quarta-feira, agosto 02, 2006



A caravana passa

Antunes Ferreira
Ponto prévio: sendo velho militante do Partido Socialista, ainda que incumpridor praticante e livre pensador, não posso, porém, deixar de afirmar que o actual Governo, da responsabilidade do engenheiro José Sócrates, até este momento, pelo menos, continua a ter a minha compreensão e o meu apoio. Era o que faltava, que não tivesse, vejo já os detractores mais diversos a comentar. Era o que faltava.

O País está de rastos, já não há quem pegue nisto, o que não admira tendo um Executivo de incompetentes ou de desatinados, de resto chefiados por um homossexual. Que também é um falso engenheiro. Os únicos, os bons, os verdadeiros são os do Técnico, os restantes, os que dizem que o são, não passam de uma burla pseudo-universitária. Dizem e diz-se que são – mas não são. Mas há leis... Também elas mentirosas e ponto.

Suspendo aqui, ainda que entre parênteses, o curso do escrito com algum nexo, penso. Por alguns motivos que passo a expor. Primo. Sendo um amante da Liberdade e da Democracia – que defendi e procurei e pelas quais lutei e sofri, nos tempos da ditadura salazarista – e, como atrás disse, socialista, não tenho procuração de Sócrates para o louvar, encomiar ou idolatrar. Já o escrevi: não concordo com algumas das medidas que tomou, com uma parte da estratégia que usou, mas na globalidade, estou com ele.

Manter a calma e a serenidade

Secundo. Nessa condição de democrata e libertário, não podia permitir-me qualquer censura inibitória, sobretudo no domínio da expressão. E até confesso que, nos momentos de defesa do que entendo ser correcto, não mantenho a calma e a serenidade imprescindíveis, sobretudo nas questões políticas e nos insultos, ainda que sorridentes. Sou assim, confesso, ainda que me pareça que não o devia ser, o que reconheço; mas não me emendo: quase a completar 65 anos, não seria agora que.



Aceito (e pratico) a crítica construtiva, nunca a derrotista, do bata-abaixo, do cataclismo nacional. Que para mim não o são. Posso não concordar com ela, mas é assim. E tento encaixar, mesmo quando as diatribes vêm de Amigos, aquilo que entendo ser catastrofista ou insultuoso. Quem diz que o Primeiro-ministro é «maricas» tem, em meu entender, no mínimo, de o provar. Senão é perjúrio, qualificado no Código Penal. Isso não engulo.

Quem diz que os ministros e secretários de Estado são umas bestas, incapazes e corruptos, tem, ainda em meu entender, de o provar, nos termos do que acabo de escrever no parágrafo anterior. Ataques e qualificações gratuitos não deviam valer em nenhum caso. Em Portugal valem; ou, pelo menos, parece que valem. O Executivo poderá ser uma nódoa, com o que não concordo, e há todo o direito de o afirmar. Façam-no, mas com razões claras e transparente e válidas, nunca em processo de intenções.

Tertio. Afirma-se que o nosso País está no fundo mais abissal, que tudo piora quotidianamente, que não há quem o endireite. E aos saudosistas do passado, os defensores da moral jesuíta, os próceres da intervenção policial à moda antiga e do cala a boca, comuna, a esses permito-me lembrar-lhes que se assim falam é porque acabaram os famigerados delitos de opinião que, quando o poder os aproveitava, não eram motivo de críticas.

Um complot de alto coturno

E se se afirma que as coisas parecem melhorar ainda que um niquinho, embora, trata-se de mentirolas governamentais. Mas o Banco de Portugal também o diz. Olha que admiração, com o Governador socialista que tem... Note-se que a Comissão Europeia... Outra farsa, o que ela quer é cortar-nos as pernas e os subsídios. E a OCDE... Não credível. Um dia diz sim, logo a seguir diz não. Porém, o INE... Que é que esse instituto desacreditado havia de dizer: é do Governo.




Quator. Estamos, assim, perante o conluio de que já falei por diversas vezes. Um chorrilho de mentiras, um arraial de falsidades, todos juntos a apoiar este espantalho governamental, um verdadeiro complot do mais alto coturno, concluem. Só posso escrever que é um despautério. Se alguém tentar não dizer mal do Executivo e dar uma informação real, por certo moderada e prudente, trata-se de um confesso aldrabão. Vislumbra-se a retoma, oxalá ela se confirme e seja sustentável. Os profetas da desgraça regougam em coro que a propaganda oriunda de São Bento e do Largo do Rato continua.

As Oposições que temos

Quinto. Temos as Oposições que temos. Que tocam nas mesmas teclas da apregoada publicidade, dos projectos e das intenções que não passam disso, dos ludíbrios e das invencionices do Executivo. Fazem o que lhes compete, não o são para outra coisa, mas. Se tudo o que o Poder faz ou pretende fazer é um encadeado de tolices, onde estão as alternativas válidas e melhores? O hemiciclo ouviu umas, escassas, que parece serem impossíveis ou inoperantes. O Governo, aqui, deve sentir-se confortado, pelo bem que elas lhe fazem. Quanto aos sindicatos, não escrevo nada. Não vale a pena, infelizmente.

