Uma morte adiada
Antunes Ferreira
Leio e quase não acredito. O Mundo está, definitivamente, roto. Pode lá ser. Cristina Nabona, a ministra do Ambiente do Governo Zapatero, afirmou que os touros de morte deverão ser eliminados, citando como exemplo o caso português. A Espanha esfregou os olhos, acordando para a «infausta ideia». Ou, pelo menos, uma larga parte do país vizinho.
Pode dizer-se até, creio, uma larguíssima parte. Os touros de morte são um emblema espanhol. As fotos de Ernest Hemingway na barreira de muitas praças, e, sobretudo o seu «Verão Perigoso», publicado em 1932, dão um retrato fiel de um defensor da execução do cornúpeto nas arenas. E ele próprio o diz, baseado na sua experiência como jornalista, que o homem não é vencido; os touros sim, na praça.
Espanhol que se preze é aficionado. Corrida sin estocada, no es nada, dizem os sevilhanos. Um bom Amigo, Paço Ramírez, ele também escrevinhador, afirmou-me um dia em que nos encontrámos num bar próximo de Las Ventas, de onde ele chegava, que tinha tido um dia espanhol. Mira muchacho que estamos en España – disse-lhe perante o pleonasmo aparente. Ele soltou uma gargalhada e explicou-me.
Al desayuno me he comido una tortilla de repimpa; al almuerzo una paella, de primero, y cordero asado, de segundo, com un Rioja viejo, dos copas de Cardenal Mendoza y un puro gordo. Las Ventas: cinco orejas y tres rabos, salida en hombros por la puerta mayor. ¡Eso sí, que es España!
Pode louvar-se a excelente intenção da ministra. Pode aceitar-se que ela cite, inclusive, o exemplo português, ainda que Barrancos – supostamente ilegal - atraia quantidades de aficionados sedentos de sangue. Pode entender-se que Bruxelas pouco percebe das diversas europas que fazem a Europa. Pode, também e assim, interpretar-se este anúncio como uma ideia morta à nascença, ou, pelo menos, uma morte adiada…
Mas já não se pode prever em que dará este pré-aviso governamental. O PSOE já reagiu de forma negativa; o PP deve estar a ruminar no comentário que deve fazer sobre um tema eminentemente nacionalista. As outras forças políticas adivinha-se, com alguma facilidade, o que irão dizer – se é que o não disseram já. E já o fizeram, arvorando a governante em bombo da festa.
Cristina Nabona tem de olhar atentamente para o Don Quijote, até mesmo para o Sancho Panza. Não é que o não tenha feito já, porque a obra é também uma bandeira de Espanha. Mas terá de entender que uma coisa é lutar contra moinhos de vento, outra, bem diferente, é «ameaçar» com a extinção dos touros de morte. Nesse hipotético caso, até o Manolete sairia do túmulo e do museu para lhe dizer – ¡no pasaran! Tus ideas y tus intenciones….
Aqui se regista resumidamente o que as agências transmitiram e muitos órgãos publicaram. As notícias. Sem meias tintas. O comentário ficou atrás.
Touros de morte
exemplo português
A ministra do Ambiente espanhola deu início a uma campanha para proibir os touros de morte. Cristina Narbona cita a legislação portuguesa para propor que, no fim da lide, os touros sejam retirados da arena e mortos longe do público.
A possibilidade de seguir o exemplo das touradas portuguesas foi sugerida Cristina Narbona, durante um jantar com a imprensa. A ministra disse que tem o dever de tentar mudar a lei. As reacções multiplicaram-se desde então, com os ecologistas a favor e os proprietários das ganadarias contra.
Em vez da morte do touro em plena arena, provocada pelo golpe do estoque do toureiro, a ministra Cristina Narbona sugeriu que os animais fossem retirados de cena e mortos de forma mais digna. «Temos que, pelo menos, tentar evitar o fim sangrento do touro», afirmou Narbona falando ao El Mundo, e reconhecendo que uma mudança deste calibre terá de ser implementada suavemente. «Talvez no próximo parlamento», acrescentou.
Os políticos espanhóis já começaram a pronunciar-se em desfavor da ministra. José Blanco, líder do PSOE, declarou-se um «aficionado visual» das touradas e afirmou que o final dos touros de morte não faz parte da agenda política do partido. Dos restantes partidos, apenas o catalão ERC apoiou a ideia de Narbona, dando-lhes as «boas vindas ao clube anti-taurino». Barcelona foi a única cidade a falar contra as touradas, durante uma assembleia em 2004. Recorde-se que as touradas têm sido objecto de acesa discussão no Parlamento Europeu, dado que violam os direitos dos animais, mas até agora não houve nenhuma ordem no sentido da sua proibição.
1 comentário:
Ó amigo:
deixe-se de touros e de porras dessas! Escreva mais coisas de fricção, como as da guerra colonial e outras aventuras. Bois e politicos são todos a mesma coisa: cornudos!
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