domingo, agosto 06, 2006



A Madeira é o Jardim?

Antunes Ferreira
Max, o saudoso Max, cantava a propósito da sua ilha natal que «a Madeira é um jardim, ai a Madeira é um jardim; no Mundo não há igual, no Mundo não há igual; seu encanto não tem fim, seu encanto não tem fim; é filha de Portugal, é filha de Portugal. Deixem passar esta linda brincadeira ca gente vamos balhar co’a gentinha da Madeira.»

Maximiano de Sousa, o popular cantor madeirense, que trocou a vida de alfaiate pela dos palcos – foi, também, actor humorista, e muito bom, especialmente na revista – mal sabia naqueles tempos o que se iria passar anos depois na sua ilha. E pelo facto de ter acabado os seus dias em 1980, não se terá apercebido do que por ali acontecia. Se o fez, não conseguiu avaliar as dimensões da «ocorrência». E se assim aconteceu, ainda bem, sobretudo para ele.

De há uma trintena de anos a esta parte, o Dr. Alberto João tem-se esforçado por demonstrar que a Madeira já não é um jardim – é o Jardim. As sucessivas reeleições do Chefe do Governo daquela Região Autónoma somam-se quais pedras de um rosário. Caso muito raro em Democracia, este consulado permanentemente ampliado pelos madeirenses nas urnas corre o sério risco de entrar no Guiness.

O Dr. A. J. Jardim é, ainda, um outro exemplo de raridade no que concerne aos políticos. Poucos ou até mesmo nenhum se terá disfarçado de zulu num Carnaval; ele fê-lo. Houve, na altura, quem dissesse (e ainda há quem o diga) que talvez a sua máscara fosse de canibal, tão estreita é a fronteira entre as duas personagens africanas e tal o habitual comportamento político do líder. Há que refutar energicamente tal atoarda: os zulus não a merecem, muito menos a justificam.




Note-se que o Dr. Jardim é normalmente classificado como truculento. De almas caridosas está o Mundo cheio e de bem intencionados estão cheios os cemitérios. Que normalmente acumulam a sua bondade congénita com a imprescindibilidade. O Dr. Alberto Jardim não é truculento: é inconveniente, é inoportuno. E é oportunista. Não é? Então, que dizer do que de seguida afirmo, reproduzindo apenas afirmações e comentários dele.

Um tal sr. Silva

Ainda muitos de nós nos lembramos da diatribe que fez há tempos contra um tal Sr. Silva, que é agora o Chefe do Estado. Os termos são do Dr. Jardim. Porém, no actual contexto, o Prof. Cavaco Silva já passou a ser para o chefe madeirense, Sua Excelência o Senhor Presidente da República. Mudam-se os tempos… De galho em galho, o Dr. Alberto João muda, quando lhe apetece e lhe dá na veneta. Oportunismo à vista. Numa coisa ele se mantém imutável: dizer-se social-democrata. Quantas voltas já terá dado o Dr. Francisco Sá Carneiro (se em algum local se encontra) por mor desta controversa asserção?

Quanto à inoportunidade e à inconveniência estamos conversados. Volto a factos. No Dia de Portugal o Dr. Jardim afirmou com a sua exaltação habitual que os madeirenses eram Portugueses porque queriam e não por serem obrigados a sê-lo. Comentários parra quê? No entanto, e como lhes competia, os partidos da Esquerda no hemiciclo vieram a terreiro repudiar tais declarações. O mais significativo, porem, foi que Mota Campos, membro da Comissão Política Nacional do CDS-PP, não se conteve.

Durante o Congresso Regional dos centristas, Mota Campos disse: «Ser Português não é porque se quer, é porque temos 800 anos de história atrás de nós». E prosseguiu «é uma honra que nos confere direitos e deveres. Se Alberto João Jardim não quer ser Português, que o queira sozinho. Agora que não ameace a República, que não nos ameace a todos com o fantasma de uma divisão do País – que só existe na cabeça dele – para fazer chantagem sobre o governo central».

«Livres do senhor Sócrates»

Há escassos dias, o Dr. Alberto João exercitou, uma vez mais, o seu estilo habitual. Durante a festa anual do partido, no planalto do Chão da Lagoa, afirmou que o Governo da República está a levar Portugal «para o abismo» e não tem capacidade nem competência para mudar o país. «Ou nos vemos livres do senhor José Sócrates ou daqui a um ano ou dois o país está irrecuperável», para, em seguida, acusar o PS de estar a impor um garrote económico à região. «O que nos estão a fazer é miserável, para ver se nos vendemos e votamos naquele tipo de gente».

Para o Dr. Jardim, «a política económica que José Sócrates quer impor ao país destina-se a camuflar, a esconder, a destruição de valores na sociedade portuguesa". E sublinhou que «eles querem legalizar o casamento entre homossexuais». O escândalo está, assim, desmascarado, por obra e graça do eterno Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira. Prevenção e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

O líder madeirense voltou, então, a glosar o tema da autonomia que lhe é tão caro. No seu entender, ela «não é mais como uma experiência, mas um direito histórico do povo madeirense» conquistado nos últimos 30 anos. Esta conquista «é um percurso muito longo que vai passar de geração em geração. E frisou que «queremos sempre a autonomia no seio da nação portuguesa e não podemos desculpar que, apesar desta fidelidade, indivíduos em Lisboa nos caluniem e digam mentiras».

