terça-feira, outubro 03, 2006
Ajuste de contas
Antunes Ferreira
E ali estava ele, plantado no meio de uma parada desnivelada, o cimento corria todo para um lado, mais parecia um daqueles campos de futebol em que uma das equipas é tão má que parece estar uns metros abaixo do adversário e por isso o esférico está sempre no meio campo inclinado dos infelizes. Só que na segunda parte, o declive muda...
Aqui não. Aqui, o construtor que aproveitara o antigo convento para o transmudar em quartel, não se detivera perante o pátio sem claustro algum: estava à banda para baixo, assim ficaria a parada. E ficou. Uns largos anos depois, uns tipos da Engenharia Militar tinham tentado resolver a questão. Porém, o caso era mais bicudo do que lhes parecera à primeira vista.
Quem lhe contou a estória foi o sargento-ajudante Custódio, homem de largos anos na Companhia, que só não assistira ao passe de mágica que transformara o edifício fradesco em casernas militares. Por um pouquinho só, dizia ele. Pois claro. Corria o ano de 1966 e as obras tinham decorrido nos princípios de mil e oitocentos. O sorja, amante da boa pinga e militante da boa disposição era um prato, um verdadeiro prato.
Naqueles preparos, Carlos Vidigal sentia-se um tanto como um aluno interno a quem fora concedido um fim-de-semana prolongado por mor de ponte de feriado à terça-feira. Longe de casa, dos mimos da mãe – aos filhos únicos eles não costumam rarear, bem pelo contrário – com um oceano pelo meio, ainda que fosse o mesmo, o alferes era quase como um cuanhama num igloo.
Quem lhe tirava Lisboa
Luanda era bonita, lá isso era, mas quem lhe tirava Lisboa, tirava-lhe tudo. A família morava num prédio da Rua Maria Pia, um pouco acima da Meia-Laranja, onde passava o autocarro 12 para Algés. Segundo andar, sem elevador, está visto, nem esquerdo nem direito, segundo, só. Donde, sete assoalhadas e um corredor que ele em miúdo acreditava der igual ao túnel do Rossio.
Aos domingos, o pai Ernesto, a mamã Elvira e o rebento estremecido desciam até ao largo de Alcântara para tasquinhar uns caracóis ou, depois da afirmação do Eusébio, o melhor marisco para o futebolista, o tremoço. O Senhor Ernesto servia-se de três Sagres enquanto deglutia a parte maior das rações. A Dona Elvira era mais capilé. Ele tinha direito a um pirolito com berlinde.
Depois vinha um bacalhau com todos, dose alentada que dava sem receios para a família Vidigal. Isto porque o Carlinhos, ainda que preferisse um bifinho com um ovo a cavalo e batatas fritas, ainda não tinha idade para ter gostos e alinhava compulsivamente no fiel amigo. De brinde, calhava-lhe o ovo cozido, ainda que fosse a pé. Era um prémio de compensação, como os que dava o senhor Igrejas Caeiro nos Companheiros da Alegria.
Nisto tudo pensava – mas em mais. Carlos fora para o seminário, progenitores católicos-apostólicos-romanos anteviam um bispo, até um cardeal, quem sabe se... Mas conclaves, só lá mais para diante. Na noite em que o Neil Armstrong pisou a Lua – um pequeno passo para os homens, um salto para a humanidade – descobrira que os homens o atraíam. Apaixonou-se perdidamente pelo astronauta.
Noites depois, no dormitório, hesitou uns momentos apenas quando o Jorge, mais conhecido por Jorginho, lhe disse que tinha frio, muito frio, e a manta não chegava. Se tu viesses para o pé de mim, aquecias-me... Vidigal entrevia-lhe o sorriso convidativo, no meio da escuridão. E uma língua rosada que humedecia os lábios. Decidiu-se.
Afastou a coberta, levantou-se de vagar não fosse qualquer barulho denunciar o que quer que fosse e meteu-se na cama do Jorginho. Ele estava nu, o que o assustou um pouco. Olha querido, despe-te também, aquecemo-nos um ao outro. E assim foi. O começo de um deslumbramento, ambos erectos, as mãos ocupadas em explorações e manipulações. Trocaram beijos, trocaram línguas.
