terça-feira, abril 24, 2007



Comemorar o 25 de Abril

Antunes Ferreira
Na véspera do dia 25 de Abril de 1974, já durante a noite, vários cidadãos fardados iniciaram a contagem decrescente para o que seria uma das datas mais importantes da História do nosso Portugal. A gestação estava completa. A madrugada que se seguiria concretizaria o parto que trazia ao País a Liberdade e a Democracia. Era o tempo da afirmação do MFA, da saga que se espraiava do Largo do Carmo, até à Praça do Comércio, dos episódios mais dramáticos como o da António Maria Cardoso, das chaimites, do povo que descobria - entre o atónito e o deslumbrado - que sendo unido jamais seria vencido. Uns tempos depois, constatar-se-ia que não era bem assim, mas nem isso impediu que o golpe fosse histórico.

Lembram-se dos cravos vermelhos nos canos das G3, por certo que se lembram. Nomeadamente os que vibraram com a alvorada redentora, que deixaram sair as vozes amordaçadas, que – mesmo não entendendo muito bem o que se estava a desenrolar – aclamaram os militares que tinham conseguido um feito que muito poucos poderiam vaticinar.

A Pátria estava embotada, baça, romba. Amesquinhada. Os Portugueses tinham-se habituado, ao longo de quase meio século a encolher os ombros, a correr o zip da boca, e assim o manter, a desconfiar de quem os espiava, de quem os escutava, de quem os delatava, de quem os bufava. O regime que se autointitulara de Estado Novo era, de facto um Estado Velho, velhíssimo, de barbas tão longas, brancas sujas e encaroçadas como as dos velhos do Restelo.

A euforia tomou conta das ruas e dos tempos. Deram-se passos impensáveis 24 horas antes. Os últimos e desesperados detentores do poder podre salazarista/marcelista tentaram escapar por buracos abertos em paredes. Em vão, as coisas não voltaram atrás, o devir tinha um só sentido, felizmente. Exorcizar os fantasmas do antigo recente sabia bem, mesmo que não se soubesse o que viria depois.


No meio da estúrdia, na sua sequência, começaram a cometer-se asneiras primeiro ingénuas, depois, de monta. Mas, como parar a Alegria da Vitória? Como tapar o Sol com uma peneira? Como impedir o Povo de se embriagar e as derrapagens do processo? Como politizar os oficiais que tinham sido castrados do exercício da Liberdade durante esse longo meio século? Como iluminar o que se chamou então – e com propriedade – a longa noite do fascismo?

Roma e Pavia não se fizeram num dia, diz esse mesmo Povo. Que, de um dia para o outro, passara das cinzas frias de um borralho, imposto e apagado, para as labaredas do contentamento. Aplaudia-se tudo, apostrofava-se tudo. Os limites entre o bom e o mau iam-se esfumando. A loucura saíra à rua, uma loucura sã, mas, mesmo assim – louca. Ninguém fazia previsões, vivia-se o presente dos unidos que jamais seriam vencidos.

Foi bonito, foi muito bonito, até a loucura, sobretudo essa loucura foi bonita. Os que a viveram, como é o caso de quem assina estas linhas, nunca se esquecerão. E embora estivesse em Luanda, onde me autoexilara, foi com atenção redobrada que vivi, agarrado ao rádio transistorizado, o que se vivia na Lusa Mãe. E a 3 de Maio já chegava a Lisboa para sentir e aspirar o novo cheiro da minha cidade.
Não venho hoje cantar mais elegias. Venho, nesta data impar, gravada com suor na memória de muitos, solicitar um favor, se não se importarem. E mesmo que se importassem, e ainda que não queiram satisfazer-me o pedido, eu avançava, como avanço.


