segunda-feira, fevereiro 27, 2006




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Carnaval - o que é isso?


Ainda salpicado de fim de semana, com o sacrista fechado, eis que desponta o Carnaval. Isto porque s’alevanta o sol, ainda que num esconde-esconde com nuvens ameaçadoras. Umas mais do que outras, diga-se em abono da verdade. Por conseguinte os donos dos desfiles da época esfregam as mãos de contentes e do frio. De Norte a Sul desta língua de terra ouviu-se um suspiro de alívio. Temos Entrudo. Temos euros – temos entradas de malta e de ma$$a$.

A vida é assim mesmo. O Carnaval, ainda que roce as ruas da amargura – onde vai ele em muitos lugares? – ainda tem, não sete vidas como os gatos, mas fôlego suficiente para ir tentando sobreviver. É óbvio que não se conta nestas modestas linhas com a loucura colectiva da Barão de Sapucaí, no Sambódromo. Este ano, pelo sim, pelo não, as autoridades distribuem 35 milhões de preservativos nesse local de perdição das cabeças. A bon entendeur…

Mais o Brásiu é o Brásiu, meu chapa. Não tem nada qui vê com os outros onde dizem havê Carnavais. Puxa, não! Si você não leva camisinha prà festança, aí você vai tê problema. Mi diga: será que o cara não enxerga o pirigo da AIDS? Você é desses do deixa pra lá? Então não podi entrá no cordão. Sambá tem qui si lhi diga. Ótimo. As mulatas são um espanto! Mais, cuidado. As mininas podem tê as bucetinhas infetadas. Não pensa, não, e tá numa frita. Em casa sua sinhora vai lhi côbrá. Tem juízo, negão.

Voltemos, assim, a Torres Vedras, a Loures, a Portimão, à Mealhada, a Sesimbra, à Povoa do Varzim, ao Estoril. A aberta nos cúmulos negros permitiu às portuguesinhas avançar para a via pública em trajes (?) mais do que reduzidos. A imitação do que se passa pela outra margem do Atlântico é perfeitamente estúpida. Lá é Verão, faz um calor tropical, tem fio dental e peitos ao léu. Aqui também, ainda que mais modestos. Mas tem frio, chuva e neve nas zonas acima dos 800 metros. E as mocinhas engripadas, sem aves. Uma ova! Ou melhor: um ovo!

Adiante. Entre os chamados carros alegóricos, os (as) travestis e as criancinhas de Harry Potter ou de Homem Aranha, esvai-se o tempo e a boa disposição. Os saquinhos de areia e de grão-de-bico que se atiravam com mais ou menos pontaria, as bichas-de-rabear, os penicos despejando-se, as enfarinhadelas e as bisnagas, onde vão? Conseguiram sobreviver os confetis e as serpentinas… Até quando?

Sem grande entusiasmo, diga-se. Vão umas décadas em que os pulhas do «Estado Novo» tentavam denodadamente fazer do corso no Estoril um émulo daquele que então se realizava na Avenida Rio Branco, com a Mangueira, a Vila Isabel, a Rocinha e muitas mais. Escola de samba é lá. Aqui é ersatz, como dizem os alemões. Daí a estranhíssima ideia ter dado com os burrinhos na áuga. Nice, Biarritz, Veneza suspiraram de alívio. Daqueles malucos lá de baixo não podia sair coisa boa… E não saiu.

Estamos nisto. Usando máscara todo o ano, os portugas chegavam ao Carnaval e tiravam-na. Os embustes quotidianos eram substituídos pelas partidas que, a partir de certa altura, tinham mais piada e mais efeitos se telefónicas fossem. «É de casa do Senhor Carneiro? É o próprio?... Então, dê duas marradas no telefone!... hahahahahahahahah».

Hoje é o vira o disco e toca o mesmo, só que com outros disfarces. Ainda que com os CD seja só uma face. Coisa raríssima entre nós. Em vias de extinção, até... E o vira-casacas calino. Outros tempos, outros enganos. Hoje, ao contrário do antigamente, anda 69,3% da malta a enganar uns 12,7%. Os restantes – abstêm-se. Ou votam branco. O Entrudo de todo o ano é triste, sombrio, negro, deprimente. As falsas gargalhadas, ocas, são apenas bocejos de tédio. Os parolos – todos nós – caímos tranquilamente nas peças que nos pregam. Pudera, não. E a crise? Já nem se disfarça...

Viva o Carnaval? Abaixo o Carnaval? Se o gajo está nos últimos estertores já nem vale a pena esperar a noite inteira pra tudo se acabar na quarta-feira. Acaba-se já. Acabou.

Antunes FerreiraUpgrade your email with 1000's of cool animations

domingo, fevereiro 12, 2006

Passados 84 anos sobre Tutankamon

Descoberto um novo túmulo no Vale dos Reis

Leio – e quase caio da cadeira, de espanto. Num Mundo em que, aparentemente, quase tudo está descoberto, eis que, do Egipto, me (nos) chega uma notícia que me (nos) deixa estupefacto(s).

