sábado, outubro 13, 2007




A Nininha

Marina Dinis
Nunca entrou sozinha neste parque. Sempre houve alguém a acompanhá-la. Tinha cinco anos da primeira vez que atravessou os seus portões. Acompanhava sua mãe e avó, ambas em sofrimento. Desconhecia o que se passava, porém, nunca se sentiu atemorizada, pois para si era apenas mais um belo jardim onde brincava à vontade.

Trinta anos mais tarde, já mulher, regressou de novo ao parque. Mais uma vez acompanhada - e desta feita por necessidade de apoio para iniciar uma nova caminhada na sua vida. Entrou com receio. Não daquilo que iria encontrar, mas de falhar numa árdua missão imposta a si própria.

Muitos anos passou caminhando diariamente no parque, percorrendo os seus jardins, entrando em cada edifício, conhecendo cada canto, cada personagem e inúmeros relatos de vidas suspensas no tempo, sonhos nunca realizados e sofrimento sufocante num cenário tranquilo e quase paradisíaco. O seu trajecto no parque foi, desde o seu início uma viagem difícil, repleta de lágrimas e sorrisos, quedas e êxitos, mas sobretudo lições de vida.


Aqui aprendeu muito daquilo que sabe, muitos dos princípios que regem a sua vida, assim marcando os traços largos da pessoa que hoje é. Neste espaço tudo pôde aprender, sendo condição prévia o envolvimento e a dedicação. Percebeu que era fundamental deixar-se tocar pelos outros, pelas suas vidas e os seus trajectos, mas também pela sua dor e pelas suas desilusões. No parque ninguém estava só embora houvesse muitos mundos. Sempre existiram companheiros de percurso, fosse este breve ou aquele mais prolongado.

Cedo percebeu que os aspectos mais repugnantes da vida estavam fora deste recinto. Este foi, também para si, um espaço protector, um asilo para quem sofre e desespera, um lugar onde se podia retemperar o ânimo e renovar a coragem para continuar a longa caminhada da vida. No ar que se respirava pairava uma certa tolerância que raramente tem par na sociedade existente para além dos gradeamentos que ainda hoje delimitam o parque. A maioria dos visitantes do parque fazem-no de forma transitória, porém, nunca esquecendo a sua passagem, por mais efémera que tenha sido. Em todos as histórias vividas no parque deixavam marcas indeléveis, constituindo lições de vida relembradas por longos anos, património da memória colectiva da experiência do drama humano.

Também ela cresceu neste parque. No parque de árvores frondosas, de flores e folhas exóticas.

6 comentários:

Anónimo disse...

Presente! Venham mais! Um beijinho muito amigo. Um dia, quando me desinibir, digo-lhe quem sou querida Doutora

Anónimo disse...

Caro Jão, desiniba-se que a vida são dois dias e um já passou. Tendo sido sua médica, não me diga que este recado nunca passou! De qualquer forma fico-lhe muito grata pelos seus rasgados elogios e desejo-lhe...felicidade.

Anónimo disse...

Querida PP, parabéns pela tua escrita. Queremos mais! beijos de um Super Amigo. Lindinho

Anónimo disse...

Li e gostei. Parabéns princesa. Sempre amigo J

Anónimo disse...

gosto da escrita suave e elegante e fiquei cheio de curiosidade acerca da autora conforme fui lendo os comentários. AF, o que é que a baiana (princesa?) tem e porque é que só agora a descobriste?

Anónimo disse...

Longa e por vezes dolorosa, parece ser a caminhada pelo parque; mais tranquila e serena é a passgem pela Medina e o afagar do gato amarelo à sombra da buganvília.

Anón.III em cumentário apressado