quinta-feira, julho 31, 2008
NA ROTA DO CALENDÁRIO
Julho, The Examinator
Maria Lúcia Garcia Marques
Poderia ser “The Terminator” que quase iria dar no mesmo. Porque é este um mês confluente das tensões fatídicas que vêm com os famosos, discutidos, rejeitados e, hoje recuperados “exames de avaliação”. Toda a minha vida vivi e convivi com eles – fui sujeita e sujeitei outros a um número deles cuja conta já perdi. Houve tempos e casos em que eles eram tão marcantes que o meu tempo (e, por vezes, até o da família) se media, numa espécie de a.c. ou d.c., por um antes d... e um depois de...como se, a esse propósito, Cristo tivesse alguma vez descido à terra ...!
Sem querer teorizar sobre um assunto que, aliás, está na berra, penso, no entanto, que nós, portugueses, não conseguimos ainda entender que a avaliação seja um dado natural e essencial ao bom rumo de qualquer exercício, estruturação das verdadeiras competências ou puro ajustamento dos diversos poderes. Continuamos a acreditar piamente que “quem tem padrinhos não morre na prisão”, o que, em termos vivenciais, se traduz em costumeira azáfama de mover céus e terra agenciando cunhas, compadrios ou simples conhecimentos, a todos os níveis e a todos os propósitos.
Porque não pensar que, para o caso específico dos estudantes, os exames poderiam e deveriam constituir episódios sazonais na vida de cada um, não propriamente agradáveis mas de certa maneira saudáveis como as vacinas. Exactamente o contrário do que deles fizeram algumas novas pedagogias – ou pedagogias mal entendidas – aliadas ao lusitano pendor para o “deixa andar”, rarificando até ao limite as chamadas “avaliações”, encarando-as pelo lado errado e fazendo delas o que nunca deveriam ser: momentos excepcionais, altamente “perigosos”, expostos aos acasos da sorte e aos insondáveis caprichos de uns quantos mestres à moda antiga.
Ora, como já disse, passei a vida a lidar com a situação (sobretudo a nível universitário) e não posso honestamente deixar de constatar que, quando regulares e próximos q.b., os actos de avaliação constituem um factor indispensável à interiorização dos saberes, à apropriação pessoal e útil do aprendido, ao convívio solitário com as questões e dificuldades que desenvolvem aptidões tão preciosas para a vida futura como a presença de espírito, a distribuição e aproveitamento metódico do tempo e das interrogações, a pertinácia, a endurance, a imaginação e, porque não?, a chamada “lata” que mais não é que uma imaginação exercida em estado absoluto de necessidade.
Gostei de, num apropósito afim deste, ler as palavras de Roberto Carneiro: “(a avaliação) obriga a que recuperemos a ética do esforço, do estudo, do método, da disciplina, da cooperação, do mérito, do trabalho persistente e humilde, do empreendedorismo e abertura ao risco”.
Mas, à revelia de todos os descrentes e desconfiados, podem crer que os ditos exames são por vezes pontos de encontro afáveis, se não bem-humorados, entre os professores e os seus alunos, em que dá para se tomar o pulso e a medida do que restou das respectivas interrelações académicas. Tais foram aqueles que eu recordo enquanto professora de Língua e História Pátria, no velhíssimo 2º ano de liceu em que, por exigências do programa, tinha que dar algumas luzes de “História de Portugal” a crianças de 11-12 anos. Foi assim que, a propósito da 1ª dinastia, me lembro de ter destacado a figura e o papel de duas Rainhas: Isabel de Aragão e Leonor Teles. No ponto seguinte (agora chama-se “teste”) perguntei: “Na primeira dinastia houve duas rainhas importantes. Diga quais foram e porquê”.
Obtive estas duas pérolas como resposta:
• a Rainha Isabel de Aragão foi muito importante e até foi Santa porque fez sair rosas da saia em vez de pão que levava para os pobres porque o Rei não queria que ela andasse com eles porque eram más companhias. A D. Leonor Teles não foi nada importante porque era muito má.
• a Rainha D. Leonor Teles foi muito importante por ter muito jeito para a política e porque, além de ser muito inteligente, também era aleivosa e barregã.
Ainda a respeito da mesma Figura, no exame oral de fim do 1º ciclo, perguntava a uma examinanda aflita: Então a menina não se lembra de uma Rainha, já no fim da 1ª dinastia, que foi muito falada... Nada! A menina não se lembrava. Uma Rainha que teve um papel muito importante na política... Silêncio. Então nunca ouviu falar da Rainha D. Leonor Teles? Aí o semblante da moça iluminou-se e, num sorriso feliz, exultou: Ah, uma que era fresca...!
