É quase um missil...
Melanoma pode ser vencido
Não me canso de avivar o tema, felizmente por boas razões. Nos Estados Unidos, que também têm coisas e performances notáveis em muitas disciplinas, a investigação médica é uma delas. As actuais descobertas no domínio do combate ao cancro aparecem-nos quase diria dia sim, dia não. A busca de metodologias para tentar curar esse ciclópico flagelo da humanidade tem nos States uma enorme componente, para não dizer mesmo a maior. Se estou errado ou exagerado, digam-mo.
Registo aqui mais um avanço na luta contra o melanoma, a forma mais grave do cancro da pele. Socorro-me, uma vez mais, das divulgações inúmeras por parte das agências noticiosas e de órgãos da Comunicação. Para todos vai o muito obrigado do travessadoferreira. E, se não os incomodasse muito, um outro apelo aos médicos, nomeadamente aos oncologistas: se algum ou alguns quiserem enriquecer este blogue com pareceres ou opiniões, comentem aqui mesmo. Se pensam que podem escrever algo mais em artigo «perceptível pelo comum dos mortais…» – e que não tenha mais de quatro A4, pois o espaço é o que é – só têm que o mandar, por e-mail, acompanhado ou não de ilustrações, para o meu endereço: ferreihenrique@gmail.com. Antecipadamente, muito obrigado. AF
Os doentes de melanoma têm uma nova esperança no combate à doença. Pela primeira vez, cientistas norte-americanos conseguiram tratar dois de 17 doentes através da manipulação genética. Um avanço na ciência que está a entusiasmar os médicos na área da oncologia, mas que só poderá ser aplicado nos hospitais dentro de quatro anos.
O director do serviço de Dermatologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, João Abel Amaro, tem vindo a acompanhar, nos últimos anos, os trabalhos de investigação do cientista norte-americano Steven Rosenberg e dos seus colegas do Instituto Nacional do Cancro, dos EUA. Em declarações ao Correio da Manhã mostrou-se entusiasmado com os resultados, agora publicados na revista científica Science. «Estes avanços são extremamente importantes porque vêm dar resposta de tratamento às formas mais malignas de casos de melanoma, quando os doentes têm metástases que afectam órgãos e não respondem às terapêuticas», especificou.
João Abel Amaro explicou que a nova técnica de manipulação genética consiste em introduzir nos linfócitos (glóbulos brancos) genes que transformam a célula e atacam as células cancerosas, as quais fogem aos mecanismos de controlo do sistema imunitário. «É quase um míssil encaminhado para exterminar as células malignas.»
Como já se disse, esta nova técnica foi aplicada a 17 doentes em estado avançado de melanoma, mas o cancro desapareceu somente em dois pacientes. O dr. Steven Rosenberg, inquirido sobre o porquê do tratamento funcionar nuns doentes e não noutros, respondeu: «Este é um tratamento em fase experimental e de desenvolvimento. Os doentes foram tratados há dois anos e esperámos este tempo para publicar os resultados da investigação para ver se, de facto, os tumores desapareceram, o que aconteceu». O cientista considerou que hoje dispõe de tecnologia mais avançada que permite melhorar a resposta dos doentes ao tratamento.
O primeiro curado
Mark Origer, morador em Wisconsin, EUA, foi o primeiro doente com quem o tratamento foi bem sucedido exultou: «É uma honra ser o primeiro!» Foi-lhe diagnosticado o melanoma depois dele ter descoberto um sinal nas costas. Fez uma cirurgia mas, três anos mais tarde, o cancro voltou. Experimentou vários tratamentos – sem resultado. Em 2004, o cancro tinha-se espalhado por metástases até ao fígado.
«Estava desesperado porque os tratamentos não surtiam efeito e aconteceu numa altura em que a minha filha ia casar. Eu queria estar presente no casamento». Foi então que soube dos ensaios clínicos do médico Rosenberg e foi aceite na investigação. Começou uma nova vida a partir daí.
