segunda-feira, maio 05, 2008



…mais gosto do cão

Antunes Ferreira
M
rs. Olivia Edward publicou, em 2001, um livro intitulado «Quanto mais conheço os homens, mais gosto do meu cão». É coisa pequena, 104 páginas, e hoje custa apenas cinco euros. Encontra-se, na internet, um anúncio (também ele pequenote) destinado em especial às damas, que transcreve um passo da obra.
Reza assim: «Os cães são melhores do que os homens. É óbvio! São mais baratos e mais fáceis de contentar. Estão sempre encantados por a verem, são leais até ao fim e não se ralam quando ganha uns quilitos. Que escolheria: um cachorro felpudo ou um tipo «cervejudo»?

Há, dentro de muitíssimas vidas – e ao longo de tempos imemoriais – cães das mais variadas cores, feitios, dimensões e raças. Para todos os gostos, portanto. Desde os rafeiros até aos da mais alta classe com direito a pedigri, o que significa que possui árvore genealógica e tudo, com os registos cuidadosamente anotados e em dia.

Toda a gente sabe o que é um cão. Mas, provavelmente, muitos não saberão da sua origem. Salvo seja, ab ovo. Ora muito bem. Recorre-se, uma vez mais à bem-aventurada Wikipedia. O cão (canis lupus familiaris) é um mamífero canídeo e talvez o mais antigo animal doméstico. Existem teorias que dizem que surgiu da domesticação do lobo cinzento asiático pelos povos daquele continente há cerca de 10 a 15 mil anos. Quem diria?

Ao longo dos séculos, através da domesticação, o ser humano realizou uma selecção artificial dos cães pelas suas aptidões, características físicas ou tipos de comportamentos. O resultado foi uma grande variedade (mais de 400 raças) canina, que actualmente são classificadas em diferentes grupos ou categorias. O rafeiro é a denominação dada aos cães sem raça definida, SRD, ou mestiços, descendentes de diferentes raças. Os brasileiros chamam-lhes vira-latas.

O cão é um animal social que, na maioria das vezes, aceita o seu dono como seu patrão e possui várias características que o tornam de grande utilidade para o ser humano, possui excelente olfacto (40 vezes mais do que o dos homens) e audição (quatro vezes mais), é bom caçador e corredor vigoroso.

Era exclusivamente carnívoro, mas, actualmente é omnívoro, vai a vida difícil para o pessoal, por que não haveria de ir também para os cachorros? É inteligente, relativamente dócil e obediente ao homem, e tem boa capacidade de aprendizagem. Por isso, o bicho cão pode ser adestrado para executar grande número de tarefas úteis para os humanos.


Há cães de caça; outros ajudam os pastores no trato dos rebanhos; são inúmeros os cães de guarda para vigiar propriedades ou proteger pessoas; usam-nos farejar diversas coisas, incluindo droga; resgatam afogados ou soterrados; guiam cegos; puxam trenós e servem de companhia. Estes são os motivos da famosa frase: "O cão é o melhor amigo do homem". Não se tem conhecimento de uma amizade tão forte e duradoura entre espécies distintas, como a que existe entre o homem e o cão.

Muitos cães tornaram-se célebres, por um ou outro motivo. A Lassie dos filmes e séries televisivas; o Balto, cão metade husky siberiano, metade lobo, herói no Alasca em 1925; o Barry, um são-bernardo, paladino nos Alpes suíços de 1800 a 1812, tendo salvado ao longo de sua vida mais de 40 pessoas perdidas na neve; a Blondi, cadela pastor alemão de Adolf Hitler; a Laika, cadela rafeira russa, primeiro ser vivo a entrar em órbita espacial. O Pickles - que desvendou o desaparecimento da Taça Jules Rimet, na Inglaterra, em 1966; o Snuppy, que foi o primeiro cão clonado. E até o Barney, o scottish terrier de George W. Bush. Há infelizes.


Diz-se também que a importância do cão para o ser humano é muito maior do que imaginamos. Ou seja, com o mesmo a auxiliar na caça e a vigiar acampamentos, o ser humano teve oportunidade de se desenvolver mais rapidamente, aprender a falar, entre outros atributos, e superar o robusto antepassado de Neandertal.

Os cães aparecem em pinturas pré-históricas de cavernas, em cenas de caça. Através da Arqueologia, foram encontrados inúmeros objectos com cães como motivos decorativos, tais como cabos de faca entalhados com o desenho de um cão com coleira. Na Mitologia egípcia do Antigo Egipto, os cães também eram mumificados para a representação de Deuses. Neith, esposa de Rá, a deusa da caça que abre os trilhos dos atiradores, tem como animal sagrado o cão.

As diferenças entre as raças de cães já eram aparentes na Antiguidade. No Império Romano, os grupos caninos já tinham as suas características básicas similares às de hoje. Molossos, spitzs, pastores, entre outros já eram seleccionados por suas aptidões e estrutura. Foram encontradas placas nas casas de Pompeia, com a inscrição cave canem (cuidado com o cachorro, que outros traduzem como cava do cão) dado que os cães já eram utilizados por aquele povo como guardiões.

E não se pode esquecer o Argos, o cão de Odisseu ou Ulisses, da Odisseia de Homero, que foi o único a reconhecer o dono quando este voltou para casa, após ter ficado vinte anos fora. O animal só então morreu. Daí que a mitologia grega o considere através dessa prova de fidelidade, no que, de resto, terá acompanhado a cara-metade do herói, Penélope, a da teia, que não da aranha.


Vem tudo isto a propósito de uma estorinha publicada nas Selecções do Reader’s Digest e que não resisto a publicar aqui. Um cavalheiro vai, com o cão dele, a um cinema. Depois de muito rogar e prometer solenemente que o bicho se portaria impecavelmente, lá o deixam entrar. Dois bilhetes, dois lugares, um para o cidadão, outro para o acompanhante.

Começa o filme e começa uma outra cena na plateia. Quando o enredo resulta em drama, o animal chora (baixinho) como uma criança cheia de tristeza, coisa de meter dó. Quando, pelo contrário, aparecem momentos de pura comédia, o bicho ri-se às gargalhadas.

Acabada a película, um senhor que estava na fila de trás, levanta-se e dirige-se ao dono da estranha criatura, estende-lhe a mão é comente que é «realmente extraordinário!». O amo responde-lhe: «é, realmente, extraordinário, sobretudo porque quando ele leu o livro não se emocionou, nem lhe achou piada nenhuma» …

E, depois, ainda se diz (eu, pelo menos, disse-o) que a Olivia Edward apenas escreveu um livrito…

3 comentários:

Anónimo disse...

Isto ha gostos para tudo ...
Raul

Anónimo disse...

Isto ha gostos para tudo ...
Raul

Paula Raposo disse...

Excelente a tua reportagem!