quarta-feira, março 21, 2007



Carros de aluguer na Zâmbia

Braz Ferreira
Lá diz o velho ditado: “É mais facil apanhar um mentiroso que um coxo”.Não sei porque falo neste ditado pois o empregado da empresa de aluguer até nem era coxo...mas era mentiroso. Segunda-feira, la estava eu no meu escritorio esperando o carro que a empresa me tinha alugado. Chega-me um senhor de gravata muito, mas muito curta, tipo salário mínimo em Portugal, com um ar de Director de Agência. Pensei estar na hora de almoço tão forte era o cheiro de cebola que o pseudo director trazia à volta dele. Perdão, à volta e dentro dele. Talvez por isso a gravata tivesse reduzido de tamanho de tanta vergonha que estava passando.

Depois das apresentações, durante as quais a gravata tentava desesperadamente desenvencilhar-se do seu portador, nos dirigimos até ao veículo. Tal um desenho animado do Walt Disney, fui seguindo o cheiro do bife de cebolada. Se estivesse na Espanha poderia dizer que quando vi o veículo quase o culo me cayo en el piso. Mas estava na Zâmbia. O tal director perfumadissimo “a l’oignon numero 5”, me perguntou se eu tinha gostado do carro.

Not too much – respondi eu. Nuca tinha respondido tão bem pois o carro, um Nissan, tinha uma cor vermelha atomatada. Pensei logo em cozinha meridional pois já tinha dois dos principais ingredientes: as cebolas e os tomates. Mas no final das contas era o tal pseudo diretor que tinha que ter tomates para me apresentar um carro de aluguer naquelas condições
.
Mas passemos a descrever o dito cujo. Para melhor exemplificar, lembram-se há poucos dias do novo modelo da Ferrari, tambem de cor tomate, na exposição de Genève. Pois bem, não tinha nada a ver uma coisa com a outra. Esqueçam. Era como branco e preto. E era essa mesma a situação. Como dizia o Tarzan: eu europeu, tu zambiano.

O mistério dos piscas

O carro tinha dois orificios nas laterais, lembrando que, em tempos que já lá vão, deveria ter possuido dois pisca-pisca. Para serem solidários os dois tinham desaparecido juntos.
Tambem o radiador de côr vermelha desaparecia sob o capot. Quando fiz notar este pequeno detalhe ao pseudo director, ele levantando o capot me mostrou que era uma simples questão de um parafuso que tinha acompanhado os pisca-pisca.

E delicadamente colocou o radiador no lugar, pois era uma questão de disciplina, herança da colonização britânica: cada coisa no seu devido lugar. Nesta altura dos acontecimentos, devo reconhecer que até tive um certo receio de terminar a vistoria do automóvel. Que outras surpresas me esperavam ainda nesta exótica aventura africana? Mas decidi fazê-lo somente por uma questão de curiosidade, não tivessem sido os nossos antepassados desbravadores de mistérios em terras africanas.

A mala trazeira, com vontade de dormir, abria descaradamente a boca mostrando não as amigdalas mas uma roda de socorro que tambem gritava por ele. E os para-lamas esperavam ansiosamente receber notícias dos pisca-pisca para poderem juntar-se a eles.
Terminada a verificação externa, passámos à interna. Em primeiro lugar os bancos. Eles deveriam ter sido testemunhas caladas de um jantar pantagruélico. Manchas de cores variadas e codeas de pão, em espírito de equipa, olhavam-me descaradamente dizendo-se: este cara vai sentar-se em cima de nós...

Coisa que eu nunca ousaria ter feito, não por compaixão com as codeas, mas porque era obrigado para poder testar o motor do carro. Os tapetes de chão deveriam ter sido limpos pela ultima vez, quando do tempo do Livingstone. Eram peças raras dignas de serem parte importnate do museu de Lusaka. Uma vez sentado, quase ouvindo gemer as codeas, o tal pseudo director acebolado me explicou como ligar o carro.

Um acto sensual

O porta-chaves era a chave do segredo de segurança. Para tal deveria ser introduzido numa caixinha por baixo do volante antes de dar volta à chave. Só que ao praticar este acto sensual de introdução do porta-chaves na caixinha, esta, completamente invadida pelo prazer, deixou-se cair no meu colo. O tal director imediatamente se debruçou sobre o meu peito para apanhar a caixinha e botá-la no seu devido lugar. Mais uma vez a tão conhecida disciplina trazida pelos ingleses.

Nesse exacto momento, pude sentir o cheiro concentrado da cebola que quase me trazia lágrimas aos olhos. Para não criar mais problemas, aceitei o carro como estava, pois nem era eu que o pagava. Pelo menos conseguia livrar-me dos odores de cozinha mal lavada.
E foi o que aconteceu. Lá voltei eu para o meu escritório pegando na chave com a ponta dos dedos até a ter lavado no banheiro.

E à tardinha quando deveria voltar para casa, ao tentar arrancar o carro, só tive de esperar uns trinta minutos até conseguir praticar o tal acto sensual de introdução do porta-chaves na caixinha. No dia seguinte a empresa reclamou e trouxeram um outro veículo. Vou poupar-lhes a segunda vistoria pois correria o risco de me repetir e alongar o texto, sendo assobiado pelos leitores.

Mas somente para resumir, em uma semana só me trouxeram três carros diferentes, na cor é claro, pois no que diz respeito às condições eram mais ou menos da mesma família.
Os pisca-pisca do primeiro carro devem ter chamado os do terceiro e os do segundo devem ter sido impedidos de deixar a agência obrigados pelas forças militares zambianas. Por issso gostaria de terminar dizendo que para aluguer de carros na Zambia só A...VIS...TA, contado ninguém acredita.

2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui volta a estar o maninho do bosse. Podiam ambos estar caladinhos e quietinhos, que não faziam cá falta nenhuma. Este até escreve brasileiro. Já não há pachorra!

Anónimo disse...

Vê se o convences a escrever mais.