Dê-se aos jovens que já nasceram em Liberdade o essencial para que saibam viver em Democracia. Ensine-se-lhes o que é o civismo e como o praticar. Alerte-se as suas consciências para o facto incontornável de serem eles que não deixarão morrer estes ideais, que são eles que tomarão o leme da Política, que erradicarão do Portugal que é o nosso e o deles a miséria, a desgraça, o subdesenvolvimento, mas também a corrupção, o tráfico de influências, o colarinho branco. Incentive-se-lhes a produtividade, o cumprimento do dever, o amor à Pátria.

Faça-se isso, já, a partir de agora, em contra relógio de uma volta de que Portugal necessita como de pão para a boca. Assim, na minha modestíssima opinião, estar-se-á a comemorar o 25 de Abril este ano e nos vindouros que se perfilam.

10 comentários:

Anónimo disse...

Deixe-se de tretas. O 25 barra quatro foi o maior desastre que aconteceu ao noss Portugal. Pior que o terramoto de 1755.

Anónimo disse...

Já não basta o que sofremos? Já não basta termos perdido as nossas Províncias Ultramarinas? Já não basta o avanço dos comunas? Basta do malfadado 25!

Os tipos como este Antunes Ferreira têm de ser calados - a bem ou a mal! Não perdes pela demora, traidor sujo, cão raivoso!

Anónimo disse...

Estou espantado. Nem posso acreditar. Pelos vistos, só há quem diga mal do 25 de Abril que nos libertou. Assim, entendo que o Salazar tenha sido votado «o melhor português de sempre»...

Anónimo disse...

Sabe que mais, Senhor Sacadura? Tem carradas de razão. Penso que é um antifascista, o que me agrada muito. Se o Dia da Liberdade leva a estes comentários, podem ir limpar as mãos à parede. Quem os faz e quem fez o 25 de Abril.

Fartos de slogans estamos nós. É o 25 de Abril, sempre!, disso um óptimo exemplo. Eu preferia o A reacção não passará. Ou, nas cantigas, a gaivota que voava e voava. E, naturalmente e acimade tudo, a Grândola Vila Morena.

Há ainda quem comemore a data no seu coração. Há quem se rejubile com os escrtitos do Antunes Ferreira ou da Maria Lúcia Garcia Marques. Eu sou uma das muitas. Avante!

Anónimo disse...

Sabujo. Ainda agora em Santa Comba Dão o povo foi esmagado na sua vontade de ter o Museu dedicado ao mais ilustre filho da terra, o Dr. António de Oliveira Salazar. Que falta que ele nos faz!

Este Antunes Ferreira vai por mau caminho, vai. Os patriotas têm-no debaixo de olho. Continua assim, e vais ver como elas te mordem. A ordem e o rigor não te perdoam. Prepara-te, traidor à causa nacional.

Já no caso do nosso cartaz (que lá continua no Marquês do Pombal, embora não gostes) deitaste os corninhos de fora, caracol. Olha que podes ser pisado e reduzido a esterco. Quem te avisa...

Anónimo disse...

Este "anti25/4" só escreve asneiras, e agora enveredou pelas ameaças! Ganda treta.
Nao gosta ... Se quer fazer fazer comentários, deve fazê-los de maneira civilizada.

Anónimo disse...

Abaixo o 25-barra-quatro! Abaixo os traidores e vende-pátrias! Que o Inferno lhes seja pesadíssimo! Estavamos nós tão bem e vieram estes porcos dar cabo de Portugal e de quem o governava. Malditos sejam!

Anónimo disse...

