E-mails há muitos
Antunes Ferreira
Esta coisa dos mails é fenomenal. Bué de fixe, direi mesmo. Aliás, deixem-me que vos diga que o bué aprendi-o com os meus netos, com os amigos e as amigas deles, com os/as amigos/as dos/as amigos/as deles. Malta porreira, a que não é, baza rapidamente, o que é uma ganda cena. Como podem ver, actualizo-me cada dia que passa com os jovens. Agradeço-lhes, pois me levam a praticar o aprender até morrer. Isto mesmo, tendo em conta que as nossas esposas nunca sejam lindas e virtuosas viúvas. Interprete-se ao gosto de cada um.
Vai já longe o tempo em que se escreviam grandes cartas, nomeadamente, as de amor. Na minha meninice, cantava o Alberto Ribeiro, galã de bigodinho cinéfilo: «Cartas de amor, quem as não tem; Cartas de amor, pedaços de dor, sentidas de alguém. Cartas de amor, andorinhas, que num vai e vem, levam bem, saudades minhas. Cartas de amor, quem as não tem?». Daí os maços atados por fitas cor-de-rosa – da bem-amada – ou azuis, do idem, idem, aspas, aspas, no masculino.
A troca epistolar era frequentíssima, afiava-se o aparo da caneta de tinteiro e vá de escrever em cursivo de caligrafia mais inglesa ou mais francesa. Muitas destas originavam entre os subscritores polémicas longas, tu-cá, tu-lá, sem acordos ortográficos nem apoiantes deste ou atacantes dele. Era um regalo, ficar-se à espera da missiva do correspondente, para na volta do correio lhe retribuir a ensaboadela enviada.
Hoje, temos o e-mail. Coisa instantânea, como os pudins Boca Doce dos anos cinquenta, agora reaparecidos, vá-se lá saber como e porquê. Nada de longas esperas, com maior ou menor ansiedade. Um cidadão atira-se ao teclado (na óptica do utilizador, não esquecer), carrega no send e pimba: o escrito já lá está à disposição do destinatário, não há Código Postal que lhe valha, o meio caminho andado já foi, substituído pelo tiro-e-queda informático.
A propósito, o bandido do Ricardo Charters d’Azevedo mandou-me mais uma estória, curta e hilariante. Um índio vai ao Registo Civil e solicita mudança de nome. O escrivão pergunta-lhe: Qual é o seu nome? Grande Nuvem Azul Que Leva Mensagem Para o Mundo. E como se quer chamar? E-Mail! E-mails há muitos, diria o Vasco Santana, se então eles existissem.
Não há dúvidas: os tempos são outros. Até o nosso primeiro já chupa um cigarrito no avião fretado. Por essas e por outras, José Sócrates já anunciou que deixa de… fumar.
quinta-feira, maio 15, 2008
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2 comentários:
Um blogue, para levar comentários tem de ser polémico. Neste país, nunca se felicita quem faz bem. Ataca-se e lança-se uma polémica sobre quem escreve "ao ataque".
Somos assim. É o jeito português, que bem me dei conta, enquanto estive lá fora. Vê-se melhor como somos de longe.
Ja te deste conta que todos os dias algumas centenas de jornalistas e “opinion makers” publicam nos jornais. E nós, que os “lemos”? Verdadeiramente não lemos. Passamos os olhos por alguns parágrafos e passamos a página. Nem já escrevemos ao Director.
Mas se o artigo é polémico... ou com erros (neste caso o provedor do leitor cita-o e escreve sobre ele) ha reacções. Se esta bem feito e concordamos com ele... niepas, o autor nada sabe.
Verás, o que me espantou muito, que em bastantes casos, não te agradecerão a oferta do teu livro. Julgam que foi a editora que o enviou “automaticamente”
Coisas deste país, Mas temos o céu azul e um clima ameno
Um abração, Henrique
Ricardo
Lembro-me do Alberto Ribeiro a cantar essa canção. Não sou do tempo do aparo da caneta molhado no tinteiro, mas da caneta já de tinta permanente. Lembro-me das muitas cartas de amor que escrevi e da ansiedade que tinha até receber resposta. Adorei ler-te. Beijos.
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