Noites sem fim
Duas noites depois, os beijos já foram outros. Gemiam em sussurro, empolgados como animais em cio. E, mais tarde, quando o amante entrou nele, Carlos rangeu os dentes – mas não gritou. À explosão que se seguiu de ambos, um fora outro dentro, estenderam-se estafados e encheram-se de carícias. No dia seguinte fora-lhe um tanto difícil sentar-se ao pequeno-almoço – mas passara.
Mal as luzes se apagaram, calhou-lhe a vez de satisfazer o apaixonado. Este, do hábito, apenas ronronava, não lhe doía o que quer que fosse, bem pelo contrário. Porém ele, Carlos Vidigal apercebeu-se que fora melhor na véspera. Carinhosamente, para não o aborrecer, confidenciara ao seu Jorge que era assim. Um riso baixinho, querido, passas a ser a minha mulherzinha.
O mal foi quando o padre vigilante os apanhou em flagrantíssimo. Chamadas as famílias, encobriram-se as vergonhas e os dois na rua. Os Vidigais fecharam-se em copas, a mãe só lhe disse que tinha muito que se penitenciar e rezar muito. Começou a cumprir a pena. Do Jorge, nem sombra. Os pais tinham-no mandado para uma roça que tinham em São Tomé, soube depois.
E agora? Estava naquilo, quando foi à inspecção e logo depois incorporado. Má sina. Curso de Oficiais Milicianos, caserna, duas camas afastado um moço penteadinho, engraxadinho, botões cosidos, farda impecável. Fernando, de seu nome. Numa sexta-feira estavam os dois de piquete e o Nandinho convidara-o para ver umas revistas daquelas. Mulheres nuas? Que chatice. Mas aceitou. Mal parecia.
Sentados na beira da cama, o Nando abre a primeira – e eram só homens, alguns peludos, outros glabros, musculosos e com um denominador comum: os instrumentos, grossos, apetitosos. Como descobrira o novo conversado que ele se pelava por tal, nunca viera a descobrir. Descobrira sim o climax que ambos alcançaram, ele de novo submisso e feminil.
Devaneios, poucos
Desta feita não houve alerta dado por ninguém. Promovidos a aspirantes, foram um para cada lado, Chaves e Faro, que dor a do afastamento. Nunca mais se veriam. Carlos passou à frente os episódios que mediaram até Angola. Com um ou outro devaneio, é certo, mas nada de especial, de paixão, de enlevo.
O suor escorre-lhe da cabeça, sempre assim fora, mesmo em Lisboa. Mas aqui sente-se pingar por dentro da camisa, está peganhento, que calor sufocante, que incómodo. Meu arfere essi filho da puta desse Caritangue me fanou dojequinhento que eu guardou para comprar peixe seco. Lhi pode chamar e sacar o meu dinheiro? E uma ekada, que o gajo bem merece. O capitão Sarzedas é que era o especialista, daí a oferta nos discos pedidos, do «Deixa meu cabelo em paz», do Roberto Carlos.
O queixoso era um preto alto, muito alto, e entroncado. Sebastião Quissonde, cabo Rd, calculava que ele tivesse uns trinta e poucos, mas com tal gente nunca se sabia, talvez entre os vinte e os cinquenta. Impressionou-o, com a figura garbosa, um buço sobre uns lábios grossos, sensuais. Pela cabeça passaram-lhe imagens desnaturadas. Lá estava ele. Em abstinência há quase quatro meses.
A coisa resolveu-se. Sebastião ficou-lhe agradecido. Carlos passou a vê-lo no quartel, com outros olhos, cobiçosos, safados, desejo plantado nas pupilas. Era realmente um machão, o nosso cabo. À medida que lhe crescia a ânsia, Carlos avaliava-o cada vez mais em pormenor. O matulão não enganava: o volume sob a braguilha era um acicate para o alferes miliciano. Aliás, tinham-lhe dito que os pretos eram todos proprietários de coisos desmesurados, impressionantes. Um dos seus ocasionais parceiros, o Costinha, contara-lho entre lençóis.
Por uma tarde de mornaço, o oficial perguntou ao Sebastião se queria ser seu impedido. O homenzarrão sorriu-lhe. Quer mesmo o meu arfere? Quer o Sebastião? A pergunta pareceu-lhe provocatória. A insistência, ainda mais. Está visto que quero. Tens mulher? Não tem, meu arfere. Passas a desarranchado e dormes no anexo da minha casa, tá bem? E a senhora do meu arfere não está a se importar? Não tenho senhora. Ora bem, assim não tem maka.
