Morreu um Poeta
Antunes Ferreira
Morreu o meu Amigo Alberto Estima de Oliveira, aos 74 anos. Foi um magnífico Poeta, numa terra em que quase todos acham que o são. O Estima não dizia que era, mas era. Conheci-o em Macau, pela mão de outro excelente Amigo, o Hélder Fernando. Muitas vezes convivemos, muitas vezes nos metemos nos copos, muitas vezes nos perdemos nos meandros dos versos.
Meandros sinuosos para mim, está bem de ver. Para ele, era um fluir fácil e pleno. No meio da estúrdia, com portugueses a assistir e, muitas vezes, a participar nas galhofas, com chineses não entendendo patavina do que nós dizíamos, cantávamos e gozávamos, mas sorrindo também, ainda que de forma oblíqua, o Estima era um rei. Um dia, disse-lho. E logo ele – republicano, sem coroa e sem manto.
O Alberto foi uma figura de Macau. Quase toda a portuguesada o conhecia, lhe apertava a mão, lhe acenava. Em Coloane, onde, por vezes, íamos pelas sardinhas assadas e pelos pimentos, pelas chouriças ou pela feijoada – para não falar no cozido à portuguesa – era uma festa. Só faltava pedirem-lhe autógrafos. Convites para isto e mais aquilo enchiam-nos as noites a roçar as madrugadas.
O Hélder escrevera-me recentemente para lhe dizer se sabia alguma coisa do nosso Estima, que se encontrava doente. Tentei averiguar, mas devo ter batido às portas erradas. De supetão, a novidade triste, provinda do Gmail, assinada pelo Carlos Pinto Coelho, outro Amigo e companheiro de jornais e outros que tais. Pronto. Acabara-se o Poeta, mas ficava a sua Poesia
Natural de Lisboa, onde nascera em 1934, o Estima esteve quase toda a sua vida fora de Portugal, já que aos 23 anos, em 1957, partiu para Angola, onde permaneceu durante cerca de 18 anos. Por lá estivemos simultaneamente, mas nunca nos encontrámos. Voltou a Portugal e ao fim de uma pausa de dois anos, seguiu de novo para África, desta vez para a Guiné-Bissau. Chegou a Macau em 1982 e viveu na cidade tendo ali passado o período de transição entre a administração portuguesa e o início do exercício da soberania chinesa.
Regressado a Lisboa, o nosso Estima de Oliveira visitava Macau pelo menos uma vez por ano, tendo estado na cidade pela última vez em Dezembro passado. Agora, o malandro finou-se sem dizer água vai. Sempre fora assim dizem os Amigos mais antigos. Sempre de pregar partidas, até esta partida final. Desde muito novo, o Alberto Estima de Oliveira se dedicou à Poesia, tendo publicado várias obras em Macau, como "Infraestruturas", em 1987, "O Corpo (Con)sentido", em 1993, e "Diálogo do Silêncio", em 1998. Até sempre, Alberto.
sábado, maio 03, 2008
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