sexta-feira, maio 18, 2007







O INE e o desemprego

Taxa do primeiro trimestre
é a mais alta em nove anos



Antunes Ferreira
No melhor pano cai a nódoa, diz o Povo que, como quase sempre, tem razão quando enuncia ditados com este. Na verdade, é cada vez mais difícil contestar a sabedoria popular, plasmada em palavras simples mas solidamente alicerçadas em milhares de anos. No âmbito do Direito chama-se consuetudinário. Numa dimensão mais global, pois estamos na época, diz-se tradição. As mais das vezes – correcta.

Socorro-me, de novo, da agência noticiosa nacional e de órgãos da CS diversos. A taxa de desemprego de 8,4% estimada para o primeiro trimestre deste ano é a mais alta registada desde o início de 1998, quando o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) começou a actual série.Segundo o INE, os dados do emprego estão sistematizados desde 1974, mas em quatro séries distintas, não sendo possível fazer uma comparação directa entre as diversas séries, devido a «diferenças metodológicas significativas».


Na actual série, iniciada no primeiro trimestre de 1998, a taxa de desemprego só atingiu os 8% por uma vez, no último trimestre de 2005, e claro, no último trimestre do ano passado e no primeiro deste ano. O INE divulgou agora que a taxa de desemprego subiu 0,7 pontos percentuais no primeiro trimestre deste ano, face a igual período de 2006, atingindo os 8,4%, e registou uma evolução trimestral (em cadeia) de 0,2 pontos percentuais.

Como se pode ver imediatamente abaixo, escrevi uma nota, a partir de dados do Eurostat, e socorrendo-me de um texto sintético e informativo da autoria da jornalista Eva Gaspar. Anexei-lhe uma outra notícia, a partir do serviço da Lusa e permiti-me tirar umas quantas ilações. Tudo parecia indicar que se entrara no caminho da recuperação da economia portuguesa, ainda débil, mas a cair no sustentado.

Dou a mão à palmatória

Venha a palmada. Tanta é a vontade de ver o nosso País sair do marasmo em que vinha vivendo; tanta a confiança nos números e percentagens que eram fornecidos por entidades de reconhecida fiabilidade; tanta a intenção de apontar o caminho deste Governo, que tudo tem feito para inverter o derrotismo tipicamente português, ainda que à custa do cinto dos cidadãos, muito apertado, que alinhei nos convencidos. E com muito prazer.

Não era um sonho, mas também não era um desejo, no bom sentido da palavra. Era, tão só, a constatação de que a crise (que ainda existe) começava a ser ultrapassada, princípio de vitória que nos satisfaria e nos permitiria inspirar fundo, a haustos largos, para descomprimir a pressão que temos sobre nós, ainda que aligeirada. Bato no peito. Mea culpa.


Veio então à ribalta o ministro do Trabalho, o qual, em declarações à agência Lusa, disse que há dados que contrariam a tendência de aumento do desemprego mostrada pelo INE e considerou que, mantendo-se a aceleração do crescimento económico, Portugal está em condições de conter e começar a reduzir o desemprego.

No entanto, Vieira da Silva afirmou que a taxa de desemprego continua elevada, segundo esses dados do INE, mas que há outros dados recentes que mostram um sentido contrário, de recuperação no mercado de trabalho. E acrescentou que se trata de «uma preocupação da sociedade e do Governo». Pormenorizou que há «dados recentemente divulgados que mostram um sentido contrário» aos fornecidos pelo INE, e que aqueles apontam para «alguma recuperação».

Os dados de que fala o ministro são, em primeiro lugar, os do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que apontam para uma tendência consistente de redução homóloga do desemprego registado. Os últimos, divulgados a 15 deste mês, mostram que o número de desempregados inscritos nos centros de emprego diminuiu 10,4% em Abril, face ao mesmo mês do ano anterior, pelo 14º mês consecutivo.