Já chega. Siga em frente engenheiro (ainda que duvidoso...) José Sócrates. Volte de férias com as baterias recarregadas. Com as energias alternativas, com o Simplex, com as reformas mais diversas, com o saneamento das Finanças, com a modernização do Estado, com o Plano Tecnológico, com o Inglês nas escolas, com a banda larga, com a formação, com a tecnologia, com a OTA e o TGV. Com muito mais, que não quero aqui mencionar sob o risco de não me chegar uma lista telefónica para as anotar. Os cães ladram e a caravana passa.

4 comentários:

Anónimo disse...

Assim é que é, Antunes Ferreira! Defenda o Sócrates, que ainda lhe vai servir de muito. Ainda chega a Presidente do Conselho de Admiração do Banco do Povo Unido Que Jamais Será Vencido, BPUQJSV. E bem o merece.

Eu nem sou xuxialista, até tenho saudades do tempo que infelizmente não volta para trás, com o pedido de desculpas a um dos maiores fadistas nacionais, o António Mourão, injustamente saneado depois desse terrível dia 25 de Abril de 1974, de que não precisavamos mas que infelizmente aconteceu, mas acho que o que escreveu é um escarro mais ou menos bem escrito.

Se isto não é um buraco é porque é um grande buracão! Salve-se quem puder. Dos Varas aos Fernandos Gomes e principalmente aos Vitorinos é um regabofe, apadrinhado pelo tal que dizem que é coiso e se calhar é porque nunca anda com mulheres, a dele foi-se sabe-se lá porquê e qundo o nosso povo diz coisas lá tem alguma razão é o que eu penso.

Pois A. Ferreira, agarre-se ao bicho que ainda alcança o tal tacho de que anda à procura. Pode crer. Vá para a bicha, A. F. vá para a bicha

Anónimo disse...

Bom dia. Tenho seguido com alguma atenção este blogue. Com muito prazer, a maioria das vezes. Este tema da melhoria da economia portuguesa fascina-me, tanto mais que acabei há dois anos Economia.

Estou a trabalhar como empregado numa loja dum Centro Comercial, cujo nome não digo, pois não tenho de lhe fazer publicidade. A vida está complicada e há que deitar a mão a tudo que seja posto de trabalho. Emprego, como antigamente, já não há.

Por tal motivo, vou tentando saber o que realmente se passa hoje em Portugal. E no meio de tantos escritos negativos é bom ler os do Antunes Ferreira, que me parecem honestos e verdadeiros. Tenho 26 anos, e espero que as coisas vão melhorando para encontrar nova posição laboral.

E quero casar-me. Mas tanto eu como a minha namorada Júlia somos uns tesos. Os meus pais e a mãe, viuva, dela não têm massa com que nos possam ajudar muito. Já fizeram muito: deram-nos, aos dois, cursos universitários, ainda que hoje eles não sirvam de muito...

Antunes Ferreira, não vá em cenas de legionários. O senhor parece-me e à Júlia um tipo fixe e escreve bué de bem. Conte com mais dois fans. Que apoiam a ideia de outros leitores: aproveite estes seus magníficos artigos e faça um livro. Será um best seller, tenho a certeza

Anónimo disse...

Querido chefe, adorei este "escrito" fabuloso aliás como só o Antunes Ferreira sabe muito bem fazer.
Parabéns pela coragem, pela determinação, e por estar sobretudo muito bem feito.
Não fiquei surpreendida mas de todo estupefacta. Aliás a mim não me surprende porque bem o conheço. A coragem, a frontalidade e a honestinade fazem de si o Homem que é e por isso esta missiva deveria ser publicada em todos os "pasquins" e não "pasquins" e não somente no seu blog. Só assim alguns imbecis perceberiam e aprendiam alguma coisa, pois sobretudo precisam de aprender...
Cada dia estou mais feliz por o ter conhecido e ter tido o privilégio de consigo trabalhar. Foi para mim um mestre e um amigo de muitas horas de trabalho. Bem haja. Vou partilhar se me permite este texto com os meus amigos.
E escreva mais; fico à espera deliciada.

Anónimo disse...

Caro Dr. Antunes Ferreira




Li e agradeço o seu texto cujo teor muito me revelou. Não obstante, suscita-me dois tipos de comentários que passo a expor-lhe.

