terça-feira, outubro 02, 2007



SOMBRA DE GUERRA


Morabeza com gelo


Antunes Ferreira
Cabo Verde é África, ou não é? Cabo Verde é Portugal – ou… Vou mas é deixar-me de interrogações destas, por via das dúvidas. O Malaquias, inspector ou lá o que é da PIDE, ainda não consegue ler o pensamento das pessoas; mas lá chegará. Portanto, é melhor que varra da moleirinha tais questões, pois quando isso acontecer – quem sabe não vem longe? – lá vou eu de cana, com muita porrada à mistura.

É como falarmos o nosso crioulo. Em Lisboa, no Instituto, tinha mais uns quantos patrícios. Cabo Verde é, das Províncias Ultramarinas, a par de Goa, a que tem um maior índice de alfabetização e de escolaridade. Também não admira: enquanto se espera pela chuva e o trabalho é raro, as pessoas têm de ocupar o seu tempo, um tempo que escorre, langoroso, pelas paredes nuas dos dias e das ilhas.
Entre nós, quase às escondidas, conversávamos em crioulo. Para matar saudades? Sei lá. Prefiro dizer que para convivermos. À nossa maneira. Um dia, no Campo Grande, aluguei um bote para passear com a Guilhermina. Uma jóia de moça, tenho de dizer. Fui remando, aliás sem muito entusiasmo, de tal forma que ela me perguntou, risonha, irónica, atrevida: vamos até à tua terra?

Voltámos daquele descobrimento laguítimo, qualquer Dias faria melhor, aos remos, claro, do que eu, também Bartolomeu, mas Ulpiano. Não admira. Para além dos navios ao largo de Mindelo, no Porto Grande, aguardando as barcaças de desembarque e que me limitava a ver, nativo de Chã de Alecrim, uma das zonas mais bonitas da cidade, apenas embarcara no Niassa para ir para Lisboa. Enjoei.

Sentados na relva bem aparada, ficámos, de mão dada, conversando sobre o tudo e o nada, aprofundando erraticamente minudências. Farolámos, em busca de um pontão imaginário, onde pudéssemos atracar. Gostava mesmo da Mina, Maria Guilhermina de Melo e Menezes, com z, (tinha mais uns quantos apelidos, mas não valia a pena conta-los, muito menos usa-los…), damanense, estudava Românicas, vinda de Nagar Aveli, onde o subchefe Aniceto do Rosário perdera a vida ao tentar impedir a entrada dos indianos no enclave.

Fiz-lhe festinhas na mão de pele morena, parecida com a minha, mas mais acetinada, cheirando a malagueta e canela, mistura rica e sensual que me inebriava. Se calhar era apenas a minha imaginação, ela usava água-de-colónia Ach. Brito, do Porto, em frascos verde escuros. Para mim, porém, o seu perfume moreno era o dessa mescla arrevesada. Havia quem dissesse que,
se vires uma cobra e uma indiana – foge para o lado da cobra. Más línguas. Eu escolhera – e de que maneira! – a indiana.

Ia escurecendo. Meu, temos de ir andando, bem gostava de ficar aqui contigo, mas as freiras lá do lar são umas chatas e linguarudas. Vão-me perguntar porque chego tão tarde, ao lusco-fusco, se não tenho vergonha na cara, foi para isso que os teus paizinhos contraíram o empréstimo na Caixa Postal de Damão – para vires estudar na Universidade? E agora, depois da invasão, ainda se esfalfam em Moçambique, com a guerra dos comunistas, para te mandar a mesada?

Ficámos só mais um pouquinho, tempo para darmos um beijo camuflado – mais do que o tecido desta farda que agora envergo – os seus lábios carnudos e escuros sabiam a mel e manga, como as de São Vicente.
Rápido, não fora andar por ali alguma informadora das filhas do convento, a que se chamava as irmãs de caridade. Porra! Nem irmandade, muito menos carinhosa. Vícios da língua, no caso em apreço com dois sentidos, pelo menos.

Voltámos juntinhos, de mão na mão, e ela, ligeiramente inclinada para mim, a cabeça meio apoiada no meu ombro, a camisola de Inverno realçando-lhe os seios modelados em concha, à espera das minhas mãos, via-lhe os mamilos erectos desenhados na lã, que me deixavam adivinhar (e assim entusiasmar-me) como seriam nus. Entesar-me, era o termo mais correcto.

