terça-feira, setembro 04, 2007



Goa pode ser uma mais-valia

para Portugal na Índia

- diz Sérgio Mascarenhas da Fundação Oriente





O Constantino Hermanns Xavier é um faz-tudo. No bom sentido do termo, é claro. Filho do Aurobindo Xavier, Professor Universitário e Goês, Amigo de longa data - vivia na antiga capital do chamado «Estado da Índia» dos Portugueses, no mesmo prédio habitado por minha mulher, Raquel - e da Margarte Hermanns Xavier, alemão «convertida a Goa» que até cozinha à moda da terra, ele está a fazer a sua tese de doutoramento em Deli.

É um entusiasta por todas as causas, nomeadamente as do relacionamento luso-indiano. E um privilegiado, pois vive na capital da Índia. Tem tempo pata tudo o que se possa imaginar. Até para ser um excelente jornalista. O «Expresso», a «Revista Atlântico», a «Voz de Goa», a Rádio Renascença (colabora em todos) são disso o testemunho. Cada vez mais que o dia, para ele, tem 36 horas bem contadas...

É deste bom Amigo - ainda tem tempo para o ser, o que muito me honra - que hoje o Travessa publica uma interessante entrevista. E que, estou certo, os leitores Goeses (tenho alguns...) terão interesse em ler aqui. Que pode ser lida já de seguida. Obrigado, Constantino.
A.F.



Constantino Hermanns Xavier
Numa entrevista exclusiva para o Supergoa.com, o delegado da Fundação Oriente na Índia faz um balanço dos seus sete anos passados em Goa. Em vias de regressar a Lisboa, observa um crescente interesse português pela Índia e sublinha a importância estratégica que Goa poderá vir a ter nas relações luso-indianas.


Sete anos depois de ter chegado a Goa, Sérgio Mascarenhas dá por terminado o seu mandato, representando a Fundação Oriente na Índia. Regressa a Lisboa nos próximos dias, deixando vasta obra feita pela promoção da língua e cultura portuguesa em Goa. Acima de tudo, assumiu-se como uma das figuras-chaves no relacionamento luso-goês e conhecedor profundo das principais dinâmicas políticas, sociais e da vida cultural goesa, onde colhe grandes simpatias.
Sérgio Mascarenhas será substituído por Paulo Varela Gomes, igualmente conhecedor profundo de Goa e da história luso-indiana, actualmente professor na Universidade de Coimbra, que assim volta a ocupar o posto que deteve nos anos noventa.


Supergoa - Qual o balanço pessoal que faz da sua estadia em Goa?
Sérgio Mascarenhas - Estes sete anos na Índia e em Goa foram muito enriquecedores para mim pela diversidade de gente com quem contactei, contacto com culturas diferentes, políticas diferentes e sensibilidades diferentes. Além disso, Goa oferece um estilo de vida muito confortável e agradável.
É certo que temos que aprender a lidar com os inconvenientes da falta de eficiência dos serviços básicos, mas também somos poupados a muitos dos inconvenientes da vida ocidental.

Sg - Sai num momento em que emerge em Portugal um interesse renovado por Goa, e a Índia em geral. Num olhar prospectivo, como antevê as relações luso-indianas, particularmente em Goa?
SM - É-me praticamente impossível antever o que vai suceder. Desde logo, parece-me que o interesse actual é comparativamente muito pequeno quando equacionado com o que despertam a Europa, as Américas ou África. Por outro lado, pode ficar-se por um entusiasmo passageiro, desfeito ao primeiro embate com os «particularismos» indianos.
Finalmente, disponho de muito poucos dados sobre o que é verdadeiramente significativo para podermos antever um futuro risonho para aquele interesse e relações: Qual o investimento que foi feito em Portugal, ao longo destes sete anos em que estive ausente, num conhecimento profundo da Índia? Que estruturas, investigação, intercâmbio, circulação de pessoas, etc. é que foram criadas? Há sete anos não havia quase nada. Se o panorama de hoje for o mesmo, não antevejo grande futuro para as relações luso-indianas.
Mesmo assim penso que o futuro será melhor do que o passado. Embora, como disse, não disponha de muitos dados, posso constatar uma maior circulação de portugueses por estas partes, quer ao nível de turistas, quer ao nível de representantes de interesses económicos; a nossa embaixada foi reforçada com mais pessoal diplomático o que reflecte uma mudança na política do Estado para a Índia; sei de centros de interesse académico em Portugal centrados na Índia.
Deste lado há também sinais positivos: foram abertos recentemente vários consulados honorários (Bombaim, Calcutá, Catmandu) e há novos ou renovados centros dedicados à língua e cultura portuguesa.


