quinta-feira, março 29, 2007
À RODA DOS DIAS
Março
Maria Lúcia Garcia Marques
é pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
[...]
é o vento ventando, é o fim da ladeira
é a viga, é o vão, festa da cumeeira
e a chuva chovendo, é conversa ribeira
das águas de março, é o fim da canseira
- é Tom Jobim
e o meu pé de olaia florindo sem mim.
Março de Marte? Não, ainda que pareça, é de Mercúrio: primeiro mês do calendário romano, ao contrário do que o nome indica, era consagrado a este deus, filho de Júpiter, mensageiro dos deuses e protector dos comerciantes e viajantes.
O calendário gregoriano “terceirizou-o”, mas deu-lhe o tempo das águas benévolas, dos “ventos bailadores” das primaveras. Os verdes rebentam em frágeis euforias promissoras, há flores, há chuvas que são prantos de amor e céus lavados a abrirem-se na frescura de azuis enamorados.
Por isso, para mim, Março é de Marte – o deus da pujança romana – o deus da Guerra mas também o deus da Natureza, dos vegetais, o protector da Agricultura.
Deus tutelar dos filhos do Lácio no que de melhor souberam fazer: a arte da guerra e o cultivo dos campos.
Mês este em que – “esgotada já a primavera do meu tempo”, como diz o poeta – recordo um outro março, velho de 45 anos, o “nosso” Março de 62, em que eu vivi a minha “primaguerra” – a mais sincera e saudosa recordação da juventude, quando ainda acreditávamos que as primaveras refloririam eternamente e que “NUNCA MAIS!”
No entanto (e mesmo quando o coração já me começa a arrefecer), senhor marçagão, com suas manhãs de Inverno e tardes de Verão, nos seus 31 degraus de trono caprichoso, Março é o meu mês: “Pastoral” de um Beethoven largado à solta, continua a levantar-se ao som das armas e a porfiar nos campos de lavra, pigarço e duro como um cavalo dos deuses!
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2 comentários:
Gosto muito dos seus textos, Dona Maria Lúcia. Continue a fazê-los todos os meses. Bem haja.
Ó dona Madalena
Você é da família do A. Ferreira? Se é, os meus pezames. Olhe, ó senhora, eu não gosto nada das filosofices desta senhora Maria L. Garcia Marques. Pode ir limpar as mãos à parede!
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