Números dados pelo ministro

No final de Abril, estavam inscritos nos centros de emprego do Continente e Regiões Autónomas 420.685 indivíduos, menos 48.568 desempregados que no período homólogo, dados que contrariam os do INE, que estimou hoje a população desempregada em 469,9 mil indivíduos, o que traduz um acréscimo homólogo de 9,4% (40,2 mil indivíduos).

Vieira da Silva referiu, também, à Lusa, que o número de desempregados - que recebem pela primeira vez o subsídio - caiu 13,5% no primeiro trimestre, em termos homólogos, enquanto o total de beneficiários do subsídio de desemprego caiu 8,1%, no mesmo período. «Estes dados podem ter a ver com a situação de mudança que a economia portuguesa está a atravessar», afirmou o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social.

Disse ainda que tem uma «expectativa favorável» sobre a «evolução positiva» do desemprego, especialmente depois dos dados sobre o andamento da economia portuguesa no primeiro trimestre. A 15 deste mês, o INE anunciou, na sua primeira estimativa rápida, que o crescimento da economia portuguesa acelerou no primeiro trimestre, com um aumento homólogo (face ao mesmo período do ano anterior) de 2,1%. A isso me referia no texto já citado.

O governante observou que «é sempre difícil prever uma tendência», mas considerou que Portugal estava «em condições de iniciar a contenção e a redução, ainda que ligeira, da taxa de desemprego». Poderão estas afirmações significar que o Executivo chefiado por José Sócrates embandeirou em arco desnecessária e imprudentemente?

Reconhecer que me enganei é difícil. Mas estou certo de que é o único caminho a seguir em certas ocasiões. Nestas coisas de previsões e estatísticas há sempre anedotas calinas para explicar o desfasamento entre dados e há também sempre quem aproveite essa discrepância para berrar «nós é que tínhamos razão! O Governo é, uma vez mais, mentiroso!»

Fizeram-no, eu digo, como lhes competia, as centrais sindicais, ou seja, a CGTP e a UGT, e os partidos da Oposição. O primeiro-ministro – estou quase certo (pelo sim, pelo não, adverbei com o quase) – irá comentar estes dados do INE na mesma linha adoptada por José António Vieira da Silva. Espero que, desta vez, seja suficientemente claro para que não se sujeite a mais dichotes e ataques acirrados.

Se não for assim, o chefe do Governo tem aqui um bico-de-obra. Tem, por isso, de despachar-se, de intervir neste imbróglio estatístico, de explicar cabalmente onde está o busílis. Se não o conseguir – os Portugueses talvez já não correspondam aos números e percentagens das últimas sondagens. Aqui, sem grande margem de erro – ou de dúvidas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pela boca morre o peixe. Andavas a aplaudir o falso engenheiro e o desgoverno dele e agora é que são elas. E finges arrependimento. Quem te conhecer que te compre, bastardo!

Anónimo disse...

Gostei. Mesmo que tenha sido uma confusão (os números e as percentagens são terríveis) o reconhecer que talvez tivesse exagerado ou a tal ser levado é muito bom.

Nem esperava (se esperava) outra coisa de si. Não o conheço pessoalmente, mas já o admirava. Agora confirmo essa admiração. E escreve muitíssimo bem. Muito obrigado por tudo. Vou continuar a vir aqui regularmente. E já o tenho recomendado a amigos.

Anónimo disse...

Tão mentiroso é o patrão como é mentiroso o criado. O Sócrates falso e o Antunes lambe botas bem podiam ir pregar para outra freguezia. Aqui já não fazem mais que mentir sem vergonha. Os dois mentem. O Ferreira finje que pede desculpa. Estamos lixados!

Anónimo disse...

A sua ombridade, Sr. Dr. Antunes Ferreira é notável. Não é pelo bater com a mão no peito. Jesuitices não cabem neste seu excelente blog que tenho recomendado a amigos, sem que me tenha sido encomendado.

E até ao lavar dos cestos é a vindima. Gente de bem ainda hoje chegou a acordo para o prolongamento do Metro do Porto. Que diz a isto a pobre oposição? Que o Dr. Rui Rio é socratiano? Ahahah!...