Sem pormenores
Nem vale a pena entrar por pormenores. Carlos exultava. Tudo o que o Costinha lhe tinha confidenciado não era nada à vista do que o cabo lhe exibiu logo na primeira noite que se preparava para dormir lá em casa. Porque não dormiu. Nem ele, muito menos Carlos. Não estivesse já preparado e ter-lhe-ia sido impossível aguentar com um Sebastião em riste. Mas aguentou, de princípio agarrado aos varões da cama de ferro trabalhado, mordendo os beiços para não dar parte de fraco. Depois, no paraíso.
Já não podia passar sem o seu Sebastião. Daí que, na primeira coluna ao mato, a caminho de Santa Eulália o levou como… veja-se, como guarda costas. Nunca o termo fora mais apropriado. O MVL tinha 98 camionetas pesadas, transportando tudo, de munições a uísque, até um Unimog novinho em folha, que seguia em cima duma Bedford de força.
As duas primeiras noites na terra do caminho foram um tormento. Com tantos camionistas, ajudantes, militares e afins e correlativos, não se podiam sequer chegar um ao outro quanto mais o resto. Mas na terceira, que divisava já, Carlos via o jardim das delícias. Tinha aquartelamento, que sorte, tudo lhes ia correr de feição, por aquelas bandas com a floresta à volta ainda seria mais emocionante. Havia de lavar-se e lavá-lo, com mimos e carinho, sabonete Lux, daqueles que em cada nove estrelas de cinema, dez usam, e água de colónia Bienêtre, antecipando e saboreando o inevitável.
A picada e a mata, num repente, transformaram-se num inferno. Uma emboscada a sério, rajadas em barda, granadas, sabia lá o que mais. Sebastião ficara mais afastado, vomitando balas duma metralhadora pesada. Bem gostava de o ter ali ao pé, mas a vida era assim. Deu-se conta de que qualquer coisa se mexia atrás de si. Devia ser o querido que se lhe juntava. Os outros vieram quase junto deles para os agarrar à mão, era um festim, mas a tropa conseguiu repeli-los.
Acalmada a borrasca, foram-se a contas. Dois feridos um com direito a penso individual do combatente, outro com talas, mas nada de grave. Então deram com o alferes. Em decúbito, calças em baixo, todo ele era sangue, mortíssimo. Uma vareta de obus, grossa e lixada tinham-lhe enfiado entre as nádegas obscenamente nuas. E quando o voltaram viram que lhe haviam cortado o sexo. Um espanto.
Mais ao lado, o impedido Sebastião mirava o corpo descomposto e desarticulado, resmoneando algo por entre os dentes branquíssimos. Ninguém se preocupou com ele. Devia estar rezando-lhe o responso e a encomendação que, agora, de nada já serviam. Estavam todos vivos, menos o oficial, que se lixasse. E o Sebastião continuava a sua cantilena que não se compreendia. Devia falar em quimbundo. E o Sebastião, baixinho: sacana di merda, você deves ter gostado. Do escovilhão que lhi encheu o cu. Lhi ajustou os contas, paneleiro.
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21 comentários:
Caro AF,
O texto, (como sempre), está soberbo. Contudo, abrindo as hostilidades (ou o meu invertebrado machismo) pergunto(-lhe) (sem ofensas para ninguém, obviamente): o menino passou-se para o inimigo (a linguagem rica e os pormenores detalhados), ou isto são, (apenas), resquícios do (recente) Festival de Cinema Gay & Lésbico?
Um abraço (Amigo) do
JS
Fiquei espantada e um tanto preocupada. Não devias abordar coisas destas, pois creio que parece mal. Depois do telefonema de hoje, leio agora o comentário do teu amigo senhor Santos. Muita gente pode ter as mesmas dúvidas e a brincar, a brincar...
Toma juizo, Henrique
Sou assumidamente lésbica. A-d-o-r-e-iiiiiii o seu texto. Muitíssimo bem escrito. E contra as opiniões do joliva_santos e do MFMA quem percebe destas coisas de homosexualismo como é o meu caso, pode afirmar sem margem para qualquer dúvida que o Senhor não pertence ao nosso grupo, mas soube interpretar perfeitamente o que ele é e foi e será.
