terça-feira, fevereiro 13, 2007




Sismos & sismos

Antunes Ferreira
Para quem não anda muito a par destas coisas, é conveniente relembrar aqui o Senhor Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e marquês de Pombal. Nos tempos em que havia criadas, em minha casa servia a Olívia que perguntava quem era aquele marquês do pombal e se era verdade que uns gajos mal enjorcados davam trigo roxo às avezinhas do tal pombal. O que é que ele tinha feito para lhe botarem o nome numa praça daquele tamanho?

Ciganos ou comunistas, quem sabe, acrescentava a Senhora Ângela, uma espécie de como quem diz mas não exactamente que fazia de tudo um pouco no segundo esquerdo da Rua Filipe da Mata, 122, ainda lá está o prédio, pintadinho e arranjadinho, ao invés dos desgraçados edifícios que por aí andam a cair aos bocados à espera de que um abanão a sério lhes resolva de vez os problemas de esqueletos metalico-osteoporóticos, canos de esgoto colestrólicos e azulejos dermatóticos profundos e crónicos.

Ontem foi dia de são terramoto (ou terramoto são, saudável, pacífico, desarmado, ineficaz, insípido) por estas paragens portugas e, ainda, umas quantas espanholas. O que é muito bem feito, ninguém as mandava estarem aqui encostadinhas à malta, à espera que um sismo a valer enterre o rectângulo a ocidente, a fim de que Badajoz, Salamanca, Huelva, Cáceres … e até Olivença (aqui a história tem que se lhe diga) venham a ter praias atlânticas do mais alto coturno. Isto de vizinhos é como os melões: só depois de se abrirem é que se lhes vê os podres – e as pevides.

Notícias do abalo

Rezaram os meios de comunicação que um sismo de magnitude 5,8 na escala aberta de Richter, o maior sentido nos últimos 30 anos em Portugal continental, fez tremer o país de norte a sul, sem provocar danos pessoais ou materiais. O abalo registou-se às 10:36 e teve o epicentro a 160 quilómetros a sudoeste do Cabo S. Vicente, no Algarve, e foi principalmente sentido no centro e sul de Portugal.

Em Lisboa, uma fonte do Regimento Sapadores Bombeiros disse que não receberam nenhum pedido de ajuda, mas apenas telefonemas para saber notícias do sismo. No Algarve, uma fonte da Protecção Civil de Faro adiantou que o sismo foi sentido em toda a província, mas não houve registos de danos ou vítimas.
No Alentejo, o abalo foi registado em concelhos do distritos de Beja e Évora, bem como em vários concelhos dos distritos de Santarém e Leiria, confirmaram os respectivos Centros Distritais de Operações de Socorro (CDOS).

De acordo com as autoridades, não existe qualquer indício de danos e os relatos apontam para um sismo de breves segundos, que poderá ter sido imperceptível para algumas pessoas. O sismo alcançou a magnitude de 4 na escala aberta de Richter na Andaluzia, chegando mesmo a sentir-se em edifícios mais elevados de Madrid. Fontes do Instituto Geográfico Nacional (IGN) na capital espanhola referiram que não se registava um abalo tão forte na Andaluzia há mais de dez anos.



E o túnel do Pombal?

É assim. Vivemos sobre uma fractura da crosta terrestre da qual não me ocorre o nome. Justifica uma visitinha ao Google. À mais pequena abanadela, pode-se gritar pelo Sebastião, já que pelo Gregório tem significado e conotações completamente distintos. Temos a mania de dizer que são os açorianos os maiores especialistas na matéria. Não são. Veja-se a notícia cuidadosamente elaborada na Lusa. Os bombeiros lisboetas apenas receberam telefonemas para saber notícias do sismo. Quem disser o contrário, mente com quantos dentes tem na boca, incluindo os cariados e os obturados. Somos uns bacanos.

Nestas coisas de tremores há os brincalhões que citam a doença de são Vito. Não me parece bem. Um destes dias estes herejes ainda se arriscam a um pãozinho de Mafra feito de trigo roxo. A vingança de pombal. Já que do Pombal ela só teria razão face ao famigerado túnel que lhe roubou o nome e que não há meio de ser inaugurado. Semelhantes só as obras de Santa Engrácia ou as do metropolitano do Terreiro do Paço, ainda que as primeiras já tenham sido concluídas.

Livre-nos deus-nosso-senhor de um epicentro subterraneo-tunelar. Então é que haveria eleições intercalares para a CML, por mais que o Senhor Carmona diga que não. Então é que aconteceria um terremoto ali para as bandas da Praça do Municipio. Então é que desejaria que ele fosse eficaz.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda melembro do Antunes Ferreira ter ido à Roménia em 1977 para fazer a reportagem depois do sismo que ali houve. As suas crónicas publicadas no DN foram tão boas que o senhor as reuniu num livro que eu tenho, mas não sei onde.

O título era não sei quê sobre a Roménia e o livro foi lançado na FIL de então, ali à Junqueira. Estive lá e tenho-o autografado. Já lá vão mais ou menos 30 anos.

Este seu escrito sobre o terramoto de há dias está, tal como o livro, muito bem escrito. Os meus parabens. Um abraço