domingo, março 12, 2006

Lisboa está perigosa


A Lisboa de hoje está cada vez mais perigosa. Não, não me refiro às drogas, aos tiros, aos assaltos, aos roubos, aos esticões, aos contos do vigário, a todas as manifestações de um lúmpen que saiu das sarjetas e anda por aí causando medo ou, pelo menos, assustando os cidadãos mais desprevenidos ou desatentos.

Dou de barato que estas coisas se tenham desenvolvido em Portugal. É claro que sim. Se se desenvolveram por todo o Mundo, não o teriam feito entre nós? Por que bulas? Olho em redor e de imediato vejo uma chusma de gentes que se entretém na crítica permanente e destrutiva. A maioria vem do antigamente ou está ainda ligada à Outra Senhora. Não haja dúvidas.

São, por exemplo, aqueles para quem tudo está mal. Demos-lhes voz, de seguida.

Porquê? Porque aconteceu no dia 25 de Abril de 1974 o que consideram uma desgraça desgraçada. Greves? Manifestações de rua? Centrais Sindicais? Tolerância sexual? Aceitação de práticas de vida diferentes? Onde é que já se viu? Para quê tais acções e procedimentos aviltantes? Onde está o cumprimento puro e duro das obrigações. Por isso, só com direitos e nenhuns deveres, chegámos ao que chegámos.

Se o Governo é vermelho – é porque é vermelho; se é verde, idem, se é castanho, idem, idem; se é azul, aspas; se é cor de burro quando foge, aspas, aspas. No entanto, e face à circunstância bendita dos comunas e dos bloquistas não estarem no Poder – graças sejam dadas à Senhora de Fátima – há que dar porrada nos socialistas.

O Sócrates é pane……,maricote – e se não é, devia ser. Assim, com ou sem difamação, é mais facilmente atacável. Pelo sim, pelo não, é de espalhar. Também é ditador, o que é péssimo para a democracia deles. Ataca alguns dos que mais têm: reformados com três mil euros, quatro, cinco, coisa e picos. Malandro, tal como ele próprio, inverteu os termos de um quebrado que estava inteiro durante anos a fio no Estado dito «Novo».

Mas também, à pala de acabar com privilégios, arremeteu contra funcionários públicos de todas as cores, qualidades e feitios; contra médicos, enfermeiros & afins; contra polícias fardados, à paisana e outros; contra os que cumprem com os seus deveres os mais diversos; contra os que se dedicam ao trabalho, premiando os madraços. Veja-se o destrambelho do chamado subsídio para os mais desfavorecidos. Veja-se o subsídio de enquadramento social. Veja-se o abono para os muito idosos e muito pobres. Assim, não andamos para a direita, digo, frente.

É um mentiroso completo: não cumpriu, pelo menos até à data, as promessas que havia feito na campanha eleitoral. Chefia um Executivo à deriva, no qual cada ministro é muito pior do que o colega/camarada que se senta a seu lado. Desde que caiu a seriedade, a verticalidade e a honorabilidade, esta é a pior cambada que temos em São Bento e arredores. O Pinho é uma cavalgadura. O Teixeira dos Santos, um vendido. O Gago, um atrasado mental. O Freitas, um traidor. O Vieira, um mentecapto. Enfim, uma carrada de bestas.

Mas, aventam os que não comungam a mesma hóstia, não diziam os outros, os bons, os óptimos, que eram necessárias reformas profundas e corajosas? Que, de resto, eles próprios não fizeram, alegadamente por não terem tido tempo, por se terem esquecido, porque tinham coisas muito mais importantes para fazer. Claro que reformas, sim; mas com conta, peso e medida. E, sobretudo, nunca à bruta, como o gajo está a fazer. Ditatorialmente, é o que é, repetem e repisam.

Perdão, mas quando os senhores ou os vossos amigos, ou os vossos patrões estavam no Poder, com partido único, censura e polícia política vivia-se em democracia? Fruía-se da Liberdade? E a resposta na ponta da língua: Saudosistas nós? Estas respostas a questões com outra questão são um óptimo sintoma e um excelente caminho para quem diz cortar a direito e afirma recusar as sinuosidades.

E por aí fora. Já houve rusgas a jornais – que não sabem usar da dita liberdade de informação. Parece tudo encaminhado – e bem – para que a ordem, o respeito e o sossego voltem a reinar. Isto porque agora quem anda a reinar connosco, pessoas de bem e portugueses impolutos, é essa corja. Bem dizia quem já lá está à Direita… de Deus Pai, Todo-Poderoso, que os políticos deviam ser proibidos, ou, até, eliminados da face da terra. Como se afirmava na Moscovo soviética, fuzilados provisoriamente.

Corruptos, daninhos, irresponsáveis, impreparados, alguns mesmo miúdos que acabaram de largar os cueiros, são uma cáfila. Piores do que os dirigentes dos clubes. Aliás, o futebol também está pelas ruas da amargura. O nosso Eusébio esteve sempre cá, orgulhosamente (só?). E quem não era do Benfica não era bom chefe de família. Parece agora que os encarnados querem voltar aos êxitos dos anos 60. O bom filho à casa volta.

Adiante. Voltando acima ao começo deste escrito. Lisboa está cada vez mais perigosa. Refiro-me ao trânsito. Pois é, estou a ouvi-los, tudo aquilo que funcionava direitinho, até sinaleiros pretos tivemos na altura da Exposição do Mundo Português, foi-se. Acabaram com o Natal do Sinaleiro, vejam lá. Antes, nos bons tempos, quando se via uma placa encarnada – acentua-se, encarnada – com um traço branco sabia-se que era proibido… circular.

Hoje, ninguém se rala com isso. Os condutores são abusadores impiedosos, homicidas ao volante, sempre na mira de terem os peões no ponto de mira. Os peões são uns saloios, chegam a atravessar nas passadeiras. Assim, não há rigor, não há decência, não há compostura, nada se faz a bem da Nação. Esta, tal como o trânsito, abastarda-se. Que saudades.

Mas, você que redige este papelucho tem de explicar o porquê de um tal perigo. São os autocarros da Carris, sempre atrasados? São os taxistas sempre desleixados? São os carteiristas do Metro sempre atarefados? São estes, aqueles e aqueloutros?

Se me permitem, excelentíssimos senhores, é por causa dos anúncios que têm vindo a proliferar na via pública. Nas paragens, nas paredes, nos placares, uma vergonha. Só mulheres despidas – ou quase. Desavergonhadas! Anúncios de peças de roupa intimas. Cada vez mais reduzidas, para não dizer inexistentes. Anúncios de filmes verdadeira e infelizmente pornográficos. Anúncios de pastilhas elásticas, cuja conotação pecaminosa e sensual é evidente. E, pasme-se, até de filmes com cowboys larilas, e concorrentes aos Óscares.

É o desbragamento total. Já não há valores, já não há moral, já não há, sequer, tino. Lisboa é realmente uma cidade perigosíssima. E o resto do País, também. Bardinos!

Antunes Ferreira

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