Naquele Julho esbrazeado, naquela sala sufocante, o certeiro desplante daquela “avaliação” foi uma lufada de ar... fresco e verdadeiramente redentora.
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8 comentários:
Meu caro Ferreira,
Muito obrigado pela sua visita ao blog deste companheiro brasileiro. Somos quase colegas, já que também me graduei na área de Comunicação - só que cursei Publicidade e Propaganda. O gosto pela política sempre me levou a trabalhar nas área de assessoria de imprensa e assessoria parlamentar. Hoje sou servidor público - algo de que tenho muito orgulho - e trabalho na assessoria parlamentar do Ministério das Relações Exteriores brasileiro. Muito bom saber da sua produção literária - será que encontro os seus livros à venda aqui no Brasil? E muito bom também saber da iniciativa dos seus amigos do Serviço Exterior Português, criando o blog da Embaixada portuguesa.
Vamos mantendo contato!
Um forte abraço, diretamente de Brasília!
Gostei das respostas das suas alunas.
E concordo consigo acerca dos exames!
Encontrei o seu blogue através do blogue docedelaranja, e confesso que gostei do que li. Irei passar mais vezes por cá!
Discordo de si, quando "odeia" o AJJ, mas são opiniões e eu respeito. Eu como madeirense, tento desmitificar e mostrar o porquê dos madeirenses amam Dr. Alberto João Jardim, e explicar que a comunicação social faz passar uma imagem errada dele!
Abraço e os melhores cumprimentos
Alex
Bom dia! Bonito, o que estás a fazer. Gostas, o que é o mais importante. Também gosto muito da política - mas odeio a politiquice, cada vez mais frequente e desgraçada nos dias que vão correndo.
E posso dizê-lo pois fui, por duas vezes, candidato a deputado - para a Assembleia Constituinte e, depois, para a Assembleia da República, pelo Partido Socialista, o meu de sempre, até nos tempos ignominiosos do salazarismo/marcelismo.
Neles, a PIDE (polícia política) deteve-me três vezes para averiguações, estava eu ainda na Universidade. Já passou.
Tenho um grande Amigo em Brasília, o jornalista José Fonseca Filho. Juntos, vivemos algumas horas muito boas. As nossas famílias dão-se muito bem. Ele também esteve ligado à política.
Tem, agora, um blogue NossaBahia que está a dar os primeiros passos. Se o visitares, ele vai ficar contente, sabendo que já nos conhecemos via net.
Quanto ao me(a)u «Morte na Picada» não está à venda no Brasil, infelizmente. Há diligências para se encontrar um editor aí... Mas podes comprar pela net. Basta que vejas o texto que tenho publicado neste blogue.
Fico à espera de visitas... biquotidianas... Hahahahahahahahaha!!!!!!!!!!!
Abs
Olá baby_boy_nadador
Fico muito contente por conhecer um bloguista da Madeira. Se quiseres ter a bondade de dar o meu blogue e o meu imeile a mais gente da RAM, agradeço-to.
Quero alargar os meus contactos. Recordo o Max da minha (e da dele) juventude, quando cantava «A Madeira é um jardim...». Hoje é diferente: «A Madeira é o Jardim...». Hahahahahahaha
Não «odeio» o Dr. AJJ. Não gosto dele e ponto. Mesmo nada. Já chega. E AINDA pasmo com certas coisas e afirmações que ele faz. A má-educação é constante. O ataque aos socialistas - e eu sou o 1138 do PS) é constante - o que seria natural em Liberdade e Democracia. O insulto soez, não.
Adiante. Quero ser teu Amigo e ver-te cada dia por aqui. Valeu? E manda o teu IMEILE, bem como mais Amiga(o)s!!!!!
Abs
ferreihenrique@gmail.com
Ferreira, vim aquiagradecer a sua visita ao meu blog e conhecer o seu espaço, Parabens
abraços
joao
Gostei do texto!!
Olha Sonada & Devaneada
Foi um prazer - e espero que aqui também o seja para ti. Volta depressinha.
Vou de mini-férias.
Mas, entretanto, dois pedidos:
1) Manda o teu IMEILE;
2) Trata de comprar o me(a)u livro «Morte na Picada». Podes fazê-lo pela net (ver como neste blogue)
Qjs
Camilla (Sheaffer, nunca Parker)
Agradecidérrimo.
Vou de mini-férias...
Entretanto:
IMEILE??????
ME(A)U LIVRO??????
Não chateio mais...
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