Sg - Durante a sua estadia, que projecto mais o aliciou e cativou?
SM - É difícil seleccionar um em particular, pois ao longo de sete anos houve vários que me marcaram. Desde logo, a conclusão da obra de conservação e restauro da Capela de N.S. do Monte. Embora o maior e mais importante papel tenha sido desempenhado pelo meu antecessor, Adelino Rodrigues da Costa, coube-me acompanhar uma fase particularmente interessante, a respeitante ao restauro da arte sacra.
A Capela da N. S. do Monte tornou-se também o centro de um dos mais interessantes desafios da Fundação na Índia, a criação de raiz de um festival de música clássica ocidental e indiana. É uma iniciativa única em Goa que já teve 5 edições e se prepara para ter a sétima no próximo ano. É organizado em parceria com o Hotel Cidade de Goa, o que assinala outro dos domínios que caracterizaram a acção da Fundação, a procura de colaborações estáveis e produtivas.
Ao nível da divulgação da cultura portuguesa as iniciativas mais interessantes têm sido o concurso da canção portuguesa de Goa que está neste momento a ter a sua 9ª edição e que é organizado com o Rosary College de Navelim.
Devo também referir o esforço de formação de guitarristas de guitarra portuguesa e de cantores de fado goeses que já nos permitiu criar um grupo de músicos e cantores com actividade regular, incluindo uma bem sucedida digressão a Deli, Calcutá e Bangalore em Julho último.
Foi-me sempre muito grato levar a nossa cultura e presença cultural a espaços hoje afastados da presença portuguesa como Bangalore, Calcutá, Querala, etc. Penso que é importante apostarmos em destinos diferentes dos que marcaram a presença portuguesa na Índia ao longo dos últimos três séculos.


Sg - Goa é um peso ou uma mais-valia nas relações luso-indianas?
SM -Tudo depende da forma como for encarada e «trabalhada». Se nos deixarmos enredar nas lutas ideológicas do passado, torna-se um peso. Se, pelo contrário, apostarmos no capital de conhecimento mútuo e nos pontos fortes de Goa na Índia ela torna-se uma mais-valia a nível político, económico, social e cultural.
A nível pessoal, um dos aspectos mais interessantes da minha actividade situou-se precisamente na necessidade de lidar com estas duas linhas de enquadramento da intervenção da Fundação na Índia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou goês e tenho muita honra de o ser, mas nasci Português e continuo a sê-lo. Por isso, coisas sobre a minha terra (sou natural de Margão) deixam-me sempre muito interessado.

A Fundação Oriente tem prestado ali um enorme serviço, pensando até que é o mais importante que hoje é feito em Goa por Portugueses. Os mesmos que descobriram o caminho marítimo para a Índia.

Não tenho ido com frequência à Índia. As viagens são caras e como, exceptuados uns primos já afastados, não tenho lá mais família, não me tenho tentado por fazê-lo. Vim para Lisboa para fazer a Universidade e nunca lá voltei. Por aqui, casado com uma Senhora de cá, não me dou muito com a comunidade goesa. Por exemplo, nunca fui à Casa de Goa.

Agora, este texto do Dr. Constantino Xavier (que não me é nada, e a quem pergunto como se fazia em Goa, cuja família é?) aguçou-me o apetite. Vou contar os euros e ver quando ali posso ir. Alem disso, dizem-me que «Goa está muito bem». Se tiver disponibilidade financeira, ali irei.

Resta-me agradecer ao Dx. Xavier e ao Dr. Ferreira esta chamada de atenção.