quinta-feira, agosto 16, 2007




SOMBRA DA GUERRA COLONIAL

Carne Fresca


Antunes Ferreira
T
irou a folga do gatilho e voltou a apurar a mira. A palanca, imóvel, levantou o focinho, parecia cheirar algo, não sabia o quê. Raspou o solo capinado, com um tanto de nervosismo, os cascos restolhando nos cotos da erva segada. Lingrinhas pensou um, dois milésimos de segundo, quiçá três, mesmo cinco. Assim faziam os touros mansos antes de investirem. Por isso disparou.

O animal saltou para a frente, como que começando a corrida, mas ficou-se no arranque, como que suspenso no ar, parado no tempo e no espanto. Caiu de lado, esperneando, nos estertores de quem acaba, seja bicho ou homem. Caralho, Lingrinhas, deste-lhe na mouche! Dois pontos para o Lisgás! Porra, essa foi do suco da barbatana!

Os cinco soldados – tinha saído uma secção incompleta a ver se abastecia de carne fresca a companhia, farta de enlatados, de bacalhau sem batatas e linguiça em pão duro e bolachas Capitão – quase o levavam aos ombros. Ó pá tu és um meia-leca, se os turras te atacassem, punham-te debaixo do braço e ala que se faz tarde… Mas, no fogacho ninguém te bate!

Por alguma razão o capitão Malveira tinha mandado o Cristóvão Lingrinhas, mais o quinteto de camaradas ao açougue da mata. Era quase certo. O trinca-espinhas traria bifes e costeletas e lombo e perna e todas essas coisas que um homem quer ter quando voa para o rancho. Já não apanhamos mais nada, o eco assustou os animalejos, vamos embora.

Nem pó. O caçador cheirava presa, algo mais viria para enriquecer a despensa do aquartelamento e os desejos gastronómicos da soldadesca. Os cinco, entre o medo de uma qualquer merda – já bastava o que bastava – e a gula de cascata na boca, começaram a falar fininho, por causa das moscas – e do resto.

Andavam por ali uns quantos cabrões, que se intitulavam a eles próprios guerrilheiros, comandados por um tipo que infundia cagaço ao mais pintado. Era um tal Mata-Mata, mulato, dono de uma carabina Mauser de precisão, com mira telescópica, prenda do pai branco, que onde punha o olho punha o chumbo. Era igualmente caçador, mas de soldados tugas, não se sabendo se se dedicava a outras sortes cinegéticas.

Ó pá, talvez fosse mais seguro pegarmos no animal e leva-lo para a esfola e a panela. Basta pensar que nos podemos meter em trabalhos, uma alhada nunca vem só. Depois, com estes filhos da puta, nunca fiando. Chico Cristóvão nem lhes dava troco. Vamos apanhar a palanca, meter-lhe umas varas para ser mais fácil de transportar, tipo padiola. Quatro levam-na para o quartel; o Sebastião vem comigo. Não se desorientem, seus atrasados mentais. E voltem logo para levar mais caça.

O silêncio ouve-se

Sebastião deitou contas à vida. O sacrista do Lingrinhas ainda lhe arranjava uma valente enrabadela. E os pretos, dizem as meninas do Bairro Operário, têm a piça grande. Da-se, nem pensar nisso que lhe sobe um arrepio pela espinhela acima. Ó camarada, e se nos puséssemos na alheta? Medricas, sempre me saíste um bom mariquinhas pé-de-salsa. Aqui não morre ninguém, muito menos te tocam no cu, estamos quites.

Mas de alimária – nada. Até os macacos, empoleirados em seus galhos, deixaram de guinchar. O silêncio na mata ainda é mais opressivo. O silêncio ouve-se. Tal como o barulho. Os dois deitam-se no leito de folhas secas da floresta. Vai um cigarrito, Lingrinhas? És mesmo uma besta-quadrada! Lume aqui? Mas foste tu que acabaste de dizer que não nos pode acontecer nada. Cala-te e nada de piriscas.

Emboscados, por entre troncos apodrecidos, pensavam que confundiam o camuflado com os tons do que os rodeavam. Esperavam. Presa ou os transportadores de carne fresca. Quem seria o primeiro? Sebastião, a quem chamavam na companhia o come-tudo, sem ou com colher, lembrança da canção dos putos, avançou um tímido estou cheio de larica. O comparsa nem lhe respondeu. Se calhar nem lhe ligou nenhuma.