Um destes dias, disse-me, vamos fazer uma patuscada, queres? Se queria. Afiancei-lhe que sim, jurei-lhe pelas cinco chagas de Cristo que adoraria e tanto ardor transpareceu das minhas afirmativas entusiásticas, que se apressou, com um sorriso pouco menos que libidinoso, a esclarecer que se trataria de um pic-nic ou um almocinho, com mais umas amigas e amigos. Como a Mina compreendera a minha euforia e o meu entusiasmo, aliás comprovados por olhar atrevido que pousou na braguilha das minhas calças, tumefacta e suficientemente esclarecedora.

Entrámos de fazer menu antecipado, ela faria umas espetadas (o que, na verdade, era a minha intenção, o meu altaneiro desejo…) à maneira de Damão, de leitão, com muito louco, malagueta q.b., alho e todas essas especiarias encantadas, com chetni e outras delícias. Eu assegurava uma cachupa rica e, se possível, um xerém aprimorado. Estava lançado o desafio e como ainda fossemos a caminho do Saldanha e o lar era na D. Pedro V, continuámos nos mais salutares propósitos.

Olha lá, Meu, vocês têm uma língua própria lá em Cabo Verde, não têm? Claro que sim, era o crioulo, parecido e diferente com o falado na Guiné. Mas, o nosso tem mais sabor, acrescentei, deliciado pela oportunidade de lhe contar particularidades da minha terra natal. Sabes, Mina, o crioulo de São Vicente é o mais lindo de todos, porque há mais, ainda que seja tudo o mesmo.

E ela, chegadinha a mim, ambos à espera de que caísse o verde semaforiano para os peões, diz lá uma frase em crioulo, mas coisa decente, nada dessas malandrices de que tanto gostas. E eu a pensar que ela também, algum dia mo diria, agora não, que tínhamos de atravessar para a Duque d’Ávila. Já no passeio, passei-lhe o braço pela cintura. Ah ela é isso? Sou assim tão indecente?

E, sem me deter, avancei. «Nos avôs era ou eh ti inda kampion na morabeza, si nu konsigui trazi kes manera la pa nu infrenta bida e midjora condisson di nos guentis nada ka podi paranu». Que quer isso dizer, querido? Depois explico-te em pormenor, mas anda à volta do que diziam os nossos avós sobre a maneira de enfrentar a vida e melhorar a condição das pessoas. E vocês, seus indianos de má raça? É o concani ou algo assim, não é?

Nós somos damanenses, de Damão, e não de Goa. Nesta é que se fala o concani. Nós falamos gujarate, completamente diferente. Mas continuamos com o nosso português, arcaico, foi assim que ele lá chegou, assim continua, tem uma maneira gira de encantar. Por exemplo, e já que estamos nos Santos Populares, diz-se festa di Sam Pedru. Os candeeiros bruxuleiam um amarelo deslavado.

Maldito o tempo que não sabe parar. Chegámos ao lar. Para que as madres não a esfolassem viva, ainda que tivessem as suas dúvidas, separámo-nos no Rato, na esquina com a Braamcamp, esperando pelo próximo encontro que antevíamos logo no dia seguinte. Que não houve. Mila sentira-se mal quando se preparava para a deita, uma dor no braço esquerdo que subira qual relâmpago ao peito.

Ainda a tinham levado, no primeiro táxi que passara, ao hospital de São José, no meio de alarido e choros das freiras e das estudantes. Chegara já morta, um ataque cardíaco, quem poderia imaginar, uma jovem de 21 anos, estuante de vida, alegre, comunicativa, sempre bem disposta, amiga do seu amigo, como se irá dizer aos pais, em Marracuene? Parece que tem uns primos para a Cruz Quebrada.

Gostassem ou não - quer as putas das freiras quer os parentes do canal do esgoto - fui ao funeral, todo de preto, o Viegas emprestou-me o fato, a camisa, a gravata e até as peúgas que usara no luto pelo pai dele, iam fazer dois anos. Viúvo e órfão, não me podia apresentar de outra maneira. Na igreja – aguentei-me. Mas nos Prazeres – sacana de nome, quais os prazeres da morte, que grande cagada – jorraram-me as lágrimas, quem será o tipo que assim chora?

As monjas, finalmente davam de si, conheciam-me ainda que de longe, sabiam quem eu era, um cabo-verdiano estudante do Técnico, amigo da falecida, pelo pranto quiçá mais, por vezes suspeitávamos. Embora a Maria Guilhermina não se abrisse muito connosco. Sabem como é, rapariga vinda do Oriente, do Estado Português da Índia, que ainda é assim, só que invadido pelo Nehru, não é de grandes falas a tal propósito.