O primeiro tem a ver com as suas lides socialistas, passadas e presentes, que respeito. Imagine que nalgumas coisas, com a devida ressalva, até concordam com o meu trajecto nestas andanças políticas, trajecto esse que vi sempre muito dificultado pelo facto de nalgumas coisas eu perfilhar ideias de esquerda – é o caso de eu não conceber um projecto de saúde que não seja totalmente de raiz pública, coisa que o actual governo não perfilha decididamente, pois acha que os privados até aqui podem naturalmente ganhar dinheiro – e noutras, de direita, estimando a solidariedade e a colaboração do Estado para com o investimento privado, muito embora sem esquecer a necessidade da sua indispensável actuação de controlo e fiscalização, num país de vigaristas como é sem favor, o nosso. Por isso nunca reverenciei nem pessoas nem partidos, nem nunca me deixei influenciar por doutrinas políticas, tão afastadas como se mostram na prática da realidade intrínseca das sociedades. Li assim com curiosidade redobrada, até porque sou amigo de alguns correligionários seus, o que me expõe sobre a sua vida neste capítulo.

O segundo ponto respeita novamente e sempre, às loas que o Dr. Antunes Ferreira tece mais uma vez ao nosso 1º. O que pensa sobre a qualidade da sua governação é consigo e tem todo o direito de o defender e de lhe fazer a propaganda que achar oportuna e conveniente, como certamente decidiu realizar ao inserir no seu blog, a sua maneira de reflectir sobre o momento político actual.

Já na perspectiva da formação académica da sobredita cuja pessoa, tenho a lembrar-lhe mais uma vez, pois a primeira pelos vistos não deu resultado, - e tomo a paixão com que coloca este problema como responsável pelo sucedido – que o grau académico conferido pelo ensino Politécnico, que o nosso 1º, em Coimbra, frequentou e terminou com sucesso, é o Bacharelato. No caso dos Institutos de Engenharia, esse grau académico tem a designação legal de Engenheiros Técnicos, deixando-se assim o título de Engenheiro aos licenciados oriundos do ensino Universitário, - nem todos estes mesmo assim, têm o privilégio de serem membros da Ordem dos Engenheiros - do qual se destacam sem dúvida o Instituto Superior Técnico em Lisboa e a Faculdade de Engenharia, esta residente no Porto.

Esta reflexão foi motivada pela sua afirmação de que ao se falar do nosso 1º., há a tendência errada, para não afirmar maldosa, de escalonar os Engenheiros, tal como refere ao lembrar o “snobismo” profissional daqueles formados no I.S.T. Não, não há e não é verdade. Se assim sucedesse, estar-se-ia a confrontar os dois graus académicos acima referenciados, diga-se de passagem, salvo erro grosseiro, paridos e institucionalizados, e mal, pelo Prof. Dr. Veiga Simão quando foi ministro. E digo mal – e não estarei certamente sozinho ao exprimir esta opinião – porque depois do 25 de Abril, ao terem idiotamente acabado com o chamado Ensino Técnico que constituía a base de comando intermédio da nossa indústria, incluindo a construção civil e obras públicas, deveria isso sim, ter-se levado por diante a cruzada de repor nos termos que se considerassem os mais adequados, a lacuna criada e deixar apenas para uma classe profissional, a dos Engenheiros, a direcção, a coordenação e a gestão das unidades da actividade em causa. Mas a luta de classes é imprescindível para alguns, a todos os níveis e sem ela, para esses tais, não se vai a lado nenhum.

Por outro lado e ainda dentro deste contexto, caro Dr. Antunes Ferreira, sou dos tais que encara as diferentes formas de ganhar a vida sob o ponto de vista profissional, todas elas como dignas desde que honradas e sérias, sendo certo que um bom sapateiro, salvo melhor opinião, tem muito mais categoria que um mau engenheiro.

O plano em questão recorda até o racismo. Às vezes refina nos mais potencialmente atingidos.
Não tornarei a abordar este assunto, disso pode estar absolutamente confiante, pois colocando as pedras de outra maneira, não é por causa de mais ou menos honrarias profissionais e títulos académicos, que o nosso 1º tem feito um governo cheio de aspectos controversos e polémicos. E faz pena, pois a linha reformista empreendida mostra coragem e determinação, - embora às vezes se fique pelas meias tintas, como é muito corrente entre nós - só que estrategicamente francamente mal aplicada e de tal modo que parafraseando o adorável Eça de Queiroz, sempre direi que em Portugal não é viável pelo menos desta forma, chamemos-lhe falta de tacto, governar contra a igreja católica, contra o funcionalismo público, - sublinho a magistratura - e contra as forças armadas.

É exactamente o que tem vindo a suceder com evidentes provas de mau senso e sobretudo de cabotinismo, o que adicionado ao infeliz tratamento dado à resolução de alguns assuntos que se prendem com investimentos estrangeiros, relevantes para o relançamento do emprego, ainda que no médio prazo, têm demonstrado que não são os “ canudos “ que nos tornam competentes e sensatos. É que, sabe Dr. Antunes Ferreira, não é possível ensaiar continuadamente a desvalorização de alguns factos graves, apenas recorrendo à propaganda, “cruzes “, até lembra outras desgraças.

Quanto à apregoada homossexualidade do nosso 1º, sabe que essa história das provas até leva ao disparate, pois hoje em dia, ser-se homossexual não requer licenciamento, não é crime e até está na moda.
E acabou-se.
Um abraço