quinta-feira, julho 06, 2006



De bestial a besta...



Antunes Ferreira
F
oi o Tavares da Silva, parece-me, que escreveu que os treinadores de futebol um dia (quando ganhavam) eram bestiais, no seguinte, se perdiam, umas bestas. Acrescento eu, imodestamente, pois nem penso comparar-me ao ilustre fundador de A Bola, que os técnicos são todos iguais, só que uns são mais iguais do que outros. Não sei a quem hei-de pagar o copyright, pois a afirmação não é minha. Mutatis mutandis, se colocarmos o vocábulo homens no lugar de treinadores, temos a afirmação mãe.

O Barão de Coubertin disse – saudosos tempos, esses – que ganhar e perder, tudo é Desporto. Assim fosse, actualmente, mas todos sabemos como as coisas andam. Para uns o Scolari sempre foi um camafeu, nem treinador nem seleccionador, uma «coisa» inventada pelos media.Para outros, a maioria, um Senhor que ganhara muita coisa, incluindo o anterior Campeonato do Mundo em 2002, na Coreia do Sul e no Japão.

Sublinho que escrevi do Sul porque do Norte apenas vêm dislates, alguns mesmo criminosos. As últimas cenas do lançamento de sete mísseis intercontinentais é disso um bom exemplo. Num país despoticamente governado por um Kim Jung Il, sucessor do seu querido e falecido pai, Kim Il Sung, onde a população é subalimentada, para não dizer que passa fome, estas diletânticas atitudes têm que ser denunciadas.

Recorde-se que, em 1966, na cavalgada dos Magriços a caminho da final, só interrompida pelas manigâncias dos anfitriões bifes, com a complacência da FIFA, foram os coreanos nortenhos que lhes (e nos) pregaram um susto maior do que o pico do Everest. O abono de família que então envergava a camisola das quinas, um tal Eusébio da Silva Ferreira é que nos safou do desastre.

Não levou sicrano e beltrano

Ora vejam lá: como muitas vezes me acontece, entrei pelos devaneios politico/desportivos e quase me esquecia do que aqui me traz. Peço, portanto, mil desculpas a Vocências. O Felipão, dizem os que o abominam, não é seleccionador que se veja, nem é treinador que se aplauda. Tomem-se exemplos: não levou o Quaresma, não levou o João Moutinho, não levou o Abel, não levou o João Tomás, entre outros.

Preferiu escolher o Costinha, o Ricardo Costa, credo, o Postiga e mais alguns que não deram uma para a caixa, como o Deco, o Estoirado. No que concerne a tácticas, pura e simplesmente o cara não as ensina, porque não sabe bem o que são. Psicólogo? Melhor se diria teimoso com um burro. Amigo do seu amigo? Mal educadão, grosseiro, sempre encostado à Senhora do Caravaggio que não é para estes trotes chamada, ou, no mínimo, não devia sê-lo, mas é.



Porra! Mas o brasileiro ganhou jogos a fio à frente do time nacional e só perdeu no Allianz Arena com a França, ainda assim de penalti – que eu creio que foi mesmo. Mesmo para aqueles que dele gostam, e que são muitos, terá sido bestial nesse tempo de vacas gordas, e despromovido a besta pelo desaire na meia-final de Munique. Somos, realmente militantes do oito ou oitenta. Não ganhamos nada com isso. Mas persistimos, desrazoadamente.

Quando Luiz Felipe Scolari cantou o hino nacional, saltaram as perguntas mais descabeladas. Ora o gajo! Quem o mandou cantar A Portuguesa? O que ele quer é dar-nos graxa. Que cante o deles, se é que o sabe... O Sargentão, uma vez mais, não se calou. Se era isso o que os pseudo-críticos/pseudo-intelectuais queriam, aconteceu. Mas não por vontade deles. O responsável único pela equipa de todos nós veio a terreiro e falou como sempre faz: com a boca toda.

Pode ser que não lhe tivessem explicado, antes de vir para cá, esta mesquinhez tipicamente portuguesa. Pode ser que assim tivesse acontecido, mas daí não viria (como não veio) mal nenhum ao Mundo. O planeta azul continuou, imperturbável, a fazer a sua translação simultânea com a rotação. O homem que bateu o pé (e ganhou) ao então seu Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, não se iria assustar com tal aviso premonitório.

Penso que convém aqui relembrar que tudo se passou em redor da não convocatória de um monstro chamado Romário para o Mundial de 2002. Scolari disse que não – e cumpriu. Para alem de Fernando Cardoso, mais uns quantos milhões de brasileiros foram na mesma onda. O técnico foi objecto doa ataques mais directos ou mais enviesados e dos insultos mais grosseiros. Contra tudo isso, levou a sua avante. E trouxe a taça para Brasília.

Sorte malvada

Faltou a sorte ao encontro que Portugal marcara com ela. Há noites assim. Só que, neste caso, já basta de. Se os do grupo de família nacional tivessem descoberto o caminho terrestre para Berlim – outro galo cantaria. O de Barcelos, obviamente. Assim, o cocóricó saltou do bico do galo... galo. Monsieur Domenech, um treinador de segunda, promovido de última hora, será, agora, o bestial para os franceses, sobretudo.

Mas, disso não restem dúvidas nenhumas, pelo seu lado, Felipão não é uma besta. Nada disso, bem pelo contrário. Não será simpático para muitos. É o que é – e a mais não é obrigado. Uma maioria larga de portugas quer vê-lo, sem hiatos nem soluções de continuidade, como seleccionador nacional. E, até mesmo, prudentemente, sem cantar o hino português. Os passos para trás sublinhados por Costinha e por Figo são elucidativos.

O próprio Chefe do Governo de Portugal, José Sócrates, que assistiu ao jogo, declarou no final do mesmo que estava orgulhoso perante o que se passara no relvado. «Temos de saber perder, mas custa muito perder sem sorte, como foi o caso.», acentuou; e que acrescentou que «a selecção fez muito por Portugal.»

Isto, apesar de haver os habituais que comentaram que a selecção tinha perdido porque o primeiro-ministro viera de Lisboa só e exclusivamente para ver a passagem da equipa de todos nós à final de Berlim. Pelos vistos, não fazia lá falta nenhuma. Foi, continuam os do bota abaixo, somente para nos trazer o azar. Viagem de mau olhado.

Deixemo-nos de fitas, de tretas e de fantasias. Sonhámos ser campeões do Mundo. Talvez exageradamente. Voltamos ao que sempre fomos, ou seja, ao oito ou... Repito: ao oito ou...

1 comentário:

Anónimo disse...

Mestre,
A sua opinião está linda e transparente. Pertencemos a um país de: velhos, rapazes e burros.
Nunca me esqueci desta história que vinha inserida no meu livro da 1ª classe de instrução primária. Isto foi há 64 anos! Finalmente em Portugal não mudaram: os burros, os rapazes e os velhos (nesta classe já estou inserido e ainda "bibinho".
Abraços