terça-feira, fevereiro 05, 2008



Terra mística dos faraós

Braz Ferreira
Mais uma vez por motivos profissionais me desloquei ao Egipto, a terra dos faraós. A minha viagem de negócios me levava do Cairo até BeniSuef uma cidade a mais ou menos 150 km a sul da capital. Sendo a segunda vez que me deslocava pelas terras das pirâmides, já sabia ou por outra sabia mais ou menos o que me iria acontecer durante a minha viagem rodoviária. Por tal razão não comi muito ao pequeno-almoço com medo de vomitar durante o percurso. E às 7:30 em ponto lá estava o meu motorista preparado para esta aventura do volante.

Logo no inicio após me ter instalado no veículo, o proposto a manejar o volante me disse num inglês quase, quase impecável. «Inchallah (isto não é inglês) we arrive safe» (isto é inglês). E se Allah não quiser? quase perguntei ao motorista. Porém, baseado na minha experiência da última viajem, de imediato fiquei de acordo com ele e pensei com os meus botões, que por acaso estavam brancos talvez de medo: Que Deus nos ajude, a nós e sobretudo aos outros motoristas que encontraremos na estrada. E lá nos lançámos pela estrada em direcção a Al Minya.

Ao sair da cidade, passando em frente do Demersdash Hospital, consegui verificar a eficiência dos polícias de trânsito do país. São verdadeiramente, como o nome do hospital, uns merdas. Com uma calma faraónica (o que não é de admirar) um polícia de trânsito estava encostado ao poste de um semáforo. Encostado é um pouco de exagero, pois estava quase abraçado ao tal poste, como a Marilyn Monroe ao John Kenedy, que de raiva passou ao vermelho.

E como ele, o poste, quase todos os motorista passavam no vermelho sem se importarem nada, ou quase nada, com o agente da autoridade rodoviária. Alguns deles abrandavam para depois virar à direita numa rua de sentido proibido. O portador do quepi, simplesmente pestanejava, olhando os carros passarem a velocidades próximas da fórmula 1.

Os veículos cruzam, à (boa) vontade dos proprietários, a rodovia - em sentido normal e contrário - utilizando a buzina como autorizante do desrespeito às leis de trânsito. Aqui até acredito que a buzina é mais importante que o motor do carro. Carros na mão, na contra mão e até no contra pé obrigam os outros a manobras que além de perigosas, estão no limite do espectacular. Por vezes, tais as acções são tão incríveis, que podemos pensar estar em episódios dos apanhados.
Pelo contrário, os pisca-piscas são inoperantes, há muito devem ter decidido aposentar-se. Ainda se devem lembrar do tempo dos faraós onde deveriam ter tido necessidade de horas extraordinárias para virar nas curvas do deserto e alcançar as caravanas de camelos vindas do Oriente.

Mais adiante, na nossa frente, um táxi preto e branco, um Fiat dos anos 90, executava uma dança do ventre de deixar com inveja qualquer eximia dançarina árabe. O passeio serviu-lhe de apoio, umas três ou quatro vezes, obrigando alguns transeuntes a abandonar o local de forma repentina. Os táxis pretos e brancos, já com idade de frequentarem um lar da terceira idade, com os porta malas metálicos soldados no tecto, tal como a coroa do Ramsés II, ainda conseguem transitar sem muletas.


O desrespeito pelas leis de trânsito é tanto que até hoje não consegui entender porque gastam dinheiro a instalar sinais. Onde se diz que é proibido ultrapassar, se ultrapassa em terceira mão; onde é proibido parar, existem praças de táxis e parkings. Estes com pagamento. E onde é proibido exceder a velocidade de 60 km, é raro e o veículo que transita a menos de 110… Na verdade, só as carroças puxadas por burros famélicos conseguem burricar e respeitar a velocidade regulamentada. Os carros passam tão perto uns dos outros que, se deixássemos cair uma nota de dez libras egípcias, ela com certeza não conseguiria cair no chão.

Deixamos o Cairo no meio deste pandemónio rodoviário (um amigo meu inglês disse-me que na realidade isto era uma Organised complete mess (uma verdadeira cagada organizada). Com carradas de razão. Já na estrada nacional, na nossa frente, seguia uma camioneta carregadíssima de melancias. Devido ao excesso de velocidade e aos solavancos, estas deviam estar bastante enjoadas e algumas delas decidiram suicidar-se atirando-se para o asfalto. E este, que normalmente era adepto da Académica, tornou-se, em escassos segundos, torcedor da equipa nacional. Talvez outras companheiras das suicidas tivessem tido a mesma intenção, mas uma cobertura de lona as impedia de o fazer.


Logo em seguida duas vacas viajavam numa camioneta, onde os solavancos eram tantos que de certeza ao chegarem ao destino, produziriam manteiga pasteurizada. E este dois ruminantes passavam largamente o corpo da balaustrada do veículo e mostravam de maneira ameaçadora a vontade de evacuar a erva comida antes do embarque. Pois não aconteceu que na altura que ultrapassávamos a camioneta uma delas resolveu liberar os intestinos. E eu - que tinha tido vontade de abrir o vidro segundos antes. Allah estava comigo.

O carro ficou como se imagina. Parámos para uma lavagem completa e lá estávamos nós de novo na estrada. Durante a lavagem pude observar um camião de uma marca alemã pintada com carinho e amor pelo seu proprietário num dos taipais laterais: MER CEE DES BENZE. Pois é, é preciso benzer-se mesmo, para poder conduzir nas estradas egípcias. E além diss, estava também mencionado que esta marca era fabricada na falecida Comunidade Económica Europeia.

Mais adiante, a polícia tinha dividido a estrada em duas para poder controlar melhor o trânsito rodoviário. Para tal utilizara duas barricas de óleo, dois bidons de plástico para transportar azeitonas, algumas latas de tinta, umas caixas de madeira para transportar tomates e até um carrinho de mão.

E numa curva na auto-estrada o nosso motorista foi obrigado a travar de maneira radical. Um autocarro tinha parado numa curva e no meio da rodovia para permitir a um dos clientes que esvaziasse a bexiga. E na volta de Beni Suef para o Cairo me destinaram um outro veículo, um Daewoo. Mas ,visto o estado do carro, pois assim, o primeiro era uma verdadeira espada, decidi que nele não vinha, não. E não vim mesmo.

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