Sobretudo numa época em que homosexuais e lésbicas eram criminosos de direito comum. Em que os ratos de sacristia, a começar pelo ditador de Santa Comba nos consideravam animais não humanos, prevertidos, invertidos e tudo o mais que se sintetiza na palavra final do seu texto magnífico. Que muito gostaria que originasse uma polémica de grande dimensão. O que penso que vai acontecer. Muitos parabens e muito obrigada
A ideia cumpriu-se! Provocar o Chefe e os seus leitores. Haja Deus!
Js
Olhe lá, ó Antunes Ferreira, não ligue a provocações do tipo daquelas que lhe faz o joliva_santos. A vida é assim, sem mais nem menos.
Tenho 47 anos. Não sou homosexual, embora haja quem diga que do nosso grupo muitos se passam para o deles, do deles é que ninguém passa para o noso. Por isso, salvo seja, dessa água ainda não bebi, não bebo e julgo que não beberei.
Tenho, porém de lhe dizer uma verdade: sou professor do ensino secundário de Português e Literatura Portuguesa e creio poder afirmar-lhe que um Escritor como você, com maiúscula certamente, tem de arranjar maneira e editor para publicar as suas pequenas obras primas, pois elas não se podem confinar a este blog.
Nada tenho contra, mas tenho a certeza de que o grande público esgotaria umas quantas edições dessa obra, que tem de ser dada à estampa.
Antunes Ferreira: muito obrigado por me proporcionar o exemplo, cada vez mais raro, da arte de bem escrever. E volto a dizer-lhe: não se preocupe com os santos da casa que não fazem milagres. Tenho a absoluta certeza que voc~e também não é homosexual
Lah que conseguiste provocar ... conseguiste!
Baralha-me lêr que ainda existe o ... parece mal ...
rendez-vous à hora do jantar ( meu)
Texto muito bem escrito, o que não surpreende, vindo de quem vem.
No entanto, apesar de um estilo descomplexado e liberal, qual guião de um "Brokeback à portuguesa", está cheio de estereotipos clássicos no tratamento do tema.
Assim:
- o alferes homossexual, filho único e antigo seminarista;
- o negro atlético e machão, seviciado pelo superior na hierarquia militar - e na guerra colonial - através da prática forçada de actos contra a sua natureza;
- a vindicta do africano, qual deus vingador, aplicando pena de Talião agravada pelo resultado, com aparente sabor de justiça.
Quanto ao controvertido problema de saber qual a inclinação sexual do autor, trata-se de matéria que, a meu ver, não suscita qualquer dúvida. O que julgo mais relevante, para mim, também heterossexual, será a questão de saber se HAF revela ou não, neste magnífico texto, tiques de discriminação relativamente à minoria homosexual.
Oi Henrique,
Conforme prometido aqui fica a minha visita e comentário.
O texto está fabuloso, sem dúvida que um dos temas que mais invade a nossa sociedade e que questiona os valores passados durante anos,sobre as relações e a moralidade as guerras assumidas entre gerações e grupos que por vezes camuflam aquilo que sentem.
Por outro lado e isso preocupa-me um pouco a questão da adopção de crianças por casais homossexuais, pois as opções sexuais são de cada qual, mas será que uma criança será devidamente educada por seres do mesmo sexo???
Talvez puritanismo da minha parte...
Perdoem-me se firo susceptibilidades...
Um abraço
Patrícia Pedro
Bicha é bicha, fardada ou à civil. Não era preciso era um fim como este, por mais que seja, como o jas diz, um estereotipo, que nem sei bem o que é, mas não faz mal. Tenho amigos larilas e não me preocupo, pois não sou. Cada um lev...
Ao Dr. Antunes: Boa! Você é mesmo bom a escrever. Bom? Óptimo! E não se preocupe se o considerarem maricas, dado que tenho quase a certeza que não é!
Não tenho nenhuma reserva muito menos vergonha de dizer que sou homosexual. Dizer que não é que seria péssimo. Na minha profissão, economista, creio que há muitos mais, mas não dizem. Eu, sim, por isso admiro tanto o Gulherme de Melo que declara alto e bom som que o é.
Pois sr. Antunes Ferreira, o seu texto é quase perfeitro; e digo quase porque ele indica, sem margem para dúvidas, a sua antisexualidade!!!
