sexta-feira, novembro 02, 2007




Estrelas no céu

Marina Dinis
Já não há estrelas no céu. Apagaram-se, fecharam a porta e foram-se embora
deixando-a para trás, sem saber para onde ir, sem ninguém que a possa
salvar.

Na verdade ela o que queria era a lua, para nela pendurar um baloiço feito
de cordas e madeira, onde se sentaria a balouçar lentamente, cantarolando e
sonhando. Mas sabe que a lua não pode ter, pois está já demasiado distante e
inacessível...não, a lua já não é para ela. Essa lua já foi sua, mas agora
está ocupada, nem sequer a olha de lado, nem se preocupa se ela existe. Não!

A lua já não é para ela mas sim para outros felizes e esperançados.
Porém, todas as noites ela continua teimosamente a caminhar para a janela à
espera. Será assim eternamente, esperando a sua estrela sem convicção.
Aquela que lhe permite voar um pouco para longe da negra imundice que a
rodeia, para longe da dor surda que não alivia nem agudiza, para aquele
lugar que conheceu por breves instantes, onde as cores eram vivas, os aromas
pungentes e todos os sons melódicos.

Um sonho? Talvez. Mas pelo menos um sonho ou uma ilusão, pois a isso todos
têm direito. Para ela já não existem mais sonhos e não restam ilusões,
apenas o azul-escuro do mar sem fim, o silêncio do sepulcro, a agressão crua
do sol e o vazio eterno.

Tal como as marés, sempre assim será. A maré alta traz apenas tumulto e
sobressalto e a maré baixa deixa escassos detritos aos quais se apega
furiosamente, como se a sua própria existência disso mesmo dependesse.
Os seus dias são passados amarrada à terra e à sua impiedosa realidade,
vivendo-a no limbo. Um fio fino sob o qual se equilibrar de forma
periclitante, no risco constante de resvalar para o abismo...a queda apática
sem fim, quebrar-se-á se ela ousar pestanejar.

Não respires, não te mexas nem te atrevas a pestanejar. Podes cair a qualquer momento, apagando-se a tua chama para sempre, tal como as estrelinhas desaparecidas.

Ela sabe bem que ainda há algumas coisas a perder, mas a sua maior perda está já dentro de si e perante esta, todo o resto é poeira insignificante. Não faz falta.

Querer é poder, mas nunca é poder ter, nem tão pouco poder amar.

5 comentários:

Anónima Salina disse...

Olá

Mais uma vez, muito prazer em ler o seu texto.
Desculpe, deixei-me cair no absurdo preconceito de "sensibilidade é correspondente ao ser feminino"!
Lição aprendida, nunca mais questionarei a fonte, desde que continue a água a sair fresca e límpida, como até aqui.
Obrigada
AS

Anónimo disse...

Senhora Doutora

Trato-a assim porque sei que é médica. Parabéns pelo que escreve. Tem muito estilo.

No entanto, não se deixe «apanhar» pelo Doutor Antunes Ferreira. Recomendo-lhe que leia o que acabo de comentar a mais um excelente texto dele.

Cuidado, que o nosso Homem é muitíssimo perigoso e, ainda por cima, sem dar por isso. É um «bonzanas»... mas que cativa as pessoas, sobretudo nós, mulheres

Anónimo disse...

Só me faltave sta, agora viraste D.Juan ...

Anónimo disse...

Bem sei que o KK é "perigoso" mas eu penso que a santa Raquel me protege, pois ela é o lado melhor da parelha... mas fico devidamente avisada.
Escusa de me chamar doutora que não é de todo necessário...até empecilha um bocadinho.
MD

Anónimo disse...

Bem sei que o KK é "perigoso" mas eu penso que a santa Raquel me protege, pois ela é o lado melhor da parelha... mas fico devidamente avisada.
Escusa de me chamar doutora que não é de todo necessário...até empecilha um bocadinho.
MD