Quando os coveiros atiraram a primeira terra sobre o caixão, os gatos-pingados da Magno já se tinham retirado, o padre também, tinha um casamento ou um baptizado ou coisa que o valha já de seguida. Se fico mais não chego a tempo e eu sou muito cumpridor dos meus horários, tenho de defender a minha reputação, fugi dali, os soluços não paravam, muito menos as lágrimas.

Na Ferreira Borges, entrei na Tentadora, uma bica e um copo de água para duas aspirinas, o trivial, a noite em claro no velório no Rato, enxuguei o sal que me correra dos olhos e, talvez estupidamente, dei por mim a recitar para dentro «vai alta a Lua na mansão da morte…». O Soares dos Passos, de que nunca gostara nem um bocadinho, entrara-me pelos poros suados. Eu vinha de protagonizar o hediondo Noivado do Sepulcro.

Nesse mesmo dia, decidi. À tarde, fui à Avenida de Berna, ao Distrito de Recrutamento e ofereci-me para onde quer que fosse, no Ultramar. Bem me ralava com o que me calhasse. COM em Mafra, IST já era, a GAM, ginástica de aplicação militar, a ordem unida, as operações da guerrilha, os golpes de mão, as patrulhas, as emboscadas, o armamento, desmontar e montar pistolas, espingardas e metralhadoras, a carreira de tiro, em tudo me empenhava – para passar os dias cada vez mais longos.

À noite, enfronhava-me nos cartapácios que esmiuçavam a construção e a origem do convento. Parecia-me sentir na epiderme morena escura a promessa do rei João V, de que erigiria o mosteiro se a rainha Maria Ana de Áustria lhe desse herdeiro que tardava. O nascimento da princesa Maria Bárbara determinou o cumprimento do voto.

Palavra de rei não volta atrás, como escrevia Joaquim da Conceição Gomes na sua «Descrição minuciosa do monumento de Mafra, ideia geral da sua origem e construção e dos objectos mais importantes que o constituem». A que eu descobrira era uma segunda edição, «correcta e aumentada com muitas notas e com uma notícia de Sintra, seus edifícios e arredores», uma edição da Imprensa Nacional, datada de 1871.

Depois da instrução, fortíssima, enquanto os outros cadetes iam de rastos para as camaratas, eu visitava a imensa mole. E continuava a ler tudo sobre o que ela tinha sido publicado. Comecei, até, a tomar notas num caderninho der espiral, par que nada me faltasse sobre o tema. Tinha a certeza de que a Mina me acompanhava pelos salões ciclópicos, alertando, meu Meu, repara neste quadro, atenta naquele cortinado de brocado, levanta os olhos para o fresco do tecto. Até trocávamos beijos, saborosíssimos – no ar.

O trabalho começara a 17 de Novembro de 1717. Era, ao princípio, um modesto projecto para abrigar 13 frades franciscanos. Mas o dinheiro do Brasil começou a entrar nos cofres, pelo que D. João e o seu arquitecto, Johann Friedrich Ludwig, um germano que estudara na Itália, iniciaram planos mais ambiciosos. Não se pouparam a despesas.

A construção tinha empregado qualquer coisa como 52 mil trabalhadores de todos os mesteres e ofícios, e o projecto final acabou por abrigar 330 frades, um palácio real, umas das mais belas bibliotecas da Europa, decorada com mármores preciosos, madeiras exóticas e incontáveis obras de arte. A magnífica basílica foi consagrada no 41.º aniversário do rei, em 22 de Outubro de 1730, com festividades que duraram oito dias.

Terminado o curso, saí aspirante – miliciano, é óbvio – e daí até ao Santa Maria e Angola foi um pulo. No cais da Rocha não tinha ninguém de família para me despedir. Vieram, apenas, o Miguel Reineta Funá, um fula de Bissau, que tinha uma bolsa da Mocidade, a Mariquinhas Demétrio, da Praia e o Domingos Matombe, moçambicano de Marracuene – que não conhecia os pais da Mina, mas a ela, perfeitamente.

Este morava na Calçada da Ajuda, perto do Depósito Geral de Adidos, onde me tinha apresentado e me fora entregue a guia de marcha para Luanda. Matombe era meu colega no Técnico, ainda que fosse de Civil e eu de Electrotecnia e Máquinas. Passara os meus últimos nove dias lisboetas no quarto dele, uma cama no chão, de cobertores sobrepostos que eu queria para mim, mas que fora conquistada por ele.