A ramaria deixava coar uma luz cada vez mais esparsa, avermelhada do poente. Um tiro, um só. Sebastião nem soltou um pio. Pedaços da mioleira esfacelada saltaram sobre o Lingrinhas que se enfiou ainda mais, se possível, pela podridão vegetal. Segurou com força a G3 de mira também telescópica, como a da arma do Mata-Mata. E se fosse o gajo?

Houve um tropel de cascos misturado com botifarras calcando o solo pegajoso. Eram os militares que voltavam e tinham ouvido a detonação. Pelo ruído, corriam. Mas, por trás de uma moita agigantada surgira um burro do mato, grande e encorpado, fora do normal. Um verdadeiro desafio para o Portuga. Uma provocação.

O Chico não podia levantar-se, o bandalho fuzilá-lo-ia, mas o vício era desmesurado. Ou lhe atirava a matar ou as entranhas saíam-lhe pela boca, pelo olho de trás, pelos poros. Os soldados gritavam por ele, aguenta-te Lingrinhas que estamos a chegar, não te vás abaixo! E chegaram, ofegantes, disparando um tanto à toa, assim os turras não respondiam, tinham medo de dar a posição deles. Ou dele, pensou Cristóvão, enquanto mecanicamente disparava – mas sobre o animal. Qual Sebastião, este caiu de chofre, sem qualquer hipótese.

Já um pouco afastado ouviram um berro de ameaça – eu volto! Promessa sangrenta que sabiam que iria ser cumprida. E uma gargalhada de bazófia, mas também da consciência do medo que infundia. Era o Mata-Mata, não havia dúvidas, a maneira de falar dos brancos, mulato fino, voz rouca. Ele voltaria, não se sabia quando, mas voltaria. Cumpriria o prometido, era homem de palavra.

Dois cadáveres

Regressaram os soldados, com dois cadáveres aos ombros: o burro do mato e o Sebastião. Ou vice-versa. A recepção que se antevia eufórica no pressuposto de mais carne fresca, enlutou-se com a carne também fresca – mas do magala desditoso. A tudo assistia o Lingrinhas, esbodegado, como se lhe tivesse passado um cilindro das estradas por cima, lágrimas ensacadas, um homem não chora.

O capitão Malveira chamou-o ao seu «gabinete» numa jotacê e perguntou-lhe se achava bem o que tinha causado. O Sebastião, de resto, era um gajo porreiríssimo e um paz-de-alma. Tocador de acordeão. Se não tivesse sido a tua estúpida ideia de dar mais uns tiros, o rapaz ainda estava vivo. Mas tu pensaste, cabeça de atum em lata, que estavas no Parque Mayer com as putéfias a regougar – vai um tirinho, freguês? A pensar morreu um burro, meu sacana!

Não estou a gozar. Isto não é para brincadeiras. Estou fulo. Estou fodido! Vou mandar levantar-te um auto de corpo de delito por homicídio involuntário. O nosso alferes Lucindo trata disso. Vais ver como elas te mordem. Nunca mais vais esquecer isto. E, a partir de agora, só sais com a canhota para combate. Meia volta, volver. Rua!

Estava metido numa boa alhada. Maldita a hora em que cheirara presa. Maldita a hora em que a mãe o parira. Esperava-o um futuro bem negro. Um auto de copo de litro, como os taratas gostavam de arremedar, atropelando a versão correcta. Como os que diziam auga em vez de água. Caraças, todo este torvelinho de ideias lhe vinha à cabeça – de atum em lata?

E o Sebastião? E a mulher do Sebastião, Gracinda de seu nome, 23 anos empinados? E a filhinha do Sebastião, Laurinda, a Laurindinha, doze meses incompletos, fazia anos a 22 de Setembro? E os pais do Sebastião? Que fora um camarada ali para as curvas, não dizia mal de ninguém, nada de coscuvilhices, nem intrigas, muito menos fum-funs ou gaitinhas. Estava para ali a cismar no seu futuro, quando o do desgraçado não era nenhum. Apagado, como fósforo queimado.

Uma grande cagada. Não tivesse ele mandado os outros levar a palanca e o Sebastião que ficasse com ele e outro galo cantaria. Assim, o galo fora do come-tudo, para ali espapaçado nas folhas podres, descapotado, os miolos espalhados em redor, até nele, Chico Cristóvão. Um arrependimento, tardio e enviesado, espalhava-se-lhe pela casquimónia. Que lhe restava agora? Nada. Mas, muito menos do que ao Sebastião.

