segunda-feira, julho 03, 2006
Aviões e mostrengos
Antunes Ferreira
Por enquanto, as coisas (que, aparentemente, têm pés para andar) ainda estão a dar os primeiros passos. No entanto, e de acordo com a Comunicação Social, a fábrica de aviões Skylander, projectada para o aeródromo de Évora, vai iniciar a actividade em Setembro, com a chegada dos primeiros engenheiros.
Entretanto, está já a ser preparado um segundo modelo e estão também a decorrer negociações com vista à construção de mais um avião em parceria com outro construtor. E, apesar, de não estarem ainda concluídas, de várias fontes chegam informações de que vão avançando, com os devidos cuidados. Gato escaldado... de Patrick tem medo.
O Skylander e os postos de trabalho
O projecto Skylander, da Sky Aircraft Industries, envolve um investimento de 375 milhões de euros em dez anos e deverá criar 950 postos de trabalho, prevendo-se a construção de quatro mil aparelhos em duas décadas. A concretizar-se a construção de um segundo modelo, como avançou o administrador executivo da Manden Parque - Associação Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Elias de Freitas, irão ser criados cerca de mais 400 novos postos de trabalho, a somar aos primeiros.
Complementar será o projecto para a produção de mais um avião, em parceria com outro construtor, que representa um investimento de 200 milhões de euros e outros 1100 empregos. Ou seja, somente na fábrica pode afirmar-se que se criarão mais de 2000 postos de trabalho.A Sky Aircraft Industries, que vai fazer a sua base no Alentejo, resulta de uma joint-venture entre a Geci, sediada em Paris, um consórcio francês de engenharia aeronáutica e um grupo de investidores portugueses, que conta com o apoio do Governo.
Embora centrado em Évora, o futuro Pólo Aeronáutico do Alentejo tenciona aproveitar as condições logísticas de Beja e irá captar pessoal especializado de todas as regiões do país.O projecto levará mais sete empresas, francesas e portuguesas, para Évora, que irão fornecer 70% das peças do Skylander, um bimotor, com 19 lugares, muito versátil.
Um dos seus principais atributos é aterrar com facilidade em qualquer lado, podendo ser modificado e transportar passageiros, carga, água, ou ser utilizado como ambulância, tendo um trem fixo para ser mais económico. O primeiro voo será em 2006 e as primeiras entregas estão previstas para 2007.
«Projectos salvadores»?
Não se trata de um «projecto salvador» para a economia portuguesa. Aliás, estes assim chamados não existem. Pode, sim, um projecto ter uma determinada dimensão e outro, naturalmente, outra. Um que se possa classificar de mega tem, obviamente, um peso muito maior que um outro que seja considerado de tipo médio.Mas, não se pode deixar de considerar que este parece interessante, viável e atraente.
Fabricar aviões com as características que este Skylander tem é aliciante. Pela tecnologia incorporada, pela investigação, pela viabilidade que se lhe antevê. Produzir aeronaves não é, de todo, a mesma coisa que produzir... fósforos. De resto, muitos projectos de dimensão média juntos resultam em progresso – e disso necessita Portugal bastante. E quando entidades estrangeiras avançam para o nosso País, como é o caso, junta-se o útil ao agradável. Projectos, investimento estrangeiro (e neste caso também nacional) e emprego é trilogia que soa a musica quase celestial.
Dirão os que a gente sabe - que sabem tudo e que são os detentores da verdade - que, falhada por culpa do Governo a propagandeada refinaria de Monteiro de Barros, este investimentozinho no Skylander não dá nem para cova de um dente. Mas ninguém se referiu a uma qualquer obturação para resolver uma economia cariada. Se a megalomania – em que, lamentavelmente, o próprio Executivo entrou e avalizou – fosse doença da cavidade bucal não seria uma extracção muito menos uma injecção que resolveriam o caso. E, deixem-me que vos diga, nem uma dentadura postiça, mesmo que de platina.
Seguir em frente
Mário Soares disse, um dia, já lá vão bastos anos: «Temos de viver com aquilo que temos.» A frase ganhou carta de alforria e hoje continua a ser uma das mais empregues e utilizadas por muitos cidadãos, entidades, organizações políticas e outros.Indiferente às maquinações catastrofistas da clique do mal dizer, o Governo Sócrates persiste em seguir em frente, contra ventos e marés, confiado na sua bússola e nas cartas de marear que utiliza.
Ninguém é perfeito e, por isso mesmo, com bordes mais arriscados aqui e ali, com ameaços de desvio de rota, até mesmo com receios de eventuais naufrágios. Os erros de bolinar, esses si, devem ser criticados porque o Almirante não soube utilizar o sextante, porque não percebe nada de mecanismos e roldanas, porque tem uma cultura... de beterraba não açucareira.Entendo, porem, que a crítica severa, dolorosa, mas verdadeira e frontal, deve ser sempre acompanhada da alternativa ao disparate.
Os críticos na continuidade, os apoiantes do saudosismo, os militantes da desgraça poderão ser bastantes, ou, até, muitos. Mais do que se pensaria quiçá. Mas nunca chegarão a mostrengo que está no fim do Mundo. Não têm estaleca. Nem el-rei Dom João Segundo.
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