Já atrás o sr. JAS referiu os estereótipos que se encontram na sua crónica. E que querem dizer do meu ponto de vista que critica abertamente a nossa condição. Olhe que cada vez somos mais - e com mais poder.
Mesmo assim felicito-o por 2 motivos: escrever muitíssimo bem e ter a coragem de abordar este assunto que só num país farisaico como é o nosso ainda é considerado vergonhoso e quase tabú. Veja-se o que diz o sr. mfma. Que tristeza...
Deixo aqui um voto: oxalá estes comentários prossigam para darem o ponto em que se enontra o assunto. Abaixo o falso pudor! Viva a liberdade sexual!
Diz-se que para escrever bem, é preciso ou ter vivido as situações ou ter uma imaginação que permita assumir que as viveu. Assim, acho estranho um texto tão rico...
Tenho 28 anos, sou casado, tenho 2 filhos, sou feliz, mas gosto de homens. A minha mulher nem sonha com isso, mas é a verdade. Como eu, há muitíssimos. Basta ver os locais de engate, onde param carros em muitissima quantidade para os condutores acertarem com os rapazes, alguns áinda rapazinhos, as condições dos encontros.
Eu não gosto de prostitutos; mas tenho 3 amigos com os quais costumo ir, sempre que posso. E descobri um gozo muito maior do que aquele que sempre tive com a minha mulher. Felizmente que ela, é cumpridora e muito boa mãe.
É muito difícil viver assim, posso garantir. Histórias como aquela que escreveu são ficção. Na vida real há pouco disso. Ainda bem. Como compreenderá, fico-me pelo anonimato. Com a sociedade mesquinha e estúpida que nós temos, nunca fiando.
Continui a escrever que o faz muito bem. E não seja tão contra a homosexualidade. Compreenda-a e aceite-a. O direito à diferença tem de ser exercido sem coações.
Querido amigo
Não se deve falar destes comportamentos imorais. Todo o cuidado é pouco. Todos sabemos que há por aí muita gente dessa. Deus nos livre, e às nossas castas famílias, de tais influências do Mafarrico.
Eu sempre gostei muito de ler os seus textos, principalmente os textos sobre África. Mas quando o Dr. começa a descrever as indígenas confesso que tenho de passar adiante, não havia necessidade de tanto pormenor. Desta vez então, entrou por caminhos que podem não ter retorno. Eu próprio não consegui conter uma certa agonia com a descrição do mulatão Sebastião. Confesso que o dito me tem perseguido em sonhos e provocado tremedeiras. Tenho-me penitênciado todas as noites, desde o dia em que li esse texto demoníaco. Confesso que me ficou gravado a ferro e fogo. Não sei o que se passa comigo mas aqui fica o conselho de um grande admirador. Muito cuidado. Ele há coisas do Demo em cada esquina. Não sei se poderei voltar a visitar o seu blog. Pareceria mal se alguém soubesse!
Até um dia
AS
Acho que é um atentado aos direitos dos cidadãos a opinião do comentarista azul do Barreiro. Assim é que este País não anda para a frente! Puritanismos já hoje não se usam. Se fosse como antigamente, eu teria medo de ser homosexual, quanto mais dizê-lo. Mas gostaria de ver mais opiniões sobre o assunto. Isto não pode ficar só assim.
Meus amigozzz..zzz..
Palmas ao escritor! Li de fio a pavio e só posso dizer que ficção ou não é um excelente escrito!
Meu queridíssimo AF, não posso dizer que estou surpresa, não, a sua qualidade de escrita é de elevadísima qualidade!
Acho que o tema escolhido foi sucesso garantido!
Qual o problema de se falar de um gajo que é gay e de tantos outros que também gostam de levar no dito real? ora, cada um dá o que quer e leva onde quer!
Mas homossexualidades à parte, foquemo-nos no texto, este sim, digno de um livro. Carregado de vocábulos ricos e expressivos, uma linguagem que seduz qualquer leitor!...
Meus amigos, não vamos criar aqui confusões entre o autor e os personagens! Seria demasiado ridículo! Seria a mesma coisa que dizer que Sir Arthur Conan Doyle escreveu todas as aventuras do famoso Sherlock, não por se julgar o autor um aspirante a detective, mas sim um criminoso à procura do crime perfeito!...