Não te mortifiques

Muitos praças olhavam-no de viés. Já não bastavam os terroristas, também este cabrão, resmoneou o Marques açoriano da Fajã, às vezes nem se entendia o que dizia, mas agora não. O Fagundes, apontador de morteiro, agarrou-lhe um braço e afastou-o da censura quase generalizada. Ouve, Lingrinhas, ouve. Ouve-me e não me copules. Escuta-me filho duma pega.

Toma nota. O destino já tinha marcado a hora do Sebastião. Não tens que te mortificar e assumir a culpa. Limitaste-te a tentar trazer mais paparoca para os dentes da malta. Estivesse eu no teu lugar e, se calhar, fazia o mesmo. Essa gajada – deixa-a falar. O que tu bem sabes é que eles cobiçam-te a pontaria. O olho, salvo seja. Atira para trás das costas e não te enterres a ti próprio.

Enterrar. Enterro seria o do Sebastião, caixão desembarcado no Puto, a viúva em ânsias, os pais amarfanhados, a menina no carrinho, já dando os primeiros passos, nunca junto à cova do pai. Assim, não vais a nenhum lado, Lingrinhas. Assim consomes-te por dentro, comes-te a ti próprio, dizia o Prof. Candeias que serias um autofágico, lembras-te?

De passagem: enterrar sim, mas outra coisa, naquela moça do bengaleiro do cinema Império, mestiça danada, calças justas, segunda pele a azul ponteado, um par de mamas viçosas e tesas, sem sutiã, que nós bem lhe vimos os mamilos desenhados na camiseta encarnada debruada a preto. Aí sim, aí enterrava até aos tomates e tenho a certeza de que ela se rebolaria como uma cabra no cio.

Repara Chico, e só estivemos em Luanda, no Grafanil, oito miseráveis dias e umas horas. A fita era a mesma, A Revolta na Bounty, com o Marlon Brando, mas fomos lá cinco vezes. Já sabíamos de cor o enredo, o motivo do desatino era a moça morena. De canela, Lingrinhas, morena de canela, mulatinha. Mau. Mulato era o Mata-Mata que enfiara o balázio na fronha do Sebastião. Ele dissera que voltaria. Quando o fizesse, ele, Chico Cristóvão estaria lá, à sua espera.

Com o rodar dos dias, as folhas do calendário que tinha à cabeceira - com uma louraça abonada e de peito ao léu, rapariga muito cobiçada ainda que de papel, frente à qual muito boa gente esgalhara uma pívia à maneira – foram-se arrancando. No mato, sem sanzala perto, era uma merda, e mais a mais as palmas das mãos não tinham cabelos. Mas era o que havia.

O fradalhão de Santa Comba

Filha da puta de guerra era aquela. O Fagundes, pela calada da noite, abria-se em palavras sussurradas – à sorrelfa. Os gajos tinham razão em quererem a independência. O Brasil era um exemplo. E os africanos estavam agora a dar cabo da colonização. Isto não são províncias ultramarinas, são colónias. Em Lisboa até há um bairro das colónias, se não sabes, aprende que eu não duro sempre.

E acrescentava, cada vez mais baixinho, que o maricas do fradalhão de Santa Comba – quem? – o Salazar, meu animal, o Botas, é que mandava o pessoal apanhar no cu, sacrifício ignóbil e inútil, porque aquilo ia acabar mal para a malta. Destas conversas de cobertor participava o Machado, sacristão na civil, até comentava que o Fagundes era comunista, igualzinho ao tio Serafim, que fora apanhado pela PIDE e estava a ferros em Peniche. Não sou, mas podia muito bem ser. Bons sonhos.

José Malveira, capitão de Infantaria (QP), decidira, face aos constantes ataques, agora já não apenas na picada, mas ao aquartelamento, que um pelotão reforçado iria montar uma emboscada, junto ao carreiro da água. Dali vinham disparos nocturnos e, até, pelo entardecer, barbaramente certeiros, eu cá seja ceguinho se não é o Mata-Mata.

Cristóvão ofereceu-se, o grupo de combate nem era o dele, mas foi. O comandante – águas passadas não movem moinho – aceitou, já que se tratava de acção de combate e a pontaria do Lingrinhas fazia muito jeito. E como em tempo de guerra não se limpam armas, o caçador seguiu. Fagundes, agarrado ao seu eterno morteiro, ainda lhe disse que não se devia ter metido naquilo pelo que quer que fosse.