Eu dormia na sua cama de ferro com bolas de latão. De resto, dormimos pouco, tal o afã da conversa, tal a vontade de contarmos tudo um ao outro, dos mais diversos assuntos e temas. Sabes uma coisa, Meu, foi na minha parvónia que decorreu o combate em que o Caldas Xavier utilizou a táctica do famoso quadrado. Eu sabia. E também conhecia que, ao lado do major, enfileirava um outro militar, Joaquim Mouzinho de Albuquerque, que, em Chaimite, iria derrotar e capturar o Gungunhana.

Há, porém, muitas mais coisas que não sabes. E as noites transmudavam-se em madrugadas e estas em matinas, não havia mais nada para fazer, Domingos só frequentava duas cadeiras atrasadas. Por isso me acompanhava nessas veladas. Revelara-me então que Ngungunhane, Mdungazwe Ngungunyane Nxumalo, N'gungunhana, Gungunhana ou Reinaldo Frederico Gungunhana que fora o último imperador de Gaza. Da dinastia Jamine.

Ora fora Marracuene, ou mais precisamente Guaza Muthine, que antecedera Chaimite. Foi ali que o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo lançara a voz de comando às suas tropas: «…Fambane pambene va-landííí – nhimpííí!»… Que queria dizer «Para a frente gente da terra – guerra – ataque!» Mas nuãMatidjuana viria a ser traído pelo chamado Leão de Gaza e entregue aos militares portugueses. Ironicamente, traído e traidor acabariam os seus dias exilados nos Açores.

Era uma viagem por acontecimentos de que nem suspeitava. Domingos ainda me revelaria uma outra particularidade. O intérprete do major Caldas Xavier fora um cabo-verdiano, Pedro Baessa, que depois partira para Tete, vindo a fixar-se em Nampula, com família local numerosa. Muitos descendentes deixou e um Pedro Baessa ainda andou comigo no liceu. Conheces?

Nada, não sabia nada daquilo, nunca ouvira falar de um qualquer Baessa, a História de Portugal que nos ensinavam era só um somatório de feitos e vitórias e nem os 60 anos filipinos tinham sido péssimos, ora bem, e tinham motivado os conjurados de 40, com o João Pinto Ribeiro à frente que haviam de levar o duque de Bragança a rei. De São Mamede a Aljubarrota, de Castelo Rodrigo à Linha de Torres, tudo que nos ensinavam eram sucessos.

Em Luanda estive três dias. Ia em recompletamento tomar o lugar de um alferes que morrera numa emboscada, qualquer coisa Fidalgo, em Mucaba, lugar de hecatombe no norte da província, em 1961, aquando dos ataques terroristas da UPA de Holden Roberto. Fui numa coluna enorme, 78 camiões civis, enquadrados por 14 viaturas militares.

Aqui estou, agora, congeminando sobre a africanidade ou não do arquipélago de Cabo Verde, do grogue de noss’ terra, da seca e da coladera. Parva congeminação, tenho de o dizer, que não me aquenta nem me arrefenta, como dizem os militares na gíria que lhes é peculiar. Voltei a fumar – parara a pedido dela, sempre a minha Mina, omnipresente a Mina minha.

Por isso me entretenho chupando a pirisca meio apagada, enquanto aguardo a volta de uma secção que saiu para dar protecção à tonga do café. Na fazenda já estava um destacamento da OPVDCA, mas era tal a intensidade dos ataques do inimigo e a sua pertinácia que eu decidira assim fazer. Estou a comandar interinamente a companhia, a CC 1002, porque o nosso capitão Lourenço está no Hospital Militar em Luanda, com uma tifóide. Dizem os de lá que o gajo se safa. É bom homem, oxalá.

Regressa a tropa, arrebentada, mas incólume, o furriel Barrigas, miliciano como eu, que chefiou a secção de atiradores reforçada por um apontador de morteiro 82, o Sangana, cuanhama gigante, mede quase dois metros e come que nem um frade porteiro – não sei de onde me vem a imagem, mas acho-a porreira – diz-me que correu tudo bem, só com uma pequena merda.

Feliciano Barrigas diz-se angolano. Nado em Monção, veio com os pais para o colonato da Cela quando tinha apenas quatro meses. Nem sabe, quase, onde fica o Vale da Gadanha, local onde veio à luz do dia, nunca lá voltou, diz que nem está interessado nisso. Quer lá saber do Alto Minho. Já o mesmo não diz do vinho verde. Mas isso – são outros quinhentos mil réis.

Então o que houve? Pergunto-lhe enquanto lhe estendo um uísque, damo-nos muito bem, até sabe da Mina, de quem lhe mostrei uma foto, a covinha da face sobressaindo, a dentadura alva e regular, o cabelo de azeviche, escorrido, liso, e o resto. Ó pá, quando lá chegámos aquilo era uma sanguineira desatada. Os pretos – não é nada contigo ou contra ti, tu és cabo-verdiano – que andavam na colheita tinham sido ceifados, ainda por cima na hora da comida.

