sábado, setembro 08, 2007




O PC passou-se.
Perdeu toda a legitimidade para criticar, mesmo de forma ambígua como é habitual, os terroristas.



Emídio Rangel
Setembro vai começar a arder. Este fim-de-semana é a Festa do Avante. Independentemente do arraial, sardinhas assadas e vinho a copo, das cantigas, conferências e debates, a Festa do Avante é, tem sido sempre, a rentrée do PCP com uma muito escutada intervenção política do secretário-geral dos comunistas.

Hoje, como sempre, o discurso do líder do PCP não sofrerá grandes alterações. Desde a primeira Festa do Avante até agora os discursos são quase todos tirados a papel químico. É a crítica mais dura do ano ao primeiro-ministro que está então no Governo. Todos são brindados de maneira semelhante pelo PCP, com tiradas muito parecidas como “o primeiro-ministro X, Y ou Z desferiu um ataque feroz aos direitos dos trabalhadores e às liberdades políticas”. Ninguém se salva.

Todos os primeiros-ministros que tivemos até hoje, na opinião do PCP, são maus, gastam o seu tempo em maquinações contra a classe trabalhadora. O deste ano, ao que dizem, vai um pouco mais longe, ao afirmar que no Governo de Sócrates há “sinais de um cariz fascizante”, obviamente, prosseguindo a “política de direita” dos governos anteriores.

Estou em crer que haverá muito boa gente que adivinhará o teor do discurso, o seu alinhamento, até mesmo as suas frases (sound bytes) para títulos nos jornais. É curioso... Para o PCP todos os governos são iguais... mas para os cidadãos todos os discursos do PCP também são iguais. Este ano porém, haverá uma novidade que julgo figurará no discurso de Jerónimo de Sousa – o acolhimento político e fraterno às FARC (Forças Armadas e Revolucionárias da Colômbia), uma organização terrorista, condenada por todos os membros da União Europeia e por todos os países democráticos, que tem praticado sinistras acções de guerra sem quartel, aumentando as dificuldades da população mais pobre da Colômbia.

O PC passou-se. Perdeu toda a legitimidade para criticar, mesmo de forma ambígua como é habitual, os terroristas que procuram atingir alvos na Europa e em todo o Mundo e que criam aos governos sérias dificuldades no combate a esses activistas. Veja-se o que se passou nos últimos dias na Alemanha, relembrem-se os cenários de horror em Londres, Espanha e Nova Iorque, onde morreram inocentes de todas as faixas etárias, extractos sociais, credos religiosos e convicções políticas.Não é possível ter uma posição dúbia nesta matéria.

O PCP precisa urgentemente de se reformar, actualizar conceitos, para poder continuar a ser o partido que defende os trabalhadores portugueses. É que os trabalhadores repudiam, com elevado grau de certeza, a homenagem que o PCP vai fazer na Festa do Avante aos terroristas da Colômbia. O PC vai pagar um preço político por isso. Nem os jovens, nem os trabalhadores, nem as mulheres, nem os intelectuais, nem os velhos, nem os reformados.

Ninguém em Portugal aceita o terrorismo, muito menos depois do 11 de Setembro. Vive-se agora a fase mais intensa de uma luta surda contra grupos terroristas que dispõem de todos os meios para criar cenários de tragédia. Portugal não está fora desse cenário. Como é possível nesta ocasião difícil vitoriar grupos terroristas? A lista de crimes das FARC é extensa e sanguinária. Se tivéssemos em Portugal o juiz Baltasar Garzón estes ‘FARC’ já não saíam do País. Iam responder em tribunal pelos seus crimes.
(In Correio da Manhã)


A minha concordância

Sou amigo do Emídio Rangel há muitos anos. Desde Angola, mais precisamente. Trabalhei com ele – e tive muito prazer e orgulho de o fazer – na nossa TSF. Na SIC, ainda tentei colaborar, mas não deu.
Lembro-me de, numa noite qualquer, na Trindade, onde ambos jantávamos, mas em mesas separadas, me ter levantado, ido ter com ele, e lhe ter dito da minha vontade de participar nessa nova aventura. O Rangel, para além de ser um excelente profissional, sempre foi homem de iniciativas múltiplas e eu, nessa altura fazia comentário sobre política internacional nos dois canais da RTP. Aliás também os produzia na TSF. Era pois, muitíssimo sugestiva para mim, tentar uma nova televisão que nascia. Adiante. Chorar sobre o leite derramado é, cada vez, mais estúpido.

O Travessa do Ferreira transcreve hoje, a sua habitual coluna no Correio da Manhã. Não pedi autorização para o fazer, ó Emídio desculpa-me, mas se o tivesse feito era certo que teria o seu ámen.

Concordo com o que o Rangel escreve, neste particular, como em muitos outros. O Partido Comunista Português defende a solidariedade internacional, o chamado internacionalismo proletário, que já Lenine pregava e que continua a ser uma bandeira sua. Concordo, como princípio; não, como dogma. Sou pela fraternidade entre os homens, sem distinções de credos religiosos, sexuais ou políticos. Não é o mesmo. O PCP fica na sua – eu na minha.

Já no que concerne à Festa do Avante – que por diversas vezes visitei – neste ano não volto lá. Posso encontrar-me, a uma esquina desconhecida, com terroristas ou seus representantes para exportação. Duvidam? Então leiam o que se tem publicado sobre o assunto FARC e, em especial, este texto do Emídio Rangel.

Quanto às críticas ao actual Governo – eu, ralado, como diria o Vasco Santana. Volto a estar com o Rangel. De tão repetidas, de sempre repetidas, já não chegam a nenhum lado, exceptuados, obviamente os comunistas. Mas, quantos entre estes já terão também as suas dúvidas? Como ninguém do partido com paredes de vidro diz nada, até posso pensar que o silêncio é concordância. Ou então, estão todos proibidos de o fazer. Liberdades…A.F.


2 comentários:

Anónimo disse...

Viva.

A fim de evitar explicações, que já cansam, tomei a liberdade de colocar este link que é uma excelente resposta à "mentirola" de Emídio Rangel.

Já agora, não sou comunista mas tenho ido à Festa do Avante desde há 9 anos para cá e, se ouvirem com um mínimo de atenção, verão que são tudo menos copiados com papel químico, mas antes adaptados á actual realidade, focando os principais probelmas dos cidadãos portugueses e apontando soluções.

Não percebo também a logica, ou moral, de Emídio Rangel de acusar de repetidos esses discursos quando o seu próprio texto é copiado de tantos outros que tentam a todo o custo espalhar a mentirola de que as FARC vão à Festa do Avante. Ou os discursos da direita, cuja criatividade se esgotou e apontam como único caminho privatizar, privatizar, desregulamentar, desregulamentar.

Anónimo disse...

O link é:

http://samuel-cantigueiro.blogspot.com/2008/07/se-uma-festa-incomoda-muita-gente.html