Agachados, ajoelhados, deitados por trás de sebes de verdura húmida, os emboscados aguentaram horas. Que já pareciam dias, senão mesmo semanas. Nisto, um restolhar manso e suave, quiçá um descuido sem razão, entrou pelos tímpanos da malta. Eram eles, não havia dúvidas. Por gestos, passaram palavra. Uma secção por ali, outra por acolá, aqui ficam os restantes. Chico à cabeça da primeira, o alferes Janica em seguida.

Os guerrilheiros, sem disso se aperceberem, já estavam cercados. A um berro do capitão, voaram as primeiras granadas de mão, encheu-se a mata de fogachos, gritos e insultos, fumo e metralha. E sangue. Chico nem disparara. Mexia-se sorrateiro, pé após pé, arma em riste, dedo no gatilho. Pela cabeça – de atum em lata? – passava-lhe o Sebastião tocando o acordeão, nisso era um alho. Mas igualmente o desejo lancinante de encontrar o Mata-Mata, que devia andar por ali.

E, de chofre, ficaram cara-a-cara, espingardas expectantes, quase a dois metros um do outro. O Lingrinhas e o Mata-Mata. Quando dispararam, em simultâneo, ainda disseram um para o outro – é o Chico, porra!, é o Lourenço, foda-se! Ficaram de papo para o ar, a linfa vermelha esvaindo a vida aos borbotões, empapando o solo ele próprio revoltado.

Tinham andado na mesma escola, veio depois a saber-se, o Francisco da Costa Cristóvão e o Lourenço da Silva Mendes tinham feito a primária juntos, sentavam-se na mesma carteira. Eram como irmãos, melhor, eram amigos. Que diria a Dona Alzira se soubesse que se tinham matado um ao outro, em Angola, na mata, no caminho para o Quitexe?

9 comentários:

Anónimo disse...

Como já te tinha dito, e mais do que uma vez, tu tens uma enorme facilidade em transmitir, renovar ou avivar emoções através das estórias que contas e escreves...
Já te tinha dito também que o teu estilo pessoal de escrita se assemelha muito, a meu ver, ao do Jorge Amado, romancista que eu aprecio muito.

Também já te havia mencionado estar convencido de que a compilação dos teus escritos num livro, seria, sem sombra de dúvida, um êxito.

Verifico no entanto que a maioria, para não dizer a quase totalidade, das tuas estórias sobre a famosa "guerra colonial" se saldam sempre duma forma muito triste, senão mesmo, num banho de sangue.

Ora eu sei que, apesar da realidade da guerra, seja ela qual for ou de que natureza for, nunca seja positiva ou agradável, há factos ou acontecimentos, verídicos, meio verídicos ou claramente inventados, que comportam cenas anedóticas, mesmo hilariantes, e que ajudam a "encaixar" toda a estupidez dessa mesma guerra.

Um exemplo: ouvi contar que, certo Domingo de tarde, na área de Nambuangongo, uma das mais dificeis do Norte de Angola, no "campo de futebol" dum dos nossos batalhões, duas equipas se defrontavam num jogo muito cerrado, com árbitro e tudo...

A partida ia já bastante avançada e a qualidade do jogo era muito boa. A certa altura, um belíssimo passe resultou num monumental golo, aliás o único do desafio.

Nesse preciso momento, do alto dos morros vizinhos, chegaram os gritos entusiasmados e os aplausos dos espectadores que eram, nem mais nem menos, do que os "turras" que, talvez, tivessem, no dia anterior, atacado alguma coluna militar nossa... Vá lá uma pessoa saber.

Ora, julgo eu que este tipo de estorieta - verdadeira ou não -, tem também o seu lugarzinho nas crónicas das "realidades" que se viveram me Angola nesses tais famosos tempos da não menos famosa "guerra colonial".

Anónimo disse...

Aqui te deixo a minha opinião acerca das tuas aventuras (e desventuras) africanas. Entendo que deves tentar tudo para as publicar em livro. Ao menos que fique a memória da nossa geração, aquela que sem saber como foi mandada para África - eu estive na Guiné entre 64 e 65 - aí combateu, e em trágico tempo aí morreu ou ficou inutilizado para todo o sempre.

Ninguém deles se lembra. Fomos mal treinados, mal transportados, mal instalados, mal armados. Na hora da verdade, fomos abandonados - e, por último, fomos nós os culpados da descolonização enquanto que outros, depois de puxarem o brilho aos galões, se passeavam nos corredores do Poder.

