domingo, abril 08, 2007





Cartaz e cartaz


Antunes Ferreira
O
assunto ainda vai fazer correr muita tinta – agora, em suporte papel e a laser… - e bem merece que assim seja. O Gato Fedorento respondeu com humor ácido ao miserável cartaz do Partido Nacional Renovador (PNR), colocado na Praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, com um cartaz satírico a apoiar a imigração. Porém, só lá esteve um dia.
Explico-me - ainda que muita gente já saiba do acontecido. A Câmara Municipal de Lisboa mandou retirar o cartaz, que, de acordo com a autarquia lisboeta, foi colocado "ilegalmente" ontem na Rotunda. De acordo com um comunicado do gabinete do

vereador dos Espaços Públicos, António Proa, que a Lusa menciona, o cartaz do Gato Fedorento "não possui licença camarária".

A informação do gabinete de Proa explica também que em relação ao cartaz do PNR, cujas mensagens ficaram praticamente ilegíveis depois de ter sido vandalizado, "não tem capacidade legal" para o remover, e especifica que "a lei confere total liberdade" às forças políticas e que a CML não pode agir "mesmo quando a razoabilidade e o bom senso assim o pareçam exigir".
Em poucas palavras, e socorrendo-me do que a Comunicação Social deu a lume, ao lado do polémico cartaz xenófobo do PNR, colocado na quarta-feira passada, onde se pode ler "Basta de Imigração!", foi logo na quinta colocada a mensagem do Gato Fedorento: "Mais imigração!". Porque "a melhor maneira de chatear os estrangeiros é obrigá-los a viver em Portugal", completam os do Gato.

À imagem do outdoor do PNR, o cartaz dos humoristas também tinha um avião, mas nele podia-se ler "bem-vindos". E em vez do fundador e presidente do partido nacionalista, aparecem Ricardo Araújo Pereira, Tiago Dores, Miguel Góis e José Diogo Quintela, vestidos a rigor, parodiando a imagem do líder do PNR. Os humoristas foram mais longe: "Com portugueses não vamos lá!", diz o cartaz. Porque se, para uns, nacionalismo é solução, para outros "é parvoíce". Segundo o jornal Público esta acção de "humor de intervenção" é custeada pelos próprios elementos do Gato Fedorento.

Ameaças na internet

Por outro lado, publicou o Correio da Manhã que «a Polícia Judiciária (PJ) já estava a investigar as ameaças contra Ricardo Araújo Pereira, o principal rosto do Gato Fedorento». E mais, disse ainda o quotidiano que «o humorista tem protecção policial, classificada de “não intrusiva” e assegurada pelo corpo de protecção pessoal da PSP». Para além disso, e ainda de acordo com o CM, «a Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB) está a acompanhar as movimentações da extrema-direita, nomeadamente as ameaças a Ricardo Araújo Pereira».

Um dia depois do aparecimento do cartaz do Gato, no site Fórum Nacional – espaço cibernáutico da Juventude Nacionalista – os ‘posts’ de ameaça sucederam-se, sob anonimato. Algumas, como triste exemplo: «Creio que terei de fazer um destes dias uma visita à hora de saída do colégio [...] onde um destes burgueses esquerdistas tem os seus filhos a estudar». Nuno NS; «Acidentes acontecem... e para mais sendo fedorentos... é muito fácil dar com eles». Desperta88; «Caso eles não tenham moderação no que dizem, poderão vir a ter consequências». Cidadão oculto, e «A minha vontade era vandalizar a tromba a esses quatro anormais... anti25/4». José Pinto Coelho, líder do PNR, lamentou as ameaças, mas, disse que só respondia pelo partido.

Tanto quanto sei, e apesar de uma censura generalizada ao inusitado cartaz da extrema direita, só conheço a reacção do Bloco de Esquerda à retirada do outdoor do Gato Fedorento. Os bloquistas insurgiram-se contra o executivo lisboeta e entenderam preocupante a celeridade que se registou quanto à retirada do painel.

Referiram, especialmente, que deveria, antes de tudo, ser consultado a figura principal do Gato, Ricardo Araújo Pereira, que talvez se tivesse disposto a sanar a alegada “ilegalidade”. Isto apesar da Câmara afirmar que o humorista considerado o número um de Portugal não tinha estado contactável. Apetece aqui dizer que, tal como há meio século começou a acontecer nos ecrãs televisivos – “o programa segue dentro de momentos”.


Os buracos das leis

Decididamente, é-se preso por ter cão, mas também por não o ter. A lei, uma qualquer lei, mal acabou de ser parida, promulgada e entrada em vigor é, imediatamente, objecto de estudo dos juristas, nomeadamente de advogados para que se descubra qual o parágrafo, a alínea, o número através do qual é possível escapar a ela própria.

Os pessimistas dizem mesmo que o furinho salvador, mais ou menos ínvio, já se encontrou antes mesmo do lexto legal ver a luz do dia. Outros, ainda mais acintosos, referem com absoluto descrédito na produção legislativa, que, antes mesmo da redacção ou, até da congeminação do diploma já se encontrou essa via de fuga. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra…

Tanto quanto me consigo aperceber a proa do Proa ficou bastante amolgada com este assunto. Desculpe o Senhor Vereador o trocadilho, mas não fui eu que o levei à pia baptismal. No entanto, o apelido de um cidadão é sagrado e esta ironia pode ser considerada descabida. Porém, escrevi – está escrito. O vereador Proa naufragou? Só ele o pode dizer.

