quinta-feira, dezembro 21, 2006



Um brasileiro e Portugal
Uma nota (?) e uma resposta


Enviado por Ricardo Charters de Azevedo
Há dias, um aprendiz de jornalista brasileiro de Porto Alegre, de seu nome Polibio Braga, publicou a seguinte nota no espaço que possui na Internet, o www.polibiobraga.com.br, cujo texto e título originais de seguida se reproduzem.

Portugal não merece ser visitada
e os portugueses não merecem
nosso reconhecimento


Há apenas uma semana, em apenas quatro anos, o editor desta página visitou pela quinta vez Lisboa, arrependendo-se pela quarta vez de ter feito isto. Portugal não merece ser visitada e os portugueses não merecem nosso reconhecimento. É como visitar a casa de um parente malquisto, invejoso e mal educado. Na sexta e no sábado, dias 24 e 25, Portugal submergiu diante de um dilúvio e mais uma vez mostrou suas mazelas. O País real ficou diante de todos. Portugal é bonito por fora e podre por dentro. O dinheiro que a União Européia alcançou generosamente para que os portugueses saíssem do buraco e alcançassem seus sócios, foi desperdiçado em obras desnecessárias ou suntuosas. Hoje, existe obra demais e dinheiro de menos. O pior de tudo é que foi essa gente que descobriu e colonizou o Brasil. É impossível saber se o pior para os brasileiros foi a herança maldita portuguesa ou a herança maldita católica. Talvez as duas .

Cure-se!

A nota mereceu a resposta do nosso Embaixador no País Irmão que também se edita abaixo. Leia-se e tirem-se as conclusões que cada um melhor entender. Boas Festas e Feliz Ano Novo.





Brasília, 8 de Dezembro de 2006

Senhor Políbio Braga

Um cidadão brasileiro, que faz o favor de ser meu amigo, teve a gentileza de me dar a conhecer uma nota que publicou no seu site, na qual comentava aspectos relativos à sua mais recente visita a Portugal. Trata-se de um texto muito interessante, pelo facto de nele ter a apreciável franqueza de afirmar, com todas as letras, o que pensa de Portugal e dos portugueses. O modo elegante como o faz confere-lhe, aliás, uma singular dignidade literária e até estilística. Mas porque se limita apenas a uma abordagem em linhas muito breves, embora densas e ricas de pensamento, tenho que confessar-lhe que o seu texto fica-nos a saber a pouco. Seria muito curioso se pudesse vir a aprofundar, com maior detalhe, essa sua aberta acrimónia selectiva contra nós.

Por isso lhe pergunto: não tem intenção de nos brindar com um artigo mais longo, do género de ensaio didáctico, onde possa dar-se ao cuidado de explanar, com minúcia e profundidade, sobre o que entende ser a listagem de todas as nossas perfídias históricas, das nossas invejazinhas enraizadas, dos inumeráveis defeitos que a sua considerável experiência com a triste realidade lusa lhe deu oportunidade de decantar? Seria um texto onde, por exemplo, poderia deter-se numa temática que, como sabe, é comum a uma conhecida escola de pensamento, que julgo também partilhar: a de que nos caberá, pela imensidão dos tempos, a inapelável culpa histórica no que toca aos resquícios de corrupção, aos vícios de compadrio e nepotismo (veja-se, desde logo, a última parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha), que aqui foram instilados, qual vírus crónico, para o qual, nem os cerca de dois séculos, que se sucederam ao regresso da maléfica Corte à fonte geográfica de todos os males, conseguiram ainda erradicar por completo.

Permita-me, contudo, uma perplexidade: porquê essa sua insistência e obcecação em visitar um país que tanto lhe desagrada? Pela quinta vez, num espaço de quatro anos ? Terá que reconhecer que parece haver algo de inexoravelmente masoquista nessa sua insistente peregrinação pela terra de um "parente malquisto, invejoso e mal educado". Ainda pensei que pudesse ser a Fé em Nossa Senhora de Fátima o motivo sentimental dessa rotina, como sabe comum a muitos cidadãos brasileiros, mas o final do seu texto, ao referir-se à "herança maldita católica", afasta tal hipótese e remete-o para outras eventuais devoções alternativas.

Gostava que soubesse que reconheço e aceito, em absoluto, o seu pleníssimo direito de pensar tão mal de nós, de rejeitar a "herança maldita portuguesa" (na qual, por acaso, se inscreve a Língua que utiliza). Com isso, pode crer, ajuda muito um país, que aliás concede ser "bonito por fora" (valha-nos isso !), a ter a oportunidade de olhar severamente para dentro de si próprio, através da arguta perspectiva crítica de um visitante crónico, quiçá relutante.