A um, que tinha uma lata de margarina Vaqueiro em que cozinhava a fuba derrubada sobre ele mesmo, emporcalhando-o ainda mais do que já estava, descobri-o eu, um tanto afastado de outros. Tinha um buraquito redondo no peito, nada de especial, escorrera-lhe um fiozinho de sangue, já coagulado. Pareceu-me morto. Mas…

Por isso, meti-lhe a minha mão pelas costas para o levantar, podia ser que. Bartolomeu Ulpiano, nunca mais me vou esquecer disso, até que a terra me coma os olhos que tal presenciaram. Apalpei o nada, tentei agarrar o vazio. O pobre não tinha costas, era só um buracão sustentado por alguns restos de costelas, órgãos nenhuns, nem coração nem pulmões, nada.


O gajo dos Voluntários, um tal Seixas, da Costa da Caparica, explicou-me que fora uma bala explosiva. Filhos da puta! Escorropicha o uísque. Sirvo-lhe outro. Se ainda tiveres, bota mais uns pedregulhos de gelo. Tenho, a coisa funciona. E a Mina ao meu lado, dengosa, meio à vela: olha, amor, lá dentro há mais. Gelo. É o que não me falta… que o pariu!

8 comentários:

Anónimo disse...

Um destes dias vais pagá-las todas juntas, miserável!

Anónimo disse...

O Dr. Antunes Ferreira - não é necessário repeti-lo frequentemente - é um grande escritor. Por certo que encontrará editor e que o seu livro de contos será um best seller. Estou cá para o ver e sei que muito mais gente também está.

Anónimo disse...

Está perfeito, incluindo o nosso crioulo. Posso ter divergências, poucas, ideológicas com o que o Sr. Dr. Antunes Ferreira escreve. Mas que é muitíssimo bem escrito, é. Como cabo-verdiano que também andou na guerra, os meus parabéns. Já agora: o livro?

Anónimo disse...

Ó Chefe

Se África ou não, não sei!
Mas que Cabo Verde se entranhou nas veias desta lusitana mal-viajada, é um facto. Na praia, "Batucada do Sal" e muito "Tud' drêto!", cachupa rica "sabe pa caga" e "cá tem" tristeza nesse povo, mesmo comendo o "pó di terra" que o diabo criou!
Mais uma vez, obrigada por estas leituras/viagens, sempre inesquecíveis, a tempos e lugares inolvidáveis.
AS

PS - Também adorei a imagem do "frade porteiro"!

Anónimo disse...

Nunca tinha vindo a este blog. Vim esta tarde e achei muito interessante. Os contos da guerra de Angola são excelentes. Os meus parabens ao autor Antunes Ferreira que escreve muito bem. Vou voltar para ler mais - e muitas vezes.

Anónimo disse...

Caro Ferreira

Aqui do Brasil quero parabeniza-lo por seu blog e por seus escritos sobre a guerra colônial. Você é muito bom. Fico esperando por mais e, quem sabe?, por livro a editar tambem aqui no Brasil

Anónimo disse...

Repito os meus comentários sobre outros assuntos. Desta vez para dizer que o autor escreve optimamente. Dá prazer lê-lo. A mim, pelo menos, dá. Quero mais.

Anónimo disse...

Li com gosto (como sempre) os seus dois últimos textos publicados no Travessa (Voltar atrás e Morabeza com gelo). E pareceu-me notar algumas (pequenas mas significativas) diferenças em relação aos (seus) anteriores textos: estão ligeiramente maiores, fruto de um mais complexo (e interessante) desenvolvimento da história.

A escrita alarga-se, descontrai-se, fica mais solta. É bom. Terá perdido, (embora), um pouco da verve e da ironia, da graça (jocosidade mesmo) de outrora (e, no entanto,O gajo dos Voluntários, um tal Seixas, da Costa da Caparica …, fica devidamente registado).

Não é grave (como se constata). Aliás, um escritor está sempre à procura da sua (própria) escrita.

Por isto (e por tudo o mais) só me resta dar-lhe (os mais sinceros e fraternais) PARABÉNS. E desejar-lhe que o livro seja uma realidade o mais rapidamente possível. Ao menos para que (eu) faça alguma coisa. Isto é: para que possa estar (desesperado) na primeira fila a aguardar o seu autógrafo.
Até já até logo até sempre