Não foi uma intervenção muito brilhante. Nem muito, nem pouco. Foi um «esclarecimento» sem necessidade de Ray Ban. A preto e branco, seria cinzento incaracterístico; noutras circunstâncias, poderia ser da cor de burro quando foge. Os três mosqueteiros do Gato Fedorento – que são quatro, como os do Senhor Dumas eram – ainda não disseram a última palavra. Deles.

Já agora, o caso engenheiro



Penso que se está – estamos – longe disso. O cartaz execrável do PNR ainda vai motivar muitos mais desenvolvimentos. Os Portugueses, estou certo, esperam por eles, do mesmo modo que aguardam a conclusão do dossier Sócrates/licenciatura. Tanto quanto dizem os órgãos da Comunicação Social, o primeiro-ministro virá esta semana a público esclarecer o imbróglio.

É bom que assim aconteça. Tal como diz o João Miguel Tavares no DN, não é por ser engenheiro, licenciado, bacharel ou outro grau qualquer, que José Sócrates se comportará melhor do que se tem comportado como chefe do Governo. E, para mim, ele continua a ser o chefe do melhor Executivo depois do 25 de Abril – e de antes.

Não podia, porém, não pode, muito menos poderá enganar os Portugueses, isto é, enganar-nos, no que respeita a título académico. Se se apresentou como engenheiro – e se permitiu que assim o venham tratando – assuma-se e explique. Um exemplo, ainda que apenas académico: um bom sapateiro pode perfeitamente dar um bom, um excelente mesmo, primeiro-ministro. Um remendão – não.

Volto ao Gato Fedorento e ao placar. Um bom cartaz, ainda que “ilegal”, como era o caso do que os gatos humoristas produziram, pode levar a água ao seu moinho, isto é, elucidar o público, mesmo que mordaz à enésima potência. Um mau cartaz, como é o caso do afixado pelo PNR, até pode conduzir à violência pelo seu chauvinismo. Ainda que “legal”.

5 comentários:

Anónimo disse...

Já agora devias pôr aqui o outro cartaz ...

Anónimo disse...

Quanto a mim o Sr. Sócrates possuir a licenciatura que lhe deu o direito ao "canudo" que o classifica de engenheiro, tanto se me dá como se me deu!
O homen não se medem pelo "canudo" mas pela sua inteligência; pragmatismo e as palavras, proferidas, cheguem à acção.
Há por aí muitos engenheiros e doutores que alguns não fazem "porrinha" nenhuma e vão polindo os fundos das cadeiras de departamentes (onde foram "buchados" pela influência deste, daquele padrinho ou amigo) e vão fazendo monte.
No meu país continua a existir a cultura dr, "engiérre", como no tempo da monarquia existiam os marqueses, duques, os condes, viscondes, barões etc.etc.etc. Nobreza que parte dos títulos eram comprados com os "dinheiritos" surripado ao pobre povo que se antes lhe prestava "vassalagem", esta depois seria mais vasta.
O meu irmão da Àsia Fernão Mendes Pinto, não me parece que quando partiu para o Oriente tinha obtido licenciatura, que dava o direito a ser tratado por DR, na Universidade de Coimbra.
O Pinto foi o primeiro embaixador de Portugal no Japão, teve um relacionamento muito próximo com S. Francisco de Xavier, no Japão. O meu irmão Pinto escreveu a genial obra "A Peregrinação", traduzida em várias línguas e onde os doutores (ainda hoje) vão beber nessa fonte histórica.
Eu (já me chamaram o Zé Pinto da Ásia e com mais anos de presença que o meu irmão), só tive a oportunidade de frequentar quatro anos a escola primária do Salazar e fiz a quarta classe com merendas de pão de centeio e azeitonas.
Comecei a treinar-me para "forcado" desde os dez anos e aos quinze comecei agarrar o mundo pelos cornos!
Agarrei-o algumas vezes e outras levei "cornadas" que me fizeram lamber o pó da arena.
Não vou cá nas licenciaturas, mas na qualidade do Homem.
Há por esse Portugal tanta pedra bruta que se fosse polida dava obra fina de cantaria!
Abraços e uiscadas para todo o "pixoal".
José Martins

chipichipi disse...

Ora bem!
é-me indiferente se é licenciado, se é engenheiro. Até podia ser sapateiro. Não é um diploma, um um «título» que estabelece o valor seja de quem for. Não é por isso que o 1º ministro vai valer mais ou menos, não é isso que vai influenciar a sua capacidade. A ser verdade critico é a burla, porque semelhante é inadmissível e não se deveria compactuar com este tipo de atitudes.
Quanto aos cartazes, lamento profundamente que se permita a vontade de expressão de segregadores, racistas que se intitulam nacionalistas e que no reverso da medalha se lhes retire esse direito. E neste caso o nome até se inverteu: Adivinhem quem é o fedorento?!

Anónimo disse...

Entre dois fedorentos, o gato e o sócrates, não sei qual deles leva a melhor. Os gajos do gato fedem à distância; o falso engenheiro também. Que venha o diabo e escolha...

Anónimo disse...

Já o disse e volto a dizê-lo: um destes dias os gatos carregados de fedor da merda ainda se vão arrepender de se meterem com gente como nós que adoramos a nossa Pátria e não a queremos vere emporcalhada por toda essa maltosa que nos trazmafias, crimes diversos e mais.

Alem de que estes imigras só vem tirar o trabalho aos Portugueses. E com a falta de emprego que há, graças ao Sócrates e companhia, não os queremos cá. Vão para as vossas terras! E já!