E porque razão lhe reconheço esse direito? Porque, de forma egoísta, eu também quero usufruir da possibilidade de viajar, cada vez mais, pelo maravilhoso país que é o Brasil, de admirar esta terra, as suas gentes, na sua diversidade e na riqueza da sua cultura (de múltiplas origens, eu sei). Só que, ao contrário de si, eu tenho a sorte de gostar de andar por onde ando e você tem o lamentável azar de se passear com insistência (vá-se lá saber porquê!), pela triste terra dessa "gente que descobriu e colonizou o Brasil". Em má hora, claro!

Da próxima vez que se deslocar a Portugal (porque já vi que é um vício de que não se liberta) espero que possa usufruir de um tempo melhor, sem chuvas e sem um "dilúvio" como o que agora tanto o afectou. E, se acaso se constipou ou engripou com o clima, uma coisa quero desejar-lhe, com a maior sinceridade: cure-se!

Com a retribuída cordialidade
do
Francisco Seixas da Costa
Embaixador de Portugal no Brasil

NR - Ora bem. Neste singular caso conjugam-se muitos verbos e propõem-se muitas questões. Antes do mais, registo, quem me enviou o mail que aqui se transcreve foi o meu Amigo Ricardo Charters de Azevedo, que me presenteia quotidianamente com coisas excelentíssimas/informáticas. Donde, e antes do mais, um abração e o muito obrigado devido. Pela minha parte continuarei a fazer o mesmo na volta do correio – até que o Ricardo me proíba de tal. Mas, mesmo putos, no Bairro do Restelo e em casa dos seus primos Câmara de Oliveira, nunca nos pegámos. Não seria agora.
Depois, a carta do Embaixador de Portugal no Brasil é da autoria de um outro magnífico Amigo, o Francisco Seixas da Costa. Alia ao facto de ser um diplomata de alto nível, o escrever muitíssimo bem, característica que, ao longo de anos, muitos e muitos leitores puderam comprovar. Oficial, portanto, do mesmo ofício, isto é e lidas comuns no domínio dos textos.

Passámos momentos inesquecíveis aquando de Conselhos Europeus diversos. Ele como Secretário de Estado para os Assuntos Europeus, eu como Assessor de António de Sousa Franco, outro Amigo de particular estatura, ao tempo Ministro das Finanças. As madrugadas em que se reunia um grupo de portugas para se aplainar as versões das conclusões dessas reuniões magnas da UE, terminaram normalmente em confraternização à roda do café da manhã.

E nos intervalos de reuniões cansativas e prolongadas (que, por vezes, empenhavam gente e meios… para não dar nada), ficávamos na cavaqueira, vendo as horas escorrerem-nos por entre os dedos, numa ampulheta vencedora do tédio. Bons garfos e melhores copos, à mistura com posições políticas afinadas pelo mesmo diapasão fizeram o resto.


A carta do Embaixador Seixas da Costa é um mimo. Aliás, porquê qualquer esboço de interrogação? O Chico a redigir está nas suas sete quintas. Quer o Ricardo quer ele são merecedores da admiração e estima que me ligam a eles. Estarem, agora, presentes no meu blog – é uma enorme honra. De tão babado, nem um toalhão de banho me safava, quanto mais um babete de trazer por casa. A.F.



8 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem, Senhor Embaixador! Nunca lhe doam as mãos! Diz-se que quanto mais um homem se agacha, mais se lhe vê o cu. Não tenho nada contra os brasileiros. Mas já tenho contra os filhos da puta brasileiros.
Coragem e força, Senhor Embaixador. Para isso é que o Senhor aí está no Brasil: para representar Portugal e para defender o nosso País de malandros como esse merdas!
Boas Festas

Anónimo disse...

Primeiro - quero desejar a todos umas Santas Festas e um Ano Novo cheio de prosperidades, que bem o merecem a começar pelo Sr. Dr. Antunes Ferreira.
Segundo - viva o Sr. Embaixador Seixas da Costa. Ainda há Portugueses de barba rija e com eles no sítio. O nosso País precisava de ter muitos mais diplomatas assim. Mas infelizmente não tem. Tem demasiados mais pra lá do que pra cá. Parece sina das Necessidades.
Mas fico por aqui sobre os «meninos» diplomatas, ai, ai. Nestas alturas o que eu mais quero é que a Paz vá andando para a frente, a Saúde não nos falte e o Resto que não nos deixe ficar mal de calças na mão.
Muitas prendas nos sapatinhos

Anónimo disse...

Ôi Embaixador
Deixa pra lá esse cara. Tem burro em toda parte, incluindo, naturalmente, o Brasil. Pô!
Seu Polibio me saiu um verdadeiro cafegeste. E olha lá, eu nem tenho uma costelinha de português. Mãe mulata e pai italiano. Meus melhores cumprimentos e desejos de Boas Festas

Anónimo disse...

Gostaria de saber o que pensam senhores como o Scolari, o Liedson, o Polga, o Luisão, o Ibson, o Anderson e outros que tais a propósito do escarro produzido pelo Polibio.
Gostaria que dissessem publicamente se alguém os tem tratado mal em Portugal.
Gostaria ainda de mandar um grande abraço e muito obrigado ao Dr. Seixas da Costa. Às vezes, tenho a impressão que tenho vergonha de ser Português. Mas com um Embaixador como este outro galo canta!

