor todas as regras ambientais, poluindo este local [até à data mais ou menos (se)pulcro] e infectando quiçá quem ainda me atura, lá vai rima.
Enchendo de mosquitos as televisões
Pior que a praga da praia de Caparica
O professor encontrou nas confusões
Motivo para justificar o fica, não fica.
Não ficou na Câmara o triste do Carrilho;
Meteu-se até ao pescoço num sarilho
Assim vai este País de muitos marinheiros
Da crise eterna, das angustias e dos ais
Temos sido assim, sem pena… nos tinteiros
Desde o Afonso Henriques e outros mais
Que fada nos teria dado esta sina malfadada?
Se soubesse quem fora, corria-a à chapada!
Fada, fado e outras palavras sempre à moda
Basta trocar as vogais e sai-nos o palavrão
Nestas coisas de rimar, é uma grande poda
Que não deixa ramo, nem folha, nem botão.
Se assim acontecer no Mundial da Alemanha
É o Scolari, no fim de tudo, quem apanha…
Cada vez mais me sinto feliz em Portugal
Dizia o padre Américo: não há rapazes maus
Somos assim, pra nosso bem ou pra nosso mal.
Nem dos velhos castelos se safam os calhaus.
O de São Jorge, o de Palmela, o d’Almorol
E bruxas e bruxos embrulhados num lençol
Não bastavam ao Sócrates as maternidades
Com as senhoras sentindo as dores de parto
Querendo dar à luz em todas as cidades
Com tanto fórceps já começo a estar farto.
Ora são os farmacêuticos, ora os funcionários
Já não há pachorra, nem tento, nem ovários
Para aguentar manifes, protestos, alta grita.
Diz o ministro das Finanças que eles não querem
Mudar nada, gostam que tudo fique na desdita
Nem nova carreira, nem nova saúde eles preferem
E não parece haver forma de aturar tantos
Melhor teres ficado no Porto, Teixeira dos Santos
Porem, agora, que temos novo inquilino em Belém
Um tal senhor Silva como disse o Alberto João
Que sabe o que querem todos, o que lhes convém
Que dá cavaco a tudo o que sente cada cidadão
Faz cruzada pelos pobres, veta a Lei da Paridade
É quase uma bênção de Roma ao Mundo e à cidade…
Cessem, portanto, os lamentos, parem os gritos
Deixem-se de algazarras, de greves, de discussões
Vivemos numa terra de benditos e de muitos aflitos
Sem Paz nas almas, sem alegria nos nossos corações
Valha-nos uma outra vez, de Fátima, a Senhora
Senão, um dia destes, vamo-nos todos embora…
Henrique, o Vate da Lapa
Repito o pedido de escusas. Que mal teriam feito os visitantes do Travessa do Ferreira para serem sujeitos a tais sevícias, a tais flagelações? Pelo sim, pelo não, e sabendo o que a casa gasta, não prometo, muito menos juro, não voltar a estas cavalhadas. Se cair na tentação espúria de o fazer, será, quiçá, uma vez por ano. Ou será uma por mês? Ou, quem sabe, uma por semana. E não digo por dia - que a idade já pesa.
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2 comentários:
Não sabia que o sr AF também fazia uma perninha na poesia. Não faz mal. O melhor de todo o poema é... a rapariga da ilustração. Tenho dito.
Nem o Fernando Pessa-oa, muito menos o Luis Vás aos Melões, nem nenhum mais se atrevia a rimar desta maneira péssima. Ó Ferreira, põe a pala no olho, antes que te façam alguma no mesmo...
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