Portanto, meus amigoszz...zzz, não confundam alhos com bugalhos!
O Digníssimo AF escreveu e muito bem, detalhada e muito bem, uma história de um menino que descobriu que gostava de levar no rabiosque... nada que não aconteça hoje em dia!
Agora imagino o seguinte: se o Henriquinho escrevesse sobre um gajo cuja única tara fosse comer toneladas de rebuçados de mentol, a esta hora estariam a dizer que o autor é um tarado, crente no mito de que os ditos rebuçados eriçam o osso do membro mais invertebrado!!!!....
AF, agora tenho mesmo que perguntar: QUANTO É QUE SAI O LIVRO??? já merecemos!
Bijux
Dr. Ferreira, deixe que lhe diga que quem blogs é como quem tem filhos,tem cadilhos. O meu caro Dr. nem sabe por onde se meteu. Eles estão a andar por aí, copiando o Dr. S. Lopes, agora comentador da TSF, onde o senhor também botava faladela.
Cuidado, eles (e elas) têm cada vez mais poder e influência. Já pensei em passar para o outro lado para proguedir na vida e chegar a altos cargos. Antigamente era a Maçonaria; hoje é a Maricaria.
Tome cuidado, cuide-se, reserve-se, defenda-se, caro Dr. Nunca nem ninguém sabe do que é capaz um deles despeitado. É como os ciúmes: neles são mais intensos e graves!
Boa sorte e boa escrita. Mas com cuidado.
Amigo
Junta-te a nós. Eu conheço-te e tu conheces-me. Eu sei muito bem que não fazes parte da nossa mesa, muito menos bebes pelos nossos copos. Mas ainda vais a tempo de conhecer a Verdade. Tal como te dizia o nosso Guilherme de Melo "ó chefe do teu grupo para o meu já passaram muitos; do meu para o teu, nenhum»!
Que será feito do Guilherminho que há tanto tempo o não vejo nem ao seu Zé, aliás um excelente rapaz, amoroso, carinhoso, um pouco rude, mas bombeiro qualificado, pronto para apagar todos os fogos, principalmente os do desejo.
Eu repito o convite, embora tenha quase a certeza que cairá em saco roto: se queres ser realmente feliz, junta-te a nós.
Peço-lhe antes do mais desculpa por me manter na «defesa» que é o anonimato; mas, dada a minha condição que de seguida lhe explico, compreenderá porquê.
Sou padre católico, prior numa freguesia desta capital. Tenho a meu cargo a direcção da catequese, da Obra das Vocações Sacerdotais, da Conferência de S. Vicente de Paula e outras obrigações que não especifico, todas na paróquia. E sou homosexual.
Por isso compreendi julgo que muito bem o seu conto. Foi um amigo que mo indicou dando-me a morada do seu blog. Depois do seu magnífico texto, andei a percorrer o travessadoferreira e tenho de lhe dizer quanto gostei do que escreve.
Uma simplicidade linear, uma construção sem artimanhas, uma linguagem rica. Penso que o conheci há já bastantes anos através da RTP e o ouvi na TSF. Artigos seus, se li, não me ficaram na memória.
Estes sobre a guerra em África e outros são modelares. O meu saudoso Professor de Português no Seminário, o Padre Álvaro X, depois cónego, já falecido, teria comentado como o fez perante alguns dos nossos grandes escritores, «o autor tem de ser lido em respeito e em maiusculas»!
Pois bem, Senhor Dr. Antunes Ferreira
Assim já compreende o anonimato que uso. Descobrisse alguém, meu paroquiano ou não, quem eu era e o que sou - e numa sociedade marialvista como é infelizmente a que temos, seria crucificado. Nosso Senhor foi quem sofreu tal sacrifício; quem sou eu para que o fizessem comigo?
Contra tudo o que a Igreja tem afirmado em erro grosseiro e continuado, os homosexuais não são nem pecadores, nem criminosos. Somos o que somos porque a natureza assim nos fez e Deus permitiu que assim seja.
A minha homosexualidade não interfere com a minha vida pastoral, posso garantir-lhe. Muito menos me leva, como nunca levou nem levará a que me prostitua.
Tenho um Homem, um ser vivo, a quem amo e não apenas sexualmente, ainda que o Amor que dispenço ao Senhor Jesus seja infinitamente maior.