Anónimo disse...

Só quem não conheça o embaixador Seixas da Costa pode ficar admirado com a sua verticalidade e a sua valentia. Ele não sabe quem eu sou - mas sou reformado do MNE e alem de conhecer, admiro-o.

Anónimo disse...

Meus senhores

Então um homem não tem direito a exprimir a sua opinião? Tanto mal se disse e diz da censura e agora não se aceita que um cidadão brasileiro não goste de Portugal?...

O embaixador Seixas da Costa não é um cavaleiro andante nem o Estado Português (isto é, todos nós com os nossos impostos) lhe paga para exercitar os seus dotes literários a propósito disto.

Deixe o senhor Polibio pensar e escrever, sr. diplomata. E trate dos assuntos de Portugal no Brasil, sobretudo dos económicos, numa altura em que todos andamos aos papeis.

Vá trabalhar dr. Seixas da Costa.

Anónimo disse...

Para começar bem o novo ano, as minhas felicitações, o meu apreço e o meu muito obrigado ao Sr. embaixador F. Seixas da Costa.

Anónimo disse...

Nasci no Brasil e lá vivi metade da minha vida. A outra metade foi vivida cá em Portugal. Por isso fico profundamente amargurado ao assistir a momentos de desarmonia, contrariando o discurso de “países irmãos” que, ao longo dos anos, ouvi e senti de igual forma em ambos os lados do oceano atlântico.

Tal como acontece em qualquer relação entre irmãos, as relações sociais entre brasileiros e portugueses por vezes crispam nos momentos de discórdia, não por causa das diferenças, mas pelas semelhanças culturais. Afinal, o que importa se alguém nascido no “Longistão” critique negativamente o nosso país? Por outro lado, quando um irmão fala mal do outro, a razão desvanece e a emoção desponta.

Não se pode agradar a todos, mas Portugal anda muito perto disto. Quer sejam brasileiros ou não, quem conhece este pequeno paraíso fica sempre bem impressionado, embora muitos portugueses tenham alguma dificuldade em reconhecer as próprias qualidades. Não conheço as estatísticas, mas baseando-me pela minha própria experiência através dos depoimentos de brasileiros (e não só) que visitaram Portugal, confiro a quase unanimidade de opinião de quão magníficas são as terras, as pessoas e as coisas. Um sentimento genuíno, e que muito me agrada ouvir, pois já não pertenço a uma única pátria.

Com a minha vida dividida entre Portugal e Brasil, não consigo identificar o que realmente nos separa. Por isso, é com indignação que verifico haver pessoas, como o tal senhor de nome Polibio Braga, auto-intitulado “jornalista”, tenha espaço nos meios de comunicação para expressar opiniões de forma tão superficial e inconsequente, o que não condiz em absoluto com as atribuições de um jornalismo, digamos, sério.

As suas divagações antropológicas sobre Portugal e o colonialismo estão mais próximas dos delírios de um fascista embriagado com a própria glória de reconstruir o mundo segundo os seus ideais de desenvolvimento e prosperidade económica.

Sobre as suas experiências em terras lusas, fica a frágil e pálida noção de um descritivo medíocre e inocente, como se tratasse de um diário de férias de uma adolescente com vontade de perder a virgindade.

Claro que ao fim de alguns dias de turismo pode haver um momento menos agradável, um tratamento menos digno, um aspecto menos espectável. Mas não se julga o "todo" por uma "parte", pois não há neste planeta um país que esteja isento de imperfeições. Mas o Polibio não explica, insinua. O Polibio não fundamenta, prescinde. O Polibio não conhece, imagina. O Polibio não sabe, finge.

E já que não estou a exercer a função de jornalista, posso muito bem seguir o seu estilo destrutivo e negligente para dizer, por exemplo, que o pobre Políbio deve ser um desgraçado. Deve ter adquirido raiva do mundo ao sofrer anos de chacota na infância e juventude, com a herança, não portuguesa, mas sim grega, dos seus pais que ao nascer lhe atribuíram o nome do famoso historiador peloponeso também conhecido como Polibius.

Isto dá o que pensar… Quantas pessoas já ouviram falar do grego Polibio? Penso que não muitas, embora possa estar enganado, e haver inclusive muita gente com bons conhecimentos de história. Mas certamente não corro o risco de estar enganado quando digo que, antes desta polémica, poucas pessoas conheciam o brasileiro Políbio, quer no Brasil quer em Portugal. Por isso anexo mais uma qualidade ao senhor Polibio, o de saber chamar a atenção sobre si mesmo. Será, afinal, que é esse o seu objectivo?

Por isso vos peço, coloquem o Polibio “Historiador” no pedestal dos nobres, e o Polibio “Jornalista” na vala dos medíocres.

Paulo Torck
Lisboa