A liberdade de uns foi perdida a de outros.
Quando do dia 25 de Abril de 1974, eu encontrava-se na "paz dos anjos",na Rodésia governada pelo branco (rodesiano) Ian Smith. Todos (brancos,pretos,mulatos e indianos) por lá vivíamos bem.
Um país mais desenvolvido que Moçambique.
Havia por lá de tudo (dinheiro/comida) apesar das sanções impostas pelo Reino Unido.
O 25 de Abril veio modificar a minha vida que me fez correr "seca e meca" em procura da estabelização
de um viver.
Eu fui dos afortunados que cheguei a Portugal sem o estatuto "terrível" de retornado. Cheguei com uns dólares US, no bolso e uma caixa de ferramenta de mecânico.
Desembarquei no aeroporto da Portela num domingo de Agosto de 1976.
Zarpei, ainda esse dia, para o Porto.
Passado uma semana estava a trabalhar na profissão de mecânico na empresa J.Candido da Silva, com o salário estipulado pelo sindicato de 8 contos.
Aceitei, apesar de na Rodésia ganhar dez veses mais, para me adaptar ao meio que tinha deixado havia 16 anos.
Não consegui adaptar-me! Dez anos em Moçambique e 6 na Rodésia tinham lapidado o meu ser.
Logo que comecei a trabalhar de mecânico, comecei a ser abordado pelos motoristas e os empregados dos armazens para me filiar no PC. Aquela gente (eles/elas) decoravam as lapelas, os vestidos com auto-colantes do Otelo, do Cunhal e outros "pimbas" da política que já não me recorda.
Não aceitei, apesar de tentação de aliciação, de filiação no PC ou outro partido.
Recusei a oferta de bilhetes de comboio para as festas do Avante (creio lá para o Jamor.
E neguei-me a um carregador de lhe fazer uns buracos nuns paus, que acabariam em "matracas" para defenderem a sua sede (um edifício que abusivamente ocuparam) na Avenida dos Aliados e ali tinha funcionado o popular "Jornal de Notícias".
Viajava todas as manhãs de comboio da estação de Pedras Rubras, para a Senhora da Hora.
Os operários que iam trabalhar para o Porto discutiam política de cordel.
Outros riam-se deste e do outro que andava de noite a colar cartazes e alguém lhe chincou a escada e malhou com o costelado na calçada.
Passado oito meses "cavei" mais uma vez dos portugueses (note-se não abandonei Portugal!).
Fui para as arábias "concertar" a minha vida que o 25 de Abril de 1974 me tinha "desconchavado". Que deiam glórias aos 25 de Abril de 1974, aqueles que o desejem; que cheirem o perfume dos cravos vermelhos os que tiverem simpatia por esta flor.
Eu prefiro cheirar as flores de jasmim que brotam no jardim, de minha casa (minha e muito minha e ganha no deserto que dá "pitrólio") a de Banguecoque.
O tempo é de mudanças, assim o cantou o Luis de Camões.
Sou apolítico e quando caí numa "esparradela"´, inocentemente, política, fiquei borrado e, apesar de ter levado tempo, consegui limpar-me.
Mandei às malvas o 25 de Abril de 1974, mas também, tirei partido, mesmo bem que estava na Rodésia, de viver, outra vez, na paz dos anjos no "Land of Smiles".
Abraços para os que adoram o 25 de Abril e para os que não gostam.
José Martins

Anónimo disse...

Meus caros comentadores parem lá com a "peixeirada" e respeitem as opiniões do meu amigo (embora não comungamos a mesma hóstia) Dr. Antunes Ferreira, um brilhante prosador e viciado na escrita.
A diversidade de opiniões é um facto e deve existir.
Se todos estivessemos de acordo nas ideias de cada um tombavamos para um lado e nunca mais nos levantavamos. Assim balançamos o equilíbrio e continuamos em pé!
José Martins

Anónimo disse...

Senhores Vingadores e seus Seguidores

Cuidado com as ameaças na Travessa. Também conheço gente muito influente no PNR que vos pode mandar calar.
Tanto ódio só pode ser indicador de grandes perturbações, más infâncias e outros traumas. Com esse comportamento nunca poderão ser ninguém no vosso partido E ESTÃO A PREJUDICÁ-LO. É TEMPO DE CONQUISTAR SIMPATIAS. Aceitem esta humilde sugestão: terapia psicológica, de grupo ou individual, mas façam terapia.
Por favor e por amor à Nação, reconsiderem a vossa postura, ela não dá credibilidade ao partido.
FR

PS - Vou fazer chegar cópias dos vossos comentários ao Presidente do PNR