segunda-feira, abril 09, 2007



POSTO DE OBSERVAÇÃO

“Câmara Clara" só vê Lisboa

João Figueira
É
óbvio: vemos a partir do nosso ângulo de observação. Daí, que ao olharmos para a diversidade que é este nosso Portugal o vejamos segundo o respectivo ponto de observação. Se o observador não mudar o seu posto de observação isso significa que ele olha a mesma realidade, mesmo que esta mude. Mas é dela e só dela que ele pode falar, visto que é ela que ele vê e presta atenção.

Vem isto a propósito do programa "Câmara Clara", que acabei de telever no Canal 2 da RTP. Tema interessante, convidados inteligentes e cativantes, mas a informação veiculada pela apresentadora e seu programa deixa-me mais do que irritado. Eu explico.


Ao longo de todo o tempo que dura o programa, cerca de uma hora, são desfiados vários tópicos culturais e informações preciosas para quem vive em Lisboa. Depois de uns justos, mas, convenhamos, exagerados superlativos gastos (ok, direi investidos) com a "Festa da Música" do CCB, a que se seguirão, minutos mais tarde, referências à Culturgest, à Gulbenkian, ao S. Carlos, ao teatro Camões, Paula Moura Pinheiro alerta a sua audiência para um conjunto de bons espectáculos culturais. Todos em Lisboa. Excepção feita, em último lugar, à institucional Serralves, situada nas longínquas terras nortenhas, nada mais se passa em Portugal que mereça uma referência, uma atençãozinha por parte da equipa que faz "Câmara Clara".




Onde é que eu quero chegar? Em Coimbra, onde vivo com pena dos que perdem centenas de horas por ano no trânsito lisboeta, há um magnífico espectáculo de teatro, "Tchékhov e a arte menor", pela companhia Escola da Noite, cujas sessões esgotam há mais de uma semana. Onde é que em Lisboa há um caso assim, sem ser o Emanuel no Pavilhão Atlântico?

Mas está claro, para quem vive fora do desmesurado centro de decisão que é Lisboa, que exemplos como este são insignificantes. Importante é falar sempre dos mesmos, como se a cultura (porque é de um programa cultural que estou a falar) vivesse e respirasse apenas o ar da escassa meia-dúzia de nomes e instituições que têm acesso privilegiado aos media. Como se apenas eles habitassem o Mundo e este terminasse ali, um pouco acima de Braço de Prata.

Portugal é um País pequeno. Mas há quem o torne ainda mais pequeno, ao limitar a Lisboa uma realidade que é, felizmente, muito mais vasta, rica e diversificada. Para ver isso basta mudar, de vez em quando, o posto de observação. Ou os interesses exclusivos do observador.

NE - Promessa cumprida. Começa hoje a colaboração regular do Jornalista e Professor Universitário em Coimbra, João Figueira. Melhor será que adite - ou, até mesmo, deveria ter começado por aí - que é um grande Amigo, de muitos anos, ainda que seja um jovem ao pé de mim.

Falar do João é falar de Coimbra, mas é também falar da Paula, sua mulher e médica, do filho também João, do Diário de Notícias, de Macau e de outros lugares onde estivemos juntos. Por exemplo: de Castanheira de Pera, onde vivem os sogros Coutinhos, ou de Pukhet onde passámos um memorável fim de ano. Estória que um dia destes contarei.

É com enorme satisfação que o temos na nossa equipa cada vez mais alargada. E é, outrossim, uma honra para o Travessa. Só espero que a sua presença frequente (que ora começa) se vá repetindo sem hiatos, muito menos soluções de continuidade. O enriquecimento deste blog passa pelo João Figueira da Silva.

A Amizade que nos une não me impede de aqui exarar que o admiro. Profissional, mas também humanamente. É o que se chama um gajo porreiro, além de competentíssimo. Tem um senão público e notório: é benfiquista. Aqui se aplica com propriedade o não se pode ter tudo. Ou, no melhor pano... AF

3 comentários:

Anónimo disse...

Então o Prof. João Figueira abandonou o DN para leccionar na Universidade de Coimbra? Fez muito bem. O jornal está uma lástima. Gostava muito do seu trabalho em Leiria. Mas o que passou, passou. Muitas felicidades no seu novo mister.

Anónimo disse...

Não gramo, nem nunca gramei a Moura Pinheiro que me dizem casada com aquele boxeur que apresenta o Jornal da SIC, um tal Rodrigo Guedes de Carvalho, trombudo, mal encarado e irritante. Estão um para o outro.

E o programa (que a propaganda organizada diz ser excelente) não vale um caracol. Portugal é Lisboa e o resto é paisagem? Plenamente de acordo com o Dr. João Figueira.

Anónimo disse...

Este progama devia era chamar-se «Câmara Escura». O Figueira tem razão, mas diz pouco. A Paulinha que vá cozer meias, que assim não nos enoja