Eficaz para outros tumores
As investigações foram desenvolvidas pelo dr. Rosenberg apenas em doentes de melanoma, mas a equipa de cientistas por ele liderada demonstrou que é possível modificar em laboratório células similares de imunização que atacariam outro tipo de tumores, designadamente os cancros da mama, pulmão e fígado.
Dê-se, de novo, a palavra ao médico: «Descobrimos os genes que podem transformar as moléculas em linfócitos normais que conseguem converter as células e reconhecer o cancro da mama, do cólon ou outros tipos. Mas ainda não começámos a tratar esses doentes. Esses são os ensaios clínicos que esperamos iniciar nos próximos meses».
O investigador mostrou-se, contudo, cauteloso com as grandes expectativas criadas com os resultados do ensaio clínico. «Tratámos Mark Origer há pouco mais de ano e meio e continuaremos a acompanhá-lo clinicamente, de três em três meses, durante cinco anos. Por enquanto, é difícil falar numa cura, uma vez que os tratamentos só ocorreram nessa altura». Os trabalhos de investigação de Rosenberg tiveram início há 30 anos, quando encontrou um doente que lhe deu uma ideia, que culminou agora. «Trabalhamos contra-relógio para desenvolver as pesquisas». Os doentes com melanoma em fase mais avançada não respondem aos tratamentos feitos por cirurgia, quimioterapia nem radioterapia. A nova técnica vem agora dar resposta aos casos mais graves da doença.
Portugal: 800 novos doentes por ano
E m Portugal surgem todos os anos cerca de 800 novos doentes de melanoma (oito a dez por cada 100 mil habitantes), uma doença provocada por factores genéticos e grande exposição ao sol. Afecta em especial indivíduos dos 30 aos 50 anos e mata cerca de 200 portugueses por ano. Ouvida pela jornalista Cristina Serra do matutino que citamos e transcrevemos, a presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro congratulou-se com a descoberta de uma técnica para tratar doentes de melanoma, uma doença que assume uma grande importância em Portugal, país onde a tradição da exposição solar tem levado a um aumento da incidência do cancro.
(É tudo, Travessadoferreira agradece ao CM e à Cristina Serra o que deram a público e que permitiu este texto)
5 comentários:
Sou médico, tenho 36 anos, casado com 2 filhos. Um amigo que frequenta o seu blog avisou-me do que estava e está a publicar. Não se preocupe por ser um leigo, pois não está a ensinar medicina mas sim a divulgar informações com muito interesse. Nesse aspecto, felicito-o.
Penso, no entanto, que deverá reforçar para o futuro a estrita situação destas experiências. Cobaias são cobaias, da´India oi de cá... Uns roedores que servem para isso mesmo. Já os humanos andam em busca de ajuda para eles próprios ou para os outros.
Não se pode, por isso, dar esperanças, muitas ou poucas. Julgo sim que se poderá dar ânimo ao paciente. E nisso, o seu trabalho, como o de muitos outros meios de comunicação em de ser referido e sublinhado.
Sossegue Dr. Antunes Ferreira. No seu caso e salvaguardados os termos, não vai o sapateiro para além da chinela. Esteja tranquilo, garanto-lho.
Por fim e pedindo-lhe desculpa de me alongar e roubar tempo e espaço ao seu blog e aos leitores, muitos, que deve ter, quero dizer-lhe que sou um leitor convicto e diário, nem que seja dumas linhas.
Já agradeci ao nosso João o facto de me ter indicado o seu blog. Tenho andado para trás e para diante nele. No que concerne ao estilo com que escreve, gosto mesmo muito. Correcto, e em alguns casos como o que faz sobre a guerra colonial é empolgante.
O senhor é uma pena de oiro. Não é um elogio; é a vedade ou, pelo menos, a minh verdade. Há tanta gente a escrever livros por aí que lhe tenho de perguntar: para quando um seu? Sei que não estou só nesta minha pergunta; mas insisto: quando o teremos nas prateleiras das nossas livrarias.
