quarta-feira, junho 06, 2007




Miséria e riqueza em Lisboa



Pedro S. Guerreiro
Director do Jornal de Negócios
O
caos financeiro da Câmara de Lisboa está finalmente no centro de um debate eleitoral. Não porque os candidatos se tenham tornado subitamente mais responsáveis. Mas porque Lisboa chegou ao grau zero da indigência contabilística. Porque hoje existe uma lei das finanças locais. E porque o líder nas sondagens foi o autor dessa lei.

Sem o problema das finanças autárquicas resolvido, Lisboa não tem qualquer futuro. Só passado. E o passado é tenebroso. Nem é preciso explicar porquê. O país inteiro aprendeu já, à custa de impostos e de desemprego, que sem finanças públicas saudáveis não se faz nada. Em Lisboa não é diferente. Só que pôde ser adiado. E adiar soluções significa piorar o problema.

O passivo duplicou em cinco anos: 2.382 euros por munícipe. Juros: 30 mil euros por dia. O problema está não tanto no que se deve à banca mas aos fornecedores. A tesouraria está vazia. Os investimentos têm receitas abaixo do previsto. Os planos de desinvestimentos (no imobiliário) não são cumpridos. As suspeitas de corrupção estão no Ministério Público.

Quando Manuela Ferreira Leite limitou o endividamento autárquico, referia-se a todo o passivo. O seu primeiro-ministro Durão Barroso desautorizou-a e decidiu que o garrote se aplicava apenas à dívida bancária. O desvario transferiu-se para os "leasings", "factorings", fornecedores, parcerias público-privadas. Ferreira Leite quis que o limite ao endividamento funcionasse para as câmaras como o tecto do défice de 3% funcionou para o País. Mas como não houve Comissão Europeia para as câmaras, muitas delas precisam agora de um FMI. De alguém que entre por ali adentro, viabilize empréstimos e controle a sua aplicação.

O FMI é, neste caso, o Ministério das Finanças. António Costa já disse que, se ganhar, vai requerer ao Governo um "contrato de saneamento": Lisboa precisa de um contrato de reequilíbrio financeiro. O Governo descongela o endividamento bancário da Câmara, que começa a pagar dívidas aos fornecedores; em troca, a Câmara fica sob forte vigilância do Governo, terá de prestar contas, aumentar taxas, tarifas e derramas, não poderá aumentar despesas com pessoal nem despesas correntes. Foi assim com Setúbal (que já incumpriu, sem punição, o acordo) e com o Marco de Canaveses (que renegociou). Também Ourique, Gouveia e Guarda estão perto de pedir socorro.

E Lisboa. Se ganhar, Costa negociará com o seu antigo colega de Governo uma viabilização financeira. Aplicará a lei de finanças locais que desenhou. E terá de aceitar a redução de freguesias, que defendeu enquanto ministro. Nada disto é por voluntarismo, é por necessidade. Cheira a dinheiro em Lisboa. Não é à toa que o candidato do PS reúne tantos apoios. Não é apenas Júdice que vira o volante. Há na comissão de honra de Costa empresários, gestores e banqueiros que nunca devem ter votado à esquerda na vida.
Editorial de 2007/06/05



NE – Já disse ao Pedro Guerreiro quanto o admiro e com que prazer o leio. Trata-se de um grande Jornalista, com caixa alta e tudo. Ele autorizou-me a publicar o seu editorial aqui no Travessa. Fiquei e fico muito satisfeito com isso. Tanto que reincidirei sempre que ache bem fazê-lo... A Travessa tem a grata oportunidade de o concretizar. E eu, a felicidade de o poder anunciar e abraçar o Pedro pelo que de bom nos proporciona.

5 comentários:

Maria Faia disse...

Caro amigo Ferreira,

Feliz ideia a sua, a de publicar aqui o editorial sobre Lisboa que acabei de ler.
Com efeito, parece-me que o jornalista que o escreveu sabe bem do que fala e, tem a noção exacta da necessidade fundamental de saneamento das contas públicas daquela autarquia, como aliás, de tantas outras espalhadas por este país fora.
Parece-me, no entanto, que, uma das reformas que quem ganhar as próximas eleições intercalares tem que fazer, é a do saneamento dos desperdícios que ao longo dos anos se foram acumulando. Desperdícios de vária natureza, materiais e/ou imateriais.
E, uma das situações que revolta qualquer cidadão sério e trabalhador, é a que se vive nessa, como em outras câmaras, quanto ao exagerado, para não dizer vergonhoso, número de assessores, secretárias e/ou adjuntos que foram entrando porque somente através do clientelismo político se conseguiram safar no mundo do emprego (não do trabalho).
Estes senhores custam fortunas ao herário público e ninguém percebe a razão do seu número exagerado (não falo em qualidade porque os não conheço).
Com efeito, os nossos políticos vão ter que, de uma vez por todas, acabar com clientelismos e amiguismos políticos e aprender a gerir com rigor, seriedade, eficiência e eficácia o bem público.
Na verdade é para isso que são eleitos....

Anónimo disse...

As minhas felicitaçôes pelo excelente colaborador e pelas verdades que ele apresenta no seu texto. O Jornalista Pedro S. Guerreiro não é facciosos e bate a direito, doa a quem doer. Parce-me, assim, que os dois, ou seja você e ele ainda nos vão dar muita coisa e boa.

Anónimo disse...

Você, seu safado Antunes Ferreira, continua a socorrer-se de todos os truques para manter os xuxialistas no poder. Agora é o Costa escuro ao assalto da Câmara. Pobre CML. Ao que chegaste! E para mais ajudado por esse tal Guerreiro. Outro da tua laia, malandro!

Anónimo disse...

Eles aí estão, em pré-campanha de promessas. É o Costa (do Castelo?), é o Negrão (isto está preto) é o Zé bloquista (que faz falta), é o do PC, é o do CDS (valha-nos São Telmo)são muitos mais, 12 até à data. Tantos como os apóstulos, os signos, os cavaleiros da távola redonda e o quadrante do relógio. Está hora. Quando começara a «campanha» já não há mais nada para dizer. Pelos vistos, nem sobre a Ota...

Anónimo disse...

Oi amigo!
Vossemecê está na Tunísia com a menina Raquel?
Como queria que eu comentasse umas dicas?
Não entendo "porrinha" nenhuma em cima das eleições da CML e da "rapaziada" que está interessada em sentar-se na cadeira, hieráquica, do presidente.
Ui,ui que coisa... como pode ser tantos candidatos a presidente de uma câmara (dizem) falida!
Escreva aqui umas coisas que eu possa comentar à "maneiral".
Política não!
Fujo dela a sete pés!
De quando me relacionei com políticos acabei "borrado" e não pretendo, mais uma vez, acabar enceleirado de m******.
Boas férias e cuidado com o leite de camela!
Abraços de Banguecoque
Os piratas do Golfo do Sião:
Zé Pinto e Toni Faria