Enfim, triste geração esta que foi a nossa...

Anónimo disse...

Adorei o seu texto sobre o Ultramar. Amei a mistura das formas de linguagem. Desejo que tudo dê certo e que o seu livro seja publicado e eu possa obter um exemplar.

Anónimo disse...

ó mestre, então no Verão não encontras editor, o que é natural?. Isso até o meu gato, que é o dr. Franz Kafka, o sabe. Entretanto, constitui volume, vai às 120-130 pág.s no mínimo e manda para o Prémio Cidade da Amadora ou de Almada. Isto é prosa de ganhador. Tu sabes escrever, isso não é novidade. Coitada da palanca. Tens pontaria.

Anónimo disse...

Acho que retrata um microcosmo de solidariedades e cumplicidades masculinas no ambiente de uma guerra absurda e inútil , que destruiu para além de muitas vidas ,o equilíbrio de muitas outras.

Aflora muito de leve o desequilíbrio familiar provocado pela morte do Sebastião,mas retrata bem o sentimento de culpa do Lingrinhas que o leva a querer ser ,ele,um instrumento da vingança pela morte do camarada.

Histórias de guerras absurdas como as de África deixam-me sempre amargos de boca e frustração ,dando por mim a pensar sobre a responsabilidade de todo um povo por não termos conseguido ajudar a preparar pacificamente o caminho de desenvolvimento do continente africano.

O final chama a atenção para o desperdício humano que é a destruição de uma amizade,por acção dos dois protagonistas que se sentem lado a lado e se encontram momentaneamente para se desencontrarem para todo o sempre em vida, mas por obra do destino caminharem juntos na morte,com a harmonia que não conseguiram anteriormente.

E se calhar ,apesar de tudo,sentindo que valeu mais a pena acabarem os dois juntos,de pé e em simultâneo do que um deles,fosse qual fosse ficar para todo o sempre a arcar com a morte do outro,na consciência e na memória.

Anónimo disse...

O tema Ultramar/África/Guerra vende; e venderá mais quanto maior for a distância temporal em relação aos traumas do passado.

A qualidade da sua escrita e a energia dos contos dispensa comentários. E o formato short stories pode ajudar a combater a densidade que viria de uma trama em romance.

Anónimo disse...

Gostei de ler este. E a história tem um fim inesperado, no mesmo sentido do conto anterior. Se fizeres sempre assim, terás dois tipos de leitores, como nos romances policiais: uns que vão seguindo o enredo página a página, outros, como eu por vezes, que, após o princípio, vão ao fim ver «quem é o criminoso ou como foi o crime desvendado», voltando ao sítio do «salto» para, com a curiosidade já satisfeita, saborear o resto até ao fim, Mas, camarada das letras, avante é o caminho!

Anónimo disse...

Mais uma boa estória. Boa sugestao a do Sr Bandeira, umas estórias com uma pitada de humor, e tu sabes como fazê-lo, também seriam benvindas.

Victor Nogueira disse...

Viva :-)
Era Angolano mas hoje não tenho Pátria. Eu não fiz a guerra colonial, mas sei do absurdo e da alienação do que de humano possa haver em cada um de nós por causa dela. O livro que o Antunes Ferreira vier a publicar, terá o sentido que ele lhe der: o absurdo da guerra, em que os soldados são muitas vezes joguetes de interesses que estão fora do seu alcance, picaresco se for de apresentar as cenas cómicas ou irónicas, estilo In Illo Tempore do Trindade Coelho. Ou ser uma entremeada das duas. Parece-me que a tragédia, o absurdo da desumanização, a igualdade entre os homens e o respeito pela causa defendida pelo «adversário» são o fio condutor das suas crónicas. Tragédia e absurdo que aringiu os vários povos em conflito, numa guerra justa ou injusta conforme o modo como a interpretarmos e da visão que adoptarmos. Creio que o Henrique tem uma visão humana dos homens em confronto e que é isso que pretende transmitir, sem «trair» ou diabolizar o adversário. Claro que de ambos os lados há anedotas, episódios humorísticos, uns ofensivos, outros não. Será correcto entremear a «tragédia e suavizá-la com o picaresco para aliviar ou descomprimir o mal estar? Esta a minha pergunta. A resposta e a decisão cabem exclusivamente ao meu camarada das letras, ouça ou não o «conselho dos comentadores. Nenhuma guerra é alegre!
Para ti, Henrique,um abraço.
VM