Pode estar cero que será um sucesso. Um leitor terá (já tem...) que não o deixará de mãos a abanar ou com a casa cheia de obras não vendidas. Sinceros agradecimentos e cumprimentos amigos
olá amigo AF
Estive aqui a ler (tb) o coment do médico JMM e, conforme já me tinha manifestado, sou da mesma opinião: para quando o raio do (s) livros (s)?????????
É que, reforço, o meu amigo é mesmo uma "pena d'oiro"... e como o oiro que nós cá tínhamos, ao que dizem, já desapareceu das catacumbas enevoadas do Banco de Portugal...
Já agora: o seu blog está cada vez melhor! agora até andam por aí uns asnos (perdão! uns anónimos!) a enfiar a boca em sanitas alheias, o que só lhe dá prestígio, dado que a grandeza do homem também se mede pelo grau de imbecilidade de quem o critica.
Como escreve hoje o FF no C. Manhã, antigamente, e se calha ainda hoje, qualquer futrica que pusesse pé em Coimbra era logo chamado de doutor pelos engraxadores e mulheres-a-dias!...
Estes sujeititos são tal e qual! querem ser como a vaca, e, rãs que são, engolem muito ar e incham muito para ver se ficam do mesmo tamanho; e será assim até rebentarem, como a fábula lhes deveria ensinar - e ensina! só que eles não aprendem!
Pois cá fico satisfeito por mais um correspondente (a contrariar as aves de mau agoiro!), que é o meu amigo da Tailândia, um tipo às direitas e extraordinário. Escreve às maravilhas!
O blog, afinal, de vento em popa.
abraço
hc
Ainda bem que ainda ha quem, em vez de desenvolver misseis, ponha os neuronios ao servi^co do Homem.
Será que o senhor gajo A.F. merece tantos elogios? Será que ele será um novo Eça ou um novo Pessoa? Saramgo, não, que o prémio Nobel só lhe foi atribuído por ser... comuna...
Reduzam-no à sua dimensão de escrevinhador mercenário, xuxa soarento e primo/admirador do mentiroso Sócrates (que, ainda por cima, dizem que vive com um galã...) e desavergonhado pelos termos que usa.
Sou mãe de uma jovem que faleceu em 31 de Agosto de 2007 com melanoma mestatizado em muitos pontos do corpo, órgãos e esqueleto.
Estávamos receptivas até a "tratamentos" experimentais. Em Portugal, nos EUA, na Europa, onde fosse preciso. Ela queria lutar. Lutou. Lutou muito. Sobretudo para ir ao "estrangeiro" (sendo para ela sinónimo de esperança). Agarrava-se a todas as "pequeninas luzes", luzes essas mais descobertas por ela e por nós que a amávamos...
Que pena as "hipóteses" não terem chegado a tempo (perceba-se a amargura ou ironia amarga com que digo isto). O Dr. Abel Amaro foi o primeiro médico (dermatologista) que a observou no IPO. Tinha sido encaminhada para esse hospital vinda de um outro, onde lhe tinha sido diagnosticado melanoma.
Não me recordo, ao longo de 3 anos, de se lhe ter colocado o "cenário" possível de um tratamento experimental. Mas até a isso ela estava receptiva.
(Agora, sem amarguras irónicas) Espero que seja encontrada e rapidamente a resposta eficaz a este "monstro" de sofrimento.
Continuo a desejar, do fundo do coração que existam condições (todas) para que os investigadores consigam levar por diante as pesquisas com sucesso.
Que outros não passem pelo que nós (ela, a minha filha) passou é o máximo que posso ambicionar e que não oiçam logo na primeira abordagem, ainda quando não percebíamos nada de melanoma: "preocupações estéticas? quando estou a tentar salvar-lhe a vida?"
Nua e cruamente...
Uma realidade cruel que não foi possível evitar.
(ou seria?)
Eu, na minha ignorância (ou terá sido descuido?) devo ter sido a principal culpada. Serei a única?
Ana Paula Pinto
http://alemvirtual.blogs.sapo.pt
http://outra_alma.blogs.sapo.pt
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