Por isso lhe digo que, ainda que talvez de forma exagerada, o retrato que faz no seu conto está muito próximo da realidade. Estereotipos? Quiçá. Mas não tão importantes como a sua coragem de trazer abertamente a público um tema que tem vindo a ser escondido pela sociedade e pela Igreja.
É só, Senhor Dr. Ferreira. Prossiga neste seu caminho de mexer com as pessoas e com as suas almas. Pode ser que seja considerado provocatório, mas as atitudes terrenas de Nosso Senhor Jesus Cristo também o foram.
E escreva mais, escreva sempre, para muitos, nos quais me incluo, poderem desfrutar do seu estilo. Perdoe-me ter-lhe roubado tanto espaço e tempo de leitura.
Este folhetim ameaça eternizar-se. Senhor Ferreira: vá-se matar, vá-se f....! Já basta de larilas, invertidos, fufas, travestis, de toda essa maricada. Dedique-se a um tema melhor, como tem feito. E ponha um fim irrevogável a esta trampa. Arre porra que é demais!
É sempre difícil para mim inserir um comentário seja em que artigo for escrito pelo meu amigo Dr. Antunes Ferreira.
O seu estilo de prosa, a sua subitilidade e os assuntos que trata, deixam-me em pânico e o receio das "calinadas" ortográficas disparadas da minha mente para as teclas.
Tenho defeitos e estes vêm das minhas raízes literárias que só me deram a oportunidade de me licenciar na 4º classe do ensino primário, elementar.
Aquela formatura que se conseguia, com base, de vergastadas de vara de marmeleiro e que, depois da tortura, ainda se tirava o chapéu ao "sô" professor e se, o puto fizesse quexa lá em casa, o tratamento era outro! Em vez da vara de marmeleiro era com tranca da porta do quintal. Li por alto o artigo "Ajuste de contas" do meu amigo Dr. Antunes Ferreira e verifico que se trata de uma estória de maricagem passada em África...
Bem eu, também, andei por lá 16 anos...apanhei muito calor tropical e apesar de tanta calmaria e de sois a pino, consegui chegar à "Pátria", que me tinha parido e depois bastardo, um branco/moreno. Poucas estórias, relativas à "maricagens" tive a oportunidade de conhecer. Umas duas ou três! A primeira seria lá pelos anos de 1964 e no distrito de Manica e Sofala, Moçambique.
Um camionista que transportava mercadoria da cidade da Beira para o mato, seguia de amores com o ajudante que viajava no cimo da carga do camião. Na picada entre o capim, lá para os lados do Vandúzi,a trepidação da viatura, excitou, sexualmente, o "rabo" do camionista e patrão do Zé preto, que seguia em cima da carga, para a guardar dos "macacos cão" que infestavam a área e eram uns refinados ladrões. Camião estacionado na margem da picada o Zé, ajudante de todo o serviço e âs ordens do "rabo" do patrão desce lá do alto e seguem os dois para o denso matagal para atacar o "rabo" do seu amo. Passados uns cinco minutos, passam por ali um "jeep" com dois funcionários de uma organização governamental de Vila Pery (Chimoio hoje)e, vendo o camião estacionado, procuraram saber aquilo que se teria passado. Não havia a hipótese de ataque terroritas porque estes não existia na área nessa altura. Pensaram os dois homens numa avaria e nas picadas de África existia o sentido de ajuda. Não viram ninguém e, após de observarem uma breda no capim, seguiram por ela. Mais adiante e numa cova encontra o Ze preto a acavalado nas nalgas do patrão e: para baixo e para cima. Os namorados, tão excitados que estavam não deram pela chegada dos dois homens.Estes estupefactos com o acto, um em voz alta: "olha,olha para o "paneleirão" a levar no olho! O camionista,levanta-se, um pouco vira a cara para o que lhe tinha chamado "paneleirão" e responde-lhe: OXALÁ O CU É SEU? METE "PIÇO" ZÉ; METE "PIÇO" ZÉ!
E o Zé que era bem mandado continuou a "bombar" no rabo do patrão!
Voltei atrás. Já deixei um comentário na primorosa história do coxo não. Mas quero expressar também o meu voto de felicitações por este texto, um exemplo de que quem não deve não teme e não há tabus.
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