São, para o Dr. Alberto João, «os chamados colaboracionistas, gente (natural da ilha) que está sem calças e de rabo para o ar virado para Lisboa... políticos locais que andam a defender o garrote económico» contra a região, mais «jornalistas, daqui da Madeira, que, em Lisboa, escrevem as maiores mentiras». Isto porque não existir pluralismo de informação em Portugal, onde se vive uma «caricatura de democracia».




«Aqueles maricas»

Dando asas à sua virulência acentuou que «”eles” viram que pelo debate político não nos podiam destruir. Nunca pensei que Portugal chegasse a este estado de coisas. O que nos estão a fazer é miserável, miserável». Mas, «estão muito enganados. Nunca na nossa história cedemos a chantagem. Apesar deles (no Continente) serem antifascistas, sem nunca terem pegado numa espingarda, quem fez durante 29 dias a revolução contra Salazar (em 1934) foram os madeirenses e não aqueles maricas»!

Por fim, o líder do PSD-M considerou a Constituição Portuguesa «inadequada» e, embora reconheça que tem alguns aspectos positivos, disse que «é preciso mudar» o diploma.

Ora então temos o Dr. Jardim no seu melhor estilo. O mesmo que, no dia seguinte ao Chão de Lagoa, o levou a afirmar, alto e bom som, que a lista dos devedores às Finanças não seria publicada na Madeira, pois ali não é necessário, dado que todos os incumpridores da região têm execuções fiscais que ele próprio mandou fazer.

Truculento? Inoportuno? Oportunista? O Dr. Alberto João Jardim é, pura e simplesmente, desbocado e sobretudo mal-educado. O combate político pode utilizar uma linguagem menos ortodoxa. Mas, nunca, em meu entender, a má educação, quase a obscenidade, a roçar a pornografia. E é isso que o cacique madeirense pratica sem pejo. Ele e os seus companheiros ditos sociais-democratas. Há dúvidas? Relembro a intervenção do número dois do PSD-M.




Jaime Ramos, secretário-geral do partido, minutos antes, distribuído ataques de rajada contra «o golpista Sampaio», «o homem que colocou os socialistas no poder», e o «Zé mentiroso, Zé arrogante, Zé infeliz, Zé Aldrabão, Zé Sócrates». Explicou, ainda, que Alberto João Jardim quisera «atirar à cara de muita gente que, no Continente, nos vilipendiou» que «sempre defendemos a autonomia no seio da Nação Portuguesa, sempre fomos fiéis à Pátria e nunca separatistas ou violentos». Por tudo isso, «não admitimos que digam mais mentiras. A nossa resistência é pacífica» com base nos «ensinamentos de Gandhi», terminou, reafirmando que «vamos levar por diante o nosso projecto». Pobre Mahatma. Para o que um Homem está guardado…

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Antunes Ferreira:

Há muitos anos que se esgotou a paciência para poder ler (ou ouvir) as diabribes do Senhor Alberto João Jardim. Falar dele - ou simplesmente dar-lhe troco - é pura perda de tempo e dar-lhe uma importância que ele não tem.

De forma que o melhor para Portugal - até por mera operação de higiene mental - era "apagar" as dívidas da Reigião Autónoma do Orçamento de Estado e dar-lhe de mão beijada a independência daquele arquipélago. O ar que respiramos ficava muito mais limpo...

heresias consentidas disse...

Meu Caro:
Mais uma vez o incomodo com algumas palavras - este sítio já se me entranhou! - desta feita para concordar, incondicionalmente com o Jorge Vilas: é pura perda de tempo!
Quando o vagar lhe cortar o passo, deixo-lhe uma sugestão: visite os deliciosos comentários feitos pelo nosso Zé Povinho no "Correio da Manhã" a propósito de uma senhora Juíza que foi mordida numa mão (assunto que puxei também para o meu blog www.herculanodacosta.blog.com) ou ainda o que se disse e leu no clamoroso escândalo das penas atribuídas às "crianças" que torturaram e mataram a Gisberta (www.blogamemucho.blogspot.com) e diga-me depois, se lhe aprouver, porque é que os nossos comentadores políticos se furtam (como se lhes chegassem pimenta ao posterior) a estes assuntos. E conforme eles, também, infelizmente, os nossos blogueres 'topo de gama', os tais que reclamam para si o estatuto de VIPs.
Numa outra curva de estrada, desculpe o abuso, vale a pena também dar uma vista de olhos a outros casos clamorosos (http://paissuper.blogs.sapo.pt/).
Por hoje é tudo.
Abraço.
PS: - Não vale a pena dizer-lhe que o seu blog é imperdível, pois não?!
herculano da costa

Anónimo disse...

Anda cá, meu cabrão e vais como elas te mordem!!!!!!!!! Isto é que é democrático!!!! Vem cá, vem...