Pensava eu que, ao cimo da Terra, esperava a Humanidade que se encontrassem soluções para a cura do cancro, da sida, das doenças de Alzheimer, Parkinson, dos pezinhos, entre algumas outras, vacinas específicas para maleitas irresolúveis, etc. E ainda, que se conhecesse em pormenor, finalmente, o aparelho linfático, se avançasse nas esperanças levantadas pela biogenética e se dessem outros passos no domínio da saúde. Esqueçam. E façam, por isso, o favor de olhar para o que nos surge.

Andaram os homens tanto tempo à procura da mítica Atlântida. Até nos Açores. Debalde. Buscaram, desesperada e afincadamente, o Shangrylah. Em vão. Tentaram plagiar o bom do Jules Verne, descendo ao centro da Terra. Utopia, maior do que a de Morus. E, perante a incapacidade de resolverem tais mistérios aparentemente indecifráveis – voltaram-se para o espaço, onde ainda continuam a tentear e tentar.

Da cadela Layka até Neil Amstrong vai uma distância enorme. E aos vaivéns espaciais outra. E às estações orbitais mais uma. E às sondas? Se tomarmos em conta a Mars Science Laboratory que a NASA pretende fazer poisar no Planeta Vermelho em 2009, logo esse decurso temporal se encaixa no da primeira, a Mars Pathfinder que ali chegou em Julho de 1997. Que distância…

Nisto, quando me dava a reler a «Morte no Nilo» da enorme Agatha Christie, cai-me no monitor a notícia do achamento de uma tumba egípcia, precisamente no Vale dos Reis, a uns escassos cinco quilómetros do mais famoso do Mundo, o do faraó Tutankamon. Que eu já tive o privilégio de visitar, aquando de uma deslocação ao País das Pirâmides para me encontrar com o então Ministro de Estado dos Negócio Estrangeiros do Cairo.

Fui ao serviço do «Diário de Notícias», o meu jornal de sempre. E do encontro resultou uma conversa informal com Boutros Boutros Ghali que, mais tarde, chegaria a Secretário-Geral das Nações Unidas. Muito agradável, sobretudo devido à simpatia do cristão copta, não poderia resultar em entrevista, dado o pedido que ele me fez e que, obviamente, não reproduzo. Ficou comigo. A vida dá muitas voltas – mas, sobretudo, empanturra-nos de experiências. E de experiência.
Leio, entre o deslumbrado e o perplexo: «Uma equipa de arqueólogos da Universidade de Memphis, nos EUA, anunciou a descoberta de um túmulo, que parece estar ainda intacto, no Vale dos Reis, no Egipto. Algo semelhante não acontecia desde que foi encontrado o túmulo do faraó Tutankamon, em 1922.
No local estão cinco múmias, que parecem pertencer à XVIII dinastia, nos respectivos sarcófagos, todos ainda intactos, adiantaram os especialistas. Esta dinastia, a mesma do chamado faraó menino, reinou entre 1567 e 1320 antes de Cristo, altura em que o domínio do país sobre a área em volta era muito forte.
Apesar de no Vale dos Reis dever o seu nome ao facto de ser local de enterro da maioria dos faraós da época áurea, os arqueólogos afirmam que as múmias agora encontradas não parecem pertencer a famílias reais».
Porém, a posteriori, já se aventou que as múmias poderão ser da raínha Nefrertiti e das suas quatro filhas. A ser assim - e a hipótese parece ter pés para andar - a sensacional descoberta poderá, ainda, ter repercussões muito maiores. Um especialista egípcio utilizou o adjectivo "ciclópicas". Eu, modestamente, permito-me acrescentar que se trata de um verdadeiro tsunami arqueológico. Desculpem-me a ousadia ou o exagero...

Os cinco sarcófagos têm forma humana e têm máscaras funerárias com cores. «Por alguma razão foram todos enterrados de forma rápida num túmulo pequeno», adiantaram os arqueólogos.
O túmulo estava coberto pelos escombros de casas de trabalhadores de construção da XIX dinastia, datada de um século depois».
Sarcófagos que descansáveis em paz: as coisas mudaram radicalmente. Os pesquisadores oriundos da terra do tio Sam deram-vos cabo do descanso que julgáveis eterno. Nada. Eterno, dizem os católicos, só o Presidente do Conselho de Administração do Paraíso, a quem, no nosso globo, chamam o Pai, ou Padre, da Santíssima Trindade. E, mesmo assim…
Volto ao Nilo e ao Hercule Poirot. Um tanto preocupado com a questão da eternidade e do sossego. Mas encantado com a genialidade da tia Aghata.
Antunes Ferreira