quarta-feira, setembro 26, 2007



Morreu o Magalhães Mota

Antunes Ferreira
M
orreu hoje o Magalhães Mota. Homem bom, conheci-o quando eu era um catraio e ele um quase homem. Tínhamos seis anos de diferença – era de 35 – e nessas idades era quase um século… Foi em Santarém, mais precisamente no Vale de Santarém, que pela primeira vez nos encontrámos e começámos aí uma Amizade que perdurou pelo tempo fora. Isto porque, ele era natural da cidade escalabitana e o meu Pai era do Cartaxo, ribatejano também, e a família tinha casa no Vale.

Estávamos a passar férias por aquelas bandas. Eu iria nos meus quinze anos espiga dotes. Logo, ele tinha 21. Apesar da «abissal» distância que nos separava, rapidamente nos entendemos. Já estava quase advogado, cursara a Faculdade de Direito da Clássica e terá sido um dos que me levaram a entrar para aquela escola. Passo pouco frutífero, diga-se.

Quando entrou na então Assembleia Nacional, já então apontado como integrante da chamada Ala Liberal (grupo de que constavam também Sá Carneiro, Pinto Balsemão e, depois, Mota Amaral) tive a grata oportunidade de o felicitar pelas suas intervenções no hemiciclo. Almoçávamos no João do Grão e ele acabava de participar, como um dos autores signatários, no Projecto de Revisão Constitucional nº.6/x.

Também subscrevera o pedido de não ratificação do Decreto - Lei 520/71, limitador da actividade das cooperativas, que ficavam reduzidas ao aspecto meramente económico, e esvaziadas de todo e qualquer conteúdo cultural livre, considerado perigoso pelo dito Estado Novo. Na sua última intervenção em que anunciara não regressar à Assembleia, denunciou, designadamente, a utilização de fundos reservados, pelo Ministério do Interior, e respectivo montante, e a actuação política da maioria da Assembleia Nacional.

Já fora sócio fundador e Presidente do Concelho Coordenador da SEDES. Durante o período que assumiu estas funções foi publicado o documento "O País que somos; o País que queremos ser", sobre a eleição presidencial.

Em 74, logo a seguir ao 25 de Abril (de que alguns ainda se vão recordando…), o Quim Jorge, o homem do cachimbo, como lhe chamava, fundou o então PPD, juntamente com Sá Carneiro e Pinto Balsemão. Corria já o mês de Maio. Não perdera tempo. Isto porque logo a 16 desse mês integraria o I Governo Provisório, sobraçando a pasta da Administração Interna. Participou, de seguida, no II, III, IV e VI governos, sempre como ministro. Deputado e membro preponderante do PPD/PSD, desgostoso com a actuação de Francisco Sá Carneiro, em 1979 abandona o partido e integra o grupo que criou a ASDI.

Tantas vezes falámos sobre o andamento da res publica em Portugal. Embora militássemos em partidos diferentes, jamais isso beliscou a nossa Amizade. Com Amigos comuns, muitas vezes abordámos coisas complicadas que, entre outros personagens redundariam em chatices. Entre nós – não. Aponto: as diferenças entre a social democracia e o socialismo democrático. Complicado, hein? Mas ele: olha, Henrique. O um és tu; a outra sou eu. Gargalhadas à solta. Um dia, o falecido Sousa Franco disse-me, em momento de boa disposição e de copos, que nós éramos a única água e o único azeite miscíveis…

O cancro matou-o aos 72 anos. Não irei chora-lo na Estrela, muito menos no cemitério. Porque aí, não dará a sua cachimbada da ordem. Principalmente por isso. E porque, um destes dias será a minha vez – e o Quim Jorge também não assistirá a tais preparos. Amor com Amor se paga. Adeus, Amigo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Era ele o
" Magalhaes pasta ministro sem Mota" ?